(por respeito a valores alheios, tentarei não citar nomes nesta confissão)
Quando eu cursava a 6ª série do Ensino Fundamental, vi uma imagem num livro de Geografia que marcou a minha vida: um bebedouro duplo sul-africano, metade para brancos, metade para não-brancos. Na parte reservada aos brancos, azulejos alvos, fiação elétrica em bom estado, água geladinha para os usuários. Na outra parte, uma parede deteriorada, fios desencapados à mostra, água suja. Na minha adolescência de sociopata, esta foi uma das mais fortes imagens de concentração preconceituosa apresentada diante de meus olhos. Senti vergonha por ter sido condicionado a alguns chavões preconceituosos neste dia (fui uma daquelas crianças que, nalgum momento de seus dias, cantou a famigerada desonra contida nos versos “neguinho preto do sovaco fedorento, rala a bunda no cimento, pra ganhar mil e quinhentos”)...
À medida que fui envelhecendo, desenvolvi uma tendenciosa repulsa a beijos (talvez por ter logo percebido que isso não era algo comum a homossexuais com cáries na década de 1990) e preferia os meninos com pele extremamente esbranquiçada (pois estes eram comumente rejeitados pelas meninas ávidas de minha geração). Com o tempo, tais preferências e repulsas tornaram-se dogmas, prisões voluntárias, até que cheguei em Gomorra e...
[e...]
Wesley PC>
Quando eu cursava a 6ª série do Ensino Fundamental, vi uma imagem num livro de Geografia que marcou a minha vida: um bebedouro duplo sul-africano, metade para brancos, metade para não-brancos. Na parte reservada aos brancos, azulejos alvos, fiação elétrica em bom estado, água geladinha para os usuários. Na outra parte, uma parede deteriorada, fios desencapados à mostra, água suja. Na minha adolescência de sociopata, esta foi uma das mais fortes imagens de concentração preconceituosa apresentada diante de meus olhos. Senti vergonha por ter sido condicionado a alguns chavões preconceituosos neste dia (fui uma daquelas crianças que, nalgum momento de seus dias, cantou a famigerada desonra contida nos versos “neguinho preto do sovaco fedorento, rala a bunda no cimento, pra ganhar mil e quinhentos”)...
À medida que fui envelhecendo, desenvolvi uma tendenciosa repulsa a beijos (talvez por ter logo percebido que isso não era algo comum a homossexuais com cáries na década de 1990) e preferia os meninos com pele extremamente esbranquiçada (pois estes eram comumente rejeitados pelas meninas ávidas de minha geração). Com o tempo, tais preferências e repulsas tornaram-se dogmas, prisões voluntárias, até que cheguei em Gomorra e...
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