quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FAIXA 02: “I FEEL IT ALL”!

“Ooo, I'll be the one who'll break my heart
I'll be the one to hope come
I love you more
I love you more
I don't know what I knew before
But now I know I want to win the war”

Mas, por dentro, onde realmente importa, eu não sou tão anglofílico...

Wesley PC>

“OS ALIENÍGENAS NÃO ENTENDEM O CONCEITO DO DIREITO DE POSSE E PROPRIEDADE”!

Que bom para eles, digo de antemão! Frase e reflexão advieram do filme que, agora, às 20h28’ de 31 de dezembro de 2009, ouso chamar de “o melhor do ano”: “Distrito 9” (2009, de Neill Blomkamp). Perdi a chance de vê-lo na tela grande do cinema, como deveria, mas, graças aos esforços conjuntos de meu chefe (que baixou o filme) e de alguns amigos virtuais (que me obrigaram a vê-lo antes que o ano acabasse), tive acesso a um verdadeiro petardo anti-preconceito, um filme de ficção científica em que o ótimo roteiro é vital e importante, focando o drama de uma população alienígena que é obrigada a se confinar numa favela em Joanesburgo, África do Sul, depois que a nave em que viajavam quebra. Recolhidos por um grupo assistencialista, eles vivem duas décadas na tal favela, que logo multiplica seu tamanho e passa a incomodar drasticamente os vizinhos humanos, que se sentem constantemente em perigo frente à fome e decadência dos alienígenas. Estes são viciados em comida de gato e tornam-se reféns velados de mafiosos nigerianos, que traficam armas, jogos e prostitutas nas fronteiras da favela que dá título ao filme, o que força uma operação de despejo patrocinada por uma empresa bélica, cujas motivações são tudo menos humanitárias (ou “alientárias”, conforme corrigiu um esperto crítico brasileiro).

Todas estas informações são despejadas nos 3 primeiros minutos de projeção e revelam que o filme não é somente divertido ou assustador, mas uma poderosa denuncia contra qualquer tipo de segregação já existente neste mundo, de maneira que as oposições catastróficas enfrentadas pelos alienígenas acossados (bem como com um humano posteriormente filiado a eles), que se encontram perseguidos por racistas, mendicantes, empresários, militares e gangsteres, entre outras configurações humanas iracundas. O desfecho do filme é impressionante, bem como o uso original da nova fórmula do “falso documentário” que impregna diversos filmes contemporâneos. O pior (ou melhor): ao final, percebemos que não é só um filme. A ameaça é real e os alienígenas representados podem ser associados simbolicamente ás minorias vitimadas de nossa sociedade. Se o filme não é uma obra-prima completa, isso se deve às imposições produtivas de entretenimento coletivo, mas, mesmo nesta área delicada, ele consegue ser muito bem-sucedido, configurando-se num dos filmes de ação mais inteligentes da década. Obrigatório!

E, com isso, deixo o meu recado... Deixo o meu recado... deixo o meu recado...

Wesley PC>

DÊ-ME TEU PERDÃO ANTES DE MORRER – PARTE III

Acho que ainda voltarei a escrever aqui hoje, mas que o faça, convém explicar o título das três ultimas postagens: enquanto estava aqui sentado em frente ao computador, minha mãe via a reprise de um capítulo definitivo da telenovela vespertina. No capítulo em pauta, um criminoso estava pronto para confessar seus crimes, arrependido, mas fora envenenado por uma cúmplice vilanesca. Morre em pleno tribunal, antes que pudesse se livrar da carga vocabular de seus males. Isso não impediu, porém, que uma personagem dada como boa se levantasse e o perdoasse: “vá em paz, que eu te concedo o meu perdão”, disse ela.

E o celular de meu irmão caçula toca. Ele acabara de ser contratado para trabalhar num restaurante italiano. Sem pensar, minha mãe, entusiasmada com a súbita ocupação deste membro-problema de nossa família, oferece a ele minha certeirinha de passe escolar e uma calça preta, pouco se lixando se eu tenho vontade de sair também ou não. Reclamo? Interrompo o contentamento deles dois? Para quê? Quem sou eu aqui? Ao invés disso, escuto canções antigas na voz de Adriana Calcanhotto e peço perdão, perdão, perdão...

“Que bom
Que eu não tinha um revólver
Quem ama mata mais com bala que com flecha
Ela deixa um furo
E a porta que abriu jamais se fecha...


Nada disso tem moral, nem tem lição
Curto as coisas que acendem e apagam
E se acendem novamente em vão...
Será que a gente é louca ou lúcida?
Quando quer que tudo vire música?
De qualquer forma, não me queixo
O inesperado quer chegar, eu deixo...”

Perdão, perdão, suplico vosso perdão!

Wesley PC>

DÊ-ME TEU PERDÃO ANTES DE MORRER – PARTE II

Na manhã de hoje, vi um filme de terror chamado “A Órfã” (2009, de Jaume Collet-Serra. A audiência de tal filme fazia parte de um projeto pessoal em dedicar este último dia do ano a uma retrospectiva cinematográfica com os filmes mais falados de 2009. “A Órfã” foi um deles, mas me incomodou deveras por ser um desagradabilíssimo convite à busca de bodes expiatórios por nossos próprios crimes. Tudo bem que era sabido que a protagonista-título era uma má pessoa, mas isso justifica que ela fosse tão maltratada na escola? Que ela sofresse preconceitos práticos apenas por ser diferente ou estranha? Era ela quem guardava um revólver na aparente placidez de seu lar? Não, não era, mas é ela que mata, é ela que seduz, é ela que suplica para continuar viva... É ela!

Não vou defender o filme nem a personagem, mas é obvio que me sinto injustiçado como ela. Para além de ter ou não motivos, a injustiça existe. Talvez, outra grande injustiça foi eu dedicar mais tempo de cólera a este filme do que à aguardada audiência de “A Fita Branca” (2009, de Michael Haneke), um dos filmes mais elogiados e premiados do ano que está se passando, e que eu vi neste início de madrugada. Um filme cruel e severo que traça um percurso diametralmente oposto ao de “A Órfã”, um filme que deposita a culpa dos males sociais do mundo justamente na transmissão da retidão, uma retidão em preto-e-branco que não hesita em amarrar os braços de um adolescente com um símbolo têxtil de pureza para que este não conheça o seu corpo, uma retidão que explica por que crianças aparentemente dóceis penetram o corpo de um passarinho canoro com uma tesoura ou torturem até a cegueira um pequeno deficiente mental, filho bastardo de uma parteira. Viver é fazer escolhas, ambos os filmes me ensinaram, portanto!

Wesley PC>

DÊ-ME TEU PERDÃO ANTES DE MORRER – PARTE I

Todos estão cansados de saber que os passos que dei entre 01 de janeiro de 1992 e o dia de hoje estão documentados em minha casa nas páginas de diversas agendas pessoais. O tom excessivamente confessional e incomedidamente particular dos textos neste ‘blog’ revela que faço o mesmo em diários íntimos, devidamente escondidos, ansiando para serem lidos quando eu deixar de existir e, como tal, precisar justificar meus atos inglórios, os estratagemas medíocres de que me servi nesta luta irrefreada pela sobrevivência emocional. Sobrevivi! Estou aqui ainda!

Como sou um tanto supersticioso e demasiadamente simbolista, o último dia do ano sempre representou muito para mim, sempre foi um pólo de depressão irresoluta, no sentido de que as brigas em minha casa manifestavam-se cedo e eu nunca tinha tempo para gritar que também sofro, que tenho problemas e que necessito de uma atenção diferente da que (não) me davam. Além de acalmar as insatisfações deles, precisava abrandar os maus augúrios que me cercavam, mas nunca me sobrava tempo. Por isso, era comum que eu me dedicasse a choramingações longevas nas últimas horas do ano. Recentemente, talvez eu esteja mudando de tom. Talvez eu esteja crescendo, talvez eu tenha pessoas ao meu redor, talvez eu seja feliz e não saiba. Talvez...

O certo é que hoje, 31 de dezembro de 2009, estou muito mais contente do que estive há 6 anos, apenas para citar uma data aleatória (abri a primeira agenda que encontrei!). As reclamações de minha vida não mudaram muito em seis anos, mas os motivos de agradecimento sim. Sou a mesma pessoa, e, ainda assim, diferente. Que bom!

Wesley PC>

O ESTRATAGEMA DO FALSO CONVITE – II:

Na tarde de ontem, fui à UFS tirar R$ 8,00 para entregar a minha mãe. Encontrei Bruno/Danilo, que retirava uma quantia monetária dez vezes superior à minha. Conversamos brevemente sobre os eventos de 25 de dezembro e comentei com ele que não tinha vontade de ir à praia este ano. Não vale a pena suportar gritos e brigas no ônibus cheíssimo de volta para casa para ouvir Simone e/ou Jorge Aragão. Ele concordou. Falou que os meninos tinham planos de ficarem em Gomorra mesmo. Interessei-me e fui lá conferir. Rafael Coelho confirmou-me, mas agora ele é um homem que fala pouco. “Não quero falar hoje, Wesley!”, disse-me ele. Ok.

Quando chegou, Bruno/Danilo sentou-se na calcada para ler um livro do Platão. O novo morador, Fábio/Bichão, sentou-se para ler um livro sobre Oratória. Glauco/Madruga compunha canções aliteradas sobre Augusto Cury e Paulo Coelho. Hugo Kitanishi estava ocupado, como sempre e Rafael Torres/Barba dançava ao som do Mundo Livre S/A, enquanto preparava-se para voltar para casa, visto que sua avó reclamou que ele estava há 9 dias dormindo na rua! Eu queria ver um filme com eles, qualquer que fosse. Discutimos sobre os conceitos de liberdade e tédio, até que Bruno/Danilo convidou-me para acompanhá-lo numa sessão previsivelmente ruim do filme mais recente do Roland Emmerich, adequadíssimo para a ocasião. Aceitei. Em dado momento, ele comentou que eu estava respirando muito perto do pescoço dele e que isto o incomodava. Não gostei do filme, mas ele terminou sendo um pouquinho melhor do que esperava. Divertiu, ao menos, por mais estadista e inverossímil que fosse. Às 20h, caminhei de volta para casa. Mas o convite (não) estava feito. É só esperar agora...

Wesley PC>

O ESTRATAGEMA DO FALSO CONVITE – I:

Na tarde de anteontem, desci no terminal do Campus para esperar outro ônibus. Um vendedor de picolés que estava no mesmo veículo que eu desceu e foi abordado por alguém com uniforme de cobrador: “ei, tu tens algum picolé boiado para vender? Não? E aí, tu conheces Wesley?”. Aí, eu, pensando: “êtcha, caralho, será que este homem esquisito está falando de mim? Como pode ser?”. Era! O vendendo de picolés subiu noutro ônibus e o cobrador veio falar comigo: “Wesley, como tu estás? O que nadas fazendo da vida? Já te formaste? Vais pra onde? Tiveste um bom Natal? Tu cresceste, estás diferente, grandão... Mudaste muito!”. Logo deduzi que se tratava de alguém que estudou comigo nas primeiras séries do ensino fundamental. Relaxei um pouco e respondi mecanicamente a tudo o que ele me perguntava. Com forte acento pessimista, diga-se passagem.

Depois que ele foi embora, reanalisei a situação e o desconforto temido do encontro por um novo viés: estou diferente! Talvez não seja mais tão merecedor do ódio gratuito que meus inimigos de infância depositavam sobre mim. Creio ter reconhecido o cobrador: Tony, um daqueles que me espancavam sem razão e me tornavam um servo infantil do ódio. Sorri para ele, do meu jeito fugidio. Quando percebeu que eu estava com um VHS nas mãos, ele se adiantou em perguntar: “isto aí é um filme de sexo?”. Eu: “não. É um filme suicida. Quero sumir!”. O tempo passou e hoje estou ouvindo Caetano Veloso.

“Cinema Transcendental” (1979): é impressionante o quanto este álbum tem de leveza pré-homossexual. Vários elogios a homens e moços bonitos percorrem o disco, fazendo com que eu... Corroft! Segue trecho auto-explicativo da faixa 03:

“Moço lindo do Badauê
Beleza Pura!
Do Ilê-Aiê
Beleza Pura!
Dinheiro hié!
Beleza Pura!
Dinheiro não!...”

Wesley PC>

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

“NORMALIDADE É REVOLUÇÃO”?

Eu acredito que sim, mas a frase não é minha, mas de um personagem conformado com a vida de casado em “O Último Beijo” (2001, de Gabriele Muccino), o filme ideal para se ver no fim do ano. Vi-o pela primeira vez em 29 de dezembro de 2007 e, por uma doce coincidência, estive revendo-o exatos dois anos depois, cercado por amigos que não conseguiam conter a empolgação durante a sessão, rindo, gritando, correndo pela sala, levantando-se e sentando-se freneticamente, fazendo gestos vulgares com a mão, todos empolgados pela mistura de cocaína com Diazepan de que o frenesi melancólico do filme parece se servir...

Não dá para enxergar direito as pessoas na foto, mas estão lá Martina Stella e Stefano Accorsi. Ele acaba de descobrir que sua namorada histérica e longeva está grávida e ela é uma adolescente que em breve estará apaixonada por ele, sem saber inicialmente de seu compromisso com outra mulher. Quatrocentas e doze ações dramáticas interpor-se-ão entre os dois, que sofrerão violentamente todas as agruras psicológicas possíveis, não sem antes compartilharem uma noite sexual que anuncia o começo do fim. Ao final, o que muitos enxergam como uma vingança.

Não posso adiantar muita coisa sobre o filme, mas ele retrata na tela muitas de minhas indagações e reflexões recorrentes sobre envelhecimento e conformismo, de maneira que logo se tornou, se não um dos melhores, um dos filmes mais importantes de minha vida recente, em razão de sua perspicaz leitura de minha mente atormentada e satisfeita. Descobri, inclusive, que ele foi regravado cinco anos depois por Hollywood, com o ator Tony Goldwyn na direção. Título: “Um Beijo a Mais” (2006). Com certeza, muitos das complexas e destrutivas relações entre os diversos personagens foram atenuadas, mas, puxa, bem que eu queria ver o plágio também... E o ano quase termina... E logo, logo ele começa outra vez!

Wesley PC>

Compilação de clipes: Mundo Livre S/A

Mundo Livre S/A é uma das bandas que fizeram minha trilha sonora de 2009, e já pode ser ouvida na caixa amplificada da Gomorra (Barba e Coelho já arranjaram amigos na farmácia? rsrsrs).
Fred Zeroquatro, vocalista e principal compositor da banda, deve ser uma espécie resultante de um triângulo amoroso entre Jorge Ben, Tom Zé e Joe Strummer.

Livre Iniciativa


A Bola do jogo


Samba esquema noise


Seu suor é o melhor de você


Bolo de Ameixa


Maroca


Melô das musas


Azia Amazonica


Laura Bush tem um senhor problema


Carnaval inesquecível na cidade alta


Abrindo o coração para uma cadela chapada e bêbada


Soy Loco por sol


Estela


Leno de Andrade

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

SUPER PRA FRENTEX

Há algum tempo fala-se em um tal estilo comportamental chamado "super pra frentex". O video abaixo deve ser o hino dessa galera:




Leno de Andrade

O “PROBLEMA SEXUAL DO PAPA” E OUTRAS COISAS QUE (NÃO) VEMOS NA TV...

De antemão, “problema sexual do Papa” é uma piada interna que os gomorrenses estão utilizando para se referir ao problema de acessibilidade que nosso ‘blog’ vem sofrendo nos últimos dias. Porém, me fez pensar em algumas situações que se descortinaram atrás de mim, na TV, enquanto tentava digitar algo por aqui. Destaco três:

1 – Ainda hoje, num telejornal vespertino da Rede Globo de Televisão, a apresentadora estava comentando o caso de um garoto baiano de 4 anos de idade que teve os órgãos internos de seu corpo afligidos por agulhas num ritual de magia negra. Pelo que entendi, houve uma cirurgia para retirar as agulhas que danificavam o coração, mas uma delas precisou ser quebrada, depois de atingir uma válvula cardíaca, o que tornou indispensável o acompanhamento médico em relação à saúde do garoto pro pelo menos cinco anos. Dada a gravidade inevitável do assunto, a apresentadora fez uma expressão de desânimo, parou um pouco e tascou, sorridente: “bom, vamos mudar de assunto”... Pelo menos, ela foi sincera!

2 – Ontem à tarde, no ridículo arremedo de novela juvenil “Malhação”, algumas crianças do sexo feminino desejavam participar da eleição da menina-maçã e, como tal, teriam que exibir seus dotes calipígios. Uma delas, temendo ser desprovida de músculos glúteos externos, usou uma calcinha de enchimento e, ao ser flagrada pelos companheiros, explicou seu receio em participar do concurso. Um dos meninos, então, argüiu: “e o que tem a ver o cu com as calças?”. Não sei se é comum falar esta palavrinha mágica de 2 letras em programas específicos para televisão, de maneira que fiquei chocado com o pronunciamento da mesma. Será que isso já aconteceu antes e eu nunca percebi em virtude da banalização da expressão? Será que isso é positivo? Ai, ai, onde é que isso vai parar?!

3 – Por fim, algo sobre nosso Papa Bento XVI, que, como sabemos, foi atacado e derrubado antes da Missa do Galo deste ano, por uma mulher com alegados problemas mentais. No telejornal do dia 25 de dezembro, foi divulgado que sua mensagem natalina em 2009 pregava sobre a necessidade de pôr o perdão acima da vingança. Segundos depois, o mesmo telejornal anunciou que a mulher que o derrubou estava sendo julgada pelas autoridades do Vaticano. Não soubemos o veredicto. Alguém acredita que ela foi perdoada?

É isso: ‘blog’ querido, funcione direitinho, senão serei mais e mais obrigado a ouvir este tipo de coisa enquanto estiver pacientemente sentado no computador...

Wesley PC>

DICA DE FILME MACONHEIRO:

Acabei de ver um filme brasileiro relativamente surpreendente e bastante simpático de nome “Quart4B” (2005, de Marcelo Galvão & Rodrigo Tavares). O mote tramático diz respeito a um tijolo de maconha encontrado numa escola primária. Os pais de todos os alunos são convocados para uma reunião de domingo chuvoso e trocam acusações preconceituosas entre si. Há o advogado belicoso que insiste que o tijolo de maconha pertence a um surfista. Há a dona-de-casa preconceituosa que acusa o faxineiro. Há a mãe de uma criança afetada que culpa os idosos que adotam um garoto aos nove anos de idade. Há o diretor que se confessa homossexual para fugir dos assédios românticos de uma professora e causa um desvio na discussão principal. Há o diretor norte-americano de filmes pornográficos que aproveita a reunião para elencar atrizes. E por aí vai...

O que me surpreendeu foi que este filme tão bem interpretado tenha passado quatro anos sem que as pessoas ouçam falar dele. O roteiro tem um ponto de partida muito interessante e as interpretações de todo o elenco (com exceção de um ‘rapper’ entregador de pizza que surge no quartel final do filme) são ótimas, de maneira que, insisto, ele merece melhor atenção por parte da crítica e, principalmente, melhor respeito por parte do público, dado que diverte bastante e, com certeza, ajuda a resolver/atenuar conflito sobre assuntos que, infelizmente, ainda são tabus na sociedade brasileira.

Os únicos ‘poréns’ alargados em relação ao filme estão na péssima edição do diretor principal Marcelo Galvão, que picota as situações quando seriam muito mais efetivas se os destacados atores carregassem nas costas a cômico-dramaticidade inerente ao argumento, e no experimentalismo desnecessário que se instaura em dado momento do enredo, que passa a dar idas e vindas imaginárias no tempo da reunião. Entretanto, antecipo logo a grande sacada do roteiro: nem bem se passam 25 minutos de filme e um dos pais sugere que eles fumem um baseado para entender o que o suposto filho traficante deles estaria sentindo ao carregar a maconha. O que vem a partir daí é muito legal para se ver em família ou, na pior das hipóteses, em grupo. Descubram este filme, fazendo favor!

Wesley PC>

REFLEXÃO CURTINHA

Enquanto comia um “isoporzinho com sal” na tarde de anteontem, pedi a minha mãe para interromper o que ela estava assistindo e ver um curta-metragem de 4 minutos. Ela permitiu. Na tela, um grupo de pré-adolescentes brincava de Verdade ou Conseqüência. Começa com um beijo heterossexual, evolui para um alisamento genital e termina com um brilhante compartilhamento de primeira menstruação entre duas meninas. Curta-metragem em pauta: “Action Verité” (1994), do François Ozon. Ao final da noite, percebi que abocanhar o pênis de quem dorme, por mais que seja uma atitude provida de amor, é algo que resvala na imoralidade... Pude escolher e/ou esperar - e o ‘blog’ agora está intermitente. Melhor do que nada!

Wesley PC>

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

CONFISSÃO (SUB?-)LITERÁRIA, COM ORGULHO!

Em 2001, quando soube do lançamento de um filme baseado na sensação literária do momento, um bruxinho inglês com cicatriz em forma de raio na testa, mantive-me indiferente à badalação e vi o filme do Chris Columbus por mera obrigação profissional, quando o mesmo me apareceu em VHS depois que a mãe de uma amiga locara-o por sugestão de entretenimento. À época, achei o filme vazio e nocivo em sua apologia disfuncional à magia, que representava pouco mais do que um bibelô diferencial para seus usuários. Protestei contra o seu sucesso e mantive-me indiferente, ao longo dos anos, aos demais filmes e livros relacionados ao personagem, até que me envolvi romanticamente com um garoto obcecado pelo personagem. Trocamos algumas carícias e, por convenção proto-namoratória, acompanhei-o ao cinema, em 2005, na sessão de estréia do quarto filme da série, onde trocamos abraços na fileira da frente, após os créditos finais, aos protestos dos pais de família que estiveram presentes.

O tempo passou, o garoto hoje me odeia e, por motivos vários, submeti-me este ano a uma revisão dos cinco filmes até então disponíveis com o personagem Harry Potter. Por sugestão de minha mãe, que aparentemente gosta dele, vi os cinco filmes na mesma semana. Odiei os dois primeiros exemplares (dirigidos pelo infantilizado Chris Columbus), me surpreendi drasticamente com o ótimo terceiro filme (dirigido pelo humano, demasiado humano Alfonso Cuarón), abominei o exemplar comandado pelo pusilânime britânico Mike Newell, e gostei da variação política de roteiro comandada pelo desconhecido David Yates. Queria, inclusive, ter visto o sexto filme da série, também dirigido por este último diretor em 2009, mas vários motivos me impediram de fazê-lo. Algo, porém, estava modificado: em virtude dos conselhos e elogios de amigos sergipanos, pernambucanos e espanhóis, agora eu não tinha tanto preconceito em relação ao personagem. Continuava sem gostar dele, mas já defendia a validade de sua existência ficcional.

Neste mês de dezembro, temporada de presentes, meu fornecedor habitual de vitaminas humanas ganhou, a contragosto, o último livro da série de sua madrinha católica. Chamado “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, este livro fora publicado em 2007 pela autora J. K. Rowling e apresentava nada mais, nada menos que 590 páginas. Ainda assim, imbuído de estranha curiosidade, decidi-me a lê-lo. Quase duas semanas depois, eis-me aqui com algumas conclusões sobre o desfecho da saga do bruxinho, que será convertido em dois filmes a partir do ano que vem, aparentemente dirigidos pelo mesmo David Yates. Fiquei com vontade de ver o filme agora. Antes, o que achei do livro (com detalhes sobre o final):

Meu personagem preferido, desde o início, era Severo Snape, interpretado magnificamente por Alan Rickman nas versões cinematográficas. Era óbvia e reiterada a vilania do personagem, mas eu sempre torci por ele, enxergava algo de positivo em seu coração. Para minha total surpresa, estava certo: na penúltima página do livro, ele é chamado de “o homem mais corajoso que existiu” pelo protagonista crescido, o que me encheu de estranho orgulho, visto que me identifiquei com os motivos que engendraram o comportamento taciturno de Severo, um amor não-correspondido que o perseguia desde a infância. Mas, até que eu chegasse a este elogio, muita coisa se desenrola nas mais de 500 páginas anteriores. Como eu suportei ler um livro tão grosso a contragosto? Por que a autora insistia em atolar seu livro com clímaxes aventurescos, quando o que me interessava mesmo era a boa construção emocional dos personagens? Por que insistem em vender a trama como infantil se sangue e violência não pára de cercar as atitudes de todos eles? Vai entender os meandros do mercado literário e cinematográfico.

Minha conclusão é que o livro não é mal-escrito como eu pensava. Até que o vocabulário e os estratagemas ficcionais da autora são bons. O que não me convencia era o tom profético e auto-anunciado da trama, os preconceitos de classe velado entre os personagens [os comentários de Rony e dos filhos de Harry Potter, ao final, sobre os trouxas (humanos não-bruxos) e a casa Sonserina (associada ao mal anunciado) me irritaram deveras, provando que pouca coisa mudou nos 19 anos de elipse na trama] e o acúmulo de ações que poderiam ser mais enxutas, mas, confesso, um tanto orgulhoso por ter enfrentado a mim mesmo, o livro é interessante! Sendo assim, estou com vontade real de ver o filme, ao passo em que já me preparei para livrar-me dos possíveis vícios inoculados por esta infindável leitura: uma das obras-primas de Lima Barreto já me espera, ansiosa, na estante...

Wesley PC>

SE A MINHA PAZ TEM NOME DUPLO DE HOMEM BRASILEIRO?

“Hoje constatei que gasto em média 54 segundos eliminando cocô, um terço de uma canção média da canadense Feist”: escrevi este início de texto há quase uma semana, enquanto aguardava ansioso que o ‘blog’ voltasse a funcionar e eu provasse a mim mesmo que sobrevivo a desabafos natalinos. Porém, para aqueles que estão longe da Bahia, os endereços eletrônicos com extensão .blogspot parecem não funcionar. O que estaria acontecendo?

Busquei informações na Internet, mas não encontrei, salvo o consolo de amigos sergipanos e pernambucanos que também estão sem conseguir acessar direito nosso ‘blog’. Enquanto isso, muitos outros pensamentos vêm à cabeça. Outras canções, outras atividades fisiológicas, outros filmes, as mesmas pessoas... Dentre estes filmes, um belo libelo romântico japonês: “Ondas do Oceano” (1993, de Tomomi Mochizuki).

Na trama, um adolescente aplicado na escola, mas ainda assim excessivamente cobrado por seus familiares e superiores administrativos, sempre insatisfeitos, conforme manda o rígido sistema educacional japonês. Um dia, em frente a uma estação de trem, vê uma moça bonita. Admira-a. Para sua surpresa, alguns dias depois, ela estará no mesmo colégio que ele, solitária e sem amigos, ressentindo-se sozinha do divórcio complicado de seus pais. Mal fala com ele, ela pede dinheiro emprestado, utilizando para tal mentiras que logo serão desvendadas. Ela mente, ela engana, ela é traiçoeira, ela despreza o sotaque interiorano dele, bem como tudo a que ele está relacionado. Por que ele gosta dela mesmo assim? Um dia, por sugestão indireta dela, ele vai embora, planejando estudar na capital. Será que ele deve algo a ela? A resposta contida no desfecho do filme me fez responder sim. Sim à pergunta-título escrita sabe-se lá há quanto tempo!

Que o ‘blog’ perdure, ao menos...

Wesley PC>

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

DESABAFO NATALINO (SÓ PARA QUE NÃO ME DIGAM QUE SOU O CLICHÊ DE TODO ANO)

Pois é. Natal. Dia de festa. Famílias reunidas em todos os lugares. Meu irmão resolve se sentar sozinho em frente a nossa casa e começa a chorar copiosamente, dizendo que está sofrendo, que precisa de ajuda e que não é viado para se internar. “Quero me recuperar por mim mesmo”, repetia ele. E chorava e chorava e chorava. Fiquei ao seu lado, fazendo companhia, apenas assentindo com a cabeça a quase tudo o que ele falava. Não sabia o que fazer. De repente, ele começa a declarar o afeto por mim, que briga para me defender quando me chamam de viado na rua e coisas do gênero. E ele chorava. E eu pouco falava. E minha mãe se preocupava dentro de casa, achando que eu tomo o partido dele. E ele chorava mais e mais. E as pessoas nos interrompiam para desejar votos natalinos ou para sugerir que fossemos fotografados, já que não costumamos sentar juntos em público. Ok, bateu aquela tristeza. Puxa, como é difícil lidar com problemas familiares!

De repente, quando tudo parecia perdido, um carro desce em marcha ré na ladeira da rua em que moro e espreme um motoqueiro contra dois outros carros. O moço fica preso nas ferragens de um dos automóveis, clamando por socorro. Ambulâncias chegam e policiais tentam conter os ânimos exaltados dos parentes revoltados da vítima. São quase duas horas da manhã e os rádios são desligados para acompanhara melhor a confusão. Minha mãe interage com vizinhos com quem não fala cotidianamente para ter notícias. Meu irmão esquece tudo o que me falou aos prantos e se entrega ao consumo desenfreado de bebidas alcoólicas e ‘crack’, enquanto exclama: “isto só acontece na rua em que moro”! È natal, 25 de dezembro de 2009. E, por dentro, eu continuo rindo da mulher que se espantou quando eu disse que as pessoas não me confundem com o modelo Jesus Luz... Há que ser feliz – e meu irmão disse que era. Que bom (para ele)!

Wesley PC>

BEIJO NA LÁGRIMA (E PONTO RETICENTE)

Tenho uma amiga que amo chamada Juliana Aguiar. Conhecemo-nos num contexto de extremo frenesi e, como tal, imagino-a sempre agitada, dançante, imune a qualquer desesperança. Sempre que nos encontramos, dançamos exaustivamente, ao som do que quer que esteja tocando (mesmo que este som seja o puro silêncio). Divertimo-nos, em suma. Porém, mesmo e principalmente para pessoas como nós, o mundo se manifesta. E nem sempre o mundo é aquilo que estamos preparados para ver no intervalo entre um passo e outro. Na noite de ontem, Juliana estava chateada por perceber que as pessoas ao redor só conversavam sobre música. Tive certeza que o motivo de sua chateação não era este. Ela se ofereceu para me acompanhar até a praça do conjunto residencial em que moro, onde estava sendo montado o palco para um evento supostamente religioso. Enquanto o tal evento não começava, os bailarinos reproduziam coreografias vulgares na escadaria da igreja. Eu e Juliana abraçávamo-nos freneticamente. “Está vendo por que é importante estarmos juntos?”, perguntávamo-nos eu e ela, simultaneamente e de formas diferentes. Foi lindo. Quando eu e Juliana separamo-nos para ir para casa, encontrei alguns amigos de infância, que me perguntaram espantados como eu tinha coragem de deixar um amenina linda daquela sozinha. Ela não estava sozinha. Antes de dormir, havia uma mensagem dela esperando por mim no celular. Hoje, eu e ela estamos vivos – e em breve estaremos dançando novamente num palco perto de vocês!


Wesley PC>

“JESUS MORREU PELOS PECADOS DE ALGUÉM, MAS NÃO PELOS MEUS”...

Fotografada pelo genial Robert Mapplethorpe, esta capa de disco antecipa a audição de um dos álbuns mais seminais a que já tive acesso, o álbum que pariu nove décimos das minhas cantoras preferidas (de Fiona Apple e Tori Amos a Cat Power e Marianne Faithful, passando por PJ Harvey, Imogen Heap, Alanis Morissette e até mesmo Amy Winehouse). Quanto mais eu escuto “Horses” (1975), da onipresente Patti Smith, meu coração geme! A crueza de suas letras, a dureza e simplicidade de seus acordes, a pujança e coerência do álbum como um todo, tudo nele me obseda. Desde a manhã de ontem, inclusive, que repito insistentemente a faixa de abertura “Gloria”, que consola meus ouvidos e espírito quando relembro fatos recentes que podem me deprimir.

Oportunamente, a maior parte destes fatos aconteceu no meu local de trabalho, onde gasto a maior parte de minhas horas diárias. Na tarde de anteontem, estive a explicar para um rapaz cínico o motivo de estarmos com muitas pendências documentais em atraso, em decorrência de uma pane generalizada de uma pane no Sistema de Processamento de Dados da universidade. O rapaz interrompeu sem cerimônia o meu falatório dramático e apenas retrucou: “isto não me comove!”. Minutos depois, estava me desejando “um feliz natal e um próspero ano novo”. A resposta foi na lata: “isto não me comove”! Ave, Patti Smith:

“People say "beware!"
But i don't care
The words are just
Rules and regulations to me, me

I-i walk in a room, you know i look so proud
I'm movin' in this here atmosphere, well, anything's allowed
And i go to this here party and i just get bored
Until i look out the window, see a sweet young thing
Humpin' on the parking meter, leanin' on the parking meter
Oh, she looks so good, oh, she looks so fine
And i got this crazy feeling and then i'm gonna ah-ah make her mine
Ooh i'll put my spell on her
Here she comes”


Wesley PC>

QUEM DECIFRA O FIM DOS SONHOS?

Na noite de ontem, cochilei da hora em que cheguei do trabalho até as 23h. Coincidentemente, este era o horário em que iniciava a projeção do marcante filme “Pequena Miss Sunshine” (2006, de Jonathan Dayton & Valerie Faris). Aproveitei o pretexto e o fato de o portão de meu fornecedor habitual de sêmen ainda estar aberto para pedir que ele assistisse ao tal filme. “É muito bom, uma das estórias de minha vida. Te recomendo deveras”. Ele e a família toparam. Fiquei contente ao rever com eles aquele filme tão problemático mas que tanto me fez rir e chorar em igual medida. Ao fim da sessão, ingeri minha dose habitual de gala, direto da fonte. Fez-me bem.

Ao dormir, tive um pesadelo: o pai de minha sobrinha mais velha perseguia-me pelos telhados, pois não queria que eu a engordasse. Havia um juro altíssimo que separava o local em que eu e ele morávamos. Escondi-me na casa de uma vizinha com micose nas pernas. Quando descia do ônibus, um irmão falecido do meu cunhado assassino aguardava-me com um cutelo nas mãos. Um dos antigos amigos de consumo de maconha do meu irmão caçula me protege, pedindo que eu segurasse a sua faca e seu pênis magro em igual medida. Mas eu continuava com medo e sentindo-me desprotegido. Sabia que meu cunhado observava-me de cima do telhado de minha casa. Escondi-me debaixo da cama e, depois de muito tempo, acordei. O que teria sido isso? Algum aviso?

Na foto, uma das mais belas e surpreendentes cenas do filme. Os diretores do filme são especialistas em videoclipe e o roteiro do mesmo é repleto de odes familiares disfarçadas. Porém, a cena não é estragada. A pureza dos sentimentos demonstrados ali é feita em pleno silêncio. Sem musiquinhas ternas ou triunfalistas, sem frases de efeito clicheroso, sem estragos realistas. Apenas um abraço sincero e a reconciliação, num momento em que um dos poucos sonhos do personagem masculino (Paul Dano) estava estraçalhado para sempre. Maravilha de filme!

Wesley PC>

domingo, 20 de dezembro de 2009

DOSSIÊ (FINALMENTE) COMPLETO: DANNY BOYLE!

Nascido em 20 de outubro de 1956, o britânico Danny Boyle dirigiu oito longas-metragens até hoje. Destes, eu tinha visto sete até o início deste domingo e, para além da irregularidade qualitativa de suas produções, sou fã do diretor, em virtude de seu estilo ‘pop’ arrojado e do tema recorrente em suas produções: a premência da individualidade em meio à identidade grupal de alguém. Com exceção de “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008), que aborda o tema de maneira um tanto escapista e popularesca, todos os filmes anteriores do diretor abordam este dilema de forma muito coerente e, visto que tive a honra de finalmente ter visto o elogiado “Sunshine – Alerta Solar” (2007) na tarde de hoje, cabe comentar cada filme, elogiosamente:

· “Cova Rasa” (1994): brilhante filme de estréia, em que três companheiros de quarto (um jornalista, um contador e uma médica) resolvem alugar um cômodo vago em sua residência a um estranho, que morre misteriosamente, deixando uma mala repleta de dinheiro da máfia sob a cama. As cenas repletas de violência e humor negro que acompanham os 89 minutos deste filme fazem com que repensemos extraordinariamente o que é amizade, conforme comentei noutra oportunidade, cheio de entusiasmo, aqui mesmo no ‘blog’;

· “Trainspotting – Sem Limites” (1996): um dos filmes mais seminais da década de 1990, este filme foi meu companheiro definitivo na época de ensino ginasial. Revia-o de mês em mês e não conseguia encontrar defeitos nesta obra eufórica sobre os prazeres e desprazeres da heroína (e do universo material psicodélico como um todo). O que torna este filme superior a quase qualquer outra obra que tenha abordado a complicada questão das drogas e/ou “expansores do músculo cerebral” é que ele não julga seus personagens. Estes o fazem por si mesmos, quando conveniente, seja numa conjunção de impotência sexual + diarréia, associada à bebedeira, seja no que diz respeito a quem seria amigo de verdade, levando à frente o tema do filme anterior, com o qual compartilha o excelente protagonista, Ewan McGregor;

· “Por Uma Vida Menos Ordinária” (1997): ainda com Ewan McGregor encabeçando o elenco, este filme recebeu críticas dos admiradores do cineasta, que temiam que ele tivesse se rendido a Hollywood, em virtude da leveza do tema, sobre um funcionário de banco que se apaixona pela filha (auto-)seqüestrada de seu chefe. Ainda que o susto inicial faça sentido, a bela trilha sonora do filme (encabeçada por R.E.M., Elvis Presley, Luscious Jackson, Ash, Underworld e Elastica), as ótimas interpretações do elenco e as situações inusitadas envolvendo luta de classes e anjos rebaixados dignificam o filme, fazendo com que percebamo-nos ainda bastante coerente em relação aos dois filmes anteriores;

· “A Praia” (2000): agora sim os temores dos fãs fazem sentido! Substituindo o companheiro habitual por Leonardo DiCaprio, o diretor se equivoca em muitas seqüências deste filme, que prega que a utopia à base de maconha e comida natural que os três mochileiros do filme encontram na Tailândia perdura até que a ambição livremente associada à vida em sociedade deslanche. Ou seja, se analisarmos o filme teoricamente, percebemos que ele é, sim, muito válido e interessante, merecendo revisões que fazem com que percebamos sua qualidade ao longo do tempo. No elenco, Virginie Ledoyen e Tilda Swinton brilham como interesses românticos diversificados do protagonista, que, em seqüências inspiradas, imagina-se como um herói de ‘videogame’, ao som de uma canção remixada do Blur;

· “Extermínio” (2002): protagonizado por um novo ator-fetiche do diretor, Cillian Murphy, este filme é um daqueles que considero um dos mais astutos olhares sobre o pós-modernismo (ou o que quer que estejamos vivendo agora). Mais do que ser uma ficção científica que mostre os efeitos destrutivos da ira, esta pungente obra pergunta-se como é possível que desejemos sobreviver num contexto em que “não há mais nenhum livro que não tenha sido escrito, nenhuma música que já não tenha sido composta, nenhum filme que já não tenha sido rodado”. Quanto mais o revejo, mais percebo o quanto ele é inteligente, inclusive, mais uma vez, em sua abordagem ambígua (leia-se: complexa) dos ônus e bônus do uso de drogas;

· “Caiu do Céu” (2004): talvez o melhor filme sobre catolicismo et alli. realizado em língua inglesa, este filme revive o pessimismo esperançoso de antes em duas crianças que encontram uma maleta repleta de libras, dinheiro que será inutilizado com a aplicação definitiva do Euro como moeda européia. A urgência dos garotos em gastarem o dinheiro entra em conflito com a fé extremamente hagiográfica de um deles, que anseia por utilizar a fortuna proibida e decadente da forma mais democrática possível, quiçá acabando com a fome na África. Na (como sempre) ótima trilha sonora, duas preciosidades: a amarga “Blackout”, do Muse, até hoje um das músicas ‘pop’ mais tristes que ouvi; e a idílica “Nirvana”, de El Bosco, que valida pro completo o mistério que circunda aquilo que parece (repito: parece) um final feliz;

· “Sunshine – Alerta Solar” (2007, vide foto); recém-assistido e ainda parcialmente digerido, este talvez seja o filme em que Danny Boyle menos exercita seus virtuosismos de câmera e montagem, mas o roteiro do colaborador habitual Alex Garland permanece brilhante. Em dado momento, estamos obrigados a responder, junto aos personagens, como “pesar a vida de alguém contra o destino de toda a humanidade”. No elenco, ótimas interpretações de Chris Evans, Cillian Murphy (novamente) e a especialista em ‘kung fu’ Michelle Yeoh, magnífica como a ecológica Corazón, responsável pela conservação do oxigênio necessário para que a nave Icarus II consiga alcançar o Sol, com o intuito de reanimar a estrela moribunda;

· E, por fim, “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008, co-dirigido por Loveleen Tandan), decepcionante incursão pelo rentável circuito cinematográfico bollywoodiano, em que retrata a ascensão midiaticamente meteórica de um favelado, que sobrevive ao preconceito religioso, à prostituição e ao tráfico de drogas e se torna um astro televisivo, mesmo que seja parcialmente alfabetizado. Mesmo sendo um filme com uma ingenuidade atroz e quase imperdoável, ele recebeu inúmeros prêmios ao redor do mundo, o que fez (agora sim, logicamente) com que os fãs do diretor se preocupassem com a sua rendição a um sistema emburrecedor de produção fílmica. Os atributos técnicos do filme, entretanto, são excepcionais e, como tais, evitam que o filme seja um fracasso completo. Pode parecer que não, mas Danny Boyle ainda está lá...

E é isso: que venham os próximos filmes: o próximo título a ser confirmado é “127 Hours”, sobre a história real de um alpinista obrigado a amputar seu próprio braço para sobreviver a uma escalada calamitosa, previsto para ser filmado em 2010. Por enquanto, mantenho a minha crença: Danny Boyle é um gênio pós-moderno!

Wesley PC>

UM SÁBADO BOLLYWOODIANO

Fazia tempo que eu não via um daqueles filmes indianos tipicamente proveniente de Bollywood,estatisticamente divulgado como sendo o maior produtor de filmes por ano do mundo. Ontem, por uma casualidade qualquer, tive acesso a “Saawariya – Apaixonados” (2007), de alguém chamado Sanjay Leela Bhansali, um filme com quase 2h30’ de duração, com todos os vícios atrelados à tal Bollywood: músicas e dança de 10 em 10 minutos (o que, infelizmente, não foi legendado pela emissora que exibiu o filme), atores canastrões, tramas românticas e evasivas (ainda que esta aqui seja triste e baseada num romance dostoievskiano!) e cenários propositadamente artificiais. Porém, o que mais me chamou a atenção no filme foi uma cena estranhíssima, na qual o protagonista Ranbir Kapoor dança de toalha. Não que ele fosse alguém sensual, mas o uso adequado da dança do ventre (numa variação obviamente masculina) e uma tolha que era aberta e fechada sem motivo fez com que minha imaginação voasse. Fiquei imaginado, então, o que teria acontecido com os milhares de espectadores acima dos 10 anos de idade, que era a censura do filme (risos).

Falando sério: até que tive acesso a ótimos filmes indianos (sendo os do mestre Satyajit Ray os mais célebres destes), mas “Saawariya – Apaixonados” desaponta pela pretensa exportação forçada de seu conteúdo, desdenhando de todo o poderio cultural indiano e cedendo aos modismos exóticos que tornam cada vez mais vendáveis aquele tipo de dança e vestuário em que, não importa o contexto, “a barriga sempre está descoberta”, conforme bem percebeu minha mãe Rosane. Ainda assim, a sessão foi válida, não obstante sábado não ser um bom dia para se equiparar com amores não-correspondidos alheios! A propósito, que estranha tradição justifica que um homem soque o ar enquanto se declara apaixonado pro alguém? Só vendo o filme para saber...

Wesley PC>

sábado, 19 de dezembro de 2009

O QUE A LENDA DE PINÓQUIO TEM A NOS DIZER...

O afã de meu irmão caçula em acordar os membros de sua família às 4h da madrugada para buscar uma faca enquanto perambula pelas ruas desertas na garupa da motocicleta de um amigo bêbado fez com que eu acordasse muito mais cedo que o normal hoje. Obviamente, reclamar desta circunstancia estava fora de questão. Aproveitei a oportunidade para ler mais algumas páginas do livro de ficção juvenil que estou a ler e escolhi um filme qualquer na revista de programação da TV por assinatura. Descobri que “Pinóquio” (2002), fracassada e ambiciosa produção do Roberto Benigni seria exibida às 7h da manhã na TNT. Algo me obsedou: precisava ver este filme. Vi!

A trama segue os eventos que conhecemos através da versão filmada pelos Estúdios Disney em 1940, com algumas diferenças fundamentais: a) a lenda original é italiana, logo o diretor/roteirista sentiu-se muito à vontade para realizar uma adaptação fiel às suas intenções cômico-histriônicas; b) Roberto Benigni escalou a si mesmo como protagonista e, durante a projeção, são inúmeros os momentos em que sentimos vontade de esganá-lo, para ver se ele cala a boca e nos deixa perceber a beleza reinante no resto da projeção, que conta com o figurinista Danilo Donati e com o músico Nicola Piovani na extraordinária equipe técnica; e c) todos os personagens, sejam adultos, animais ou crianças, são interpretados por adultos, salvo por alguns burricos, o que dignifica bastante os mecanismos fantasiosos do belo filme. Mas sigamos em frente!

Em tese, o filme está longe de ser ruim. O visual é impressionante, os efeitos visuais são muito competentes e a paixão do diretor/roteirista por sua amada esposa Nicoletta Braschi faz com que a mesma esteja deslumbrante como a fada dos cabelos azuis, mas a atuação exagerada, falastrona e antipática do protagonista desloca nossas atenções, que, de outra forma, estariam encantadas pelo filme e, pior, deslumbradas pelo teor fortemente ideológico do mesmo, que eleva as instituições escolares como instrumentos máximos de personalização individual, ignorando os abusos estatais vinculados às mesmas e os abusos malévolos perpetrados por colegas e funcionários autoritários. Em outras palavras: por mais que eu concordasse com as lições de morais que eram destiladas de 10 em 10 segundos (como todos sabem, tenho ojeriza a qualquer tipo de mentira, um dos motes principais do filme), incomodei-me com a imposição quase categórica com que as mesmas eram difundidas. Porém, o filme funcionou: ao final, minha mãe lacrimejava, enquanto eu a abraçava em silêncio e contemplava as dobraduras de sua pele progressivamente envelhecida.

E, às 9h30’, eu estava dormindo...

Wesley PC>

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

PARA QUEM (NÃO) ESTÁ VIVO!

Recentemente, o ator espanhol Paul Naschy faleceu. Confesso que nunca vi nenhum filme protagonizado por ele, mas o mesmo tornou-se célebre e imortal em virtude dos vários lobisomens que dignificou no Cinema. Fiquei de luto por esta perda, tão sentida por alguns de meus mais consagrados amigos virtuais. Segui em frente e, graças a consultas enciclopédicas, descobri a existência de uma doença terrível chamada Síndrome de Cotard, que faz com que a pessoa afetada creia piamente que está morta ou, na melhor das hipóteses, organicamente putrefata. Fiquei imaginando o terror que aflige quem padece desta doença, muito bem metonimizada no maravilhoso filme “Sinédoque, Nova York” (2008, de Charlie Kaufman), cujo protagonista hipocondríaco chama-se justamente Caden Cotard. Recomendo, insisto!

R.I.P., Paul Naschy (1934-2009)!

Wesley PC>

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

UM ALENTO NA PLETORA:

Há pouco mais de 3 dias, fui apresentado a mais um destes endereços de relacionamento virtual que pululam na Internet. Trata-se do Filmow, descrito como “um Orkut para cinéfilos”. Em verdade, há pouco de diferente entre esta cópia e o original, salvo o fato de que as conexões entre pessoas dá-se através dos filmes que elas querem ou não querem ver. Receio confessar que é o suficiente para me manter entretido. Por isso, recomendo o tal ‘site’ a quem interessar possa. Juro que é divertido!

Wesley PC>

CAVALGADA

Só mais um pouquinho de Erasmo...

Eu já escrevi um texto aqui no blog dizendo que o Serge Gainsbourg é o tio-avô do Trip-hop. Erasmo Carlos também não deixa a desejar na música "Cavalgada", feita em parceria com Roberto Carlos, e também gravada por Maria Bethânia:


"Vou cavalgar por toda a noite
Por uma estrada colorida
Usar meus beijos como açoite
E a minha mão mais atrevida...

Vou me agarrar a seus cabelos
Pra não cair do seu galope
Vou atender aos meus apelos
Antes que o dia nos sufoque...

Vou me perder na madrugada
Pra te encontrar no meu abraço
Depois de toda cavalgada
Vou me deitar no seu cansaço...

Sem me importar se nesse instante
Sou dominado ou se domino
Vou me sentir como um gigante
Ou nada mais do que um menino...

Estrelas mudam de lugar
Chegam mais perto só pra ver
E ainda brilham de manhã
Depois do nosso adormecer

E na grandeza desse instante
O amor cavalga sem saber
Que na beleza dessa hora
O sol espera pra nascer"


Engraçado que na minha tentativa de Trip hop, por coincidência ou por plágio inconsciente, eu comecei a letra dizendo: "Cavalgue em teu animal predileto...".

Propaganda feita! haha

Leno de Andrade

POR QUE OUÇO ERASMO CARLOS?

Durante a década de 70, enquanto Roberto Carlos se aprofundava cada vez mais em músicas cafonas (confesso que gosto de muitas delas), seu amigo Erasmo Carlos insistia no jeito Rock'n'roll-Tremendão (yeah!), dessa vez dialogando com o Soul e a Tropicália (o disco de 71 foi produzido pelo maestro da Tropicália Rogério Duprat e teve a música "Preciso urgentemente encontrar um amigo" gravada pel'Os Mutantes), sem perder de vista seu lado romântico (Tá bom! Tá bom! Também sou cafona).

Pra mim, a década de 70 foi a melhor fase do Tremendão. Eu não poderia deixar de expor aqui algumas músicas que me pegam de jeito:


Sou uma criança, não entendo nada (do disco "1990 Projeto SalvaTerra" de 74)

Antigamente quando eu me excedia
Ou fazia alguma coisa errada
Naturalmente minha mãe dizia:
"Ele é uma criança, não entende nada"...

Por dentro eu ria
Satisfeito e mudo
Eu era um homem
E entendia tudo...

Hoje só com meus problemas
Rezo muito, mas eu não me iludo
Sempre me dizem quando fico sério:
"Ele é um homem e entende tudo"...

Por dentro com
A alma tarantada
Sou uma criança
Não entendo nada...

___________ ___________________

Grilos (do disco "Sonhos e Memórias" de 72)

Se você passar daquela porta
Você vai ver
Como é que são as coisas
Como é que estão as coisas
Sei que o mundo pesa muitos quilos
Não me leve a mal se eu lhe pedir
Para cortar os grilos
Pra cortar os grilos
Pra cortar os grilos
Pra cortar os grilos
Aí, então, você vai se convencer
Que se o mundo pesa
Não vai ser de reza
Que você vai viver
Descanse um pouco
E amanheça aqui comigo
Sou seu amigo, você vai ver
Sou seu amigo, você vai ver

____________ ____________

Além dessas, "É preciso dar um jeito meu amigo" e "Dois animais na selva suja da rua" do disco de 71 são bastante expressivas.

Ouçam! Principalmente os 3 discos citados.


Leno de Andrade


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

“NÃO HÁ DESTINO, EXCETO O QUE FAZEMOS”?

Por vias normais, “O Exterminador do Futuro: A Salvação” (2009, de McG) não seria um filme que constaria de meus favoritos. Às 11h de hoje, porém, enquanto frustrava-me por ter acordado tarde para ir à praia, fui convidado por um vizinho para assistir a tal obra obviamente deletéria, absurdamente desnecessária e dissonante dos ótimos filmes originais dirigidos pro James Cameron. Aceitei o convite por interesses fortuitos (necessidade de sociabilização e análise da anomia contemporânea de Hollywood à frente) e fui acertado em minhas previsões: o filme é horrendo!

Confesso que, ao analisar o currículo bagunçado do diretor McG, fiquei empolgado em imaginar a esculhambação típica de sua montagem na saga interminável do militante da resistência humana contra as máquinas John Connor. Não obtive êxito. O filme é mui comportado em sua obsessão insistentemente explosiva. Os bons atores envolvidos no projeto (Christian Bale, Bryce Dallas Howard, Helena Bonham Carter) são desperdiçados, o roteiro é estapafúrdio, a forçação de barra das situações de perigo que envolvem os humanos desprivilegiados é intragável! Ainda assim, foi a sessão foi sociologicamente divertida. De 10 em 10 minutos, o meu vizinho/amigo/fornecedor comentava: “a luta é injusta”! De meu lado, eu brincava com os jargões imbecis do filme (“o que diferencia os humanos das máquinas é que nós enterramos nossos mortos” ou “para continuar sendo um ser humano, é preciso manter-se vivo na mente e no coração” como sendo alguns deles) e ficava chocado ao imaginar como um filme infundado como este obteria qualquer mérito de público. O que está acontecendo com o público de cinema, oh, meu Deus?!

Em verdade, não era bem sobre isso que eu queria escrever, mas estou tão atolado de trabalho estes dias que desafogar minhas mágoas com qualquer assunto (ou filme ou pessoa) far-me-ia deveras bem. É isso! Gosto bastante do mês de dezembro, mas, ao mesmo tempo...

Wesley PC>
"Sodoma é traição. Gomorra é revolução". (Frei Felipe Moreira, 1645).

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A CENA MAIS GENIAL DO ANO (PASSADO):


"Sinédoque, Nova York" (2008), primeira preciosidade do genial roteirista masturbatório Charlie Kaufman como diretor, está em cartaz num cinema aracajuano. Por favor, vejam-no!

Wesley PC>

domingo, 13 de dezembro de 2009

DEVOLUÇÃO AO REMETENTE (TU CHAMARÁS DE PLÁGIO, EU DIREI QUE É UM AGRADECIMENTO)


Não vou mentir: conhecia pouco do Ralph Waldo Emerson até a manhã de hoje. Ao receber uma mensagem desnorteadora de uma pessoa sincera, senti-me intimado a buscar mais sobre ele. E agora, junto àquelas imagens perturbadoras do primeiro filme como diretor do Charlie Kaufman, são as palavras abaixo que me servirão como obituário prévio de 2009:

"Por que me preocupei com o fato de não ser a outra parte capaz de receber toda a minha amizade? Parece-me ultimamente mais possível do que eu imaginava que um dos amigos se comporte com maior grandeza que o outro, que não haja a devida correspondência. Por que aborrecer-me com o fato do depositário de minha amizade não ser digno dela? Não se preocupa o Sol com o fato de alguns de seus raios caírem no espaço ingrato e de somente uma pequena parte cair no planeta que os reflete. Deixa que tua grandeza eduque a teu companheiro rude e frio. Se não é igual a ti, logo ficará; porém a ti engrandece teu próprio brilho, e, não sendo já igual aos sapos e aos vermes, subirás e arderás com os deuses do Empíreo. Crê-se que seja uma desgraça amar sem ser correspondido. Mas quem for realmente grande compreenderá que o verdadeiro amor não pode ser correspondido."

Obrigado de coração, tu sabes quem!

Wesley PC>

O JOVEM STEPAN NERCESSIAN E O QUE SEI DA ALMA MASCULINA:


Há alguns meses, vi de supetão um filme chamado “Marcelo Zona Sul” (1970, de Xavier de Oliveira), desavisadamente exibido na TV Cultura. Fui hipnotizado pelo charme triste daquele filme lindo, daquele retrato precioso de época e adolescência, protagonizado por Stepan Nercessian, aos 17 anos de idade, lindo e desiludido. Na noite de ontem, enquanto zapeava os canais de TV, em busca de imagens e sons agradáveis que me fizessem companhia midiática enquanto eu ingeria a deliciosa sopa de legumes preparada por minha mãe, deparei-me com “André, a Cara e a Coragem” (1971), dirigido pelo mesmo Xavier de Oliveira, protagonizado pelo mesmo Stepan Nercessian (agora com 18 anos, mais ainda lindo e desiludido) e cerceado pelo mesmo desencanto adolescente do filme anterior. Fui novamente hipnotizado pelo charme triste!

Na trama, o protagonista André chega de uma cidade interiorana e se hospeda numa pensão. Divide quarto com um marinheiro, que viaja sempre para a Europa e o conforta com estórias de viagens e revistas de sacanagem importadas da Suécia. Quando fica sozinho, André vai a um bordel e realiza sexo mecânico, emitindo sobre sua virgindade. Tenta arranjar emprego, mas sempre comete erros e despedido, assaltado ou assediado por homossexuais e solteironas que tentam distrair a solidão pagando um gigolô. Mas nada parece confortar André, até que ele se apaixona por uma colega de trabalho numa lavanderia. São despedidos, ela engravida e (vou entregar o final), um novo ano chega. Porém, nada acaba. A falta de perspectivas de André permanece suspensa, enquanto pessoas comemoram a chegada do novo ano.

Filem lindo, visto sem pretensões, mas, desde já, eternizado como sendo um dos mais encantadores retratos de minha situação atual, não necessariamente triste ou derrotado, mas cônscio de que há algo mal no mundo, de que o capitalismo evoluiu ao paroxismo de sua alo-destruição e de que, por pior que eu aja de vez em quando, há quem esteja ao meu lado. Quem me dera encontrar um mocinho triste com a cara do Stepan Nercessian pós-adolescente por aqui...

Cada qual a seu modo, os dois filmes citados ajudaram-me a construir uma imagem bastante poética do adolescente periférico-padrão, do tipo de homem de vinte e poucos anos que tanto me atrai. Não obstante haver no filme uma cena bastante angustiante, em que André espanca o viado que tenta alisar seu pênis enquanto ele dormia, fiquei a seu lado até o final da projeção, sentia o que ele sentia, sabia o que ele achava que sabia... Na melhor cena do filme, aliás, André é intimado a provar as roupas que uma solteirona solitária e endinheirada lhe compra. Primeiro as camisas, depois as calças e, por fim, as cuecas. “Tire sua roupa aqui mesmo. Faz de conta que sou sua mãe”. Na hora H, a poucos segundos e milímetros do órgão sexual desejado do rapaz, a campainha toca e a câmera focaliza outra coisa. A sugestão, porém, estava lançada. Jamais aquelas imagens me sairão da cabeça! Por isso, advirto: “André, a Cara e a Coragem” (1971), de Xavier de Oliveira, é um título de filme a ser escrito com letras vermelhas no caderno de lembranças da vida.

Wesley PC>

sábado, 12 de dezembro de 2009

INFERN.L (OU DE QUANDO FALTA O “A”)


Pela primeira vez nos sete anos em que trabalho no DAA da UFS, funcionamos por quase 11 horas ininterruptas. A quantidade de pessoas se inscrevendo no Processo Seletivo para Transferência Externa era tão aberrante que não pudemos fechar as portas, salvo na necessidade inelutável de comer às 13h10’, quando saiu a última pessoa atendida no turno matutino. E, dentre as centenas de pessoas que atendemos nesta sexta-feira, apareceram algumas que são legislativamente merecedoras de “atendimento especial”, que foram desde mulheres caolhas até homens paraplégicos. Uma destas pessoas foi uma mulher carregando uma criança de mais ou menos 3 anos de idade no colo. O garotinho não parava de falar e, em dado momento, gritou com um amigo de atendimento: “vá mais rápido, idiota!”. A mãe, supostamente envergonhada, explicou que a criança aprendera a palavra recentemente e, como tal, usava-a em qualquer oportunidade. Insatisfeita, a criança continuava a cobrar agilidade imaginária, ao que a mãe continuava explicando: “é que ele não está acostumado a passar mais de uma hora na fila”. A mim? Bastou rir. “Vá mais rápido, idiota!” é agora jargão daático! (risos) O que me deixa consciencioso do porquê que filmes como este da fotografia sejam produzidos aos borbotões ano após ano (mais risos)...

Wesley PC>

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

KUMBIA NABIS



Tom Zé disse:
"Eu digo desenrock-se
Meu nego desenrock-se
Desintoxique-se desse apocalipse
Para evitar complicação com a intoxicação
E o buraco das meninas não aparecer com cera
Paraguai e Argentina querem fechar a fronteira
."

Seguindo o conselho do genial Tom Zé, estou baixando algumas bandas de países latino-americanos. Entre os grupos que pesquei na minha navegação pela Internet o que mais me chamou a atenção foi o Kumbia Nabis. Este é um grupo formado por Argentinos radicados em Barcelona. O disco que tive contato (Protestango Por La Yeka, de 2004) traz uma mistura de Cumbia e Tango com certas matizes psicodélicas. Dentro dessa forma híbrida, mesmo com meu pouco conhecimento da língua espanhola, mas que mesmo pra leigos nem sempre fica difícil de entender, pude perceber nas letras do Kumbia Nabis um grande teor de crítica social.
Deixo aqui, pra quem quiser dar uma sacada, um vídeo da banda tocando a música "Reflexion".



Leno de Andrade

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

LINHAS PÓS-MODISTAS SOBRE O TERROR DA TEMPORADA:


Eu ainda não gostei do filme, mas estou tendo problemas para dormir depois que o assisti. “Atividade Paranormal” (2007, de Oren Peli) é uma experiência apavorante, no melhor sentido do termo, e ainda legitima as minhas teses sobre a necessidade sobressalente de conservação de relacionamentos amorosos. Só por isso, merece uma nota 4,0. Mas, se eu vê-lo de novo, aumento a nota. Certeza! Pode não ser bom como apregoam, mas é um filme que perturba. Muito. Muito mesmo!

Wesley PC>

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PARA FICAR OUVINDO DEBAIXO DO TRAVESSEIRO:

“Estou vendendo um realejo
Quem vai levar, Quem vai levar?
Já vendi tanta alegria, Vendi sonhos a varejo
Ninguém mais quer hoje em dia acreditar no realejo
Sua sorte, seu desejo ninguém mais veio tirar
Então eu vendo o realejo.
Quem vai levar?”


Esta canção data de 1967 e até hoje eu não a havia escutado. Levo-a, portanto, comigo no sono que se aproxima. Que ela me sirva de alento ao despertar. Porque Chico Buarque de Holanda permanece!

“Estou vendendo um realejo. Quem vai levar, quem vai levar?
Quem comprar leva consigo todo encanto que ele traz
Leva o mar, a amada, o amigo, o ouro, a prata, o praça, a paz
E de quebra leva o harpejo de sua valsa se agradar
Estou vendendo um realejo. Quem vai levar? Quem vai levar?”


Wesley PC>

“EU DEI A MEU AMOR UM FRANGO SEM OSSOS”...


Recentemente, eu tachei o diretor Frank Capra de “hipócrita” num texto clemente sobre aquela que talvez seja a sua obra-prima, “A Felicidade Não Se Compra” (1946). Ao conversar com alguns amigos virtuais espanhóis sobre ele, fui convencido de que, ao invés de ter escrito “hipócrita”, deveria ter escrito “feliz”. Afinal de contas, mais do que qualquer outro cineasta vivo até 1991, o mais norte-americano dos italianos não fez outra coisa senão mostrar que as pessoas poderiam ser felizes. Mesmo que, para tal, devessem servir-se de eufemismos tão extremos que mentiras converter-se-iam em “ilusões”. Isso foi o que percebi exatamente agora, ao ver seu último e mais estranho filme, o ótimo “Dama Por Um Dia” (1961), regravação contemporaneizada de um filme que ele próprio dirigira em 1933.

Na esquisitíssima trama do filme, um contrabandista de bebidas crê que sua sorte nos negócios ilegais advém dos contatos eventuais que trava com uma mendiga bêbada que lhe vende maçãs. Ele é vivido por Glenn Ford, célebre por seus papéis de gângster na era de ouro hollywoodiana. Ela é interpretada por Bette Davis, eterna megera injustiçada e imperiosa dama do cinema norte-americano. 5 minutos de filme e a hipercodificação advinda do reconhecimento destes astros facilitam a apreensão do filme. Algum tempo decorre e descobrimos que a mendiga possui uma filha rica vivendo na Espanha e que a mesma a visitará em breve. A fim de que a mesma não descubra que sua mãe é paupérrima e miserável, um complô arriscado proposto por uma protegida órfã do contrabandista fará com que a mendiga se hospede num dos mais caros hotéis de Nova York e sem-teto pernetas sejam convertidos em posudos tocadores de acordeom. E isto é apenas o começo de 136 minutos de completa inversão dos ditames classistas de Hollywood: Frank Capra chega a ser subversor com este filme! Logo ele...

Não sei se será de bom tom pré-natalino estender-me nas diversas reviravoltas e imbricações morais a que este filme se submete, mas... Fiquei absolutamente perplexo com o discurso difícil de ser interpretado de forma maniqueísta que foi conduzido por este ferrenho defensor da democracia oportunista que atende pelo nome de batismo Francesco Rosario Capra. À medida que o filme se aproximava de seu final, mais eu me agoniava diante da completa (im)possibilidade de um “final feliz”. Como uma típica fábula de dezembro poderia terminar de maneira otimista quando seus personagens queimam as axilas de outrem, são perseguidos pela polícia por, entre outras atividades, seqüestrar repórteres, e agem de forma muito libertina em relação aos costumes sexuais da época? Não conseguia encontrar resposta e, receio dizer, continuei sem a encontrar após a conclusão do filme. Porém, aceito agora de muito bom grado a correção que meus amigos virtuais espanhóis me fizeram: Frank Capra é um gênio! E, se por um momento eu enganei-me acerca dos significados inter-relacionados dos termos “hipócrita” e “feliz” é porque talvez eu seja mesmo um invejoso. Tenho mais é que ter cuidado com o que penso do mundo!

Wesley PC>

domingo, 6 de dezembro de 2009

DA ARTE DE MATAR SAUDADES (E OUTRAS COISAS MAIS):


Hoje eu revi um filme muito pessoal: o português “O Fantasma” (2000), de João Pedro Rodrigues. Se digo que ele é muito pessoal, os motivos são fáceis de serem conhecidos: o personagem principal é um lixeiro; a obsessão por sexo do mesmo leva-o a extremos como masturbar-se usando uma cueca encontrada no lixo; lambe paredes de banheiros públicos enquanto se enforca durante a masturbação; fica obcecado por um motoqueiro, perseguindo-o invadindo a sua casa e seus locais de lazer; mija para marcar território; usa a nudez como arma (que atira pela culatra, inclusive); sofre e faz sofrer.

Vi este filme duas vezes no extinto Cine Vitória, da antiga Rua 24 Horas. Foi o último filme lá exibido, visto que, na semana seguinte, protestos de famílias sergipanas contra a imoralidade do local conseguiram que o cinema fosse fechado. Não sei que ano era, mas sei que me vi loucamente no filme, que sentia-me como o protagonista Sérgio (muito bem vivido por Ricardo Meneses) e esta cena da piscina repercutiu em minha mente por meses. Pena que não tenha conseguido uma fotografia com melhor resolução para dar uma idéia do que se trata, mas advirto: é um filme forte, nojento, bizarro, animalesco, selvagem, cruel, pornográfico, mas, acima de tudo, humano, apaixonado e vivo – mais ou menos como eu!

Wesley PC>

sábado, 5 de dezembro de 2009

EM BREVE, ESCRAVIDÃO DA MODA!


Suponho que não tardará para que o seriado televisivo “Glee” chegue à televisão aberta. No canal fechado brasileiro Fox, já foi exibido até o quinto episódio e eu confesso: corro para chegar em casa nas noites de quarta-feira para assisti-los!

“Glee” é mais um daqueles seriados adolescentes norte-americanos e, ao mesmo tempo, não é apenas mais um. A trama é focada nos dramas de um grupo de adolescentes rejeitados, que crêem que podem se tornar respeitados ao entrarem para um grupo de coral escolar. Neste grupo, estão uma gótica asiática que gagueja, um homossexual rico e afetado, uma gordinha talentosa e apaixonada pelo referido homossexual, um paraplégico guitarrista e uma jovenzinha hostilizada pelos colegas, não obstante ter uma belíssima voz. A eles se juntam os membros da torcida e do time de futebol americano do colégio, com finalidades bem distintas de integração. E a tessitura de vidas sofridas se amalgama...

Gosto particularmente do personagem homossexual Kurt (Chris Colfer), com um senso de humor afinadíssimo e que arrasa ao coreografar o time masculino de futebol com a canção “Single Ladies”, de Beyoncé. Porém, o foco do seriado vai mesmo para o casal Rachel (Lea Michele, mui tímida, apesar do estrelismo defensivo de sua personagem) e Finn (Cory Monteith, lindo e um tanto lerdo, de propósito, segundo me contaram). Ela quer ser a estrela do coral a qualquer custo e não percebe que sua birra permanente retroalimenta o ódio que seus colegas sentem por ela. Ele, por sua vez, entra no clube do coral graças a uma mentira: um professor acusa-o falsamente de portar maconha. Mas sua voz poderosa e seu poder público de influência são requisitos essenciais para o clube do coral ganhar certa notabilidade.

Não sei se é de bom tom eu derramar-me de elogios por este seriado, mas, juro, ele é bom, muito bom, gosto de coração: faz com que nós, perdedores e fracassemos inevitáveis, tenhamos um pólo de identificação. Nisso, o seriado se diferencia bastante dos 8.000 congêneres patrícios. O personagem da obsessivo-compulsiva Emma (Jayma Mays), apaixonada por um professor casado, é a que melhor funciona comigo, neste sentido.

Detalhe: acima de qualquer coisa, “Glee” é um seriado musical, que retrabalha canções famosas. No primeiro episódio, por exemplo, há uma versão de “Rehab”, da Amy Winehouse, que chamou bastante atenção do público, mas que não me agradou muito, ao contrário de “Bust Your Windows”, da ‘rapper’ Jazmine Sullivan, vivificada passionalmente por Mercedes (Amber Riley), quando seu amado Kurt diz que ama outra pessoa, antes de assumir-se como ‘gay’. Aquilo é paixão!

Porém, nada que eu tenha visto neste seriado até hoje (sábado, quando o canal Foz está reexibindo os cinco primeiro episódios, para quem perdeu algum detalhe por causa do vício da mãe em telenovelas), supera a beleza e tristeza da versão de Rachel para “Take a Bow”, canção que não conheço no original da Rihanna, mas que ficou perfeita (repito: perfeita!) no seriado, quando seu amado Finn é flagrado beijando sua namorada Quinn (Dianna Agron), depois de iludi-la com um beijo permitido. Só esta seqüência seria suficiente para justificar a minha defesa do seriado nesse texto: é bom. Não tenham vergonha de conferi-lo se estiver passando diante de vocês...

“But you put on quite a show
Really had me going
But now it's time to go
Curtain's finally closing
That was quite a show
Very entertaining
But it's over now (but is over now)
Go on and take a bow”


Amar dói!

Wesley PC>

OU: DIGAM-ME QUE É VERDADE E EU JURO QUE ACREDITO!


Eu preciso rever “A Felicidade Não Se Compra” (1946), do monstruoso Frank Capra, antes que a depressão natalina registrada na OMS se instale. Alguém tem como me conseguir este filme? URGENTE!

Wesley PC>

“AND ANA WRECKS YOUR LIFE LIKE AN ANOREXIA LIFE”…

A primeira frase da canção, “por favor, morra, Ana!” já revela que há algo de genial e suspeito nesta canção aparentemente romântica e suprema do grupo de ‘rock’ australiano liderado pelo anoréxico, sofredor de artrite e recém-divorciado mais lindo do mundo: Daniel Johns, do Silverchair.

Disparei esta canção sem querer antes de ir para casa, na noite de ontem, e fiquei analisando os fabulosos jogos de palavras contidos nesta brilhante canção, neste atestado de dor, nesta obra-prima da agonia, em que o eu-lírico chega ao cúmulo de gritar: “and you’re my obsession. I Love you to the bones”. Mas ele não dirige seu lamento a uma mulher. Declara-se a uma doença. Lindo, lindo!

Quanto mais eu presto atenção ao Silverchair, mais eu percebo o quanto eles são inteligentes e dramáticos!

“Imagine pageant
In my head, the flesh seems thicker
Sandpaper tears corrode the film
And I need you now somehow
And I need you now somehow

Open fire on the needs designed
On my knees for you
Open fire on my knees desires
What I need from you”


Wesley PC>

“O BRASIL VAI PARAR!”, GRITA MEU IRMÃO


Ontem, no trabalho, o assunto era somente esse: a tal decisão futebolística que ocorrerá amanhã, domingo, dia 6 de dezembro de 2009. Não sei direito do que se trata (por detestar futebol), mas, ouvindo as informações que meu irmão caçula não pára de gritar, parece que o time carioca com a suposta “maior torcida do Brasil” está 2 pontos a frente de todos os outros concorrentes no Campeonato Brasileiro (é isso?) e é o mais forte candidato a conquistar o título deste ano. A empolgação nos dois lugares em que mais gasto tempo de minha vida é ensurdecedora. No ímpeto por respeitar as paixões alheias, hoje dediquei-me a baixar várias versões de hino em prol do referido time para o rebento flamenguista de minha mãe, de maneira que, já imagino, amanhã não se ouvirá outro assunto na mídia, amanhã serei refém de minha própria tolerância respeitosa às citadas paixões de outrem...

Não somente eu nunca entendi como as pessoas mergulham violentamente nesta paixão pelo futebol (sempre fui tomado por uma inveja inevitável quando passo diante de crianças semi-alfabetizadas que conhecem todos os detalhes nomenclaturais e históricos de seu time de coração), como tenho um trauma patológico de infância relacionado ao tema: como é sabido de todos, só fui dispor de uma televisão em casa após os 13 anos de idade. Como tal, era obrigado a ver filmes e/ou demais programas televisivos que me interessavam em casas de terceiros, sujeito a conversas que atrapalhavam a minha concentração e a moléstias sexuais não necessariamente desejadas. Num dia muito específico de 1994, “O Poderoso Chefão” (1972), clássico absoluto de Francis Ford Coppola que eu não tinha visto até então, ia ser exibido na Rede Globo. Na Rede Bandeirantes, a final de um jogo do Flamengo contra outro time. O filme não estava sendo visto em nenhuma casa vizinha, que eu conhecesse. O jogo era ouvido e gritado em todos os locais da vizinhança. Custava o meu irmão ir ver o jogo num bar ou outro lugar, acompanhado de seus amigos, conforme sempre fazia? Como a situação de seu time era delicada, ele não o fez, até que o time estivesse com vantagem irreversível. Conclusão: meu filme já era!

Lembro que, neste dia, eu e meu irmão tivemos a maior briga de nossas histórias. Odiei-o fortemente neste dia, bem como irritei-me com minha mãe condescendente, que permitiu que ele levasse a melhor. Rolamos no chão, socando-nos mutuamente, até que apanhei de duas pessoas ao mesmo tempo (minha mãe, afinal, tomou a defesa de meu irmão). Quem ia querer ver um precioso exemplar da sétima Arte, com quase 3 horas de duração, naquele momento? Naquele dia, conheci a infelicidade e a derrota. E o pior: sabia que elas iriam ter volta!

E agora ouço:
“O Flamengo em primeiro lugar
A razão do meu viver
O Flamengo me faz delirar
E o Maracanã tremer”

(“Hino Camisa 12 do Mengão” - Dominguinhos do Estácio)


Wesley PC>

PAPUA NOVA GUINÉ!


Difícil imaginar que alguém possa ter uma atuação ruim ao compartilhar a cena com o canastrão sedutor Reynaldo Gianecchini, mas em “Entre Lençóis” (2008), do colombiano Gustavo Nieto Roa, aconteceu: Paola Oliveira é uma péssima atriz! Ruim mesmo!

O que é estranho é que, para além das más atuações do casal protagonista, eu quase gostei do filme. É que a idéia original é muito boa. Pisada e repisada nos circuitos independentes internacionais, esta trama minimalista do casal que se encontra fortuitamente e passa a noite mais bonita de suas vidas juntos sempre foi muito desdenhada aqui no Brasil e, para além das assumidas pretensões comerciais e supostamente eróticas do filme, o resultado é apreciável sim. Cumpre o seu papel: faz com que questionemos nossos sonhos e paixões e decisões e inércias e desejos e aptidões e vontades e masturbações e tudo o mais que estiver entre eles.

No filme, uma mulher e um homem se encontram numa boate. Beijam-se, vão para um motel e fodem. Depois, começam a conversar, a conversar e a conversar. Fodem mais uma cinco vezes em 88 minutos de duração. E conversam, conversam e conversam. Algumas vezes, a conversa fica fora de tom, afetada, burguesa, mas o sumo é sempre agradável: ela vai casar e queria uma despedida de solteiro como se fosse homem; ele acabara de brigar com sua esposa e não queria nada, apenas estava ali. Fodem e percebem novos rumos para suas vidas. Enquanto idéia, insisto: a proposta é ótima!

Na bolsa dela, encontramos vários fetiches sadomasoquistas, como vibradores de borracha, algemas de pelúcia e chicotes de couro. Na mente dele, uma necessidade de fotografar tudo, de transformar até mesmo a mais banal das ações num serviço profissional, conforme se destaca na sua justificativa para encher o quarto do motel de pétalas de rosas. Enquanto isso, eles se banham, discutem sobre punheta e siririca, falam sobre como descobriram o sexo e/ou o amor, dançam e fazem ‘strip-tease’, beijam-se, brigam por bobagens, ameaçam ir embora, reconciliam-se, etc.. Por pior que sejam as atuações e por mais mecânica que seja a condução do erotismo no filme, valeu a pena eu tê-lo gravado em DVD. Talvez eu precisa deste filme, num futuro imaginário, para mostrar o que NÃO deve ser uma Discussão de Relacionamento (vulgo DR – risos). Se alguém quiser conferir...

Observações: ele pode ser um canastrão, mas é gostoso pra caralho e, na cena em que pronuncia o nome do país exótico que intitula esta postagem para mostrar que as mulheres (ou andromaníacos em geral) adoram um bronco, eu pensei: “pôrra, precisa mais o quê?” (risos)

Wesley PC>