sábado, 1 de agosto de 2009

“DESCULPA, DESCULPA”...


Tinha a tarde livre. Podia ver o filme que quisesse, pois meu irmão está ocupando pintando uma casa e não faria barulho durante a sessão. Escolhi “O Tempo que Resta” (2005). O título e o currículo sexual do diretor François Ozon eram suficientes. Não me decepcionei. O amigo que me passou o filme disse que ele era demasiado “bobo”. Não sabia nada da estória. Só este adjetivo...

Na primeira cena, um menino de cabelos cacheados observa a praia. Minha mãe estava presente e tentava ler os nomes dos atores franceses. Poucos minutos depois, o protagonista do filme descobre que está com câncer. Tem pouco tempo de vida. Cheira um pouco de cocaína, inventa um pretexto qualquer para se livrar do namorado, visita os pais e briga com a irmã frágil e divorciada. A única pessoa para quem tem coragem de contar sobre a doença é sua avó, que dorme nua. De volta para casa, conhece uma garçonete, cujo marido estéril acorda que eles durmam juntos, a fim de conceberem uma criança. O resto do filme é composto de sensações... Não deu outra, me identifiquei! Sempre me vejo em filmes cujos protagonistas sofredores pratiquem uma extroversão suicida, ao invés da introspecção respeitosa. Vivo para fora, acho!

Durante a sessão, fiquei imaginando se eu seria menos infeliz se fosse um mais egoísta. É óbvio que não, mas imaginei! Fiquei com vontade de praticar sexo casual, que nem os personagens. Na vida real, desinteresso-me logo pela vontade, mas desejei! Todos devem saber como o filme acaba, mas gostei, gostei muito!

Wesley PC>

COMEÇOU AGOSTO, MÊS DE ANIVERSÁRIO DE ALGUMAS DAS PESSOAS QUE MAIS AMO!

Madonna Louise Veronica Ciccone completará 51 anos no dia 16 deste mês. Graças a ela, aprendi o que era orgasmo, quando era muito pequeno e passava minhas madrugadas em filas de pronto-socorro público, à espera de vagas em funcionários odontológicos que não resolviam o meu problema recorrente com cáries. Neste mesmo mês, pelo menos quatro das pessoas que mais amei (no plano afetivo/proto-sexual) em vida completam anos. Para algumas delas, serei proibido de desejar os parabéns. É o preço que se paga, quem mandou eu nascer?

Wesley PC>

sexta-feira, 31 de julho de 2009

QUANDO EU ACHAVA QUE k.d. lang ERA APENAS UMA CANTORA ‘GAY’ (EM 3 TÓPICOS, UM TRECHINHO DE MÚSICA LIVREMENTE TRADUZIDO E UM PRÉ-P.S.):

- Foi mais ou menos assim que, em 1993, aos 12 anos de idade, eu fui apresentado à cantora canadense k. d. lang (que insiste em escrever seu nome em letras minúsculas!): tendo seu buço raspado pela modelo seminua Cindy Crawford. “Bonito manifesto midiático”, pensei, mas não me interessei de imediato por sua música. Mal da idade;

- Em 2006, ela surge magnificamente caricata num bar lésbico do filme “A Dália Negra”, de Brian De Palma. Já me interessava bastante pelas músicas interpretadas por ela que eu tinha ouvido, mas ainda não havia dado o pontapé auricular definitivo: k. d. lang permanecia para mim como um mito publicitário. Uma cantora ostensivamente lésbica e vegetariana, que eu admirava sem ter prestado atenção a suas composições;

- Até que chega o último dia de julho de 2009 e eu tenho a oportunidade ideal para ouvir a metade inicial de “Ingènue” (1992). Fiquei encantado por aquele som de cabaré tardio, pelas letras arrasadas, pelas suspeitas de homossexualidade que só seriam confirmadas publicamente no ano seguinte ao lançamento do álbum. Ela é tão expressiva! “The Mind of Love” é tão intensa... Recomendo!

“Falar sozinha me causa grande preocupação com minha saúde
Onde está a tua cabeça, Kathryn? Onde está tua cabeça?
Eu tento escapar deste constato impulso para a dor
Por que tu lutas, Kathryn? Por que tu lutas?
Certamente, a esperança irá chegar em breve
E a cura para estas feridas auto-infligidas
Por que tu te feres, Kathryn? Por que tu te feres?
Teu coração pode esconder o que o estado do amor revela?”


PRÉ-P.S.: Kathryn é o prenome da cantora.

Wesley PC>

HAVERÁ ALGUM DIA O FILME DEFINITIVO DE HORROR EXTREMO? TENHO MEDO, MUITO MEDO!


O verdadeiro horror atende pelo nome de vida real!

Antes de dormir, na madrugada de ontem, aventurei-me diante de “Martyrs” (2008), polêmico filme do francês Pascal Laugier. Não sei o que pode ser dito acerca da trama, a fim de que estrague as surpresas para quem ainda não viu o filme, mas, basicamente, ele fala sobre um grupo de pessoas que visa atingir o estágio máximo de sofrimento, a fim de que, assim, testemunhem algo muito próximo da vida após a morte. A partir de então, são justificadas experimentos de sadismo extremo com jovens e belas mulheres, sendo que, em dado momento, uma delas terá toda a pele de seu corpo arrancada, com exceção do rosto. O motivo: vejam o filme!

Depois de um prólogo em que somos apresentados a uma adolescente que conseguiu fugir do cativeiro e passou anos enfrentando uma violenta depressão, tendo apenas uma única amiga como companhia. 15 anos depois, por um motivo que será explicado tardiamente, ela comete uma chacina na residência de uma típica família nuclear bem-sucedida aquisitivamente. Carregando uma arma de grosso calibre, ela dilacera os corpos de mãe, pai, filhos adolescentes e uma adorável criança. Nem vinte minutos de filme se passaram e um dos mais sangrentos assassinatos em massa do cinema recente é cometido pelo que parece ser a mocinha do filme. Não entendi. Mal esperava pela surpresa temática que viria...

Realmente, é muito difícil comentar empolgadamente este filme impressionante sem revelar detalhes preciosos de seu enredo. Porém, algo me preocupa: a violência é tão extremada, tão exagerada, tão gráfica, tão tendenciosa, que fico imaginando o que espectadores e futuros diretores invejosos imaginarão (e praticarão) a fim de superá-la. Medo! A quem interessar possa, porém, recomendo não somente o filme, como uma respirada forte e uma olhadela em volta antes de o filme começar...

Wesley PC>

quinta-feira, 30 de julho de 2009

REFLEXÃO EM ANDAMENTO - PARTE II


Pouco me importa de que lado a corda arrebenta (se do lado do mais forte ou do mais fraco). Importa é que ela arrebenta - e, de uma forma ou de outra, sobra para cada um de nós!
Wesley PC>

ENTRE OUTRAS COISAS, ESTA FOTO NÃO VAI PARA O ORKUT!

Dentre todos os cursos existentes na UFS, Medicina e Direito são os que costumam me dar mais trabalho no local em que exercito funções burocráticas remuneradas. Por que eles me dão trabalho? Porque uma parte considerável dos alunos deste curso os fazem por causa de obrigações paternas. Se formos analisar as origens dos estudantes de Direito e Medicina, não seria nenhuma surpresa constatar que pelo menos 75% deles advêm de famílias em que estas profissões são recorrentes. Conclusão: são cursos em que os valores burgueses são basilares, inclusive nas pequenas atitudes, como o esnobismo ou a prepotência. Pós-conclusão: o controle sobre o corpo e sobre as leis fomentam a durabilidade da exploração do homem pelo homem, conforme já havia descoberto Michel Foucault. Pós-pós-conclusão: não me venham falar sobre tratamentos médicos ou processos judiciais em meu favor ou contra mim. Detesto-os, ignoro-os, rejeitos por ideal político!

Por pura coincidência negativa, na noite de ontem, na sessão de cinema em que estava, interrompem o filme antes do final, antes dos créditos. A dezena de pessoas que ainda se encontrava na sala foi reclamar com a gerência do cinema, que mentiu descaradamente, alegando que o filme terminava de forma abrupta. Mentira! Eles inventaram tal pretexto porque o filme que estávamos vendo era “de arte” e estava espremido entre dois filmes “de público”, taxonomias estas que, obviamente, não são dignas de crédito. Enquanto todos esbravejavam com o gerente, eu me afastava do tumulto, aguardando o momento de ver os minutos finais do filme que estava vendo. Abaixo a legitimação nociva dos valores coercitivos burgueses disfarçados de direitos e deveres burocráticos!

(reflexão em andamento)

Wesley PC>

“MAIS UMA DE AMOR (GEME, GEME)”

“Triste época em que vivemos, em que é mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito”, disse Albert Einstein há alguns anos. Na era em que vivo, continua sendo bem mais fácil a desintegração atômica que a eliminação preconceituosa. Por outro lado, a era em que vivencio possui algumas vantagens: jamais imaginaria, quando pequeno, que, se eu dormisse com uma canção martelando na cabeça, na manhã imediatamente seguinte, estaria com um CD contendo a referida canção em minhas mãos. Aconteceu comigo hoje. Algo fez com que eu me deitasse com a canção-título desta postagem repercutindo violentamente em meu cérebro. Ao despertar, baixei imediatamente o álbum “As Aventuras da Blitz” (1982), da banda liderada por Evandro Mesquita. O melhor: enquanto ingeria largas porções de azeitona, prestava minuciosa atenção à letra da canção e percebi que, para além de ela ser muito divertida, é também fortemente dramática, tal qual outras do álbum (com destaque maciço para a encantatória “Você Não Soube Me Amar”). Por este motivo, não consigo esconder o tom lamentoso enquanto reproduzo vocalmente a letra da canção durante toda a tarde de hoje:

“Perdi meu amor no paraíso
Dou tudo que eu tenho por um aviso
Seja sob sol ou debaixo de chuva
Minha alma geme por você


[...]

Não durmo de noite, arrasto correntes
Sozinho na cama, trincando os dentes
Seja sob sol ou debaixo de chuva
Minha alma geme por você


Geme geme, uh, uh, por você
Geme geme, ahh, por você
Geme geme, uh, uh, por você
Geme geme, ahh”

Agora que ouvi novamente a canção, sei o porquê de ela ter martelado tanto em minha mente.

Wesley PC>

“EU NÃO QUERO DORMIR SOZINHO” (2006, de Tsai Ming-Liang)


Eu ia escrever uma resenha do filme acima, recém-visto, mas detive-me no meio: de que vai adiantar? Vai ficar parecendo que fico acumulando trocentas mil experiências cinematográficas apenas para ficar me expondo. Quando tento repassar os filmes para pessoas que admiro, tão inocentemente quanto amigos já me ofereceram cigarros de maconha com o único intuito de apresentarem-me a um prazer que eles sentem, acabo por oprimir meu interlocutor, por oprimi-lo com minhas idiossincrasias obsessivas.

Ainda assim, a quem interessar possa, recomendo todo e qualquer filme que tenha sido dirigido pelo malaio Tsai Ming-Liang, que filmou suas obras-primas em Taiwan e voltou à sua terra natal para contar a estória de um misterioso imigrante que, após ser espancado e acolhido por um solitário construtor civil, chafurda numa trama comumente repleta de desamparo e solidão, de desterro, de tristeza, dor e, por que não, esperança. O que eu poderia dizer sobre este filme? Que, numa das mais belas cenas, duas pessoas tentam fazer sexo sincero enquanto são sufocadas por uma fumaça poluente que impregna o ar de Kuala Lampur? Que, por sentir ciúmes de alguém ou de um colchão, um homem apaixonado tenciona tirar a vida de outro apertando uma lata contra sua garganta? Que o magnífico plano final demonstra que não só é possível como também mutuamente prazeroso ajudar alguém a se sentir afagado? Que seja, eu disse!

Sejam felizes,


Wesley PC>

EU TENTEI NÃO JULGAR...


Não sei nem por onde começar as minhas observações sobre o filme “Garapa” (2008), visto na noite de ontem. São tantos os atropelos e erros que acho por bem utilizar todos os começos:

1. Vários amigos meus elogiaram este filme, ao terem a oportunidade de vê-lo antes de mim. Um deles, inclusive, confessou que saiu da sessão chorando. Eu gostei muito de “Ônibus 174” (2002), cuja duração tão larga quando deve ter sido o inferno real me incomodou deveras, e achei “Tropa de Elite” (2007) simplesmente extraordinário. Sou daqueles que se renderam à polemica opção de achar o filme ótimo. Porém, sentia que o diretor José Padilha era um mau caráter. Sabia que, apesar de ser um excelente pesquisador e um competente diretor, não tardaria o momento em que ele cometeria erros cavalares. Ao saber da sinopse do documentário ora comentado – a fome em alguns rincões do Ceará – tive certeza de que o momento havia chegado. Entretanto, tamanhos foram os elogios de gente confiável que fui conferir o filme de peito aberto. Tencionava gostar, mas, tendo em minha história pessoal de vida alguns relatos brandos de privação alimentícia e proto-mendicância, temia um relato oportunista e tendencioso do tema. Foi o que encontrei. Merda!

2. À medida que fui aprimorando o meu gosto por Cinema, percebi a similaridade entre o conceito técnico de direção de fotografia e a noção de beleza. Lembro que, por várias vezes, confabulava com amigos acerca do que seria uma direção de fotografia ruim. Para além de eu ter obtido ou não exemplos precisos até então, “Garapa” ostenta algumas das piores opções fotográficas com que já tive o desprazer moral de entrar em contato. Nunca um preto-e-branco foi tão cruelmente desnecessário, poucas vezes o uso da técnica foi tão deletério! Para além de estar diante de pessoas reais, de seres que sofrem, a equipe técnica do filme apenas se limitava a testar possibilidades de enquadramento. Parece uma aula técnica de cinema, explicando mecanicamente o que é um ‘plongée’, um ‘travelling’, um ‘close-up’... E, enquanto isso, o tema fugia do escopo do cineasta. Merda!

3. Não sabia se tinha mais raiva do marido de uma senhora com 3 filhos, que vendia até mesmo as carteirinhas de passe escolar da filha para comprar cachaça, da esposa dele que consentia com tal situação ou do cineasta que se divertia e vislumbrava prêmios com tal exposição da miséria alheia. Em dado momento, uma assistente social odiável comete o disparate de “não saber como dar alguma orientação” diante da ausência de leite na residência de uma dada personagem real. Agonizava sempre que via uma camponesa preparar água quente com açúcar para dar a seus filhos! Aterrorizai-me diante das imagens de uma criança com todos os dentes lancinantemente cariados e o corpo coberto de perebas. Moscas sobrevoavam quase todos os planos, de maneira que o som de seus vôos era altissonante. Não confiei no diretor. Com certeza, a realidade foi manipulada à sua revelia neste filme. Diante da montagem paralela execrável de uma das cenas iniciais, ouvi alguém na platéia perguntar se era mesmo um documentário. Era. De péssima qualidade. Não dá mais confiar neste gênero depois de uma pungente declaração de ‘mea culpa’ do cineasta João Moreira Salles. Merda!

4. Para piorar a minha situação de desconforto (não sabia o que mais me doía: se a realidade apresentada, cruel e irresolvível em virtude do desleixo das pessoas envolvidas, ou a pretensão maquinal do cineasta), interromperam a sessão antes do final, antes dos créditos. Fomos em bando reclamar à gerência do cinema o ocorrido. A raiva crescia. Ao menos, um aspecto importantíssimo e positivo deve ser atribuído ao filme: quando o cineasta interroga o porquê de as pessoas retratadas continuarem copulando e se reproduzindo na extrema miséria. O depoimento ignorante (em todos os sentidos da palavra, incluindo os justificados) de uma mulher que não sabia sequer a idade e que já possuía 11 filhos é o supra-sumo da impossibilidade de melhoria de tal situação. Não há espaço para esperança neste mundo! Merda?

5. Tenho uma irmã evangélica que tem 7 filhos (e contando) e vive numa casa mui semelhante àquelas mostradas no filme: péssimas condições de higiene, crianças amontoadas por todos os lugares, brigas entre marido e mulher todo o tempo, filhos indiferentes. Tinha um certo nojo de beber água naquele local. Conheço de perto algumas das situações mostradas no filme. Tive uma infância pobre num local pobre. Com todos os problemas e irritações, “Garapa” ainda é um filme que deve ser visto e discutido e criticado e debatido e corrigido, na prática. Deixo, portanto, a sugestão e aguardo respostas...

Wesley PC>

quarta-feira, 29 de julho de 2009

AQUELE TAL DE MICHAEL JACKSON ...


Na madrugada de hoje, assim de supetão, pus alguns de meus preconceitos de lado e taquei “Off the Wall” (1979) para ser executado no rádio. Faixa inicial: “Don’t Stop ‘Til You Get Enough”, repleta de gritinhos em falsete. Obra-prima dançante. Deu vontade de ficar repetindo e repetindo, enquanto eu preparava cuscuz com leite e açúcar na cozinha.

“Lovely is the feeling now
Fever, temperature's rising now
Power (ah power) is the force the vow
That makes it happen
It asks no question why (ooh)
So get closer (closer now) to my body now
Just love me 'til you don't no how (ooh)”

Percebi que estava diante de grande disco e que não me adiantaria torcer o nariz porque alego desgostar do finado Michael Jackson e não queria fazer qualquer estardalhaço em virtude de sua morte, mas, não dá: o disco é bom! A faixa 2, “Rock With You” é um daqueles clássicos românticos que, volta e meia, são executados naquelas emissoras de rádio que dedicam suas programações de madrugada aos vigilantes solitários. A faixa 06, “Girlfriend” foi composta por Paul McCartney, mas é a faixa 07, “She’s Out of My Life” a que mais me emocionou. Emocionou-me tanto que me lembrei de Wendell Bigato, a prova viva de que este amargor sentimental que sinto não é exclusividade lamentosa homossexual. Enviei uma mensagem de celular para ele. Saudades!

“So I've learned that loves not possession
And I've learned that love won't wait
Now, I've learned that love needs expression
But I've learned too late
She's out of my life”

Segui em frente na audição do disco e gostei muito da faixa 8, “I Can’t Help It”. Gostei tanto que não quis ouvir as duas últimas faixas. Fui dormir e, ao acordar, na manhã de hoje, repeti o álbum antes de tomar banho para ir para o trabalho. Nenhuma das pessoas acordadas em minha casa reclamou do som. Michael Jackson, quando acerta, atinge a unanimidade!

“I Can't Help It if I Wanted To
I Wouldn't Help It even If I Could
I Can't Help it If I Wanted To
I Wouldn't Help It, No”

Wesley PC>

POR MINHA CONTA E RISCO!


Uma vez Lucas Ferreira (vulgo Cobra) entrou numa espécie de atrito comigo, pois eu teria utilizado uma foto dele sem permissão, o que foi descrito como “uma falta de respeito”. Noutra situação, mesmo que não se opusesse diretamente ao uso compulsivo de seu nome e imagem por mim (louco por ele até o fim de meus dias), Rafael Maurício confessou ter perdido o interesse pela leitura do ‘blog’ em virtude da mesmice temática. Por outro lado, não são poucas as pessoas vivas e mortas que eu cito aqui. Entretanto, apesar de escrever feito um doente terminal, este é um ‘blog’ coletivo. Nem todos concordam com o que penso ou escrevo e é bonito que assim aconteça. Por isso, talvez viesse a calhar um daqueles avisos típicos de jornais que concedem espaços diversificados para as opiniões contraditórias de seus colaboradores: “as opiniões aqui registradas são de extrema responsabilidade de seus redatores, não coincidindo exatamente com a opinião geral dos demais membros do ‘blog’”. Fica a advertência. Não gostando de algo que pensei ou escrevi, a responsabilidade pelo que foi dito ou pensado é toda minha!

Beijo a todos, vou dormir agora.

Wesley PC>

EU ME MASTURBO PENSANDO EM HOMENS! (VERSÃO CENSURADA)


"Bandeira branca, amor/ Não posso mais!"

Wesley PC>

“CONSCIÊNCIA É AQUELA VOZ BAIXINHA QUE QUASE NINGUÉM QUER OUVIR”!



“When you wish upon a star

Makes no difference who you are

Anything your heart desires

Will come to you”



Exatamente às 1945’ de ontem, terça-feira, uma pitoresca estudante de Geografia da UFS visita-me no trabalho, pedindo-me literalmente um pedaço de pão, que, por sorte, eu tinha disponível. Além de desejar obter comida, ela queria conversar comigo. Estava carente e triste, pois o jovem por quem está apaixonada dedica muitas horas à cocaína e estava tendo efeitos colaterais desagradáveis no que se refere à manutenção de seu corpo. Infelizmente, eu estava atolado de trabalho e não pude dar a atenção que a jovem geógrafa necessitava. Porém, carreguei comigo a sua preocupação. Ela completará 30 anos em breve. Amadureceu. Merece ser feliz!

Ao chegar em casa, decidi rever “Pinóquio” (1940, de Ben Sharpsteen & Hamilton Luske) com minha mãe. Não obstante este ser um dos longas-metragens mais elogiados da Disney, eu não gosto tanto dele. Entediei-me com o excesso de situações aventurescas, mas resolvi dar uma segunda chance à obra, visto que a primeira vez em que eu o assisti foi em 1998. Era uma pessoa diferente à época, mas hoje, 11 anos depois, continuei a não gostar tanto do filme. Entediei-me novamente com o excesso de situações aventurescas, achei enfadonha toda a seqüência no interior de uma baleia e desgostei da facilidade das situações morais contidas no filme.

Aspectos que eu desgostei: a) apesar de Gepeto, o criador/pai de Pinóquio, ter um peixe de estimação, chamado Cléo, eles não hesitam em se alimentar de outros peixes em várias cenas do filme; b) o gato do protagonista, Fígaro, é maltratado desnecessariamente em quase 80% das cenas em que aparece; c) por mais que o viés moralista que permite que garotinhos fumantes e viciados em sinuca e em cerveja se transformem em burros seja exitoso, a instabilidade comportamental do boneco Pinóquio beira a idiotia; d) o ritmo do filme é deveras irregular e, sinceramente, não me é narrativamente atrativo. Conclusão: não nego que fiquei encantado pelo Grilo Falante, mas, pelo que foi apresentado no filme, fica-me mais e mais difícil acreditar em desejos que possam ser realizados graças ao auxílio de uma estrela mágica ou de uma fada azul. Acho que isso é positivo, não é?

Que seja! O que importa é que um novo dia talvez nasça amanhã e tanto eu, quanto Pinóquio, quanto a geógrafa, quanto seu amante cocainômano, quanto minha mãe, quanto os peixes do mundo terão novas oportunidades de errar e acertar na vida. E o que é melhor: tudo isso é moralmente relativo! Talvez não me adiante muito ser kantiano numa hora destas...

“If your heart is in your dream

No request is too extreme

When you wish upon a star

As dreamers do”

Wesley PC>

terça-feira, 28 de julho de 2009

MEU DEFUNTO FAVORITO: ANDRÉ BAZIN (18/04/1918 – 11/11/1958)


“A função do crítico não é trazer numa bandeja de prata uma verdade que não existe, mas prolongar o máximo possível, na inteligência e na sensibilidade dos que o lêem, o impacto da obra de arte”

André Bazin era católico fervoroso e, graças a ela, toda uma geração de cineastas revolucionários surgiu. André Bazin escrevia como vivia e vivia para ver filmes. É o meu grande mentor, um dos homens a que mais agradeço a Deus por ter entrado com seu pensamento, com sua ideologia, com seu ímpeto vitalício. É um gênio (é hoje e sempre será!), que me ensinou a ver a realidade com novos olhos. O que seria de mim sem ele?

Wesley PC>

APRESSADO COME O QUE QUISER COMER! (Viva a liberdade)


A muito vinha pensando da queda dos Portões da Gomorra. As bombásticas novidades, as repentinas mudanças me fizeram crer que estaríamos entrando na última Era das estruturas gomorrianas, ciente, no entanto, da continuidade das belas amizades que lá se fizeram.

Mas, como diria Jorge Ben “... Deus é justo e verdadeiro..." e antes que acabasse as férias recebo um animante boletim da entrada de um novo personagem para os Anais da Gomorra. Como que para completar a alegria, Ferreirinha nos avisa que o novo morador chamasse Chuk.

Por um lado, a esperança da continuidade e reestruturação da saudosa comunidade me deixou muito animado, mas, mais ainda, o fato de ter estudado com o novo morador na 7º série.

Já havia dito que não queria está exercitando meu presente no passado, porém ante aos fatos, vejo que é preciso mais um pouco de recordação.

Com uma vivência de 6 escolas, o Coesi se mostrou como a coisa mais diferente até aquele momento. Antes dela todas as instituições que passei tinham por referência o baixo custo, e junto a isso um tanto de coisas atrelada, mas desta vez estava entrando não apenas em um colégio caro, mas estruturalmente diferente.

Já no primeiro dia, me sentei na última cadeira do lado direito, Porém, antes mesmo de chegar na sala, já estava muito surpreso com os vidros nas portas em forma de escotilha, o enorme quadro branco ao lado da porta que se estendia desta até a outra extremidade da parede, as cadeiras brancas e espaçosas, muito diferente das que eu estava acostumado entre outras coisas. Imagine então neste ambiente um garoto magro, com o cabelo penteado de lado, a camisa dentro da calça e com um cara de menino da roça.

Lembro que cheguei e reparei que no teto havia um enorme aparelho e que não identificava sua função. Fiquei olhando, olhando e só depois vi que era um ar condicionado.

Desses dia em diante minha figura passou a ser relacionada com o brincalhão, o perturbador, mas também o abestalhado, o inocente e o alvo de muitos sarros.

João Paulo, muito tempo depois, chegou a comentar comigo que nessa época não ia com a minha cara e me achava muito matuto, o que não minto, pois ingressar em uma turma onde se conhecia bandas de rock internacionais, muitos possuíam computador em casa a muito tempo, e no contra ponto disso nem sabia ao menos usar a internet.

Na sala, como em toda escola, havia o grupo dos perturbadores. Apesar de, de certa forma, fazer parte dessa galera, eu era o alvo de muita chacota por parte dessa galera. Do grupo lembro de Chaca, que ainda quando encontro vejo que não mudou muita coisa, The Troope, o retardatário da turma, Felipe, um jovem mimado muito desleixado e inteligente, e Chuk

Chuk faltava aula pacas e quando ia só fazia dormir, mas ainda assim suas notas eram muito boas, o que se tornava comentário de muito dos professores e da coordenação. Me recordo também que Chuk tinha uma relação muito complicada com sua mãe e umas das histórias que ouvia era que certa vez Felipe havia ligado para sua casa e a mãe de Chuk ficou gritando:

- Paulinho (acho que era assim que a mão dele o chamava) está me batendo! – e pelo que entendi tudo isso por causa de uma toalha.

Aí, no outro dia todos ficaram comentando:

- Porra Chuk bate na mãe!

Ele ficava puto.

Havia ainda muitas histórias dessa relação conturbada, principalmente sobre os sumiços do filho mas não me recordo.

Outra parada que não tinha como esquecer era a utilização da minha pessoa para alvo de enormes e dolorosas bolas de papel. Era foda!

Porém em anos posteriores, quando o encontrava na rua percebia que havia mudado muito. Espero então que possa reencontrá-lo nas dependências da Gomorra para lembrar-mos desse que, por incrível que pareça, foi um belo e saudoso ano de grandes novidades para muitos da turma da 7ªB.

SECOS & MOLHADOS EM MINHA VIDA!


“Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera”

Imagina se eu tivesse aceito o convite daquela professora de Portuguâs, aos 12 anos de idade, quando ela me pediu para dublar Ney Matogrosso numa gincana escolar... Vocação é coisa séria!

Wesley PC>

Leno e Baiano caindo no samba

Pra pessoas que são ruim do pé, quiçá doente da cabeça, mas que gostam de samba, "Samba Manco", música executada por Kiko Dinucci e Bando Afromacarrônico, é uma boa pedida.
Vi o Kiko e sua banda recentemente num programa da TV Cultura, e logo em seguida tive outro contato através de uma coletânea que peguei com Debora. Fiquei muito entusiasmado com a música e resolvi baixar o disco completo que estou ouvindo no momento.



Numa entrevista, Kiko Dinucci diz o seguinte: "Eu pessoalmente sou totalmente a favor do compartilhamento de arquivos na rede, isso não é crime, é educação, talvez o caminho pra verdadeira democracia digital. Baixo discos no 'Loronix', 'Um Que Tenha', 'Som Barato', e claro, aqui no 'Eu Ovo'. Acho uma babaquice das piores o que a gravadora 'Biscoito Fino' fez com o som barato, careta, reacionário demais. Sou a favor até da pirataria, o artista idependente não se prejudica com esse mercado paralelo, muito pelo contrário, uma vez acharam o 'Pastiche Nagô' num camelô no centro de Itaquera (zona leste de sampa), achei o máximo, fiquei orgulhoso, queria ver a cena".

Então quem quiser, fique a vontade pra baixar.

Leno de Andrade

É TRISTE DESCASCAR UMA MAÇÃ SOZINHO?


E se a maçã descascada for o produto de um mero gesto paliativo para driblar a solidão? E se acostumamos a ver todos os dias a nosso lado não estiver mais ali? E se a pessoa que descascou a maçã não gostar de comer esta fruta? E se tudo isso for reflexo pensamental de mais um belo filme do Yasujiro Ozu?

Pois bem, acabo de ver “Pai e Filha” (1949), mais um singelo filme deste cineasta japonês especializado em ternas relações familiares e simplesmente não sei dizer como classificar a tristeza ou felicidade que emana do filme. Se, por um lado, os personagens conversam sobre os trabalhos forçados que tiveram que realizar durante os anos da II Guerra Mundial e reclamam da sujeira de alguém com um sorriso largo nos lábios, por outros, eles choram piamente durante um espetáculo de teatro Nô, pois temem que a necessidade matrimonial vá de encontro ao respeito devido ao progenitor viúvo. Além disso, o diretor não tem medo de denunciar a corrupção cultural do país em que vive e engrandece, denunciado os cartazes monstruosos de Coca-Cola que se interpõem diante de um singelo passeio de bicicleta. Será que eu ainda sei pedalar? Procurei uma maçã para descascar aqui em casa também, mas não encontrei. Amo maçãs!

Wesley PC>

CALMA, CALMA, EU POSSO EXPLICAR!


Epígrafe schopenhaueriana: “para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos” . Assim diz o filósofo Arthur Schopenhauer, numa sessão do livro “Panerga e Paralipomena”, chamada “Sobre Livros e Leitura”. No referido livro, ele critica uma tendência que, se já era preocupante em 1845, quando o livro foi publicado, imagina hoje: a predominância no gosto das pessoas por obras medíocres e numericamente disseminadas que, sob o pretexto da novidade fugidia (negada pela subsunção extrema a fórmulas de escritura), priva os leitores das verdadeiras obras-primas da produção humana. Ele falava especificamente sobre a Literatura, mas podemos estender hoje sua crítica a todas as áreas do conhecimento humano, infelizmente!


E por que, dentre zilhões de outras possibilidades demonstrativas, escolhi “Xuxa e os Duendes” (2001, de Paulo Sérgio de Almeida e & Rogério Gomes) como exemplo cavalar desta tendência? Explico: vi este filme numa sessão de cinema, por absoluta falta de opção. Paguei apenas R$ 1,00 pelo ingresso e havia apenas mais três pessoas na sessão, duas crianças e uma senhora. Em dado momento do filme, a personagem Kyra pede que, quem acreditasse em duendes, batesse palmas, a fim de salvar uma dada entidade enferma. Somente uma das três pessoas presentes à sala não atendeu ao chamado da personagem. Fiquei chocado comigo mesmo ao não odiar de todo o filme (que, sim, é horrendo, não se enganem!) e, defendendo a necessidade de entrar em contato também com o que não presta, se quisesse ser um bom crítico, acabei discutindo com várias pessoas por causa do filme. Criticava quem falava mal sem tê-lo visto (mesmo sendo óbvia a sua decrepitude estilística) e defendia um mínimo de fidelidade narrativa ainda contido na obra. Será que estive errado?


Pelo sim, pelo não, não me arrependi do que fiz. Confesso até que o filme tem algumas (pouquíssimas) cenas interessantes e que os astros televisivos estão adequadíssimos aos seus personagens. Mas seria bem melhor se este tipo de abominação não existisse. Como existem, não sei bem como me portar criticamente em relação a elas. Ignorar? Falar mal sempre e morrer estrebuchando? Desloco uma citação schopenhaueriana, a fim de obter minha resposta: “mesmo os escritos de um espírito medíocre podem ser instrutivos, dignos de leitura e agradáveis, precisamente porque são a sua quintessência, o resultado, o fruto de todos os seus pensamentos e estudos; - enquanto a convivência com ele não consegue nos satisfazer”. A luta continua!

Utilizei este texto no meu Fotolog, mas resolvi republicá-lo aqui em virtude da crise conceitual a que o filófoso citado me lançou, mas, advirto: não tenho a mínima coragem ou intenção de ver a continuãção deste filme!


Wesley PC>

segunda-feira, 27 de julho de 2009

JAMAIS ENTENDEREI ESTE FASCÍNIO DAS PESSOAS PELAS PRÁTICAS COMPETITIVAS!


Depois de almoçar arroz com chuchu e suco de limão, resolvi tirar um cochilo. Deitei-me debaixo de uma árvore, com um livro de Arthur Schopenhauer nas mãos, no qual ele dizia que “como as pessoas lêem sempre, em vez do melhor, o mais recente, os autores permanecem na esfera estreita das idéias circulantes, e o século se enterra cada vez mais profundamente nos seus próprios excrementos”. Havia uma símia no cio, correndo desesperada dos quatro micos que a perseguiam, a fim de copular. Os primatas grunhiam, corriam, faziam o maior barulho, mas ainda assim consegui cochilar, após a leitura do livro alemão que estava em minhas mãos. Pus uma camisa verde sobre meu rosto, enviei uma discreta mensagem amorosa para um dos jovens que não mais falam comigo e dormi. Quando estava prestes a sonhar, acordei com um grito de alguém: “Ricardoooooooooooooooooooooooooo!”. Dois alunos de Matemática cumprimentavam-se à distância e humilhavam-se mutuamente acerca dos resultados futebolísticos do último domingo. “Humilhamos ontem, né?”. E eu acordei emputecido. Eis o mundo!

Wesley PC>

“I WILL SURVIVE”?


“No início, eu tive medo, eu estava petrificado
Continuei pensando que eu não poderia viver sem te ter ao meu lado
Então, eu gastei tantas e tantas noites pensando no quanto me fizeste mal
E eu cresci, forte
E aprendi como continuar”

Não é difícil entender porque esta canção maravilhosa tornou-se o hino de enfrentamento contra a “peste gay”. Pena que hoje ela é pouco mais do que um indicativo humorístico de superficialidade afetada. Pena!

“Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love
I know I'll stay alive!
And I've got all my life to live.
And I've got all my love to give.
And I'll survive.
I will survive!
I will survive!”

Wesley PC>

“QUEM QUISER ENCONTRAR O AMOR”...


“Na falta de material melhor, os tamborins eram fabricados com couro de gato”. A partir daí, os meninos da favela saíam desesperados em busca destes felinos domésticos, viando ganhar algum dinheiro para o sustento da família. Um deles rouba o gato muitíssimo bem-tratado de uma família burguesa. Divide a sua refeição com ele, enquanto os versos acalentadores da canção de Geraldo Vandré ressoam na trilha sonora. As necessidades e/ou imposições capitalistas são mais fortes: o gato será morto, impiedosamente! Eis o terceiro episódio do filme coletivo “Cinco Vezes Favela” (1962). Ponto para o tropicalista Joaquim Pedro de Andrade!

Wesley PC>

“HIDING ALL AWAY”

Na noite de ontem, seguindo erroneamente um conselho fílmico, visitei um bate-papo virtual. Não sei se tinha algum interesse definido. Tinha pré-conceitos, que foram radicalmente confirmados. Passei mais ou menos 1h30’ estabelecendo parcos contatos com um punhado de pessoas fúteis. Alguém tinha me dito para exprimir homossexualidade no apelido de acesso. Tornei-me “triste rapaz (HxH)”, portanto! Quando eu vi só se aproximavam verbalmente de mim para perguntar idade, peso, altura e de onde eu falava, percebi logo que aquele não era um ambiente satisfatório. Fui dormir, depois de ter adicionado dois dos contatos “menos piores” no MSN.

Enquanto eu me submetia a tal experimento cibernético, ouvi um cantor triste e experimental que muito agradaria a Rafael Coelho. Pensei em escrever uma resenha do álbum, mas prefiro antes ouvir mais CDs do artista em pauta. Ao acordar, porém, depois de me deliciar ao som de Novos Baianos com minha mãe, fui atacado (no melhor sentido da palavra) pelas tétricas canções dos geniais Nick Cave and the Bad Seeds, banda australiana tendente à morte, depressiva no limite da exaustão. O álbum em pauta era a primeira metade do petardo duplo “Abattoir Blues/ The Lyre of Orpheus” (2004). Três canções me bastaram para gemer de gozo sombrio: a primeira, frenética e sofrida, chama-se “Get Ready for Love”; a segunda, anunciadamente permeada por agonia, chama-se “Cannibal’s Hymn”; e a terceira, “Hiding All The Way”, que me cativou tão violentamente, que eu não hesitei em ficar repetindo-a, repetindo-a, repetindo-a...

“You entered the cathedral
When you heard the solemn knell
I was not sitting with the gargoyles
I was not swinging from the hell
I was hiding, dear,
I was hiding all away”

As vozes gemebundas, os instrumentos gritantes, tocados como se todos os músicos sofressem voluntariamente de Mal de Parkinson, os sorrisos dementes incidentais, orquestrações similares a um espetáculo de exorcismo, a letra tristíssima, justificando qualquer procedimento sugerido de eutanásia antecipada: tudo naquela canção exprimia o que eu sentia naquele exato momento, enquanto caminhava mecanicamente para o trabalho e ainda me lamentava pelos agouros a que me submeti na noite de ontem. Se eu já era fã de Nick Cave and the Bad Seeds, agora então... Eles são geniais!

E, dentro em breve, estarei aqui, a tecer elogios demorados para Andrew Bird. Coelhinho (que, a princípio, não simpatizou com o desespero musical dos artistas australianos) que me aguarde!

Wesley PC>

“EU TRABALHO PARA ESQUECER A SOLIDÃO”!


A frase acima foi proferida por uma personagem que, tal como eu, tem na baixa receptividade de relacionamentos amorosos, o seu ponto fraco. Trata-se de alguém que respira no filme “Conto de Outono” (1998, de Eric Rohmer), a que acabo de assistir. Se me permitem, antes de voltar ao quanto este assunto me perturba, gostaria de tecer alguns comentários apaixonados sobre o filme.

Vamos lá: “Conto de Outono” é o último dos “Contos das Quatro Estações” de Eric Rohmer. Ao contrário de “Conto de Inverno” (1992, quase inverossímil) e “Conto de Verão” (1996, maravilhoso), não há um personagem central facilmente detectável. A narrativa é ainda mais fluída, subdividida em múltiplas sub-tramas românticas. E, confesso: cria que eu fosse desgostar dele. Enganei-me redondamente: é lindo!

Na primeira cena, mãe e filha acertam os preparativos para o casamento desta última, que comenta sobre um desentendimento que tivera com a melhor amiga de sua mãe. “Não quero guardar rancor”, disse ela. “Se tua amiga quiser me beijar, não virarei o rosto”. A amiga em questão vive solitária num vinhedo. Tem o cabelo crespo e esvoaçante, o que me fez identificar-me com ela de supetão, mesmo que eu não seja tunisiano que nem a mesma. Ela é viúva e tem dois filhos. Uma moça, que só pensa em dinheiro e parte antes do filme começar, e um rapaz, que possui uma inteligentíssima e linda namorada, ainda encantada por um professor de Filosofia com quem teve um caso e com quem agora deseja ser apenas amiga, não obstante ele insistir por contato físico. À medida que o filme se desenrola, a nora da mulher solitária do vinhedo tenta fazer com que esta se interesse romanticamente por seu professor, ao passo em que a melhor amiga da segunda põe um anúncio de jornal em busca de um homem. O final do filme, que, adianto é ambiguamente feliz, é absolutamente surpreendente, não obstante tudo ocorrer do jeito como os personagens anteviam. Estou aqui absolutamente encantando pelo filme, que tem tudo a ver com o modo como me sinto acerca deste assunto tão recorrente em minha vida que é a necessidade de amar alguém, para além das amizades verdadeiras. Falo em amor que manifesta também através da troca de carícias mais íntimas, quiçá de sexo!

Da mesma forma que acontece nos outros filmes rohmerianos a que venho tendo acesso desde a última semana, graças a um simpaticíssimo rapaz casado, toda a “ação” do filme é centrada em seus diálogos. Em alguns momentos, parece que o diretor esqueceu a câmera ligada e pediu apenas a seus atores/personagens que conversassem, falassem, falassem e falassem. Somos conduzidos à intimidade de todas aquelas pessoas e, assim, conduzimo-nos também a nossa própria intimidade. Nesse sentido, três eventos do dia de ontem, sábado, merecem destaque comparativo no que diz respeito às minhas reflexões: um evento matinal, um vespertino e um noturno.

- O evento matinal: fui obrigado a participar de uma palestra empregatícia sobre alcoolismo. O médico-palestrante, em dado momento, compara a paixão a uma doença. Sem saber, usou-me como exemplo para um mal-estar que, segundo ele e a OMS (Organização Mundial da Saúde) é patológico. “Pensar demais numa mesma pessoa é doentio!”, concluiu. Eu pensava naquele instante!

- O evento vespertino: depois de almoçar em companhia com um senhor gaúcho de 89 anos, que não me repreendeu por comer carne, conheci um garoto representante da beleza neoclássica. Qualquer pessoa se apaixonaria pro ele no ato, mas eu preferi ignorar qualquer suposto desejo. Pessoas bonitas daquela forma me parecem tão inacessíveis. Concentrei-me no trabalho que realizava naquele instante: ajudei alguém a terminar um artigo científico de pós-graduação em Administração. De que me adiantaria sonhar com amores impossíveis?

- O evento noturno: em companhia dos amigos relatados anteriormente, descobri que um deles estava namorando. Conhecera um cara através da Internet e, para além das evidências em contrário, apaixonara-se. Ele estuda Letras/Inglês na UFS. O rapaz é um advogado formado pela UNIT. Por alguns instantes, senti o que Ferreirinha chamaria de “inveja positiva”. Quis entrar num bate-papo virtual qualquer e imaginar que conheceria alguém apaixonável pela Internet. Mas, comigo, nada dá certo neste sentido. Desisti: o filme me salvou!

Bom, cá estou eu, às vésperas de adentrar a madrugada de segunda-feira, sozinho (todos em minha casa dormem), pensando na mesma pessoa (todos sabem quem é!), pensando também noutras pessoas (algumas delas sequer existem, não passam de desejos e projeções), e reclamando que, por não me achar feio nem desinteressante, não entendo (ou aceito) o porquê de eu me sentir tão mal nesta área afetiva. Isso me deixa triste, mas parece que é uma condição já característica de meu ser. Resta-me dormir, pois vou trabalhar cedo. Ainda me falta um filme de estação do ano do Eric Rohmer para ver: “Conto de Primavera” (1990), para o qual não consegui acondicionar legendas. Vê-lo-ei com som original em francês. Periga que eu não o entenda por completo, mas tenho certeza de que sentirei o que os personagens sentem. Estou me sentindo muito triste agora, mas, ao mesmo tempo, feliz por dispor de racionalidade para perceber isso e por imaginar que, em algum lugar do mundo, talvez nesse mesmo instante, alguém me lê e se preocupa comigo. Tomara. Boa noite de sono, Wesley de Castro!

Na foto, o diretor Eric Rohmer enquadrando a atriz Béatrice Romand.

Wesley PC>

domingo, 26 de julho de 2009

“EU GOSTO MESMO É DE VIDA REAL”/ QUEM MANDOU A GENTE NASCER?



No início da madrugada, eu e mais quatro amigos aventuramo-nos por um Jogo da Verdade, no qual muita roupa suja foi lavada. Em dado momento, a única mulher entre nós sugeriu que víssemos um curta-metragem dirigido por um professor de roteiro. O filme em pauta chamava-se “Os Sapatos de Aristeu” (2008) e seu intricado e dramático roteiro mostrava os preparativos do funeral de um travesti recém-falecido. Sua irmã despreza-o por ele “ter sujado o sobrenome de seu pai”, sua mãe tenta perdoá-lo, mas dilacera o seu corpo e, do lado de fora, prostitutas e transviados insistem para participar da cerimônia de despedida. Belíssimo tratamento do tema. Ficamos todos emocionados!

Como nossa amiga conhecia pessoalmente o diretor do filme, ela teceu alguns comentários pessoais e elogiosos sobre o moço, que se auto-definia como “um ex-gordo”. Um outro amigo, que já havia visto René Guerra pessoalmente disse que ele era extremamente afetado. “Se nós, que somos do jeito que somos, já sofremos, imagina uma bicha gorda e afetada”, foi a conclusão de um terceiro amigo. Fiquei pensativo.

Horas antes de eu ouvir o comentário acima, estive comprando pizzas num ‘shopping center’ de Aracaju, ao lado dos mesmos quatro amigos frenéticos. Ríamos bastante, gargalhávamos no ponto de ônibus! De repente, enquanto conversávamos, fomos surpreendidos pelo ‘flash’ de uma câmera de celular. Dois meninos enfiaram-se no meio de nossa conversa e fotografaram dois amigos, que estavam muito próximos. “Vamos lá, outra, outra, mais de perto!”, convocava o zombeteiro menino. Meus amigos trocaram um beijo cínico, no meio da rua (eram 22h10’). Fiquei apreensivo. Um bando ostensivamente homofóbico de 8 meninos nos observavam furiosos, mas se limitaram a comentar: “isso mesmo, mostrem quem vocês são!”. E subiram no ônibus, chamando uns aos outros de bichas. Fiquei atônito, tentando ignorar o fato, mas tem coisas que ficam em nossa mente...

Dormi, acordei. No ônibus de volta para casa, um grupo de homofóbicos interioranos explicava como fizeram para jogar fora, numa festa, um copo descartável que fora tocado pelos lábios por um homossexual: “joguei fora aquela pôrra, velho. Quando eu vi aquele batom, que nojo!”. Eu me encolhia num canto, ouvindo Juanes, lembrando de Rafael Maurício, que não me dá mais sinais de vida. Desci assustado, pois tive que abrir espaço entre eles. Estava com uma camisa vermelha! Perdi uma caneta, eles encontraram. Mal menor. Lendo algumas inscrições que estavam no terminalzinho do Campus, descobri esta lição de vida: “fume um cigarro e não serás um fumante; beba um copo de cerveja e não serás um alcoólatra; dê o rabo e serás um viado para sempre”. Quem mandou eu nascer?

"Sonho morrer de velho e não de solidão"!


Wesley PC>

APRESSADO COME CARNE


Pera ai, vamo devagar, sem alvoroço. Antes de começar quero explicar aos sobreviventes da nave Gomorra que o título que faz referência a texto que se segue, surge a partir das vivências ocorridas no ENCA.
Alguns já devem saber que estou a um mês sem comer carne (por enquanto não me intitulo vegetariano; questões internas...), porém a gênese da ideia veio ante as vivências do ENCA. Pois como poderia escrever o famoso lema; "Apressado Como Cru", tendo conhecido a galera do crudovorismo? Pessoas que além de tudo são super tranquilas. Assim não quero me colocar como O Vegetariano, O Consciente, O Crítico do Carnivorismo, mas apenas tinha o intuito de partilhar minhas reflexões.
Pois bem, ainda ontem estava pensando:
-Porra queria escrever outro texto...
Estou muito empolgado vendo que minhas poucas horas dedicadas ao diário de viagem como também a possibilidade de acessar a net quase que 24h por dia, venha dando bons resultados, pois não faz muito tempo, todas as vezes que me colocava a viajar nas letras, acabava me decepcionando pela demora que levava para cada parágrafo. No entanto, estando com tempo livre passei a me utilizar do diário de várias maneiras (relatos, análises, pensamentos) e ao longo do tempo também verificava a qualidade do que escrevia, chegando a comentar com meu passeiro de viagem sobre o então assunto.
Aí, ontem me peguei com algumas ideias na cabeça. Uma fazia ligação ao passado mas como já havia escrito muito sobre e não queria viver apenas disso, descartei para outro momento. Pensei então em escrever algo sobre o Transa que a muito Leno havia proposto. Comecei com um comentário sobre uma entrevista que li no Blogg do Caetano, mas não saiu. Decidi dormi e pensar algo depois.
Hoje não conseguimos pegar as sobras do café da manhã, mas mesmo assim sentei no lugar de sempre e fiquei a pensar no que escrever. Ai falei:
-Porra, to forçando a barra de mais. Legal ficar pensando em manter uma rotina com a escrita, mas eu tenho que perceber que também ha uma vida pra viver. Se não for assim vou viver de que? Do passado?
Então peguei o livro do Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, e fui dar uma caminhada até o lago Paranoá, que fica próximo a UNB.
Desde ontem estamos com mais um morador aqui no salão. Ele é do interior de São Paulo e veio fazer um prova de concurso. Quando já estava escurecendo o cara me falou que tinha pego uma estradinha que passa por dentro do Centro Olímpico e foi dar um mergulho lá no lago.
Como havia ficado na usura de fazer o mesmo, já fui na intenção de tomar um banho no local. Então peguei a estradinha de terra até beira do Paranoá. Ainda com minha bermuda vermelha, tomei banho nas águas rasas e mornas do gigantesco lago. Em seguida segui mais a frente pela estradinha e fui parar em um lugar que parecia um acampamento. Tinha até aquelas ladeirinha pra receber barcos de pequeno porte. Li um pouco do A.M.N. e voltei para a Casa Estudantil. Comi algo próximo ao guacamole e fui pra net.
Nesse momento já tinha desencanado lá da parada de escrever e deixar aparecer algo.Eis então, como que um presente, surge o que queria.
Bem, avia aberto o blogg da Gomorra e comecei a ler as publicações. A primeira era uma crítica de Werly ao CD dos Leprecheus. Em seguida outra, obviamente de Werly, sobre uma chegada envolvendo o Baiano e mais alguém. Vou descendo a barra de rolagem e um texto sobre o Natal. Nisso, eu estava achando entranho pq não encontrava as publicações recentes.
-Porra, Werly tava inspirado!
Mas ai percebi que a página havia aberto em uma data anterior, lá pra data do Natal. Antes de mais nada, não quero me atentar aos fatos, mas sim as publicações da época. Velho era uma página muito boa. Tinha um comentários sobre o sempre recordado por mim Antony and The Johnsons, outro sobre os CD's dos Rapa e do já citado CD dos leprechaus. Além de recados sobre minha viagem para Salvador e as festas da Gomorra, uma inclusive odiada por Werly.
Mas a mais incrível foi a crítica de uma amiga de Wely sobre o Natal. Fiquei lendo e pensando em escrever sob algo, coisa que até cheguei a começar mas percebi que estava muito; Oh, que mulher ignorante que não percebe as coisas, e preferi ficar por aqui mesmo, até pq, antes mesmo de ler o texto dela eu visitei seu bolgg e percebi que era uma pessoa de muito inteligente, com comentários super cult e gostei muito, tirando a celebração dos 40 anos da viagem a lua e da datas de aniversário... cada uma com seu gosto...viva a liberdade.
Bom, então dou meus parabéns a este maravilhoso dia que, inicialmente quando abri ia do dia 27 de dezembro de 2008 até uma crítica ao CD do Rapa.
E antes que se perguntem: " Mas não era para ser algo presente?", quero esclarecer que ainda não tinha lida a então página como também não estava por dentro de alguns lances.

Coelho
FLWS

“ESTAVAM TODOS FELIZES, MENOS O LOBO”!


Depois de cochilar na casa de uma amiga, que me confessou que a infecção urinária de que padece não é empecilho para suas freqüentes práticas sexuais, vi “Música, Maestro!” (1946, de Bob Cormack, Clyde Geronimi, Hamilton Luske, Jack Kinney & Joshua Meador) ao lado de várias pessoas queridas. Para quem não reconhece o título do filme, trata-se de uma daquelas pérolas musicais realizadas pelos Estúdios Disney. São 10 desenhos animados, alguns maravilhosos (o romance entre dois chapéus, o ‘Interlúdio Jazzístico’ com o lápis, a tragédia da baleia canora), outros ótimos (as músicas sobre solidão amorosa, as garças apaixonadas no lago azul), alguns apenas bons (o episódio do beisebol, “A Dança dos Instrumentos”, o balé com os anjos), mas quero destacar um deles, a versão animada para a sinfonia de Sergei Prokofiev “Pedro e o Lobo”, que encantou a todos os presentes na sala.

Primeiro grande choque avaliativo: sendo o filme produzido em 1946, quando os soldados norte-americanos estavam voltando da II Guerra Mundial, soou estranho que o protagonista do episódio fosse um garotinho russo, benevolamente armado com uma pistola de brinquedo. No episódio, tal qual na sinfonia, cada personagem é representado por um personagem diferente. Pedro é um violino. Um passarinho é interpretado por uma flauta. Uma pata ganha vida através de um oboé. O avô de Pedro é um fagote (Salve, Henrique!). Caçadores são tambores. O gato Ivan é um piano. O assustador lobo é antecipado através de sons demasiado graves. A história se sucede, de forma absolutamente genial, crítica e bem-humorada. Em dado momento, o lobo é capturado. Todos comemoram, evidentemente, menos o Lobo. Mais uma vez, eu me identifico com o vilão, fico preocupado ao vê-lo amarrado “pelo bem do vilarejo”. Aí o filme habilmente desvia a minha atenção dramática para mostrar o habitante do cenário mostrado na foto chorando por alguém que pensava ter morrido e que o Narrador nos mostrou sendo conduzido até o Céu. Ideologia é mesmo algo sedutor e perigoso!

Wesley PC>