sábado, 11 de abril de 2009

A CULPA (NÃO) É (SÓ) DO BERTRAND TAVERNIER!


Estando em casa nesta Sexta-feira da Paixão, desejoso por algum filme que me mostrasse os benefícios e deméritos da amoralidade, pus “A Isca” (1995, de Bertrand Tavernier) para ser executado em meu problemático aparelho de DVD [marca: Samsung, que também está apresentando defeitos na casa de Rafael Maurício. Será tendência criminosa empresarial? Mera coincidência? Um sinal de coligação extra-maquinária? Demos tempo ao tempo...]. Como já havia me favorecido com a passionalidade empregatícia generalizante deste cineasta, em detrimento dos sentimentos pessoais de seus personagens, cri que tal filme saciaria meus intentos. Não o fez (visto que, conforme muitos críticos foram sábios em apontar, a prolixidade extrema de sua realização esvazia a crítica marginal do mesmo), mas, ao perceber que um hedonismo primário pode redundar em ambição empresarial (o tema do filme é a vontade de enriquecer de alguns jovens, que praticam latrocínios com o objetivo de acumularem capital para abrir uma fabrica têxtil nos EUA), relembrei de um filme francês produzido no mesmo ano que o premiado “A Isca” e fui catapultado para a minha adolescência, quando entrei em contato com o doloroso atestado de a/imoralidade que atende pelo nome de “Não Esqueça que Você Vai Morrer” (1995).

Escrito, dirigido e protagonizado pelo gracioso prodígio Xavier Beauvois, “Não Esqueça que Você Vai Morrer” é uma das mais impactantes descidas ao inferno da juventude que eu já tive a oportunidade de ver numa tela (mesmo que o filme não seja necessariamente bom). Quando eu assisti a este filme, era um sociopata de mais ou menos 16 anos e fiquei impressionado com aquelas imagens fortes, com aqueles conselhos truncados, com aquela falta de perspectivas... Vamos ao que fala o filme: trata-se de um jovem bonito que, ao descobrir que está com AIDS, enraivece-se por completo e, sem querer se importar com quem lhe passou a doença, resolve se vingar equivocadamente da sociedade que deu origem a esta síndrome e resolve experimentar tudo o que se privara até então, desde o consumo de heroína até o homossexualismo promíscuo e a guerra, transmitindo inadvertidamente a doença incurável de que é agora cometido e morrendo, antes de morrer de verdade.

É um filme sem sentido, da mesma forma que é sem sentido o mundo que cercava o personagem e que me cercava à época (como se o mundo atual tivesse sentido – risos amargos). Lembro que, quando vi o filme, pouco me lixava em pegar AIDS. Como era um ser odiado por quase todos que conviviam comigo, achava que, se estivesse com a tal doença, podia forçar alguns meninos bonitos que me deploravam a ficarem nus em minha frente, numa enfermaria qualquer... Ledo engano. Quando entrei na Universidade, alguns anos depois, conheci alguns amigos ‘gays’, que tentaram me fazer temer a AIDS, apelidada por eles de “tia”, doença esta que “nasceu” na mesma era que eu, que quase posso considerar uma irmã geracional. Não sei o que faria se descobrisse agora que estou com AIDS ou qualquer uma destas famosas doenças terminais, mas o arsenal de sofrimento que o personagem do Xavier Beauvois despeja em todas as pessoas que passam por sua frente jamais saiu de meu pensamento. Por precaução, prefiro manter meu foucaultismo ferrenho e manter-me longe dos hospitais...

Wesley PC>

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