sábado, 27 de junho de 2009

Little Boots ( botinhas)

Há duas semanas mais ou menos ouvi falar da 'Little Boots', mas não escutei nem pesquisei, nem nada. Ontem a ficha caiu e percebi que 'little boots' era o apelido do Caligula no filme, heueheueheuehue ( gosto de perceber conexões... XD). Pesquisei e vi que uma amiga da cantora colocou esse apelido nela, o motivo não foi explicado...

Ouvi algumas músicas, baixei o cd e tô achando bacaninho, XD


Aqui vai uma apresentação dela ao vivo:




Só faltou ela dançar...




**** Michael jackson, continue dançando! ( sim, plageei isso, kkkkkkkkkkk)



Améeericooo

“THE ROLLING STONES – SHINE A LIGHT” (2008). Direção: Martin Scorsese


“It is the evening of the day,
I sit and watch the children play.
Smiling faces I can see
But not for me,
I sit and watch as tears go by”


Este é o primeiro grande clímax do documentário aqui resenhado, que acabo de ver. Conheci esta canção lenta e maravilhosa num filme do Jean-Luc Godard, em que a jovem, bonita e talentosa namorada de Mick Jagger à época, Marianne Faithful, cantava esta preciosidade melancólica em ‘close-up’. Antes de encetar a letra e nos emocionar, porém, o vocalista de The Rolling Stones disse que não costuma cantar esta canção em seus concertos, pois não gostava dela quando a compôs. Como pode? Até mesmo meu irmão caçula se emocionou ao ouvi-la, pensando que a mesma fora composta por Renato Russo!

Mas sigamos em frente: não somente acho a canção fabulosa, como ela me fez recordar um episódio intenso que me ocorreu dialogicamente na noite de ontem. Conversando com uma amiga comum, que está preocupada com a doença de seu pai com idade avançada, deixo escapar que nossos amigos estavam numa festa de aniversário. Ela lembra-se que também fora convidada, mas disse que prefere recusar: “imagina só, Wesley, todos lá se divertindo e eu triste”. Ao ouvir novamente esta canção, a associação foi imediata. A amiga em questão é Eliane Charnoski e, de minha forma tímida, envio aqui vibrações positivas a ela.

Voltando ao documentário: não era de surpreender que o norte-americano típico Martin Scorsese demonstrasse toda a sua reverência por esta banda neste documentário, tamanha a quantidade de músicas do grupo que constavam de seus filmes recentes. Porém, para quem não é um conhecedor longevo ou fã da banda, a longa duração do mesmo pode parecer cansativa. Era o meu caso. Entretanto quatro clímaxes dignificam bastante esta obra: o primeiro já foi citado; o segundo é quando Mick Jagger passa o microfone para o carismático Keith Richards e este nos emociona com “You Got The Silver”; o terceiro quando o vocalista volta ao palco, esganiçando a abertura clássica de “Sympathy for the Devil”; e o quarto no fantástico arremedo de um típico plano-seqüência invasivo scorseseano. Só por estas cenas, recomendo a qualquer leigo em música ou cinema (mas não em vida real) a audiência a este documentário, sobre o qual qualquer comentário adicional redundaria na repetição da lista de canções executadas, visto que a música que o grupo britânico faz (entremeadas por entrevistas antigas que insistiam em perguntar aos integrantes se os mesmos ainda estariam ativos aos 60 anos de idade) é o foco central do roteiro mais burocrático – mas, ainda assim, dignificante – de um dos mais geniais cineastas estadunidenses em atividade. Conclusão: vejam o filme, ouça a trilha sonora, ame ao seu próximo!

“You got my heart you got my soul
You got the silver you got the gold
You got the diamonds from the mine
Well that's all right, it'll buy some time”


Wesley PC>

sexta-feira, 26 de junho de 2009

PARA QUEM (NÃO) GOSTA DE PRAIA COM GOMORRENSES...


...Uma opção imperdível é a exibição de “Marcelo Zona Sul” (1970, de Xavier de Oliveira) ao meio-dia de domingo, na TVE Brasil, que, aqui no Estado de Sergipe, é dividida com a TV Cultura na TV Aperipê. Considero este um dos melhores filmes sobre adolescentes já realizados no mundo e um dos mais simpáticos filmes nacionais já lançados. Na trama, Stepan Nercessian (muito gracioso, aos 17 anos de idade) interpreta o personagem-título, um menino comum que, como qualquer outro de sua idade, enfrenta os problemas típicos com namorada, sistema capitalista, autoridade escolar, necessidade de rebeldia investida contra os pais, administração dos prazeres, etc.. Se, por um lado, pode-se dizer que não acontece muita coisa de relevante, por outro, acontece o máximo de relevante que se pode esperar numa estória magnificamente comum como esta, que muitos consideram uma adaptação brasileira exitosa do primeiro longa-metragem nostálgico de François Truffaut. É belíssimo e muito bem-musicado, pela banda cujo vinil é mostrado na imagem. Recomendo a qualquer pessoa! Se eu não rever, é porque estarei na praia com amigos...

Wesley PC>

SÓ O QUE ME FALTAVA...


Duas notícias:

1- Acabo de receber uma ligação de uma colega de trabalho, preocupava porque crê que esquecera o celular na bolsa de sua filha surda que, obviamente, não está atendendo;

2- Vasculhando o ‘blog’ de nosso amigo Wendell, descobri o trabalho do cartunista Andy Riley, que se dedica a apresentar técnicas avançadas (e muito divertidas) para suicídios de coelhos. Difícil escolher a melhor. Não sei se recomendo mais o livro ou a originalidade em acabar com a própria vida (risos)

Wesley PC>

OUTRO VIDEOCLIPE QUE RESOLVE (OU AGRAVA?) PROBLEMAS...


Ao contrário do que sempre desejaram Cameron Crowe, Ken Russell, Sofia Coppola e o movimento ‘gay’ convencional, nunca fui fã de Elton John. Por mais que canções como “Nikita”, “Sacrifice” ou “Your Song”, quando ouvidas com a devida atenção, pudessem me levar ao choro de alívio, foi somente ao me transportar para o videoclipe de “I Want Love”, contida no álbum “Songs from the West Coast” (2001), que eu pude levantar a voz e defender a dignidade e a sinceridade deste espalhafatoso artista. Não somente a letra da canção é linda, mas o videoclipe de Sam Taylor-Wood eleva-a ao píncaro da dramaticidade.

Do que se trata o videoclipe? Um plano-seqüência integral em que o ator Robertr Downey Jr., maculado na vida real por diversas prisões em virtude de problemas com drogas e prostituição, olha fixamente para a câmera, enquanto um sotaque inglês quase didático pronuncia os versos da canção. Ele chora, ele se contorce, ele esperneia, ele ama (visivelmente) e pede ainda mais amor. Não estaria ele contente com todo aquele sofrimento? Fui em busca das demais canções do artista e me decepcionei, mas esta canção – e, principalmente, este videoclipe – entraram para o panteão das obras-primas sentimentais da minha vida!

“I want love, but it's impossible
A man like me, so irresponsible
A man like me is dead in places
Other men feel liberated

I can't love, shot full of holes
Don't feel nothing, I just feel cold
Don't feel nothing, just old scars
Toughening up around my heart

But I want love, just a different kind
I want love, won't break me down
Won't brick me up, won't fence me in
I want a love, that don't mean a thing
That's the love I want, I want love”


Homens como eu são mortos em alguns lugares.
Outros homens se sentem liberados!

Wesley PC>

RAPIDINHA ZOOLÓGICA!


Como acontece com a grande maioria dos seres vivos, a reprodução dos ixodídeos perpassa pelo viés sexual. E, quanto isso acontece, o carrapato-macho precisa fazer uso de um falo. A quem interessar possa, o nome do órgão sexual dos ácaros é edéago. Obrigado e boa noite!

Wesley PC>

quinta-feira, 25 de junho de 2009

QUEM DIRIA? AINDA SOU CAPAZ DE TER EREÇÃO EM ÔNIBUS!


Senti vontade de ir ao cinema hoje. Descobri que o filme mais recente do cineasta inglês mui personalista Mike Leigh estava em cartaz no Shopping Riomar. Saí do trabalho às 16h05’. Passei mais de 35 minutos no Terminal do Campus, aguardando algum ônibus que me conduzisse ao Terminal de Integração Leonel Brizola. Quando este finalmente chegou, logo ficou cheio. Muitas pessoas aguardavam o mesmo ônibus que eu! Encostei-me no meu local-fetiche (aquele espaço reservado aos deficientes físicos) e fiquei com o rosto muito próximo das costas de um menino razoavelmente bonito, que usava o mesmo perfume que alguém que gosto muito. Ao perceber a similaridade odorífera, cheirei-o sem cerimônia. Servi-me para tanto do pretexto de o ônibus estar cheio de gente, de estarem me apertando oportunamente naquele momento. De repente, percebo que estava com o pênis ereto. Eu, que tenho o maior pudor em utilizar a expressão “pau duro”, estava ali, justamente com o pau duro! O que é engraçado nesse contexto erótico era um paradoxo estrutural neste processo de excitação semi-voluntária: se, de um lado, o que me fazia encavar cada vez mais e mais o nariz nas costas do menino era o cheiro que me lembrava outra pessoa, por outro, o que me fazia ter desejos eróticos era o calor do jovem diante de mim, que, felizmente, não esboçou qualquer reação ao meu assédio descontrolado. Pena que a viagem durou pouco. Ele desceu, eu também.

Cheguei ao Shopping Riomar às 17h15’. Por sorte, consegui comprar o ingresso do filme a tempo de ver os créditos de abertura. Nome do filme: “Simplesmente Feliz” (2008). Simplesmente maravilhoso! Mesmo que eu e a platéia tenhamo-nos esbugalhado de rir, gargalhar até, tenho receio em classificar o filme como uma comédia. Ao final, eu e um companheiro estávamos em dúvidas se seguíamos o conselho prático da protagonista e saíamos saltitando por aí ou se repetiríamos os questionamentos protetoriais que faziam constantemente a ela e saímos a perguntar os porquês de tudo ao nosso redor. Optamos pela segunda alternativa. De alguma forma estranha, aquele filme felicíssimo nos deixara reflexivos...

Cabe, portanto, dedicar algumas frases a este filme absolutamente surpreendente: na abertura, a personagem central, de apelido Polly (vivida de maneira impressionantemente simpática por Sally Hawkins, que parecia dopada de tão risonha), passeia em sua bicicleta, esbanjando contentamento. Entra numa livraria, folheia os livros, rejeita algo que fala sobre o caminho para a realidade e tenta alegrar o compenetrado funcionário do estabelecimento. Não tem sucesso. Ao sair, descobre que sua bicicleta fora roubada. Sua maior frustração em relação a isso foi não ter tido uma oportunidade para se despedir. E assim, esfuziante, ela segue a vida, até que, depois de deslocar sua coluna pela prática excessiva de pulos numa cama elástica, ela passa a sentir uma dor incômoda tão forte que passa a ser engraçada. Numa sessão de fisioterapia, nós da platéia gargalhamos junto com ela, que se debulhava em risos altissonantes, sempre que um estalo de dor atravessava sua estrutura óssea. Fazia tempo que não ria por tanto tempo e tão alto numa sessão de cinema. Meus olhos ficaram encharcados de lágrimas! O filme é maravilhoso e um exemplo não-impositivo de como levar a vida. Identifiquei-me. Lembrei de mim mesmo até certo tempo. Estou torcendo para que o filme continue em cartaz. Mais e mais pessoas precisam entrar em contato com esta verdadeira preciosidade cinematográfica! Quanto ao meu pênis? Flácido, flácido, mas estou à espera de um conhecido vizinho, que, por sinal, não tomou banho ainda hoje, o que pode garantir um adorável jorro de glicose seminal no interior de minha garganta ávida dentro de algumas horas...

Wesley PC>

A CURA PARA A SÍNDROME DO “EU ODEIO TODO MUNDO!” EM UMA FOTO, TRÊS PONTINHOS, DOIS PARÊNTESES, UMA ASSINATURA E ALGO QUE JÁ FOI DITO!


(...)

Wesley PC>

“NOBODY LOVES ME/ IT’S TRUE!”


"Not like you do” (só que eu nunca canto a segunda parte deste verso)

Assim entoa a voz divina da Beth Gibbons durante a execução de “Sour Times”, segunda faixa do álbum “Dummy” (1994), do Portishead, que agora ouço. Poderia fazer duzentas mil referências sobre esta banda sensual (“ideal para se ouvir enquanto fazemos sexo”, segundo o senso comum e, que, coincidentemente, foi o que estava tocando de fundo no que em que assediei Marcos Miranda enquanto ele dormia), mas prefiro usar o objeto direto: duas canções do Portishead (“Roads” e “Strangers”) fazem parte da trilha sonora do ótimo e esquisito filme de vampiros “Nadja” (1994), dirigido por Michael Almereyda e produzido pelo bizarro David Lynch e é dele que falo agora:

Fotografado num maravilhoso e tétrico preto-e-branco, “Nadja” é uma estória de amor sombrio, sobre a vampira do título, vivida pela modelo Elina Löwensohn, que zanza pelo mundo reclamando de sua dor, “que é a dor da alegria fugaz”. Apaixona-se por outra mulher, mas esta rejeita o lesbianismo. Seu pai está em coma e ela enfrenta inúmeras crises sobre sucessão familiar malévola. Seu único companheiro é o terno Renfield (vivido por Karl Geary, um de meus atores juvenis favoritos, felizmente ainda pouco conhecido), que nutre uma paixão avassaladora por ela, que não nota, que só tem olhos para sua amada Lucy (vivida pela atriz independente Galaxy Craze). Mas amor é algo que se dá e não se exige. E todos morrerão!

Muitos de meus amigos desgostam deste filme. Acham-no muito programado para ser triste, alternativo. Eu, obviamente, fui completamente seduzido por ele. Já vi duas vezes e preciso de mais. Usar Portishead no cinema é golpe certeiro (Bernardo Bertolucci que o diga!). E eis a música que sempre ouço depois que o filme acaba:

“Please could you stay awhile to share my grief
For its such a lovely day
To have to always feel this way
And the time that I will suffer less
Is when I never have to wake

Wandering stars, for whom it is reserved
The blackness of darkness forever”


Wesley PC>

C’EST LE TEMPS!


En la matin d’aujourd’hui, ma mére voulout un enveloppe. Precisava de um envelope, melhor dizendo. Lembrei que, na semana passada, alguém atirou um envelope branco na varanda de minha casa. Não conferi seu conteúdo, o que irritou minha mãe, que pensou tratar-se de uma macumba. Hoje conferimos o que tinha dentro: um pedido de dinheiro, “pelo amor de Deus, pelo amor de Cristo, etc., etc.”. Primeira frase do bilhete mendicante: “sou uma pessoa muito necessitado” (sic). Última frase: “aceito qualquer quantia. Aquilo que eu receber, Deus vai te dar em dobro”. Remetente: nenhum!

Não pudemos fazer nada, ao passo em que eu estava atrasado para o trabalho. Pus um disco para ser executado e vim ouvindo-o enquanto caminhava: “1968”, álbum da francesa France Gall lançado em 1967. Quem me deu? Américo, lógico. Problema do disco: as faixas estão dispostas em ordem alfabética, ao invés da ordem originalmente contida no disco. Conclusão: deliciei-me com “Avant la Bagarre” (cujos gemidos iniciais levaram-me ao delírio); “Bébé Requin” (e seu potente trombone incidental); “Chanson Indienne” (e seus acordes que mais parecem música egípcia, conforme se pode comparar com a posterior “Néfertiti”); “Gare a Toi... Gargantua” (e seus deliciosos versos gritados e cumulativos); e “Teenie Weenie Boppie” (silabicamente agradabilíssima), para ficar em apenas algumas.

Porém, é com o refrão da simplista “Made in France” que eu encerro esta postagem cotidiana: “My darling, I Love you/ Mon amour, mon amour”. Virei fã da France Gall! Nada como ter amigos que nos deixem informados com o que melhor existe de música mundial...

Wesley PC>

SAMBA DE CÔCO NO MOSQUEIRO: MANIFESTAÇÃO-SURPRESA DA ANTROPOLOGIA SUBJETIVA

Era um dia periférico de São João como qualquer outro: era obrigado a suportar a avalanche altissonante de canções abomináveis de Cavaleiros do Forró, Aviões do Forró, Saia Rodada e outras manifestações satânicas do subgênero. De repente, recebo um telefonema: uma grande amiga convida-me para acompanhá-la num evento popular no Mosqueiro. Aceito após titubear alguns segundos. Fiquei muito mais feliz e inteligente ao tomar tal decisão!Chegamos ao local do evento por volta das 16h30’. Uma procissão de pessoas cantando freneticamente tomava uma estrada de barro. Estas se dirigiam a um prado aberto, onde tencionavam encontrar um tronco arbóreo que pudesse servir de mastro entretenedor para uma festa típica noturna. Por mais que o ritual seguisse à risca a definição clássica de cultura popular (“aquela que é produzida e consumida pelo próprio povo”), era impressionante a quantidade de pessoas externas àquela comunidade, registrando fotográfica ou videograficamente o evento, seduzidas por estarem diante de um legítimo foco de resistência cultural. Na procissão, um menino da localidade vestia uma camisa com o logotipo “rock forever”, outros garotos comparavam animais chifrudos encontrados no caminho a supostos maridos traídos entre eles e tachavam de “viados” quem tinha medo dos bois ou hesitava em carregar o pesado mastro. Eu, por minha vez, que pratico atividades homoeróticas com certa freqüência, não tenho o menor problema em ser vítima de adultérios e levo a sério a vinculação entre indumentária e ideologia, sou cercado por um grupo de crianças, que me chamam, graciosamente, de “vaqueiro da Caueira”. Motivo: vestia uma calça ‘jeans’ desbotada, uma camisa de linho verde e um colete de couro sintético por cima. Senti-me integrado desde então à festa. Sabia que ia me divertir dali por diante...
Andamos um pouco mais. A cantoria desenfreada volta. Pessoas de todas as idades dançavam pelas ruas. Alguns homens cavam um buraco no chão e enfiam o tronco arbóreo. Atam a este mastro algumas laranjas, milhos, goiabadas, latas de sardinhas e uma caixa de fósforos contendo um valor em dinheiro. Descansam um pouco. Eram 17h. A festa de verdade iria começar após a novena religiosa das 19h30’! Nesse entretempo, interagi com algumas pessoas: acompanhei um diálogo entre minha amiga e alguns moradores do local. Com todo o seu saber universitário e algumas preocupações de cunho sociológico, ela fazia previsões preocupantes sobre o futuro daquele tipo de celebração, que periga ser territorialmente desapropriada pelo Estado. Ela falava com as pessoas como se eles fossem objetos de um estudo antropológico. Não era culpa dela, nem era uma atitude má intencionada, mas a situação era de fato preocupante – e todos sabem que preocupações foram a base do Holocausto Judeu e da invasão das tropas norte-americanas ao Iraque, para ficar em exemplos gerais. Mas voltemos à festa:Às 19h30’ em ponto, os celebrantes da novena religiosa de São João chegam à igrejinha. Cantam num misto de latim com português orações básicas do catolicismo, que logo cedem espaço a orações em ritmo de samba de côco. Do lado de fora, a fogueira era acesa. O mastro cai. Crianças se estapeiam para buscar as laranjas, os milhos, as goiabadas, as latas de sardinha e, principalmente, a caixa de fósforos com dinheiro. O Capitalismo chega aos confins do mundo, já previra Karl Marx com outras palavras!
Mas a festa ficava cada vez mais e mais divertida. E mais e mais conhecidos da UFS chegavam ao local. Trocamos abraços e entramos na roda. Num momento de descanso, sou interpelado por uma habitante do local, que disse que “eu dançava de forma divertida”. Fiquei todo orgulhoso, pois ela acrescentou que a função do evento é esta mesmo: divertir. Dancei ainda mais freneticamente depois deste panegírico popular tão genuíno. Uma equipe de TV a cabo chega para registrar o evento. Ao invés de consumirem o licor distribuído gratuitamente pelos festivos (e que era apelidado de “meladinha”), eles bebericaram vinho em taças vítreas que trouxeram consigo. Achei estapafúrdia tal demonstração de boçalidade, mas queria mais é me divertir, integrar-me a um legítimo reduto de cultura popular. Desdenhei, ignorei os energúmenos midiáticos. Deixei de exercer a antropologia e me confundi com o povo. Foi lindo. Um dos melhores e mais surpreendentes eventos juninos de toda a minha vida! Wesley PC>

OBSERVAÇÃO RÁPIDA SOBRE “HAIRSPRAY – E ÉRAMOS TODOS JOVENS” (1988), DE JOHN WATERS, E SUA FUTURA (E DESNECESSÁRIA) REGRAVAÇÃO


Recentemente, eu teci alguns comentários negativos ao musical hollywoodiano “Hairspray – Em Busca da Fama” (2007, de Adam Shankman). Um dos principais argumentos contra o filme é que ele era regravação de um filme dirigido por um cineasta do qual sou fã, o que, para mim, é, por si só, dispensável. Ontem eu vi o filme original e, para minha surpresa, achei-o levemente inferior à sua posterior regravação. Não que isso me faça corrigir qualquer comentário feito sobre o filme mais recente, mas preciso admitir que John Waters realizou aqui o seu filme mais transgressivamente nulo, em que o discurso bem-intencionado pró-integração racial perde-se na redução dos elementos de infâmia que caracterizavam suas ótimas obras anteriores. Se em “Pink Flamingos” (1972), os destaques eram um ‘strip-tease’ anal e a antológica cena em que o travesti Divine come cocô de cachorro fresco; e em “Female Trouble” (1974), uma mãe envergonha-se sobremaneira do heterossexualismo enfadoinho de seu filho e novamente Divine se submetia a ser considerada “a pessoa mais nojenta do mundo”, esfregando peixe morto por toda a larga extensão de seu corpo; em “Hairspray – E Éramos Todos Jovens”, John Waters rende-se ao “politicamente correto”, realizando apenas um filme engraçadinho, que fica atrás de sua regravação (muito fiel por sinal) apenas em um detalhe: a execução da bela canção “I Can’t Ring the Bells” na trilha sonora da 2ª versão, que é deveras emocionante e que pode ser comparada, em efeito dramático, à divertida cena da primeira versão em que a protagonista gordinha é insistentemente chamada de “barata” por sua rival loira e, para demonstrar que é maior que qualquer insulto, usa no baile final um vestido bordado com várias figuras de ortópteros. Conclusão definitiva: as duas versões dos filmes são apenas simpáticas e o fato de a segunda versão ganhar dois décimos acima do primeiro filme não torna defensável a sua existência enquanto projeto. Basta de regravações hollywoodianas, mas vejam os dois filmes e comparem também!

Wesley PC>

quarta-feira, 24 de junho de 2009

COMO PODE SER ALGO BOM, SE TE FAZ SOFRER TANTO?


Resposta primária: porque, enquanto humano, tenho a capacidade inabalável de estragar tudo o que toco! Mas, sigamos em frente. Não sei se já contei esta anedota aqui, mas acho que vem a calhar:

Uma grande amiga minha, de quem roubava gibis na adolescência, é filha de pais separados, conforme ditam as estatísticas. Seu pai é um adúltero contumaz e, quando ainda vivia com sua mãe, concubinou-se com uma mulher que era hostilizada pela vizinhança do conjunto residencial Marcos Freire I por causa de sua simpatia com o ocultismo e o candomblé, alvos do preconceito equivocado da população nordestina. Talvez porque os orixás que a mulher venerava sejam tão não-intervenientes quanto o “Deus escondido” que Blaise Pascal me re-ensinou a amar, ela adquiriu um violento câncer retal. Com o avançar inclemente da doença, seu ânus ficara tão deteriorado quanto este da foto. Ela, porém, era de temperamento indócil. Brigava com facilidade e a doença não a fez ficar mais simpática ou mais respeitada. Uma vez, pouco antes de morrer, ela entrou numa briga com uma parenta, que a mandou “tomar no cu”. Ela apenas respondeu cinicamente: “eu não tenho mais isso!”. Quando morreu, seu marido, pai de minhas amigas, casou-se com a enfermeira que cuidava dela. Está com ela, aparentemente fiel, até hoje!

O porquê desta anedota? Porque desde pequeno eu cria que, se fosse alvo de uma doença tão cruel quanto esta que vitimou a personagem real desta anedota, eu seria atingido pela compaixão alheia e poderia ver quem eu quisesse nu. Meus planos estão indo solenemente por água abaixo...

Wesley PC>

A ALMA DA VACA


Mais uma piadinha dramática tailandesa.
Não posso explicar agora.
Vejam “Mal dos Trópicos” (2004).
Descubram o Apichatpong Weerasethakul.
Desculpem-me por ser assim!

Wesley PC>

QUANDO SE QUER AQUILO QUE SE QUER!


“Cada um de nós tem uma fera selvagem dentro de si. Nosso dever como humanos é adestrá-la”

Acabo de rever um de meus 10 filmes prediletos – o tailandês “Mal dos Trópicos” (2004), de meu muso Apichatpong Weerasethakul – e deparei-me com a epígrafe acima antes dos créditos iniciais. Já tinha visto o filme várias vezes, mas esta era a primeira vez que eu o consumia legendado em meu idioma pátrio. Cada imagem, cada som, cada palavra pronunciada ou lida, cada crítica sub-reptícia ou explícita do filme dilacerava simultaneamente meu cérebro, meus sentidos e meu coração. Impossível resumir a trama, nem vou me dar a este luxo pernóstico aqui, mas, assim que as luzes da sessão doméstica se acenderam, uma canção não saía de minha cabeça: “La Verité”, da dupla eletrônica belga e mui modernosa Vive La Fête. Precisava escutar aquela canção naquele exato instante!

Como todos sabem, é incomum que eu escolha o que ouvir antes de ouvir. Geralmente me entrego às contingências e recebo de bom grado o CD que cai em minhas mãos quando fecho os olhos. Mas eu precisava ouvir “La Verité”! Apesar de ser uma canção recente (está contida no álbum “Grand Prix”, datado de 2005), muita coisa em minha vida já aconteceu enquanto esta brilhante canção era executada. Decepções foram sentidas, alegrias foram simuladas, relacionamentos começaram e terminaram... Vidas serviram de palco para a execução da canção – e vice-versa!

O que é pitoresco é que conheci esta banda por acidente. À época, costumava descobrir bandas “pimbas” digitando consoantes aleatórias nos espaços de busca de sítios eletrônicos destinados á audição de músicas pela Internet, como, por exemplo, a Rádio UOL. Não sei quais consoantes usei para chegar até esta dupla, mas simpatizei de imediato com seus acordes dançantes e silábicos, em contraste com a melancolia irrestrita dalgumas letras. Repito: eles zombam da própria tristeza, eles dançam sobre o desencanto. Eu tinha mais é que me tornar fã daquilo!

Poucos anos depois desta descoberta, conheci um adorável casal ‘junkie’ que possuía a discografia completa da dupla. Pedi que eles me recomendassem um álbum e este da fotografia foi o escolhido. Além da faixa que destaco, encontramos preciosidades como “Petite Putain”, “Claude François”, “Sabrina” e “Miracle”. Mas, por motivos muito pessoais, é “La Verité” que me estraçalha agora:

“Amour de ma vie, mon homme unique
Je te dis la vérité
Je t'explique ce qui s'est passé
Dis moi je ne suis pas si conne
Tu es comme moi comme moi”


Suponho que meu companheiro Américo conheça a banda. Dedico a postagem (também) a ele, portanto!

Wesley PC>

terça-feira, 23 de junho de 2009

PARA ANNE CAROLINE, QUE ME DISSE ONDE ESTAVA A EMBALAGEM DE SARNILAB:


“Já ia embora, quando percebeu que estava deixando escapar uma ocasião irrepetível. Então discou seis números, com tanta tensão e tanta pressa, que não teve certeza de ser o número de sua casa. Esperou com o coração na boca, ouviu a campainha familiar com seu tom ávido e triste, uma vez, duas vezes, três vezes, e ouviu enfim a voz do homem de sua vida na casa sem ela.

- Alô?

Precisou esperar que passasse a bola de lágrimas que se formou na sua garganta.

- Coelho, minha vida – suspirou.

As lágrimas a venceram. Do outro lado da linha houve um breve silêncio de espanto, e a voz ensandecida pelos ciúmes cuspiu a palavra:

- Puta!

E desligou”.


Tal excerto textual foi escrito pelo colombiano Gabriel García Marquéz, no conto “Só Vim Telefonar” (1978), em que uma moça é internada como louca, acidentalmente, quando entra sem perceber num sanatório internacional, procurando avidamente um telefone para dar notícias do atraso de seu vôo ao marido prestidigitador. A conclusão da estória é tremenda, bem como são tremendas as minhas saudades de meus queridos amigos Rafaéis e a minha crescente submissão voluntária (melhor dizendo: necessária) ao benzoato de benzila. E agradeço muito por ter estado ao lado de Anne Caroline naquela bela sessão nostálgica de um filme do François Truffaut...

Wesley PC>

OXALÁ EU NÃO PRECISE NUNCA ESCOLHER ENTRE A CONTEMPLAÇÃO DOS EPIDÍDIMOS ALHEIOS E A AUDIÊNCIA A UM FILME EM ESTILO ROCOCÓ DO FRANÇOIS OZON!


Creio que o título é auto-explicativo, da mesma forma que o é o trecho em que Immanuel Kant diz que “nós demoramo-nos na contemplação do belo porque esta contemplação fortalece e reproduz a si própria”. Talvez seja chegado o momento de ter segredos, de não confessar o quanto a ingestão compulsiva de meu próprio sêmen está atrelada à imaginação doentia de jovens que consomem pornografia virtual antes de dormirem, de saber que tudo vai acabar mais cedo ou mais tarde, independentemente da exibição privilegiada de um filme do Mike Leigh em uma sala de cinema sergipana. A vida é aquilo que fazemos dela!

Wesley PC>

NÃO SEI SE É BEM O CASO DE ELOGIAR O TED KOTCHEFF...

Mas que “Rambo – Programado Para Matar” (1982) é um filme digno de nota, ah, isto é! Quanto mais o tempo passa, mas eu vou considerando este filme injustiçado pelo público e crítica, visto que, ao invés de ser um típico filme de ação protagonizado pelo Sylvester Stallone, ele mostra os efeitos colaterais da belicosidade implantada pelos titereiros ideológicos da sociedade norte-americana. Sei que, qualitativamente, o filme nem é assim tão bom (a interpretação do protagonista, a trilha sonora xaroposa, o ritmo um tanto enfadonho), mas que ele é digno de nota, ah, isto é! Preciso revê-lo! E como este pôster é enganoso! O filme é um verdadeiro atestado de derrota, que, salvo pelo execrável terceiro exemplar da franquia, mantém-se firme em seu denuncismo acalentador. Afinal de contas, Ted Kotcheff até que conhece o algoz, mas não tem forças para investir repetidamente contra ele e se rende à comiseração progressiva pela vítima!

Wesley PC>

QUANDO É IRRELEVANTE PERGUNTAR O QUE É APARÊNCIA E O QUE É ESSÊNCIA:


Acabo de ver a versão soderberghiana para o livro “Solaris”, de Stanislaw Lem, morto em 2006. O livro já havia sido adaptado para o cinema em 1972, numa obra-prima inesquecível de Andrei Tarkovsky, que beirava as três horas de duração. A versão de Steven Soderbergh, absolutamente dispensável e realizada em 2002, tem metade da duração e metade da qualidade. Por mais que seja um filme ideologicamente imperdoável, ele não é de todo ruim: não tem como se destruir a essência passional do livro!

Em termos bem gerais, a trama do livro pode ser resumida a um pretexto de ficção científica: um psicológico é enviado a uma base interplanetária, em que a tripulação parece se suicidar gradativamente depois que passam a ser alvo de queridas alucinações. Ao chegar, o psicólogo passa a sonhar com sua esposa morta, suicida, e, mesmo percebendo que ela não é “real”, insiste em ficar com ela, ao lado dela, consertar os erros do passado, começar de novo. Num resumo infinitésimo, isto é o que acontece no enredo do livro. Ao consumir entre gemidos de gozo a versão tarkovskiana, lembro que eu fiquei pensando o que levaria um cineasta tão refinado quanto ele a titubear sobre questionamentos românticos que tanto me atormentando enquanto vítima de uma adolescência sub-aproveitada. Ao consumir entre suspiros de enfado a versão soderberghiana, eu sabia que estes mesmos questionamentos tinham intentos amplamente comerciais, de maneira que me irritei deveras quando a personagem quase inverossímil, em seu comportamento de musa, de Natasha McElhone é questionada por seu amado George Clooney se o que eles estavam vivendo era real ou não, se tudo não passava de um sonho. Que diferença fazia naquele contexto? A aparência de verdade compartilhada talvez não fosse suficiente? Tal qual o personagem principal do filme original, acho que me submeteria de amável grado à ilusão.

O que me leva à foto utilizava como ilustração desta pseudo-indagação fenomenológica tola em sua emergência: no momento em pauta, um dos garotos brincava de simular cumplicidade, enquanto o outro cantarolava um trecho da canção “Black”, do Pearl Jam, que estava a ser executada naquele momento: “I know someday you'll have a beautiful life, I know you'll be a star in somebody else's sky, but... Why? Why? Why can't it be, can't it be mine?”. Em outras palavras: que diferença faz?

Wesley PC>

“ELE NÃO CONCORDAVA COM O COMENTÁRIO, GERALMENTE ATRIBUÍDO A EX-VICIADOS, DE QUE É MUITO MELHOR FICAR DOIDÃO SEM AS DROGAS DO QUE COM ELAS”...

Assim diz o personagem calvo de Johnny Depp em “Medo e Delírio” (1998), de Terry Gilliam, uma acumulação de cenas lisérgicas e surreais em que dois ditos amigos, um jornalista e outro advogado, perambulam pela cidade de Las Vegas, entupindo-se de maconha, cocaína, mescalina, barbitúricos, anabolizantes, andrenocromo, o que aparecer pela frente... Quase não tem estória, trama propriamente dita: é um amontoado infindo de delírios, muitos deles ‘bad trips’ ao som do Jefferson Airplane, em que os poderes das palavras “surrealismo” e “psicodelismo” meio que se anulam. Explico: o Terry Gilliam é tão genial em sua adoção cotidiana do surrealismo [vide maravilhas como “Brazil, o Filme” (1985), “O Pescador de Ilusões” (1991) ou “Os 12 Macacos” (1995)] que justificar a mesma através das substancias psicotrópicas pareceu redundante, da mesma forma que ocorreu no modorrento “Tideland – O Mundo ao Contrário” (2005), em que os delírios surgiam da psicose de uma criança abandona pelos pais mortos por overdose. Ainda assim, para além de seus equívocos e ritmo irregular, não tem como não se identificar com o filme, visto que, em Gomorra, eram comuns comportamentos ditos “extremistas” quanto os dos protagonistas (Rafael Coelho que o diga!) e a moral do roteiro é pungente: a geração ‘paz e amor’ tornou-se órfã e agora aquilo que conhecemos como drogas servem como indicadores de ‘status’ para a execrável geração ‘yuppie’.

Tanto não é verdade que, por pura coincidência do destino (?), puxei aleatoriamente o álbum homônimo de The Libertines (2004), ao final da sessão do filme, banda esta que foi definida por um erudito amigo metaleiro como sendo um indicativo crasso do “fim dos tempos”, dado que, ao contrário do que havia nas décadas de 1960 e 1970, quando cantores que gostávamos usavam psicotrópicos para fazer boas músicas, eles fazem música (vendável) para adquirirem drogas. São conhecidas, por exemplo, as polêmicas banais envolvendo o vocalista Pete Doherty, que chegou a vender sua guitarra para comprar cocaína. Pelo sim, pelo não, o disco é bacana e deveras sintomático e, apesar de o carro-chefe ser “Can’t Stand me Now” – que eu não conhecia quando a banda se apresentou, com alvoroço, num programa da Rede Globo de Televisão – minha canção favorita é a última, “What Became of the Likely Lads”, cujo videoclipe é nostalgicamente belo e cruel e cuja letra fala justamente sobre o conturbado relacionamento pessoal entre os principais integrantes da banda. Mais sintomático que isto, impossível!

Wesley PC>

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A NUDEZ É UM ENGANO!


O cineasta argentino equivocou-se por completo em “Crônica de um Fuga” (2006), filme que deixou muita gente empolgado por causa de seu enredo envolvendo um jogador de futebol seqüestrado pela ditadura militar, acusado de ser um colaborador subversivo. Aprisionados, oprimidos, maltratados, eles são obrigados a ficar nus o tempo inteiro. São humilhados de todas as formas possíveis e, como o título verídico anuncia, eles fogem. Jamais serão os mesmos. Na platéia, na sessão em que estava, todos odiaram o filme. Nem mesmo a nudez prolongada dos personagens convenceu: artificialismo contextual é um pré-requisito negativo em filmes biográficos. E eu queria parar de me enganar tanto, tantas e tantas vezes sucessivas... O engano é vicioso – mas o filme é péssimo!

Wesley PC>

BOAS RAZÕES PARA AMAR CHRISTOPHE HONORÉ:


“Peut-être est-ce pour ton odeur
ta façon de t'endormir
peut-être aussi pour ta soeur
ton argent ou encore pire
Je ne manque pas
[pourquoi les taire ?]
De bonnes raisons pour t'aimer
Je ne vois pas
pour quelles raisons te les donner ?!?
Mes bonnes raisons pour t'aimer
Pourquoi te les donner ?”
Composição: Alex Baupain.

É preciso olhar no interior e não somente na superfície.
É preciso deixar de ser um ‘voyeur’ egoísta!
É preciso precisar?

Wesley PC>

“A POLÍTICA (ARTÍSTICA) DA GUERRA” (NOME DE EXPOSIÇÃO)


E deu nisso... Numa gravura de Robert Levers sobre o absurdo de qualquer conflito. Bateu-me uma saudade danada do Emir Kusturica, que intentava sempre mostrar que podemos ser felizes num contexto caótico como este. Podemos? Amar é também fazer concessões, já dizia a lenda.

Dica de trabalho: para receber uma declaração assinada de que se é aluno da Universidade Federal de Sergipe, paga-se uma taxa de R$ 3,00 no Banco do Brasil e apresenta-se a cédula de identidade a um funcionário do DAA – Departamento de Administração Acadêmica, onde trabalho. Preciso me concentrar no que estou fazendo, senão enlouqueço!

Wesley PC>

CENAS DE BEIJO EXCLUÍDAS


E quem nunca chorou em “Cinema Paradiso” (1988, de Giuseppe Tornatore) – ou fora dele – que atire a primeira pedra!

“Em breve, menino, em breve!” (vulgo “como se nada tivesse acontecido”)

Wesley PC>

SOBRENOME: CASTRO. VERBO: CASTRAR. PARTICÍPIO: CASTRADO


Este homem mostrado na foto cortou os próprios testículos num ato de loucura, na cidade de Feira de Santana, Bahia. Em virtudes de problemas cibernéticos, não estou conseguindo descobrir o porquê, mas lembro que uma das cenas que marcaram a minha sexualidade infantil foi justamente uma cena de auto-castração, na adaptação televisiva de uma peça de Nelson Rodrigues, em que irmão e irmã se apaixonam. Sentindo-se fortemente culpado por alimentar esta paixão, ele se dilacera. Se não me engano, morre. A irmã viva e igualmente apaixonada carregará a culpa. Alguns minutos se passaram e consegui ler a notícia inteira. Não houve explicação para o gesto do homem da foto, que não quer se identificar. Ele só disse que estava com raiva, muita raiva. Não sei se acontece com todo mundo, mas raiva acumulada e impotente gera ódio contra si mesmo. Por isso, muitas das vezes em que chorei foram de raiva. Não uso cuecas. Ainda sinto meus testículos balançando... Mas, definitivamente, o que não me falta agora é culpa!

Wesley PC>

O EXEMPLO DE JUDAS ISCARIOTES


Naquela que se convencionou chamar de “a última ceia”, Jesus Cristo, auto-alegado “filho de Deus” convocou seus doze discípulos, deu-lhes de comer e beber e disse, solenemente: “um de vós irá me trair”. Ao invés de estranharem este atestado de desconfiança frente à sentida fidelidade de cada um deles, os discípulos contentaram-se em perguntar: “serei eu, Senhor?”. Um estratagema banal revelará que a desconfiança de Jesus pairava sobre Judas Iscariotes, que se retira da mesa e vai em busca de um modo de trair seu mentor. Repito: depois daquela declaração, ele trai voluntariamente Jesus, que praticamente obrigou que ele o fizesse (mais detalhes no Evangelho de São Mateus). Traiu-o com um beijo, que possibilitou que os inimigos da Igreja identificassem sua vítima. Depois disso, Jesus Cristo foi crucificado e ressuscitou ao terceiro dia, sendo louvado até hoje como o Salvador da Humanidade, “o redentor de nossos pecados”. Judas Iscariotes até que lhe fez um favor. E o que ganhou em troca? Enforcou-se, remoendo-se de culpa e é queimado ano após ano, simbolicamente, nas comemorações simbólicas do Sábado de Aleluia. “É um mundo injusto”, poderia eu recorrer novamente a este chavão, mas tentarei ficar calado, mudar de assunto. Bem que eu soube que o auto-enforcamento metafórico de ontem e que ouvir “Criminal” (canção canônica da violentada Fiona Apple) na manhã de hoje daria nisso. Minha culpa, meu Deus, minha culpa!

“O que eu preciso é de uma boa defesa
Porque estou me sentindo como um criminoso
E eu preciso me redimir
Com aquele contra quem eu pequei
Porque ele é tudo o que conheci de amor

Que o céu me ajude por causa do que sou.
Salve-me dessas más tentações antes que eu as cometa.
Eu sei que o amanhã me trará as conseqüências,
Mas eu continuo vivendo esse dia como se o próximo nunca fosse chegar.

Oh, me ajude, mas não me fale para negar isso!
Eu tenho que me limpar de todas essas mentiras até que eu seja bom o suficiente para ele.
Eu tenho muito a perder e estou apostando alto
Então estou implorando a você:
Antes que acabe só me diga por onde começar”


Desculpe-me, perdoe-me, mostre-me que sou capaz de redenção!

Wesley PC>

A SOCIEDADE DOS INFELIZES CRÔNICOS


Semana passada eu repeti o epíteto de Epíteto, que aconselhava-nos a não deixar que a nossa felicidade dependesse do que não depende de nós. Sexta-feira, diante de um programa de TV, descobri que o teatrólogo Nelson Rodrigues definia o amor como sendo “a capacidade de amar a quem nos trai”. Neste exato momento, ouço uma colega de trabalho dizer que não atende ao celular quando está em festas, a fim de não ter motivos para voltar para casa. Na madrugada de sábado para domingo, estava numa festa de trabalho e recebi quatro telefonemas de minha mãe. Meu irmão havia saído de casa, trêbado e possuído sabe-se lá por que substancias tóxicas, com duas grandes facas na cintura, disposto a assassinar um traficante com quem tinha desavenças. Não pude voltar para casa. Estava no Mosqueiro, muito longe de onde resido. Ao chegar em casa, minha mãe cai na cozinha e meu irmão vomitara todo o seu quarto. Não assassinara o traficante desejado porque desmaiara de bêbado na rua. Levaram as duas facas de minha casa! Como macarrão com iogurte neste exato momento. Não é disso que depende a minha infelicidade!

Wesley PC>

ANEDOTA ESCOLAR (AO MENOS, NO PRINCÍPIO)


Enquanto eu não sou oficialmente apresentado à cantora alemã Ute Lemper (tudo é pretexto, meu bem!), que regrava canções de Nick Cave and the Bad Seeds, Elvis Costello e Tom Waits, mas tem uma sonoridade vocal que muito lembra Siouxsie and the Banshees ou Lacrimosa, e de quem tive o prazer de ouvir algumas canções pela manhã, enquanto era preenchido pelo mais legítimo, desejoso e agradável dos odores humanos, trago aqui uma rememoração escolar que acaba de me ser bastante útil no plano profissional (objetivo: mostrar que algumas das aparentes bobagens que recebemos forçosamente na escola ser-nos-ão essenciais para a sobrevivência no mundo).

Contexto: fui intimado a digitar uma Comunicação Interna há pouco, no local onde trabalhando, requerendo a substituição de minha chefa por uma servidora, em virtude de férias regulamentadas constitucionalmente. No referido documento, escrevi o adjetivo “ferial”, comuníssimo, mas que causou uma breve polêmica lingüística entre meus colegas de trabalho. Lembrei, então, o episódio escolar anunciado desde o começo, em que, na 5ª série do ensino fundamental, aos 11 anos de idade, fui apresentado ao tal adjetivo, no mesmo dia em que descobri que o feminino de oficial é oficiala e que virgem e viagem são palavras que designam coisas radicalmente diferentes (ao menos, eram na época). Atirei um sapato sujo de lama contra a professora de Português, em plena sala de aula, que abriu uma padaria e me vendeu um quilograma de farinha sem cobrar. As coisas mudam!

E é isso que eu tinha para escrever, mas... Novos minutos, novos sentimentos. E Ute Lemper canta Nick Cave & Kathleen Brennan:

“The bone must go
The wish can stay
The kiss don't know
What the lips will say

Forget I've hurt you
Put stones in your bed
And remember to never
Mind instead”


Da canção “The Part you Throw Away” (“A parte que tu jogaste fora”)

Wesley PC>

E, ÀS VEZES, SOU EU QUE NÃO ENTENDO!


Minha mãe gosta de ouvir as canções do padre espetaculoso Fábio de Melo. Eu o detesto. Mesmo sendo um religioso anticlerical, preocupo-me deveras com a fidelidade que as instituições religiosas, em potência, deveriam prestar aos seus próprios preceitos. E, nesse sentido, para o catolicismo, religião do padre em pauta, a vaidade é um pecado capital. Qual não foi a minha surpresa ao vê-lo prestar uma entrevista num programa televisivo há pouco, em que se confessava justamente vaidoso, enquanto era mostrado realizando exercícios numa esteira ergométrica e reclamava do excesso de mensagens que recebia lhe propondo casamento. Que idiota, idiota!

E, antes disso, eu estava vendo “A Dança dos Vampiros” (1967), filme que o diretor Roman Polanski protagoniza ao lado de sua musa Sharon Tate, futuramente assassinada no auge de sua gravidez. Achei o filme esquisito, datado, mas não pude deixar de me interessar profundamente pela cena em que, ao perceber a inclinação tremenda de seu jovem e nanico assistente em observar belas mulheres nuas, o professor Abronsius (Jack MacGowran) afirma que nunca teve tempo para a luxúria. Eu tenho!

Wesley PC>

domingo, 21 de junho de 2009

Menino pense numa doidisse


Essa com certeza seria o comentario de meu pai se eu pedisse pra ele ouvir Anton Webern(1883-1945). E ele estaria certo, é uma doidisse mesmo, doidisse das melhores: e das que incomodam, das que cutucam seu ouvido, das que deixam a pessoa confusa. Sua música é dura como pedra preciosa, tem uma forma fascinante e ipnotiza quem sabe dar valor, mas pode machucar(na carne e não no sentimento).
Falando(ou escrevendo?) historicamente o Webern fez parte da chamada segunda escola de Viena junto com o Schoenberg e o Alban Berg. Foram eles que primeiro configuraram o dodecafonismo, técnica de composição que propunha o uso de todos os 12 sons da escala sem repetição nas composições e que vai basear uma grande quantidade de obras, e que sera considerada a técnica central da vanguada músical do século XX, despertando o amor e o ódio de muitos compositores(eu ousaria dizer que a historia do dodecafonismo, sua expanção e as discussões que foram motivados por ele tem muitos pontos semelhantes com a historia do comunismo). O Webern é considerado o mais rígido compositor dodecafonista, mais até que o Schoenberg que era o criador dessa técnica, o que lhe valeu o título de compositor cerebral( a foto que eu coloco é pra contrapor esse rótulo, é a mais meiga que eu achei). Sua música foi inspiradora de um movimento chamado serialismo, que é uma radicalização do dodecafonismo e que inspirou uma grande parte da Vanguarda musical da segunda metade do século XX.
Um dia eu corrigi uma informação em um post do Weslinho e prometi postar um dia música dodecafonica: pois aí esta Weslinho, depois de muito tempo, um link com toda a obra do Webern, agradecendo de novo ao blog PQP Bach que disponibiliza essas raridades: http://pqpbach.opensadorselvagem.org/category/webern/
Como você vão perceber sua obra é minúscula, mais um sinal do quanto ele é um compositor diferenciado. Os comentarios do pessoal do blog do PQP vão esclarecer muita coisa pra quem ficar curioso quanto a obra do Webern.
Não imagino como sera a impressão de vocês, mas da minha parte eu necessitava apresentar esse compositor.
Um abração a todos e tudo de bom sempre.
Fagote da Batalha Lopes

E A LETRA FICA REPETINDO E REPETINDO...


“You can run but you can't hide
Because no one here gets out alive
Find a friend in whom you can confide
Julien you're a slow motion suicide”

(Placebo)

Incrível como é fácil!
Já gosto muito do novo álbum, mesmo ainda concordando com seus detratores...

Wesley PC>

RENASCE UM CLÁSSICO!


Não sei que estranha força permite uma coisa destas, mas, no mundo, ainda existem pessoas que estimo e que não viram “Cães de Aluguel” (1992), uma das várias obras-primas do Quentin Tarantino. Recentemente, uma dessas pessoas mui estimadas solicitou que eu emprestasse um DVD com o referido filme. Como é de praxe nesse tipo de situação, assisto ao que foi requerido antes de emprestar, a fim de que eu não fique preso ao tique materialista de obter o DVD de volta. Dediquei, portanto, a tarde deste domingo à revisão de uma das obras seminais do filme policial na década de 1990. Já tinha feito isso umas 15 vezes, mas fazia uns dois anos que não revia o filme. Ainda estou cá chocado: é uma obra de arte literalmente perfeita!

Na abertura, uns dos 7 minutos discursivos mais geniais da História do Cinema. De um lado, alguém querendo lembrar o nome de uma conhecida oriental. Do outro lado, exegeses sobre letras de canções da Madonna. Ao centro, subitamente, uma discussão epistemológica sobre a função da gorjeta na economia norte-americana. Nascia uma obra-prima! Na trilha sonora, “Little Green Bag”, por George Baker Selection.

A cada nova cena que se deslindava frente a meus olhos encantados, ficava ainda mais encantado. Identifiquei-me com muitos aspectos da personalidade do Mr. Pink (o sempre histriônico Steve Buscemi) e vi no magnânimo flashback intra-flashback do personagem Mr. Orange (Tim Roth) uma extraordinária fonte de conversas futuras sobre a importância de se falar (ou não) sempre a verdade. Não conseguia para de me encantar com o filme. É perfeito! Perfeito! Como pode haver ainda pessoas estimadas que não o tenhas visto? Como eu permito isso?

Por medidas de segurança narrativa, convém interromper aqui as observações sobre o filme, dado que qualquer informação vazada pode estragar o gozo do espectador virginal, mas... Puxa, alguém acha estranho que, na vida real, alguém tenha imitado aquela cena em que o Mr. Blonde (Michael Madsen) tortura um policial pelo simples prazer de causar mal a uma classe que despreza? Quentin Tarantino é mesmo um gênio! E que venha “Bastardos Inglórios” (2009)!

Wesley PC>

A FALÁCIA DA GENTE SIMPLES (OU “O MUNDO DO TRABALHO TE SAÚDA”)


Ontem eu tive o privilégio de ver um filme co-produzido pelo Uruguai, mas este me causou muita raiva. Por mais que eu ficasse satisfeito em perceber mais um pólo expressivo de minha querida América Latina, o furor ideológico a que o roteiro dos diretores César Charlone e Enrique Fernández queria que aderíssemos me irritou deveras. Nome do filme: “O Banheiro do Papa” (2007).

Ainda no letreiro de abertura, lemos que os eventos mostrados na trama não foram reais por simples acaso, não obstante sua essência ser profundamente verdadeira. Estamos em 1988, na cidade de Melo, Uruguai. O papa João Paulo II visitará o local em breve. Beto (César Trancoso) é um contrabandista que mora com esposa e filha numa casa modesta. Realiza inúmeros planos para si mesmo e sua família, mas todos naufragam no mesmo impulso destrutivo capitalista que os geram. Um dia qualquer, desesperançado e percebendo que todos os seus vizinhos planejam ganhar dinheiro ao vender comida durante a passagem da comitiva papal, ele tem a idéia de construir um banheiro público, em que cobraria uma dada quantia para os fiéis que precisassem se aliviar fisiologicamente por ali. Envida esforços, dinheiro que não tem e atitudes desonestas para engendrar tal plano. Mas as pessoas que comparecem ao evento nem de longe correspondem às expectativas dos ambiciosos moradores da cidade. A voz renitente do fracasso estrebucha após os créditos finais. Não tenho pena deste tipo de personagem!

Utilizei um sinônimo corriqueiro de compaixão no parágrafo anterior porque parece ser este o sentimento que o filme quer despertar no espectador, dado que a perspectiva dominante é a do mentiroso protagonista, que, ainda assim, clama pela simpatia de quem o assiste. Não conseguiu a minha, que talvez, por outro lado, tenha me comovido com a frustração antecipada de sua filha, tadinha, que desejava ser locutora de telejornal. Mas a realidade e os elos indeléveis do comércio destruirão todo anseio que motive qualquer uma daquelas pessoas. Elas estarão sempre entregues à ciclotimia do capital desejoso, conforme podemos ver na discreta cena que surge após os créditos finais, que não descreverei em detalhes para não estragar o (des)prazer de quem talvez possa ver o filme, premiado em vários festivais de cinema sul-americano. Eu não gostei!

Coincidentemente ou não, depois de ver este filme, participei de uma festa junina com o pessoal do trabalho. Sabia que ia me incomodar com a festa (ia ter muito bicho morto torrado, músicas insuportáveis, forçação de barra integracionista), mas fui assim mesmo. Talvez fosse digno tentar. “Antes 1h15’ de atraso que a desistência”, pensava comigo mesmo, tentando me motivar, quando me irrito face à demora dos ônibus. Ao final, terminei sorrindo na festa. Dormi cedo, mas sorri. Foi bem mais que o filme resenhado conseguiu me causar!

Wesley PC>