sábado, 8 de agosto de 2009

SOBRE A IMPORTÂNCIA DE REVER CONCEITOS...


(por respeito a valores alheios, tentarei não citar nomes nesta confissão)

Quando eu cursava a 6ª série do Ensino Fundamental, vi uma imagem num livro de Geografia que marcou a minha vida: um bebedouro duplo sul-africano, metade para brancos, metade para não-brancos. Na parte reservada aos brancos, azulejos alvos, fiação elétrica em bom estado, água geladinha para os usuários. Na outra parte, uma parede deteriorada, fios desencapados à mostra, água suja. Na minha adolescência de sociopata, esta foi uma das mais fortes imagens de concentração preconceituosa apresentada diante de meus olhos. Senti vergonha por ter sido condicionado a alguns chavões preconceituosos neste dia (fui uma daquelas crianças que, nalgum momento de seus dias, cantou a famigerada desonra contida nos versos “neguinho preto do sovaco fedorento, rala a bunda no cimento, pra ganhar mil e quinhentos”)...

À medida que fui envelhecendo, desenvolvi uma tendenciosa repulsa a beijos (talvez por ter logo percebido que isso não era algo comum a homossexuais com cáries na década de 1990) e preferia os meninos com pele extremamente esbranquiçada (pois estes eram comumente rejeitados pelas meninas ávidas de minha geração). Com o tempo, tais preferências e repulsas tornaram-se dogmas, prisões voluntárias, até que cheguei em Gomorra e...

[e...]

Wesley PC>

O QUE SERÁ QUE NOS ACONTECERIA SE EU ESTIVESSE COM AIDS?


Acabo de ver um filme televisivo muito elogiado chamado “Todos Contra Léo” (2002), do novo destaque francês Christophe Honoré. A trama é bem comum (um rapaz ‘gay’ descobre estar com AIDS e, ao contar para a família, manifestações inesperadas de respeito são trazidas à tona), mas o modo como ela é narrada faz a diferença: na maior parte dos eventos, focamos ao lado do irmão de 12 anos do protagonista, que está a descobrir a sua própria sexualidade, que é repreendido pelo pai quando fala em orgia, que folheia os anúncios de ‘lingerie’ feminina quando está trancado no banheiro, que se sente rejeitado quando seus irmãos não o convidam para nadar nu na praia e que fuma um cigarro “pela primeira e última vez” apenas para manter viva na memória a lembrança do irmão com quem tem tanta afinidade. É um filme apenas mediano, mas, considerando-se alguns dos acontecimentos coincidentes na festa de Gomorra desta madrugada (segredo ainda), me fez pensar se eu mudaria muito se me descobrisse portador de alguma doença terminal. Desde pequeno, aliás, quando começaram a investir propositadamente na associação entre AIDS e práticas homossexuais que eu passei a nutrir uma indiferença manifesta pela doença. Creio que não faria muito estardalhaço (salvo o publicitário) se algo me levasse a adquirir o HIV. Não que eu queira isso ou não me importe, obviamente, mas o fato de nunca ter conhecido um aidético na vida real me torna descrente em relação à abrangência de contágio da síndrome. Tudo bem que eu não faça sexo da maneira convencional, mas a minha obsessão por ralos de banheiro (que, em breve, tornar-se-á tema de um roteiro de curta-metragem a ser escrito por Max Vieira – risos) e pelo sêmen que tenciono encontrar ali me coloca no topo da lista de potenciais infectados pelo vírus. Por estas e outras, com toda a minha “virgindade” lancinante sou impedido de doar sangue pelas instituições competentes, sob o pretexto de que sou vinculado a “atividades sexuais de alto risco”. É fogo, né?

Wesley PC>


*PS 1: em breve, RALO DE MEL estará sendo exibido num cinema próximo de Gomorra (risos);

*PS 2: camisinha comigo não rola! (chuif)

“ATÉ MESMO NOS MOMENTOS MAIS TRANQÜILOS”...


Por motivos definitivamente alheios à minha vontade, ontem não pude acessar este ‘blog’ querido, que tanto me ajuda a exprimir angústias e alegrias. O sobejo de trabalho empregatício nestes dias de início de período na UFS está a instaurar algumas crises materialistas em meu ser, mas acho que, por dentro sou a mesma pessoa. Na quinta-feira, ganhei R$ 130,00 de que não necessitava por um trabalhinho extra bobo que fiz e não soube o que fazer com o dinheiro. Fui ao ‘shopping center’ e comprei uma fita K-7, alguns CDs virgens, seis DVDs e chocolate para uma vizinha e para uma amiga de trabalho com quem tinha discutido. Gosto de fazer as pazes com quem amo! Conclusão: gastei tudo o que recebi em menos de meia hora. Seria isso um problema?

Desde pequenos, somos treinados a ficar contabilizando e repensando o que fazemos com a porcaria do nosso dinheiro. Estratagema barato do capitalismo este! Oficialmente, eu não “precisava” de nada do que comprei, mas... Quem precisa realmente de algo? Fiquei pensando se isto tinha algo a ver com o meu esquisito, paradoxal e pretendido hedonismo. Acho que é tudo saudades... Volta logo, muso!

“Give a little bit
Give a little bit of your love to me
Give a little bitI'll give a little bit of my love to you
There's so much that we need to share
Send a smile and show you care”

Ah, sim, estou ouvindo este álbum do Supertramp pela Terceira vez seguida na manhã de hoje. Acabo de chegar de uma festa surpreendente em Gomorra. Não darei mais detalhes, por enquanto, mas foi do caralho – literalmente!

Wesley PC>

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

HÁ ESPERANÇA NO AMOR?


O melhor alcoólatra do cinema prova que sim! Em “Assim Falou o Amor” (1971), o genial John Cassavetes mostra um homem e uma mulher que se conhecem. Ambos são fãs de Humphrey Bogart, ambos são involuntariamente misantropos, ambos são carentes e fazem de tudo para ficar juntos, ambos brigam, dançam e amam com a mesma intensidade. Nem 4 dias se passam e eles resolvem se casar, ao som de “I Love You Truly”, interpretada por Perry Como:

“I love you truly, truly dear,
Life with its sorrow, life with its tear,
Fades into dreams when I feel you are near,
For I love you truly,
Truly dear!”

Pena que não conheço ninguém que tenha visto este filme. Preciso divulgá-lo. Preciso conversar sobre ele. Alegrou a minha manhã de sono. Há possibilidade de intercâmbio entre amor e institucionalização branda. Quero ser que nem John Cassavetes quando eu crescer!

Wesley PC>

BAILE FUNK DA GOMORRA!! 07/08/09 às 19h


Calourada da Gomorra!!! Festa para fazer festa e curtir a festa.

Mas também para levantar fundos para a casa $$

Já tem cartazes na UFS e a divulgação boca a boca (ui, excitação!) tah rolando.

Teremos os clássicos: aqueles com perspectiva social e fortalecendo a autoestima da favela e;
Teremos o proibidão: aquelas canções sexistas, pedófilas, machistas, femistas e que glamorizam o crime.
=D

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deixo aqui também um texto sobre a criminalização do Funk e das favelas.

E por falar em Santa Marta....

Esse texto é dedicado à Apafunk, à Visão da Favela Brasil, a Cia Marginal, ao Lutarmada, à Justiça Global, ao CDDH de Petrópolis, ao DPQ, a Rede Contra Violência, ao Mandato do Marcelo Freixo, ao DDH, ao MST, ao MTD, ao Fazendo Média, a Renajop, ao Latuff, ao Diego Novaes...e a todos aqueles que lutam em defesa dos direitos humanos e contra a criminalização no Rio de Janeiro.

Apesar da clara vontade de todos os presentes na roda de abrir mão de suas falas para ouvir o som do funk, não era possível fazer isso. E não era possível porque a roda de funk é uma legítima manifestação política que hoje só existe como manifestação. Caso não fosse solicitada sua autorização dessa forma – resultado de uma conquista do povo brasileiro inscrita em sua constituição – a roda sequer aconteceria.

Não aconteceria porque seria considerada um baile funk, e hoje, segundo a lei estadual 5.265 de autoria do ex-deputado e ex-chefe de polícia Álvaro Lins, para realizá-lo é necessário pedir autorização com 30 dias de antecedência para a polícia local, ter comprovante de tratamento acústico, ter um banheiro químico para cada 50 pessoas, acompanhamento de câmeras, informar ainda a expectativa de público, o número de ingressos colocados à disposição, nome do responsável pelo evento, área para estacionamento e previsão de horário de início e término do baile...ufa! Enfim, para bons entendedores: só pode ser feito por grandes equipes de som, grandes casas de shows e para um público minimamente capitalizado. Nenhum problema com a “democratização” do público do funk, mas e quem o criou, não tem sequer direito a ouví-lo, cantá-lo e dançá-lo? Infelizmente essa já é a realidade no Rio de Janeiro há mais de um ano.]

Durante todo esse semestre, além disso, assistimos às grandes propagandas da "favela modelo" Santa Marta, da sua unidade pacificadora, do novo gênero de seus comandantes. E encerrávamos a rotina de um semestre indo lá, semanalmente, para ouvir as arbitrariedades ocultadas que vinham sendo cometidas pela antiga polícia com suas novas roupagens. Depois de proibir todas as manifestações culturais do dia-a-dia e de tratar a comunidade através da vida sob cerco (ou melhor, vida entre muros), a polícia da "paz" ainda pretendia proibir uma manifestação político-cultural, a liberdade de expressão. Talvez não fosse demais para aqueles que impedem a liberdade de ir e vir, impedir só “mais uma coisinha”, não é mesmo?

E não foi. A queda de braço para realização da roda durou semanas, ganhou visibilidade e no final, segundo a PM, não passou de um pequeno “mal entendido”...

No entanto, a roda de funk do Santa Marta entendeu bem. E veio para dizer, veio para soltar a voz da garganta, arrancar lágrimas teatralizadas da vida real e mostrar que, para paz, é preciso, antes de tudo, voz. Porque se alguma parte não entendeu o que estava ali sendo feito, não era a parte que estava em roda, mas talvez a que estivesse em fila e por isso não conseguia ver os olhos de todos. Mas ninguém saiu desentendido, não foi à toa o silêncio posterior: é a forma como se vem tratando, faz oitos meses, de tentar “calar os gemidos que existem nessa cidade”.

Mas nossa parte sabia muito bem que, depois todo esse tempo, havia ali uma grande conquista, que não passava de um direito – mas para provar que era como todos os outros – deveria ser arrancado, pois nunca foram dados de graça. Uma vitória sobre o silêncio, a arma da opressão. Uma vitória sobre a idéia de que o medo e a cabeça baixa sejam a única alternativa para a pobreza. Paz sem voz é medo. E o medo é a verdadeira voz daqueles que querem tratar toda a vida social como assunto de segurança.

A Apafunk, a Cia Marginal, o Visão da Favela Brasil, o Lutarmada e todos que alí estavam comprovaram que, como ouvi uma vez dizer um MC: nós não podemos ser a geração que vai engolir calada a criminalização da pobreza e da sua cultura.

Não, definitivamente.

E nossas vozes em ritmo de funk, de teatro, de hip-hop e de intervenções vieram juntas para mostrar “qual a paz que queremos conservar para tentar ser feliz”.

Créditos Texto: * Isabel Mansur (Justiça Global e Militante de direitos humanos no RJ.)
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feop

quarta-feira, 5 de agosto de 2009


Foi difícil, Mas saiu!
Ainda que conheça pouco do então álbum do miraculoso Jorge Ben, desde a primeira vez curtir muito esta foto e acho ideal enquanto significado.
Para aquele que por quase dois meses foi o fiel companheiro, que dividiu seus pensamento, suas histórias e que sempre se mostrou verdadeiro e racional nos diversos momentos: Bem-Vinda Amizade que, sabe-se lá do futuro, terei dito que foram memoráveis e compensadores quase 2 meses, completados ainda no último dia 4.
Para aqueles, que agora me recebem sem nem termos qualquer história para lembrarmos juntos, mas com muitas ainda a se escrever: Bem-Vinda Amizade.
O FUTURO É UMA CÂMARA DE GÁS.
Coelho
FLWS

FESTA EM GOMORRA NA PRÓXIMA SEXTA-FEIRA!


Por volta do meio-dia de hoje, eu estava a ler e gemer com um clássico HQ do gênio Frank Miller, quando Luiz Ferreira Neto apareceu e me convidou para a Calourada do Funk, a ser realizada em Gomorra na próxima sexta-feira, dia 7 de agosto. Aparentemente, não estou com clima parta festas, mas o convite me deixou ansioso, empolgado. Que massa, festa!

Voltando para a HQ: a estória que me comovia abordava as desventuras de um brutamonte solitário, que, misteriosamente, se viu agraciado pelos amores da mais bela das loiras. Esta, infelizmente, aparece morta em sua cama e ele é acusado injustamente do assassinato. Não foi ele, sabemos disso. “Vale a pena morrer por ela, vale a pena matar por ela”, jura ele, em resposta vingativa. Estou na torcida, pois, apesar de ter visto a adaptação cinematográfica da HQ, ainda não terminei a leitura. Anseio pela resposta. Sou destes que amam...

Wesley PC>

TANTO POR FAZER AINDA....


Às 20h de ontem, horário em que fecho a porta do local em que trabalho, ainda restavam 8 pessoas para serem atendidas. Conclusão: cheguei em casa perto das 21h, levado de carona por uma mulher que me percebeu deveras abatido. Segundo ela, que eu nunca tinha encontrado até então, eu era um comodista. Acostumara-me a sofrer. Ela convidou-me para uma terapia de fim de semana que custa R$ 80,00. Recusei. Não posso! Não revelei nossas diferenças de classe. No dia seguinte, fui repreendido por minha chefa, que acusou-me (injustamente) de ser displicente em relação ao horário de fechar o expediente externo do local onde trabalho. Segui em frente. Tenho dinheiro no bolso, mas isto de nada vale. Meu gigolô favorito está morto, sofreu um acidente motociclístico. Na minha lancheira de hoje, minha mãe incluiu café com leite gelado. Não queria estar trabalhando hoje...

Wesley PC>

APRESENTO-LHES ZHANG-KE E BOGDANOVICH DE CASTRO:


"Em toda a história do mundo, existe apenas uma coisa que o dinheiro não pode comprar: o abanar feliz da cauda de um cachorro" - Josh Billings, na abertura de A DAMA E O VAGABUNDO (1955), de Wilfred Jackson, Hamilton Luske & Clyde Geronimi.


Amo!

Wesley PC>

KARL MARX E SIGMUND FREUD ERAM DO SIGNO DE TOURO!


Esta semana, em ocasiões completamente diferentes, duas pessoas insistiram que eu era do signo de Gêmeos. Segundo elas, a minha hiperatividade, combinada com uma suposta fecundidade profissional, teriam a ver com aquele signo. Por mais que eu dissesse que não ligava para o Zodíaco (não obstante saber que sou do signo de Capricórnio, que nem Jesus Cristo), elas disseram que eu devo ter um ascendente geminiano em algum lugar. Dei de ombros. Ao chegar em casa, resolvi ver um filme que eu sabia que incomodaria minha mãe, em virtude de seu apelo irremediável à tristeza: “O Desafio” (1965, de Paulo Cezar Saraceni).

Para além de suas inúmeras virtudes roteirísticas e directivas, este clássico do Cinema Novo Brasileiro é mundialmente conhecido por conter cenas do concerto “Opinião”, com Maria Bethânia. Admito que a cena é precisamente genial, mas o filme me incomodou bem mais do que isso! Os planos são longos em demasia, os diálogos reiterativos, as atuações esquemáticas ou rebuscadas... Tudo corroborava o tédio e a impotência de que o filme reclamava. O filme incomodava. Os atores pareciam estar contando os passos enquanto declamavam. Os protestos contra a tepidez dos burgueses afetados pela miséria do mundo pareciam mecânicos. Mas o filme é ótimo e perturbador!

“Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará ,Pega, mata e come

Carcará, Num vai morrer de fome
Carcará, Mais coragem do que home
CarcaráPega, mata e come”

Perto da cena final, dois companheiros jornalistas, afobados e atormentados pela censura do regime militar ditatorial instaurado à época discutiam o fracasso de suas ideologias e o poder destrutivo dos dirigentes políticos de sua geração. Assim chegaram aos signos de Karl Marx e Sigmund Freud e a um convite para beber cachaça na casa de um deles. Era tarde, mas a esposa estava acordada, pondo uma criança para dormir. Desperta, a esposa pede um cigarro. O marido dorme, embriagado de álcool e cansado. Ela, então, aproveita a oportunidade para assediar o convidado. Alisa seus pés, beija sua boca... “È tempo de guerra!”

Wesley PC>

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Gustavo volta a Gomorra



Só para registrar, Gustavo passou uns dias em Gomorra no final de julho/09.

Mas desta vez não lavamos nenhum banheiro nem fluímos ao som de The Stooges...
As coisas mudam... =D
E como diz Deus egoísta: "e isso é bom"
feop

Quando percebemos que nos sentimos em casa?

ho
O que faz o costume de estar sozinho em casa?

Não sei se foi bem isso, mas acho que Max acostumou o vazio em Gomorra: feop, Jean, Xá e Coelho fora.

Né que ele chegou, foi pro quarto, se preparou pra tomar banho e quando foi ver o banheiro estava ocupado!!

Ele teve de esperar um pouco.

E esperou um pouquinho mais porque eu acabei indo pro banheiro antes dele.

Bem, sentir-se em casa é sempre bom. Que seja sempre assim =D

feop

Corram! Virgem em Gomorra!!

Foi uma idéia simples: mudar o mapa de lugar.
De fato jpa tinha me esquecido se havia algo por baixo do mapa ou não.
Taí uma boa surpresa = )

x - x - x - x - x - x

O desafio aqui seria perguntar quem inauguraria, mas como demorei a postar já ficou para trás.

De novo posso dizer que a mesma pessoa que inaugurou as paredes foi quem inaugurou esse resto de parede virgem em Gomorra.

E aê, alguém sabem(!) quem foi?
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feop

UMA ESTÓRIA DE INFÂNCIA (PARA TENTAR NÃO FALAR DE RAFAEL MAURÍCIO)


Darei uma de Rafael Coelho e trarei à tona uma reminiscência obsedante de infância: quando eu tinha por volta de 6 anos, saí com minha irmã 17 anos mais velha e meu irmão caçula para passear num domingo. Fomos à Bica de São Cristóvão, à época turisticamente relevante. Enquanto minha irmã flertava com os transeuntes, eu e meu irmãozinho brincávamos nas águas. É sabido que crianças são bem mais comunicativas que os adultos, de maneira que, naquele local, conhecemos outras crianças, entre eles, um turista interestadual de nome Sayon. Conversamos, brincamos e, dentro de minha lascívia (in)comum para a idade, confesso que senti uma atração inocente pelo menino. Mas meus interesses eram outros: queria aprender a nadar, queria brincar na água, queria abraçar aquele corpinho infantil diante de mim... Terminei defecando na água. Eu, Sayon, meu irmão Rômulo e a irmã do tal menino brincávamos na água e, de repente, um imenso tolôco de bosta boiou até onde estávamos. Não assumi que tal merda era minha (risos). Em seguida, caminhamos pelas belas paisagens naturais do lugar e deparamo-nos com várias senhoras idosas 9 (a que conhecíamos pelo apanágio “as velhas”) debaixo de uma cachoeira, completamente nuas. Até hoje penso que o lugar é enfeitiçado (risos)!

Era um dia de domingo, conforme já adiantei. De repente, tornou-se tarde e noite. O garotinho que conheci e que me atraiu tinha dinheiro. Eu não. Ele comprou picolés, sorvetes, salgadinhos... Deu-me alguns, era uma criança generosa. Anos se passaram e, obviamente, nunca mais tive notícias deste moço. Ontem, fiquei com curiosidade de pesquisá-lo pelo Orkut e deparei-me com esta fotografia, entre outras, que parece com a imagem mental que eu tenho do moço (que jamais saiu de minha mente, diga-se de passagem). Tentei puxar conversa, mas ele não me respondeu. Será que é ele mesmo? Será que este moço da foto já veio a Sergipe? Será que existe algum motivo para encontrarmos as pessoas e nunca mais as vermos de novo? Meu irmão não se lembra deste menino. Eu me recordo, sim, eu me recordo!

Wesley PC>

“FAZ 23 ANOS QUE EU NÃO BEIJO NINGUÉM NA BOCA”...


Assim reclama uma solitária dona de bar em “A Bela Junie” (2008, de Christophe Honoré) que está em cartaz num cinema aracajuano esta semana. Acabo de ver o filme e me encantei deveras com os personagens derrotistas. Não sei bem como resumir a trama, senão antecipando que uns amam aos outros sem o saberem e mostram-se egoístas em suas tentativas de libertarem-se da desilusão por isso. Basicamente, a moça do cartaz e do título brasileiro é uma jovem cuja mãe morreu recentemente. Ela muda de colégio e desperta a atenção de vários rapazes, além do professor de Italiano, que tem um caso com a professora de História e com uma rapariga loira, que, por ser representante de turma, não acredita que segredos devem ser guardados. Perambulando etereamente com sua expressão triste, Junie se deixa envolver com um melancólico rapaz loiro, que sente ciúmes dela e não entende sua tristeza freqüente. Paralelamente a tudo isso, uma história homossexual mal-costurada resultará em prisão. Ponto continuando.

Esperava não gostar muito do filme, visto que a pessoa que me repassou o filme foi discreta nos comentários sobre o mesmo, não obstante compartilhamos a empolgação sobre a carreira recente e ultra-romântica do diretor Frances Christophe Honoré, que insiste em homenagear a ‘nouvelle vague’ a cada novo filme. Fui tomado de assalto: o filme não somente é belíssimo, como valoriza sobremaneira cada uma das canções do jovem suicida Nick Drake que aparecem na projeção:

“I never felt magic crazy as this
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern Sky”

Conclusão: é assim, de forma tímida e extrovertida, que desejo feliz aniversário a meu amado e disfarçadamente austero Rafael Maurício.

Wesley PC>

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

UMA LAPADA ‘PIMBA’ DE NOSTALGIA PARA QUEM ACEITA OS AMORES ANACRÔNICOS!


Peter Greenaway era o cineasta preferido de minha adolescência. Conheci aos 15 anos de idade e, até que entrasse na Universidade, consumia freneticamente todos os seus filmes disponíveis. Era fã, obcecado. A cada novo lançamento, nova descoberta de suas obras-primas da década de 1980, eu gemia, eu gozava, eu era hipnotizado! Com o adentrar da nova década, porém, o cineasta foi perdendo prestígio e originalidade, desgastando-se em fórmulas barrocas. Ou seja, um dos cineastas que melhor aplicaram as ditas “formas expressivas da contemporaneidade” (leia-se: multiplicidade, metamorfose e permutabilidade) no cinema foi justamente ultrapassado pela contemporaneidade. Ficou anacrônico!

Na madrugada de hoje, porém, por uma dadivosa coincidência, fui agraciado com uma cópia de “O Contrato do Amor” (1982), um dos poucos filmes do gênio inglês que eu ainda não havia visto. Assim que o pus no aparelho reprodutor de DVDs, minha mãe chiou: “lá vais tu novamente, Wesley, ver estes filmes doidos”. Nem eu sabia o quanto ela estava coberta de razão. A trama é uma elaboracionismo atroz, sendo impossível resumi-la aqui com precisão, mas é sublime, belíssima, nostálgica...

Basicamente, o roteiro enfoca a sujeição de um renomado desenhista a um contrato de uma aristocrata, que pede que seu jardim seja graficamente eternizado. Em troca, o desenhista receberia dinheiro e sexo. Porém, um assassinato é cometido e inúmeros adultérios são revelados. Contar mais é estragar o prazer de se ver esta preciosidade multimidiática, ou melhor, desfocar o interessa de uma magnífica peça artística, que parece ter sido filmada no próprio século XVII em que se passa a trama. A música onipresente e inebriante de Michael Nyman, a fotografia deslumbrante de Curtis Clark, a magnânima direção de arte. Cada minucioso aspecto deste filme beira a perfeição, mas o que mais me atingiu após o encerramento da sessão foi um efeito de nostalgia retrógrada: não amo o diretor com a mesma intensidade nos dias de hoje, mas, sempre que vejo um de seus filmes, tal impressão se esvai: ele é maravilhoso! Ele é divino!

Fiquei sem conseguir dormir até as 3 horas da manhã, relembrando aqueles sons e imagens e espantando-me com a quantidade de textos que eu imprimi sobre o diretor. O amei. Ainda amo. Fui afogado pela nostalgia! E, se eu não recomendo este cineasta para qualquer um, é porque ele é o supra-sumo da pimbice, e nem todo mundo aprecia. Mas que ele é divino, isto é, ninguém nega!

Wesley PC>

A PRÓPRIA OBRA DE ARTE


Wesley sugeriu que eu o fizesse inveja ao falar sobre o documentário "Loki". Eu tenho uma certa dificuldade pra escrever sobre filmes, músicas, pessoas, não que eu não faça algum tipo de julgamento, mas tenho dificuldade pra transformar em palavras. De certa forma deixo aqui um incentivo pra quem assistiu falar nos comentários ou em outra postagem sobre o que acharam.

Pois bem, algumas pessoas até me falaram sobre o que acharam ou sentiram naquela sessão única da cinebiografia do gênio Arnaldo Baptista exibida na madrugada de sábado para domingo no cinemark. Ainda durante a sessão Debora me disse que o documentário estava muito saudosista, muito baseado no "ele era", "ele foi". Aí percebi que os discursos das pessoas que participavam do documentário iam por aí mesmo, pelo menos no início, que também poderia ser um documentário sobre Os Mutantes. Nino, que estava embriagado e riu muito, depois me confessou ficar emocionado. Fábio após a sessão me falou pouco sobre o quanto tinha gostado, mas percebi no jeito como falou que realmente gostou muito. Luiz me disse que queria tudo d'Os Mutantes e de Arnaldo Baptista. Eu já gostei antes de assistir.


O documentário apresenta vários pontos já discutidos e conhecidos por fãs sobre Os Mutantes e em particular sobre Arnaldo, como o seu romance com Rita Lee, a saída da Rita da banda, depois a saída do Arnaldo, sua melancolia retratada nos seus discos sem Os Mutantes, sua loucura e seus internamentos em hospícios. Dentre esses pontos o que mais parece não ter consenso acerca das causas é sobre a saída de Rita Lee da banda. De qualquer forma temos contato com relatos, confissões e elogios bastante interessantes de pessoas como Tom Zé, Sean Lennon, Devendra Banhart, Sérgio Dias, Rogério Duprat e do próprio Arnaldo que me emocionou ao dizer que após ter se jogado do quarto andar de um hospício no dia do aniversário da primeira pessoa que o internou (Rita Lee) e ter ficado em coma, se sentia como tivesse sido podado e não possuía mais as folhas secas que antes o cobriam.

A conclusão maior que eu tiro é que Arnaldo Baptista não fez de si apenas um artista, mas fez de sua vida a própria obra de arte.


Leno de Andrade

domingo, 2 de agosto de 2009

MAIS ALGO QUE FAZ A GENTE SENTIR SAUDADES...

[uma foto metonímica]
15.01.2009

Wesley PC>

O TIPO DE COISA QUE FAZ A GENTE TER SAUDADES...


Sentei com minha mãe para ver um filme chinês chamado "Indo Para Casa” (2007). O diretor Zhang Yang dirigira filmes demasiado simplistas no passado, de maneira que não esperava muita coisa desta sua nova obra, apenas um passatempo comum entre mãe e filho. A trama era igualmente simples: um pedreiro pobre promete a seu melhor amigo que o levaria nas costas para ser enterrado na casa distante de sua família caso ele morresse. O outro amigo é quem morre, de tanto beber. O amigo vivo sente-se na obrigação de cumprir a promessa que o outro fizera. Carrega-o nas costas e sobe num ônibus, que é invadido por assaltantes armados com facas. Depois de roubar os pertences dos passageiros, um dos assaltantes chega até o protagonista e se emociona com sua dedicação amistosa. Desiste de assaltá-lo, mas os outros passageiros obrigam-no a descer do ônibus, com medo de se contaminarem com alguma eventual doença necrofílica. O coitado do pedreiro caminha alguns quilômetros com seu amigo morto nas costas. Encontra um albergue para passar a noite, mas roubam o seu dinheiro. Quando finalmente consegue uma carona de caminhão, o motorista entra em depressão quando uma música que o velho canta o faz lembrar de um amor perdido. Ele desce do veículo, arruma um jeito de comer simulando ser parente de um pseudo-defunto numa cerimônia fúnebre. Arranja uma carroça, derrapa, encontra um pneu para acondicionar o cadáver de seu amigo, conhece pessoas exploradoras e gentis na estrada. Chega até a se apaixonar por uma mendiga, cujo filho estuda na Faculdade de Economia e tem vergonha dela. Prometem se reencontrar, ele promete voltar, mas... Mas... Mas...

Antes que eu conte o final terno e comovente do filme (que deixou minha mãe deveras frustrada: “e depois? E agora?” O que posso dizer a ela? O mundo é assim, Rosane!), confesso que muito me lembrei dos viandantes Rafael Torres e Rafael Coelho durante a sessão. Lembrei muito, mas não parecia estar sentindo saudades. Era outra coisa. Era mais um questionamento do que é a falta, que nem fez Rubem Alves, quando definiu a saudade como “a presença da ausência”. Sentia a presença da ausência. Sentia a falta e, ao mesmo tempo, não me sentia no dever de exigir nada. Terminei por gostar do filme, mas, conforme me ensinou a repetir meu amado Coelhinho, “eu gosto mesmo é de vida real”!

Fiquem bem, Rafaéis queridos, onde quer que vocês estejam!

Wesley PC>

‘CULT MOVIE’ PARA O CORPO!


À primeira vista, pensamos se tratar de uma atualização do clima erótico e belicoso de “Sebastiane” (1976, de Paul Humfress & Derek Jarman), mas a diretora Claire Denis vai mais longe: acompanhamos a rotina de exercícios, muitos exercícios, militares de um grupo de belos homens em Djibuti, enquanto sutis relações raciais, sociais, sexuais e de classe são estabelecidas quando estes homens rústicos interagem entre si. A cena da foto, por exemplo, é um exercício militar demorado, doloroso e corroído pela inveja – e não um espontâneo abraço coletivo. A cena inicial numa boate, ao com do clássico dançante “Simarik” (conhecida no Brasil como “melô do beijo”), do turco Tarkan, é apenas ilusoriamente divertida. Os créditos finais, ao som de “Rythm of the Night”, da brasileira Corona, são freneticamente agônicos. Terminada a sessão desta maravilha de filme, não deu outra: raspei o meu cabelo feito militar, baixei o disco “Ölürün Sana” (1997), do Tarkan, e me jogo no mundo, em busca do que o filme instiga!

Oh, sim, o nome do filme: “Bom Trabalho” (1999, de Claire Denis) – página 886 do indispensável guia “1001 Filmes para ver Antes de Morrer”.

Wesley PC>

“EU QUERO ESMAGAR A CARA DAQUELES RAPAZES BONITOS, DAQUELES RAPAZES CRISTÃOS… SÓ PORQUE TU ME FAZES GOZAR, ISTO NÃO FAZ DE TI JESUS!”


Fui tomado pela saudável obsessão de baixar a discografia (quase) completa da sofrida Tori Amos na tarde de ontem e ouvi compulsivas e repetidas vezes o álbum cuja sugestiva contracapa ostenta esta postagem: “Little Earthquakes” (1992), página 696 do guia “1001 Discos pra Ouvir Antes de Morrer”.

Possuo uma rica coletânea de canções da Tori Amos desde que comecei a trabalhar no DAA (ganhei de um admirador, que logo se tornou um grande amigo), mas nunca havia ouvido um álbum completo. Depois que me recomendaram ouvir na íntegra seus “pequenos terremotos”, não hesitei: o resultado é, obviamente, devastador! Seguindo uma linha de auto-exposição e necessidade de vilipendiar seus algozes internos e externos, Tori Amos une-se às musas Patti Smith, Marianne Faithful, Christa Päffgen (vulgo Nico) e Joni Mitchell em sua necessidade desesperada de pôr para fora tudo o que incomoda. Exemplo: na faixa 09 do referido álbum, “Me and a Gun”, Tori Amos relata o estupro que sofreu. Em outras canções (“a famosa “Crucify”, “Winter”, “Silent All These Years”, “Precious Things” – de onde extraí o título desta postagem), percebemos o mesmo tom lamentoso-agressivo, a mesma fúria vitimada, a mesma dor furiosa. Apesar de os acordes do álbum serem tendenciosamente suaves e de a voz da cantora ser lírica mesmo quando se esgoela, não nos esquivamos de seu poder intenso e ferino. Quando ela grita, gritamos juntos com ela (mais precisamente, eu grito).

Em maio do ano em curso, Tori Amos lançou seu décimo álbum de estúdio, “Abnormally Atracted to Sin”, cujo título é mais do que sugestivo. Não o ouvi ainda, mas ele já está esperando por mim, no computador. Em breve, trago a nova resenha, mas, por ora, gemo e regemo ao som da faixa-título de “Little Earthquakes”, graças aos versos abaixo, repetidos inúmeras vezes, em tom de voz emocionalmente crescente:

“Give me life, give me pain, give me myself again .
Give me life, give me pain, give me myself again.
Give me life, give me pain, give me myself again.
Give me life, give me pain, give me myself again.
Give me life, give me pain, give me myself again.
Give me life, give me pain, give me myself again.
Give me life, give me pain, give me myself again"

Give me life, give me pain, give me myself again!

Wesley PC>

TAUTOLOGIA: “NOME PRÓPRIO” (2007), DE MURILO SALLES


Motivos vários me impediram de comparecer à prestigiada sessão de um documentário sobre Arnaldo Baptista. Porém, noutro lugar do mesmo Estado, estive eu a conferir um filme que, com um pouco mais de contenção, poderia se tornar a biografia definitiva de toda uma geração na qual me enquadro: os obsessivos pelo despejo de palavras iracundas, apaixonadas ou simplesmente vocabulares em ‘blogs’. Protagonista: Leandra Leal, no auge de seu talento.

“Nome Próprio” começa com uma briga de casal adolescente. Ela está nua, ele com raiva. “Saia da minha casa. Volta para os braços daquele cara que estava te comendo”. Não se explica muito mais sobre o fato. Ela põe seus trecos debaixo do braço e encontra abrigo na casa de um amigo. Paga adiantadamente a conta do telefone. Usará muito a Internet discada. Liga o computador e tome-lhe postagens agressivas, quiçá defensivas, em ‘blog’. Proibido comentários. “Goste quem quiser”.

Basicamente, este é o ponto de partida do filme. Se seguisse nesta linha, “Nome Próprio” tenderia a ser o filem definitivo sobre jovens no Brasil. A atriz principal está soberba, as situações que ela enfrenta são inicialmente críveis (eu e meus amigos presentes à sessão brincávamos de ficar nos identificando com a trama) e uma das cenas mais geniais (porque metonímica) da contemporaneidade está lá: quando a protagonista vai morar de favor na casa de um ‘nerd’ rico e este tenta embebedá-la a fim de fazer sexo. Ela percebe o truque e fica tentada quando ele diz que paga para fazer sexo com ela. Adormecida (ou bêbada, sei lá), ela fica nua. Ele fotografa sua vagina e, num lance surpreendente e realista, passa as fotografias para o computador e masturba-se diante da tela, de costas para a jovem nua, deitada no chão. Eis a geração na qual eu me enquadro! Queria muito encontra esta foto na Internet (até porque o ‘nerd’ vivido pelo David Katz é uma graça), mas... nem sempre temos aquilo que queremos, né?

Que seja! Para além de todos os seus problemas (a longa duração como sendo o principal deles), “Nome Próprio” é um bom filme e extremamente justificativo sobre algumas reações que eu particularmente venho demonstrando desde o ano passado, desde que descobri o amor e o ódio alheios em Gomorra. Recomendo quase mecanicamente. Vejam-no!

Wesley PC>