sábado, 15 de agosto de 2009

“MALHAÇÃO – FASE 2” OU REESTRUTURAÇÃO À VISTA EM GOMORRA!


Não sei quem já está sabendo das novidades, mas, com os novos moradores de Gomorra, práticas antigas e novas voltarão a ser praticadas. Numa mesa de bar, na noite de ontem, decisões foram pré-diagnosticadas. Segundo um aparente consenso, o CineGomorra agora se dará nas noites de segunda-feira, a partir das 23h. Para esta sessão de retorno, inclusive, sugeri “V de Vingança” (2005, de James McTeigue), um filme que detestei quando vi pela primeira (e até então, única) vez, por, em minha opinião, ser muito equivocado em suas intenções “libertárias”. Acho que pode render uma discussão política muito legal... Além disso, para as noites de sexta-feira, poderia ser interessante seguir em frente com algo parecido com o que foi a antológica “Noite do Funk” e apresentarmos novos gêneros musicais. Tio Charlisson sugeriu “A Noite do (pós-)Punk”, Hélio Luiz quer falar sobre ‘reggae’, Américo deve ter muito o que defender sobre as canções que lotam as paradas de sucesso juvenis atuais e eu topo apresentar música ‘pop’ russa, turca e israelense. Que tal? Aguardo aqui respostas e comentários sobre ambos os assuntos, OK? E viva a aliteração (risos)!

Beijão,

Wesley PC>

ESPERO NÃO ESTAR QUEBRANDO A MINHA PROMESSA, MAS ESTE ÁLBUM É UMA MARAVILHOSA COLETÂNEA DE SUCESSOS!

Eis o que ouço agora, pela segunda vez: “Dois” (1986), álbum de Legião Urbana, aquele que seus admiradores senso-comunais mais admiram. Logo no início, um admirável jogo metalingüístico com “Será”, faixa que eu não gosto tanto, mas que contém a admirável pergunta: “Brigar prá quê, se é sem querer?”. A resposta está na magnífica letra de “Daniel na Cova dos Leões”: “E o teu medo de ter medo de ter medo não faz da minha força confusão. Teu corpo é meu espelho e em ti navego e eu sei que a tua correnteza não tem direção”. Ótimo início de disco!

Faixa 02: “Quase sem Querer”. Segundo muitos, a grande confissão homossexual do compositor Renato Russo. Uma canção perfeita, da qual uma vez recebi os seguintes versos como provocação: “Quantas chances desperdicei, quando o que eu mais queria era provar pra todo o mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”. Quem mandou eu mexer com fogo? “Me fiz em mil pedaços pra você juntar e queria sempre achar explicação pro que eu sentia”. Eu não vejo o mesmo que o autor da provocação!

Faixa 03: “Acrilic on Canvas”. Não quero falar sobre ela! Lembram que eu já comentei a obsessão do compositor pelas variações da (im)perfeição, né? Ei-la novamente!

“É saudade, então
E, mais uma vez, de você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu,
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra”.

Faixa 04: “Eduardo e Mônica”, uma das obras-primas do Renato Russo, um belo relato sobre pessoas diferentes que se apaixonam e se completam “que nem feijão com arroz”. Os versos sobre cinema me conquistaram desde moço. Quem mais fala sobre Jean-Luc Godard e ainda assim toca no rádio, hein?

A fixa 5, “Central do Brasil” é curtinha e instrumental, mas a faixa 06, “Tempo Perdido” merece repeteco sempre. Impossível ouvir uma vez só! Hino geracional, maravilha reflexiva, brilhante melodia cíclica, letra sublime.

“Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido.
Somos tão jovens...
Tão Jovens! Tão Jovens!...”


Brilhante ironia derrotista! Daí por diante, o disco assume um tom mais politizando, abrindo espaço para a tristeza profunda em “Andrea Doria” (faixa 10) e culminando na força denuncista de “‘Índios’”. “Nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Tentei chorar e não consegui": eis as frases finais de uma belezura de disco. Tanto tempo que eu relutei em me entregar a estas canções – e agora elas não conseguem mais me deixar! “Quem um dia irá dizer que não existe razão para as coisas feitas pelo coração?”.

Wesley PC>

PROMETO QUE ESTA É A ÚLTIMA VEZ QUE EU FALO SOBRE ESTE ASSUNTO HOJE...

Eu prometo!
Se não prometo, eu tento.
Eu prometo, prometo, mas de nada adianta.
Eu prometo!

“A noite acabou, talvez tenhamos que fugir sem você
Mas não, não vá agora
Quero honras e promessas
Lembranças e histórias”...

EU SEI
- Alguém conhece o compositor da canção?

Wesley PC>

FRASE FÍLMICA DE SÁBADO – II: “É O TEU CATARRO, TIRA O SABOR DAS IGUARIAS”...


Apesar de eu ter certeza de que “Alma Corsária” (1993, de Carlos Reichenbach) seria um ótimo filme, não imaginaria que ele teria um efeito tão profundo sobre mim e nem tampouco creria que esta imagem de divulgação (à primeira vista, feia e/ou vulgar) pudesse ser tão sublime na tela. O que está acontecendo ali? Simples: um homem do povo, insuspeito, entra numa pastelaria em que está sendo lançado um livro de memórias e começa a tocar “Clair de Lune”, do Claude Debussy, enquanto um halterofilista dança, ao ritmo da singela melodia. Linda cena!

Por que “Alma Corsária” me tocou tão profundamente? Porque todas as nossas indagações geracionais estão lá. E quando digo “nossas”, refiro-me a mim mesmo, a Ferreirinha, a Bruno/Danilo, a Rafael Maurício, a Rafael Torres, a Juliana, a todos nós de Gomorra. Na apresentação do filme, o próprio diretor anuncia que “o filme que vocês verão a seguir é baseado na vivencia de personagens reais, nas memórias de minha geração, em que os sentimentos extremos, a amizade e a utopia estavam acima de tudo”. Vi na tela inúmeras passagens pessoais de minha própria vida grupal! Vi na tela trocentas indagações de meus amigos, reflexões de inúmeras conversas que tivemos juntos. Acho que não preciso falar muito sobre o filme. Melhor é programar uma sessão urgente em Gomorra e/ou fora dela, gravar N cópias e sair distribuindo pela Universidade...

Porém, o que mais me chocou na sessão é que Rosane de Castro, minha mãe, confessou-me a primeira reminiscência pessoal da era da ditadura, vista de longe por ela, no sertão paraibano. Tendo estudado somente até os 13 anos de idade, minha mãe era lavradora desde esta época. Trabalhou também numa fábrica, onde traumatizou-se ao ver os cabelos de uma operária serem sugados por uma máquina têxtil. Foi lacerada por um acidente de pau-de-arara quando atravessava o Nordeste até chegar a Sergipe, onde ficou até hoje. E assistiu, no teto de um sobrado, à execução inclemente de um grupo de estudantes ricos pelo Exército, em meados da década de 1960, quando beirava os 20 anos de idade. Ela nunca havia me falado sobre isso! Fiquei emocionado com suas palavras... Minha mãe tem História (com H maiúsculo)!

Wesley PC>

INTERSTÍCIO PUBLICITÁRIO: “O ENTROSAMENTO CORINTIANO”



Não quero falar sobre isso, por enquanto...









Wesley PC>

FRASE FÍLMICA DE SÁBADO – I: “TEUS LÁBIOS DEIXARIAM UM PIRULITO MUITO FELIZ”

Odiei este filme quando vi das primeiras vezes. Não suportei o machismo do protagonista nem as músicas oitentistas (este adjetivo, na própria década de 1980, era uma ofensa – risos), detestava o Prince e não entendia por que faziam tanto alvoroço em volta dele. Mas o guloso Rafael Maurício baixou o disco com a trilha sonora (páginas 520 e 521 do guia “1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer”) e me passou antes de viajar para Salvador – BA. Disse-me que achou o conteúdo chato, eu concordei, mas o filme passou na TV e, como eu dependo de elos com quem valorizo, gravei-o só por curiosidade. Hoje à tarde, eu me senti e o assisti. Não é que eu gostei desta vez?

Tudo bem, o machismo do protagonista ainda está lá, a confusão de sentimentos em relação ao pai espancador e a mãe submissa também me incomodou, mas a letra de “When Doves Cry” resolve o problema. A futilidade da personagem de Apollonia Kotero continua ultra-cafona, mas quem disse que a pessoa amada precisa ser “perfeita”? (ops!) Relaxei o superego e me deixei levar pelo egoísmo inicial do protagonista, convenientemente apelidado de “o Garoto”, que vai cedendo espaço a um moço talentoso, que aprende a ouvir as pessoas que estão ao seu redor. A sexualidade extremada da cena em que ele canta e dança a polemica “Darling Nikki” (sobre masturbação ninfomaníaca) e a execução da música-título fizeram do mal-escrito e mal-dirigido “Purple Rain” (1984, de Albert Magnoli) um filme muito bom de ser visto. Muito bom e providencial, aliás, visto que a letra da canção [“Eu nunca tive a intenção de te causar nenhuma mágoa/ Eu nunca tive a intenção de te causar nenhuma dor/ Só queria te ver pelo menos uma vez sorrindo/ Só queria te ver sorrindo/ Na chuva púrpura/ Chuva púrpura/ Só queria ver você, baby/ Na chuva púrpura”] me fez ficar mais tranqüilo em relação ao fato incômodo de eu ter ficado incomodado com o fato de ter suportado um pequeno “vazio” dialogístico quando acompanhei “o Perfeito” até sua casa na noite de ontem. Ele reclamava de sua dor de cabeça, falava de exames de eletro-encefalograma realizados em sua terra natal e eu queria chorar, queria tocar em assuntos-tabus (por mais que estes tivessem sido acordados de “não serem tabus entre nós”), queria me livrar da presença de Marcos, sentando na mesa do bar para a qual eu teria que voltar minutos depois... Sobrevivemos ambos! Eu adormeci na cama de Luiz Ferreira Neto e Rafael Maurício foi procurado em casa depois da meia-noite (não por mim). Choveu, mas acho que as gotas d’água eram incolores mesmo! Continuo sem gostar muito do Prince, mas o disco é bom...

Wesley PC>

UM POUCO MAIS SOBRE MARCOS (E O QUE ESTÁ AO REDOR DE NÓS)...


Não quero julgar ninguém, não quero julgar ninguém!

“Flores Horizontais, flores da vida
flores brancas de papel, da vida rubra de bordel,
flores da vida afogadas nas janelas do luar
carbonizadas de remédios, tapas, pontapés,
escuras flores puras, putas, suicidas, sentimentais.
Flores horizontais.Que rezais?”

Ouvi este álbum na íntegra duas vezes seguidas na manhã de hoje e preciso fazer alguns paralelos com minha vida pessoal e o aniversariante de hoje. Vamos lá: “Do Cóccix até o Pescoço” (2002) estava gravado em minha casa faz tempo, doado pelo meu chefe, mas nunca tive a oportunidade adequada para ouvi-lo. Ao fazê-lo hoje, dividindo-me entre as reações paradoxais a faixas como “Dor de Cotovelo” e “Hoje é Dia de Festa”, percebi o porquê eu insisto tanto em perseguir o “talzinho”. Sem querer julgar ninguém, repito, é notório que, quando temos uma dada particularidade personalística, buscamos quase instintivamente outras pessoas que se assemelhem. Nesse sentido, a obsessão de Marcão pela pontualidade ou pelos protocolos burocráticos e sua insistência em não consumir álcool são caracteres não facilmente encontrados entre meus amigos. Não que sejam melhores ou piores, mas, puxa, isso faz parte de meu ser e, como tal, é natural que eu busque alguém que se assemelhe, não é não? Que seja! Elza Soares permanece digna de nossa reverência, mesmo com sua maturidade moldada a trocentas plásticas faciais. O disco recente é muito foda (quase literalmente, conforme atesta sua contribuição com Chico Buarque na versão em português para uma canção de Cole Porter). Gostei muito de “Haiti”, de “Quebra Lá que eu Quebro Cá”, de “Bambino”, de “A Carne” (magnífico protesto alheio), mas é mesmo “Flores Horizontais” que me fisgou. Termino com ela:

“Com Deus me deito. Com Deus me levanto”

Wesley PC>

15 DE AGOSTO DE 2009: E ACABOU DE TOCAR “ESPUMAS AO VENTO” NO RÁDIO!


Apesar de não ser um cristão no sentido lato do termo, guardo inúmeras semelhanças fidedignas com esta doutrina religiosa. A principal delas está no amor irrestrito que eu sinto que tenho a obrigação voluntária de demonstrar a toda e qualquer pessoa, em especial, àquelas que não gostam de mim. E, por mais que eu pense assim, que eu insista em viver assim, sem guardar ressentimentos de quem quer que seja, ainda assim, detecto 5 arquiinimigos: um menino grande e bonito que aniversaria ao menos uma vez por ano; um organizador cultural que diz que eu deveria estar internado num hospício; uma jornalista medicinal ranzinza, de mal com o mundo e que me escolheu como vítima de seu ódio; um afetado graduado em língua francesa ainda mais de mal com o mundo que a jornalista acima descrita; e mais alguém, que eu não sei quem é, mas existe. Na noite de quarta-feira, o graduado em língua francesa apareceu em meu trabalho. Eu sou proibido por minha chefa de atendê-lo, visto que sempre brigamos, mas, como eu estava só no ambiente de trabalho naquele momento, sobrou para mim. Conclusão: brigamos. Ele me chamou de ignorante, bruto, arrogante. Como eu estava trabalhando, não pude revidar. Passei mal. Cheguei em casa triste. Por que ele me odeia tanto?

Os dias passaram, eu me recuperei, vi filmes bons e ruins, ouvi músicas boas e ruins, conversei com pessoas (“People Ain’t no Good”, diria o Nick Cave) e sobrevivi. Ontem, porém, numa comemoração de bar, um os meus arquiinimigos, o mais unidimensional de todos eles, o que mais amo, estava lá. E, mais uma vez, não pude me esquivar do espetáculo abobalhado de fugir, de sair de perto, de me perceber “inimigo do amor”, conforme canta Elza Soares na canção que agora é executada no rádio. Por que ele me odeia tanto, meu Deus? Por quê? Choveu, secou, o céu voltou a ficar nublado. Por que ele me odeia tanto, meu Deus? Enviei uma inócua (ainda que sincera) mensagem de aniversário e fiquei aqui pesando os fatos, tentando imputar a mim mesmo de culpa por este ódio crescente. Quase esqueci que Elza Soares tinha gravado uma extraordinária versão para “Espumas ao Vento”, meu hino, nosso hino, meu e dele. “A porta vai estar sempre aberta, amor, na hora em que você chegar”. O amor deixa MARCOS que não dá pra apagar!

“E se for pra chorar
E se for ou não for
Vou contigo dançar
E sempre te amar, amor”



Acima de tudo, FELIZ ANIVERSÁRIO!


Wesley PC>

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

ENTÃO, FUI VER O FILME...

...E, por incrível que pareça, não desgostei! Não que o filme seja bom, não é (parece que ele nem quis isso, aliás, visto que o entrecho não segura sozinho um bom enredo), mas algo na fidelidade possível do filme ao livro me cativou, talvez porque me identifique, conforme disse antes, com o dilema do anonimato profissional caro aos “escritores fantasmas”. Entretanto, um dos problemas do filme é não saber que linha tramática dar preferência: se aos problemas profissionais do protagonista (interpretado preguiçosa e antipaticamente por Leonardo Medeiros), se aos flertes românticos beirando o fantástico com a simpática húngara Kriska (Gabriella Hámori), se aos ciúmes abobalhados com sua esposa fútil Vanda (Giovanna Antonelli), se às homenagens supérfluas a cineastas como Peter Greenaway ou Theo Angelopoulos, etc....

É um filme que não tinha como dar certo, em minha opinião. Se o livro é agradável (e, mais do que isso, tornou-se um elo pessoal entre eu e um ser vivo querido), é porque o suporte literário permite reflexões muito interessantes sobre conotações e minúcias idiomáticas. Em matéria de cinema, o material absorvido do livro render-se-ia à pura narratividade, que é o que menos chama a atenção na obra original de Chico Buarque. Que seja, talvez por estar com as expectativas em baixa, fui me deixando levar pela atmosfera errante do filme e achei-o regular, povoado de cenas desprezíveis (vide a briga na festa de promoção jornalística da esposa do protagonista ou a discussão na mesa de jantar por causa do enjôo de espaguete), mas minimamente agradável, merecedor de uma cuidadosa observação. Admito que as focalizações vaginais do filme são manipuladas de maneira a agradar um público-alvo que não vai consumir o filme, mas as reflexões sobre o próprio ato de escrever, o samba praiano cantado em turco, a participação especial do músico-escritor Chico Buarque e o final (êtcha, escorregou) otimista fizeram valer o preço do ingresso. Então, se alguém que estiver a me ler agora dispuser de um tempinho livre esta semana, não custa nada conferir o filme, a fim de que tenhamos uma acalorada conversa depois. Que tal?

“Budapeste” (2009, de Walter Carvalho): em exibição no Cinemark do ‘shopping’ Riomar às 14h desta semana e da próxima.

Wesley PC>

DETESTO MÚSICAS COM NOMES DE LUGARES!

Por causa disso, hesitei em curtir “Welcome to England”, primeiro ‘single’ do novo álbum da Tori Amos, biograficamente intitulado “Abnormally Attracted to Sin” (2009). Porém, tolerante e carente que sou, desafiei minha própria insatisfação prévia e agora a canção não sai de minha cabeça, nos planos consciente, inconsciente e subconsciente. Amo os gemidos lascivos e amargurados da cantora, seus acordes sofridos, seus coros líricos ao fundo, suas letras dúbias, a coesão destacável entre uma canção e outra. Aproveitando a deixa da postagem seguinte, “admirável, simplesmente admirável”:

“"Go on, let the liquid take off what you're on. You've been down before...."
- Boy, not like this”

A letra é dialogística em excesso. Vale a pena conferir!

Wesley PC>

FILME DE TERROR É TERAPÊUTICO!


É errado o que vou fazer agora: estou no meio da sessão de “O Enigma do Mal” (1981, de Sidney J. Furie), clássico subestimado do horror em que uma dona de casa molestada pelo pai na infância e que engravidou aos 16 anos de idade passa a ser comumente estuprada por uma entidade invisível. Seu primeiro marido morreu num acidente de motocicleta. Seu segundo marido era bem mais velho do que ela. Psiquiatras insistem que as visões e lacerações violentas que ela passa a sofrer da tal entidade invisível não passam de histeria coletiva decorrente de sua inaceitação ao sexo. Numa madrugada, ela tem um orgasmo. Ao assumir que se trata dum caso paranormal, ela fica feliz “como nunca esteve antes”. Eis o filme que eu precisava ver hoje!

Estou enfrentando problemas semelhantes (sexo, sexo: esta minha incapacidade natural em lidar com ele) e tendo a ser realista ‘ad extremis’ (culpa de meu teísmo pós-jansenista), mas estou a me identificar deveras com o filme, a ponto de um sono forte, atrelado a uma sensação esquisita de frenesi pós-trabalhista, me impedir de ver o resto do filme agora. Não sei se estou com medo ou excitado sexualmente ou ambos, mas tenho certeza de que estou achando o filme ótimo. Está tudo misturado em minha cabeça. É mais de 1h da madrugada. Não sei sequer se durmo em minha própria cama ou na cama de minha mãe. Será que a protagonista do filme sente desejos sexuais por seu filho adolescente, que é “a imagem cuspida do pai”? Eu sentiria. Acho que comi beterrabas demais no almoço...

Estou zonzo, estou zonzo. Vou dormir que é melhor. Preciso de ajuda, preciso de ajuda. E a protagonista do filme pedia socorro enquanto era estuprada. O filho tenta interceder e é atingido por estranhas faíscas elétricas azuis. Quebra o pulso e é acusado de corroborar com a loucura da mãe. Como será que o filme termina? Estou ansioso. Não vejo perspectivas? Só impotência crescente! Minha vida, meu Deus! Socoooooooooooooooorro! Sexo, sexo... e ontem de noite eu chupei pau... e foi bom. Gala na boca! Sexo, sexo... “Trabalho, trabalho, louco trabalho”. Vejo o resto do filme agora ou quando acordar? Falta só meia hora. Socorro!

Wesley PC>

Caranguejos com cérebro


Apesar de acreditar que grande parte dos frequentadores desta comunidade conheça, mas pelo grande e singelo prazer de ver aqui postadas estas linhas; venho através deste reino reverência minha terra amada deixando para nosso deleite, o manifesto do movimento Manguebeat.


Anne


Mangue, o conceito
Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.
Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem do alagadiço costeiro.
Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas são tidos como símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.
Manguetown, a cidade
A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex)cidade *maurícia* passou desordenadamente às custas do aterramento indiscriminado e da destruição de seus manguezais.
Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de *progresso*, que elevou a cidade ao posto de *metrópole* do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.
Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história, para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do mito da *metrópole* só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano.
Mangue, a cena
Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.
Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo era engendrar um *circuito energético*, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.
Hoje, Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.
Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo. A descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas. No rastro dela, surgiram programas de rádio, desfiles de moda, vídeo clipes, filmes e muito mais. Pouco a pouco, as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown.
Obtido em "http://pt.wikisource.org/wiki/Caranguejos_com_cérebro"

P.S.Os créditos da fotografiae de um cartaz sobre um filme de Calazans e Vianna, e fora selecionado pois é a imagem mais próxima do símbolo do movimento Manguebeat

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

EU SUPORTARIA UMA HECATOMBE!


Depois de suportar quase 12 horas consecutivas de lamúrias e reclamações no trabalho, encontrar “o homem de minha vida" na rua e ficar com receio de abraçá-lo em público e ouvir músicas trágicas num fone de ouvido enquanto faltava energia e chovia, percebi que suportaria uma hecatombe, que me manteria tranqüilo em situações em que todos ao meu redor estivessem em desespero. Eu caminhava lentamente, pensando em que pretexto usaria para obter um desejado filme do Timur Bekmambetov, enquanto minha mãe me ligava desesperadamente no celular. De que me adiantaria atender ao celular num local escuro, potencialmente perigoso (qual não é?) e em meio a jorros fluviais? Algumas pessoas gritaram quando a luz se extinguiu. Outras apenas se escondiam sob toldos, aguardando a chuva passar. Eu imaginava que o local estivesse a pegar fogo, que cometas caíam na Terra, que água e comida se extinguiam, que pessoas desesperadas saqueavam e estupravam seus semelhantes, cientes e temerosos de que teriam poucas horas de vida. E eu falava a mim mesmo que nada adiantava – e Rafael Maurício está de volta!

Wesley PC>

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

EM BREVE, EU FAREI O ELOGIO CORRETO...


O que aconteceria se um misto de David Lynch e Pedro Almodóvar oriental resolvesse contar a esquisita estória quase sobrenatural e beirando o surrealismo cientificista homoerótico num filme em que prisões, metamorfoses, necessidades carnais incontidas e mais de 4 séculos que explodem no tempo similar se mesclam numa trama impossível de ser resumida sem suspiros elevados de estupor desejoso? A resposta está em “Big Bang Love, Juvenile A” (2006), filme elogiadíssimo e complicadíssimo e louquíssimo do gênio japonês do terror extremo Takashi Miike, que estou a baixar esta semana. Em breve, estarei a comentar com paixão posterior este filme ainda não visto, mas, desde já, recomendo-o a todo e qualquer ser que tenha Velox em casa e queria desfrutar do que mais original é feito em matéria de cinema sadomasoquista ultra-passional hoje em dia. Vejam-no!

Wesley PC>

ME AFOGO NOS PENTELHOS!


Quem já me viu nu, sabe que cultivos pêlos na região genital. Lembro que, quando eu era criança, o nascimento paulatino dos mesmos era motivos de orgulho entre meus vizinhos. Comparávamos a penugem, sem que isso fosse sexual para eles (para mim era, oh, se era!). Na TV, o máximo de erotismo androfílico que eu podia consumir era vinculado à amostragem breve de pêlos masculinos em filmes israelenses disfarçados de ‘rockers’ norte-americanos. Por estes motivos, além do orgulho natural e da sensualidade interdita a ele atrelada, vejo nos pêlos pubianos uma estranha confirmação viril, algo que me seduz, algo que me é indispensável. Desgosto de homens pelados! Sinto um exótico prazer ao me engasgar com pêlos durante o sexo oral, mas, infelizmente, percebo que sou uma raça em progressiva extinção. Segundo os evolucionistas, a tendência natural dos primatas é perder os pêlos, em virtude do uso de roupas, acessórios e demais proteções têxteis. Que venha o tempo!

Wesley PC>

PENA QUE NÃO TEM “ALWAYS”...

Depois de uma madrugada repleta de torcicolos, pus para executar, por puro acaso, “Cross Road” (1994), uma coletânea com os maiores sucessos da banda Bon Jovi, liderada pelo carismático e “politicamente correto” John Francis Bongiovi Jr. Matei saudades de fatos característicos de minha adolescência ao ouvir as celebres canções contidas no CD. Porém, acho que estou com uma versão pirata do mesmo, gravado de alguém que o comprou nas Lojas Esplanada, visto que as faixas estão numa ordem diferente do original e não está contida a melhor música do grupo, a antológica “Always”:

“and I...
Will love you, babe, always

And I'll be there forever and a day, always
I'll be there till the stars don't shine
'Till the heavens burst and the words don't rhyme
And I know when I die, you'll be on my mind
And I love you, always”

Que seja, sigamos em frente. No álbum, encontramos preciosidades como “Livin’ on a Prayer” (que conhecia através de uma versão dançante), “Bed of Roses” (que volta e meia aparece num filme romântico de Hollywood), “Keep the Faith” (praticamente um hino), “I’ll be There for You” (quem nunca se pegou cantarolando o refrão desta canção?) e a clássica “Blaze of Glory” (tema de um interessante faroeste juvenil). Gostei tanto de reencontrar em álbum que repeti algumas canções antes de me banhar. Aliás, acho que não vou ter vergonha em escrever o que escreverei agora: Bom Jovi é uma banda digna de nossos elogios em primeira pessoa!

Wesley PC>

terça-feira, 11 de agosto de 2009

ERA SÓ O QUE ME FALTAVA!


Então, gente, o excesso de trabalho esta semana está me deixando com muito, muito sono. Estou chegando em casa, dormindo e já acordando atrasado, no dia seguinte, para ir novamente para o trabalho. Alguém pode fazer o favor de ligar para mim e me despertar?

Wesley PC>

PETER FONDA ERA LINDO!

Revi “Sem Destino” (1969, de Dennis Hopper) em Gomorra na noite de ontem. Fábio e Juliana estavam ao meu lado, comemorando a bebedeira do último sábado. Bruno/Danilo revezava-se entre as legendas em português para os diálogos e as legendas em inglês para as canções recorrentes. Um ‘hippie’ dormia no chão, outro sorria com os discursos chapados do personagem de Jack Nicholson sobre OVNIS. Rafael Coelho foi evocado na conversa várias vezes. Ao final, depois do choque, olhamos com cuidado para todos os lados: será que algum avatar do preconceito contra aqueles que tentam ser livres estaria nos esperando na esquina? Não só é um filmaço, como foi (re)visto pela mais adequada das platéias!

“Born to be wiiiiiiiiiiiiiiiild”!

Wesley PC>

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

COMUNICAÇÃO ORAL: REFLEXOS INTERATIVOS DA TRADIÇÃO MITOLÓGICA E DO EXTRAVASAMENTO TECNOCRÁTICO NA FILMOGRAFIA DE HAYAO MIYAZAKI


As tradições milenares japonesas são conhecidas por sua rigidez e fidedignidade a padrões culturais estabelecidos desde e era medieval. Por outro lado, o Japão é um destacado pólo contemporâneo de pesquisas tecnológicas avançadas. Tal contraste publicitário entre o velho (e reverenciado) e o novo (e exaltado) na cultura japonesa encontra na obra do animador Hayao Miyazaki um paroxismo expressivo, dado que seus filmes, realizados à maneira tradicional, põem em pauta, quase sempre, a questão do choque entre ritmos diferenciados de vida. A análise superficial de qualquer uma de suas obras-primas em longa-metragem revelará tal contraste, mas é em “A Viagem de Chihiro” (2001) que encontramos o cenário-síntese, dado que os personagens moralmente ambíguos interagem no que é definido como sendo “uma SPA para deuses moribundos”, no qual encontramos personagens mitológicos apresentados em filmes anteriores do próprio Hayao Miyazaki e, numa cena impressionante, a “alma” de um rio poluído resolve se banhar. A partir de comentários sobre os filmes miyazakianos, portanto, pode-se investigar as principais conseqüências de fenômenos contemporâneos como a globalização ou o pós-modernismo na modelagem das artes, levando-se em consideração as observações teóricas do autor britânico Fredric Jameson sobre aspectos formais que obliteram a perda da historicidade em seus constructos culturais.


Este é mais ou menos o resumo de um trabalho que eu pretendo apresentar no mês de setembro, na Semana de Letras Clássicas da universidade em que estudo. Se alguém se interessar pelo tema...

Wesley PC>

QUANDO A GENTE TENTA E NÃO DÁ CERTO, O QUE É QUE A GENTE FAZ?

Então, um número considerável de estudantes de Letras/Inglês da UFS aprecia as canções da banda norte-americana Paramore. Eu ouvi uma destas na madrugada de sexta para sábado e, não sei se por influência do contexto, fiquei encantado. Tão encantado que fui em busca de um álbum completo. Baixei “Riot!” (2007), que já me havia sido timidamente apresentado por uma simpaticíssima garota de 12 anos quando da penúltima vez que eu visitei a capital pernambucana. As faixas iniciais, “For a Pessimist, I’m Pretty Optimistic” e “That’s What You Get” poderiam me fisgar, mas não curti o ritmozinho adolescente das mesmas, a confusão despropositada de estilos entre o dançante e o ‘pop/rock’. Fiquei decepcionado em relação ao restante do álbum, de maneira que só fui despertar um novo interesse com a faixa 09, mais lenta e contida, chama “We Are Broken”, cuja letra fala sobre a necessidade de trancar as portas para capturar a voz de alguém tranqüilizante. Bonitinha. Posso não ter curtido o CD, mas fica a tentativa...

Wesley PC>

domingo, 9 de agosto de 2009

“AS PESSOAS NÃO SÃO IMPORTANTES PARA ELE”

Horários, programas de televisão, idiossincrasias e rotinas, sim! Assim é o personagem Raymond Babbit (Dustin Hoffman), protagonista do ótimo filme “Rain Man” (1988, de Barry Levinson), visto inúmeras vezes na TV, onde sempre cortavam os créditos finais, de maneira que eu nunca soube que as fotografias captadas pela máquina do personagem principal eram reveladas. Coelhinho viu este filme recentemente e disse que lembrou de mim. Eu lembrei de outra pessoa. Infelizmente, o autismo voluntário e sentimental é cada vez mais comum na manifestação de capitalismo que assola minha cidade-natal. Vi o filme com minha mãe, que também achou o personagem parecido comigo, que, por minha vez, fiquei encantado com a solicitude de Valeria Golino, que vive a namorada do personagem de Tom Cruise, que serve como uma espécie de consciência, que beija seu cunhado no elevador, que se enraivece quando percebe que dinheiro é o motor do círculos sociais que freqüenta. Desgosto da verborragia cara ao diretor, mas o filme é um grande achado hollywoodiano. Compensa qualquer desvio melodramático: pessoas daquele jeito existem! Daqueles três jeitos...

Detalhe: a frase foi utilizada para definir o autista, mas se aplica ainda melhor ao capitalista. Conclusão sofismática: os capitalistas são autistas! (vide página 768 do guia “1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer)

Wesley PC>

CANONIZAÇÃO TARDIA (DE MINHA PARTE) PARA UM RECÉM-FALECIDO!


No último dia 6 de agosto, aniversário da glande de Rafael Maurício, morreu John Hughes, diretor e produtor de filmes sagrados da adolescência de quem nasceu na primeira metade da década de 1980. À época, eu não apreciava muito os seus filmes, exibidos trocentas vezes na “Sessão da Tarde” da TV Globo. Como um legítimo sociopata, achava-me velho demais para a minha idade. Ao rever tardiamente os clássicos “Clube dos Cinco” (1985) e “Antes Só do que Mal Acompanhado” (1987), foi que percebi o quanto este diretor estava além dos estereótipos. Lamento tê-lo reconhecido tardiamente, mas, ao menos posso me vangloriar de ter sido um dos guris salvos pela identificação com sua obra-prima, “Curtindo a Vida Adoidado” (1986). Ao contrário de quase qualquer outro ser humano, não era o protagonista Ferris Bueller (Mathew Broderick, inspiradíssimo) quem me inspirava, mas o solitário e hipocondríaco Cameron, vivido pelo subaproveitado Alan Ruck.

Perdi a conta de quantas e quantas vezes revi este filme (quase) perfeito e me encantava quando Cameron encetava canções sobre sua própria morte e, enquanto todos se divertiam em Nova York, ele só se preocupava com um (im)provável reencontro com seu pai ditatorial, que dava mais atenção a um automóvel do que a seu filho deprimido. Sorria ao perceber que um espaço para o tipo esquisito de ‘freak’ que eu era fosse criado com respeito por Hollywood. E é nesse espírito que eu exaltava diante daquela magnífica seqüência em que todos os personagens são impulsionados para uma frenética apresentação de “Twist and Shout” num desfile público. Extraordinário filme! E olha que eu era um CDF abobalhado, nunca pensaria em faltar aula, nem em ser aceito gregariamente que nem os personagens do filme... Outros tempos, felizmente!

RIP, John Hughes (1950-2009)!

Wesley PC>

CAUSAS x EFEITOS NO CINEMA HOLLYWOODIANO DE HOJE:


Carl (Jim Carrey) é um funcionário responsável pelo setor de empréstimos de um banco. É obrigado a dizer NÃO para seus clientes várias vezes por dia. Enfastiado de trabalho, reluta sempre em sair com os amigos, rejeitando veementemente os seus convites para ficar em casa, sozinho, vendo filmes. Não tem mais sequer disposição para se masturbar, até que, num dia qualquer, reencontra um amigo do passado, que o leva a uma palestra de auto-ajuda onde é convencido a dizer SIM para o quer que seja. Na saída mesmo da palestra, é abordado por um mendigo, que pede uma carona e o celular emprestado. Ele diz sim. Conhecerá a mulher de sua vida em seguida. Não sei se é preciso contar o que acontece em seguida, mas o final é feliz. Hollywood está acostumada a contar este tipo de história...

Quando digo que “Hollywood está acostumada a contar este tipo de história”, detecto uma estranha ironia: o que leva a grande manipuladora de fantasias espectatoriais a lançar no mercado, anualmente, pilhas e pilhas de filmes que, apenas na aparência, falem mal de instituições que ela defendeu durante décadas? A resposta está na própria pergunta: a aparência! No filme em pauta, por exemplo, o protagonista é perseguido pelo FBI ao realizar viagens improvisadas, manter relações com uma mulher iraniana e aprender a falar coreano. A sua liberdade de escolha é minuciosamente vigiada e qualquer sobressalto personalístico deve ser encarado como suspeito. Porém, o diferencial neste filme [“Sim Senhor!” (2008, de Peyton Reed)] é que, tal qual acontece nos hilários e dramáticos filmes produzidos sobre a égide de Judd Apatow, traços pitorescos da globalização tecnocrática ‘nerd’ contemporânea são apresentados no filme, seja no que diz respeito ao chefe do protagonista, que organiza uma festa a fantasia baseada nos personagens de J. K. Rowling, seja nas composições da banda modernosa da simpática personagem de Zooey Deschanel, que canta sobre MySpace, Facebook, ‘hackers’ e telefonemas de amor que devem ser feitos às 22h59’ e não às 23h. Ao terminar o filme, parece viável recorrer a terapias de auto-ajuda e, confesso, fiquei tentado a repetir alguns dos passos exagerados seguidos pelo protagonista. Explicarei o porquê:

Tal qual ele, trabalho num cubículo iluminado, mais de 8 horas por dia. Sou obrigado a dizer NÃO várias e várias vezes a pessoas esperançadas que buscam o meu atendimento profissional por dia e tendo a rejeitar convites que amigos me propõem, visando a me divertirem um pouco. Seria eu muito tolo em acreditar nisso? Eu que, neste exato momento, estou baixando canções ‘pop’ que embalaram a minha madrugada erótica? Basta dizer que, no filme visto antes desse que comento [“Pups” (1999, de Ash)], um garoto de 13 anos armado com o revólver que encontrara no quarto de sua mãe ausente, usuária de vídeos pornográficos para atenuar sua depressão pós-empregatícia, invade um banco e faz de reféns funcionários e clientes do local. Em dado momento, um deficiente físico diz a um senhor idoso que este não sabe de verdade o que é viver sem ter experimentado ácido lisérgico ou cogumelos alucinógenos. Eu nunca experimentei nenhum dos dois (quer dizer, no caso dos cogumelos, até experimentei, mas o gosto ruim do produto me fez ser parcimonioso na ingestão do mesmo), será que não sei o que é viver? Que seja!

“This truth is hiding in your eyes,
And it's hanging on your tongue.
Just boiling in my blood, but you think that I can't see.
What kind of man that you are?
If you're a man at all. Well, I will figure this one out
On my own...
I'm screaming 'I love you so'...(On my own...)
But my thoughts you can't decode!”

Jim Carrey é uma espécie de alter-ego de pessoas como eu… Na cena mostrada em fotograma, por exemplo, ele está a se divertir com 'durex', homenageando assim um famoso personagem literário de Victor Hugo. Atingiu-me em cheio com isso!

Wesley PC>