sábado, 12 de setembro de 2009

UMA COISA LEVA A OUTRA, QUE LEVA A OUTRA...


Esperando um pretexto visual qualquer para me entreter enquanto almoçava, sentei-me diante de “Caixa Dois” (2006), filme do decadente Bruno Barreto, que estava sendo exibido na TV. Pensava que fosse um filme péssimo, mas me surpreendi: não que seja bom, mas me fez pensar. Me fez pensar!

Para quem não sabe do que se trata o filme: adaptado de uma peça teatral do Juca de Oliveira, o filme é uma daquelas típicas produções amorfas, que parecem feitas para a TV brasileira (aquela emissora específica, sabe?), no qual um inescrupuloso dono de banco deseja transferir R$ 50.000.000,00 para a conta de um “laranja” e, sem querer, o dinheiro vai parar na conta de uma honesta professora, casada com um funcionário recém-despedido do banco, por causa da onda de automação empresarial, sendo que o filme do mesmo estuda Informática numa Universidade particular e a namorada deste último é a secretária do banqueiro corrupto em pauta. Por esta sinopse, o excesso de coincidências parece inverossímil, mas não o é. E o que é melhor: o embate entre os personagens sobre o que fazer com o dinheiro é moralmente inspirado, por mais que diretor e roteirista estivessem mais preocupados com efeitos cômicos. Não sei se é caso de recomendar o filme como um todo, mas a reflexão que o mesmo proporciona (bem maior que ele enquanto obra), vale a pena: e se fosse comigo? E se fosse com algum de nós? Por mais que eu odeie dinheiro, o que eu faria se uma soma imensa de dinheiro corrupto aparecesse em minha conta bancária e de nada adiantasse eu devolver a um dono espúrio? Fiquei pensando...

Wesley PC>

sexta-feira, 11 de setembro de 2009


Ai galera, escrevi algumas cartas enquanto estava internado, vou tentar publicá-las no blog.


Apesar de todo sentimento de segurança que finca meus pés no chão e me dá uma serenidade a cada nascer do Sol, por vezes tenho pensamentos que algumas vezes negativizam esta minha atual condição.


Refletindo sobre os meus dias ainda em Aracaju e em sequência os meses passados na estrada, começo a perceber os fatos que me impediam de conhecer e confiar plenamente nas pessoas.


Confiava e amava os meus amigos (e ainda continuo a confiar e amá-los), no entanto alguns deles sabem como eu era desconfiado e julgava precipitadamene novas amizades mesmo que meus modos impulsivos e espalhafatosos camuflassem essa realidade.


Mas só eu e os mais próximos percebiam o que se escondia por de traz de todo aquele alarde. Não que eu fosse falso ou que meus sentimentos de se valorizar uma boa amizade não fossem reais, mas dentro de mim ocorria um estrondoso embate que muito me perturbava.


Nos primeiros meses de viagem, Barba conviveu pacientemente com essas inseguranças e lembro que quando de seu último conselho sobre minha escolha não fazia mais que tentar me ajudar.


Seguindo com os 4 maravilhosos aventureiros, estes também encararam por algumas semanas este Coelho; no entanto havia um diferencial.


Seus pertinentes hábitos de se manterem sempre calmos, de não procurar atormentar seus seus dias com qualquer esquentar de cabeça passaram a transformas meus valores.


Quando tivemos que no separar, vi a oportunidade de realizar um dos meus anseios: encarar as dificuldades do dia a dia apenas com minhas próprias escolhas, tendo que me responsabilizar sozinho quando de um erro.


Minhas primeiras horas foram complicadas pois mesmo que já possuísse a capacidade de manguear sem nenhum problema; viajar com uma perna seriamente inflamada e uma febre incessante pareciam barreiras impossíveis de se contornar.


Pretendia fazer a viagem o mais rápido possível até chegar à Rancharia. mas tendo chagado a enorme Uberlândia já no início da noite e consequentemente impossibilitado de conseguir passagem até a próxima cidade, tremi ao ver minha perna inchando a cada hora; pensando ainda na possibilidade de ter que passar a noite na rodoviária da então cidade e para completar tendo uma bicicleta como fardo.


Enquanto lia Microfísica do Poder, onde Michael Foucoult descia o pau nas instituições filantrópicas, eis que depois de tantos pedidos de ajuda não atendidos me aparece uma jovem me oferecendo um prato de sopa. Rejeito a ajuda, mas contando minha história para ela e para um senhor negro que só agora lembro que se chama Ditão, sou colocado numa Combi junto com minha guerreira e sou levado até o hospital.


Lá sou informado da seriedade do caso e que teria que ficar internado alguns dias.


Mal entrei na sala de curativos recebo diversas sequência de injeções por todo o corpo mais a introdução de uma torneira verde em uma das minhas veias do braço direito.


Vou dormi e logo às 6 da manhã vou tomar uma bela ducha d'água quente para tirar o encardido de mais de 3 dias. Logo depois do banho começo a ler propositalmente a obra Admirável Mundo Novo e depois passo a escrever meu adormecido diário de viagem desde Brasília.


Quando já próximo ao cair da noite me deparo com uma situação dramática sobre o sentido de se viver, a qual fiz questão de relatar em 2 páginas que mais tarde se transformariam em madrugadas em claro escrevendo sobre tantas coisas do mundo.


Foi ai que comecei a sentir as consequências de minhas escolhas iniciadas a 3 meses atrás.


Sentia as palavras postas no papel tomarem vida e passarem a transformar meus gestos, meu olhar, o tom de minha voz e a revolucionar as incertezas de outrora que me levantava um muro me separando das maravilhas de se fazer um amigo a cada hora.


Escrevia diversas cartas; para as enfermeiras; para os pacientes; para a bela Francielle; para a minha mãe (esta tão sincera que enquanto esparramava as palavras por sequências de horas, quando o Sol ainda não havia subido para a imensidão azul, me levou à prantos).


A cada ideia concluída passava pacientemente à limpo todas as palavras, dispensando por fim mais da metade do dia para escrevê-las, lê-las, relê-las, reescrevê-las, relê-las... distribuindo para pessoas que nunca vi e provavelmente jamais as verei.


Mas este mesmo sentimento de segurança me faz pensar sobre seu significado. Como disse no início da carta, reflito minha atual condição e fico incerto o que seria tudo isso e até quando vingará.


Isso é chato! É como que parte de um negativo passado sobrevivesse em meio a imensidão de felicidade que estou sentindo. Mas aí conversando os meus borbotões, chego a conclusão que isso nada mais é que eu mesmo e caso seja uma fase: que passe; mas que fique as lembranças e os aprendizados.


Nas intermináveis amizades que faço nos corredores, me contento ao perceber que minha alegria são suas alegria, que minhas certezas se transmutam em suas certezas. Isso é bom!


Ainda que surja alguns entraves para minha estadia na cidade, calmamente respondo para aqueles que ouvem meus relatos as palavras que tanto ouvia de meus saudoso 4 amigos:


- Não mas eu tô de boa; tô numa rilax, numa tranquila, numa boa. ( 3 últimos versos feito por mim).


Dos sentimentos impulsivos, os únicos que me sobram são os de escrever, os de ler, os de ouvir Jorge Ben, Maria Bethania, Tim Maia, sentimentos que mesmo com pouca grana me leve à gastá-la com canetas e lápis, com breves momentos na internet ou com passagens de ônibus para me deslocar para a casa dos meus novos amigos e ouvir suas histórias.


A minha segurança me faz a cada dia não mais fazer questão de um currículo da universidade.


A minha segurança me faz arrumar pacientemente minha mochila e por fim, tão empolgado com sua organização, me faz colocá-la nas costas e flutuar pelas ruas de Uberlândia.


ESTOU VIVO DE UMA MANEIRA COMO NUNCA ESTIVE!


A poucos minutos vi uma bela enfermeira sair quase que correndo da sala de enfermaria por estar triste ante a obrigação de ter que trabalhar arduamente pela madrugada de sábado sem o seu consentimento.


É triste! Mas isso é a cidade. É a realidade das loucuras que a 3 meses atrás me dava a mesma sensação que as sentidas por aquela enfermeira. Queria poder olhar em seus olhos e escutar o que esta tem a me dizer, muito provavelmente com o escorrer de lágrimas. Mas acho que ela jamais se dará esta oportunidade. deixará esta angustia lhe remoer e abalar sua beleza nas sequências de infindáveis ocupações que destroem não só a ela, mas a todos nos espaços urbanos.


No parágrafo anterior esta carta deveria findar-se, no entanto me enganei sobre a possibilidade de conversar com a bela mãe. Mas, ainda que a conversa tivesse sido boa, bastou se retornar os chamados, os gritos de dores, para ela voltar para a fria noite do hospital.
Coelho
FLWS

“TENHO USADO MINHA MEMÓRIA MAIS PARA ESQUECER DO QUE PARA LEMBRAR”!


Li esta frase associada a alguém que prezo bastante no exato momento em que percebo que não lembrava do rosto de duas pessoas que entraram no local em que trabalho: uma delas é linda e eu tratei com visível subserviência noutra vez; a segunda é orgulhosa e petulante e tratou-me com desprezo visível. Não reconheci ambos. Nos dois casos (um bom e outro ruim), tive a oportunidade de começar do zero. “Dar a outra face” sempre foi um lema (pós-cristão) muito válido para mim. No dia de hoje, a Internet da UFS ficou indisponível durante quase todo o dia. Somente à noite pude resgatar este auto-retrato do gênio Robert Mapplethorpe, em que ele sutilmente introduz um chicote em seu ânus. Morreu de AIDS, tadinho. SE eu me arrependo? Não, mas prefiro lembrar!

Wesley PC>

Coisas lindas nos fazem esquecer que somos tristes...

Até onde a crítica propaga intolerância?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dorothy Tinha Razão


Pois bem queridos amigos da nave Gomorra, finalmente voltei para a companhia dos amados anjos Charles.
Quando vinha na direção de Rancharia, vim pensando em escrever algo sobre as cidades, pois estando no estado de SP os inacabáveis espaços urbanos dão um sentido muito mais intenso para a frase "Capitalismo Selvagem".
A primeira vez que pisei os pés em solo Paulista, estava em um posto de gasolina onde o ônibus que fazia a rota Ubelândia/Marilha tinha feito uma para de 20 minutos.
Entre a estrada e a enorme lanchonete do posto havia um considerável estacionamento e, fincado no canteiro que dividia o então estacionamento da estrada se prostrava uma enorme placa de vermelho "vivo" de anúncio da Coca-Cola, estando à cima outra enorme propaganda do então posto.
Aquilo foi muito estranho! Ao redor do posto havia uma mata que mesmo na escuridão da noite se percebia que já se tinha sido modificada.
Aquela cena era como um mar de artificialidade que no silêncio noturno ambientava uma solidão por demais urbana.
Como decidi que não manguearia na então lanchonete, me encostei próximo ao banheiro e fiquei a ouvir à alto volume a sintonia de uma rádio que saia das caixas de som do então lugar.
De repente, um solo de guitarra me tomou o pensamento e logo indentifiquei que era a introdução de um clássico da banda Alemã Scorpions.
De súbito lembrei do grandiosissimo amigo João Paulo que, como eu, sempre tinha o costume de cantar em falsete as canções do grupo.
Porém, aquele som que em Aracaju muito me animava, naquela imensidão de solidão urbana parecia somar-se a então condição. Como Ilustração recordei de uma cena muito famosa nos filmes de terror.
Um guarda noturno está a fazer qualquer coisa, enquanto no fundo há um som de rádio bem baixo, que em meio o silêncio chega a ecoar. Porém o som parece vazio; ele dá sentido a cena, mas ao mesmo tempo tem um aspecto oco.
Foi o que sentir no então posto.
Seguir viagem pela madrugada e enquanto olhava o reluzir de raios nas formações de nuvens que não faziam o mínimo de barulho, fui pensando em escrever a então cena para o antigo companheiro de classe. Mas as idéias foram tomando tamanhas formas, que por fim tinha estruturado uma ótima análise sobre as cidades.
Antes de fazer essa viagem já tinha conhecido outros lugares, no entanto sempre à conta gotas e mais ainda no esquema turísta: vc junta uma grana e se vira com ela para ver o que tem de massa no local.
Mas agora, ainda que na maioria das cidades tenho passado em média 15 dias, a falta de grana e consequentemente a necessidade de se contar com as ajudas dos habitantes locais, permitiu uma percepção mais real do que é cada lugar; do que é o urbano e o rural; do que é Brasília para o restante do Brasil.
Essa visão, só possívil depois desses meses de viagem, me recorda as belas palavras de Dorothy no fabuloso Mágico de Oz: "Não há lugar como o nosso lar!".
Certa vez conversando com o sábio Leno e o admirável Baiano, o primeiro me falou de uma frase que, se não me engano, fora dita pelo vocalista do Engenheiros do Hawai: "provinciano é aquele que sai da província".
Por vezes, se dá a palavra provinciano um sentido pejorativo, como muitas vezes ouvi e falei da característica de Aracaju ser um lugar onde as pessoas se fecham para o diferente, não sabendo conviver com este. Para quem morou na Gomorra e, ainda mais tendo esse minha característica de divulgar as coisas boas que por ventura esteja à fazer, comprovo cada palavra do parágrafo à cima.
Mas a condição de menor estado; o que não dá um notoriedade para as 72 cidades; a brandura do capitalismo que só agora percebo; a condição de capital litorânea que ainda consegue ter extensos espaços de praias semi desertas na própria cidade; muito diferente das outras capitais e até dos estados nordestinos; são simples condições que apesar dos pesares hoje me faz escolher (se caso volte a morar em espaços urbanos) Aracaju como moradia.
Lembro de Barba comentando sobre Recife, SP (esta então só nós sabemos o que ouvimos sobre); das possibilidades que estas cidades permitem; e em contra ponto lembro de Wesley...
Pois bem, se um dia discordei das provincianas palavras de Dorothy , hoje; 3 meses, 6 dias, 19 horas e 33 minutos depois da minha saída, propago a todos que " Não há lugar como nosso lá" ( levando em consideração que não estamos colocando a estrada na discussão).

A INVERSÃO DO QUE NÃO DEVERIA SER BANAL


“Brinquedo Assassino” (1988, de Tom Holland) é um belo filme de terror. Seu diretor ficara famoso pelo clássico “A Hora do Espanto” (1985) e por dirigir episódios da ótima telessérie “Contos da Cripta”. Lembro que, quando estudava a 5ª série do Ensino Fundamental, ouvia os meus colegas de classe comentando sobre este filme e achava engraçado o título. Quando vi o filme pela primeira vez, fiquei impressionado com sua fecundidade roteirística, com o clima satisfatório de suspense e com a simpatia do protagonista infantil Alex Vincent. Na madrugada da última quarta-feira, revi este importante filme contemporâneo e gargalhei em diversas cenas. Enquanto algumas pessoas presentes à sessão reclamavam que ficariam sem dormir por três noites se prestassem atenção à exibição e outras gritavam durante os assassinatos efetivados pelo vingativo Chucky, eu sorria, não por achar o filme ridículo (pelo contrário), mas por ser um cúmplice íntimo de tudo o que ali se desenrolava, no limite de ignorar qualquer inverossimilhança tramática. O filme é muito bom, em suma! E se transformou em ‘cult’. E em alguns lugares do mundo, pessoas desfilam vestidas que nem o boneco malévolo, tal qual a criança influenciada por um programa de TV que se veste como seu personagem favorito, come os sucrilhos que ele recomenda e daí por diante...

Wesley PC>

A MÚSICA MAIS CANTADA NO ÔNIBUS? QUEM DERA...


“How does it feel in my arms?
How does it feel in my arms?
Do you want it? Do you need it?
Can you feel it? Tell me!
How does it feel in my arms?”


Em meio à enxurrada de canções remizadas de Madonna, Beyoncé, ‘drag queens’ variadas e trocentas outras músicas ‘pop’ de qualidade duvidosa associadas aos ‘gays’ viciados em fôrmas pseudo-identitárias, um amigo homônimo insistia em cantar e recantar “In My Arms”, canção que me parecia deveras familiar, mas que eu não sabia exatamente onde havia ouvido. Ao chegar atrasado no lugar em que trabalho, na tarde de hoje, encontro um companheiro de serviço executando insistentemente a referida canção, interpretada pela musa oitentista Kylie Minogue. Sorri com a coincidência – e agora ouço a tal canção, que se tornou marcante na viagem que fiz. Ooooooooooooooooh!

Wesley PC>

RITMO DE FESTA



Na comunidade da Gomorra no orkut tem mais videos


Leno de Andrade

EROTISMO ÀS 2 HORAS DA MANHÃ!


Obviamente, nunca me dispus a ver sequer um episódio do ‘reality show’ “A Fazenda”, da TV Record. Por dedução, não estou antenado com todo o bafafá envolvendo os protótipos de artistas lá hospedados. Lá em Belo Horizonte, porém, cercado por homossexuais hiper-excitados, descobri a polêmica existência de um vídeo casual em que o ator Dado Dolabella se masturbaria durante o banho. Mesmo ele sendo um ser repugnante, minha fascinação ostensiva pela masturbação espontânea me fez buscar o tal vídeo. Para minha decepção, a fofoca não passou de uma especulação sensacionalista acerca de um asseio mais cuidadoso com a região genital, mas isso não faz com que eu perca a oportunidade reclamante: por que diabos estes ‘gays’ perdem tanto tempo com programas ruins de televisão quando poderiam (e deveriam) prestar mais atenção em formas midiáticas de protesto?!

Wesley PC>

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O menino de Honduras

Vejam isso...não sei porque não consegue acreditar no menino, não no que ele dizia, mas sim, o fato dele está dizendo. Sei que isso é fruto do meu referencial infantil diário; longe disso! Mas, contudo me pergunto também porque não?! Enfim, achei ensaiado demais!


UM POUQUINHO MAIS DE BELEZA...


Para além de tudo de bonito que vi em Belo Horizonte, quero deixar aqui registrado o meu êxtase diante do filme “Sigur Rós – Em Casa” (2007, de Dean DeBlois), visto gratuitamente no maravilhoso espaço do Palácio das Artes, na Avenida Afonso Pena, em seguida a um culto de uma igreja oportunamente inclusiva para com os hiper-afetados viciosos. No filme, acompanhamos a tensão e os êxitos protestantes e estéticos da banda islandesa que intitula o documentário, fazendo com que eu percebesse o quanto o vocalista Jón Þór "Jónsi" Birgisson é lindo e entrasse em contato com uma platéia mágica, fanática pelo grupo (tinha até gente traduzindo as palavras em islandês na cadeira atrás de mim!), na qual pude conversar com algumas pessoas e ficar ainda mais fascinado pela banda. Em verdade, o filme funciona melhor para quem já conhecia as canções inebriantes do Sigur Rós, mas que fascina, fascina!

Wesley PC>

DIVERSIDADE SEXUAL? (Ponto de interrogação ao final)


Agora cabe-me refletir um pouco: de que adianta?

Todas as experiências discursivas que vivenciei no evento sobre Diversidade Sexual de que acabo de chegar foram-me deveras impactantes no plano da maturidade. Porém, fui esbofeteado pela percepção de que existe um racha muito grande (sem trocadilho) no Movimento GLBT (ou LGBTT, que seja) no que diz respeito a homossexuais masculinos e femininas. Pensava que era simples paranóia de um amigo meu, mas quando ouvi reclamações insistentes sobre a necessidade de se nomear um evento de “Teatro do Oprimido e da Oprimida”, percebi que havia algo errado no que deveria ser um momento de integração entre pessoas...

Pontos negativos: a imensa quantidade de pessoas que foram ao evento apenas para participar das festas e “super se catar”, como falou um inteligente campinense; o desrespeito por parte dos motoristas no transito predominante da cidade; a exigüidade de público nas interessantes comunicações orais apresentadas; o sub-aproveitamento das oportunidades culturais citadinas e a obsessão dos pedintes em se assumirem como aidéticos. Pontos positivos: não sei por onde começar, mas ainda não é hora de comentar sobre eles...

Em dado momento, os integrantes da delegação sergipana separaram-se, a fim de participarem de GDT’s (Grupos de Discussão de Trabalho) diversificados. Não houve monitor que se atrevesse a discutir heterossexualidade, o que gerou protestos racionais por parte de um amigo nosso. Numa discussão sobre lesbianismo, o rechaçamento sofrido por uma transexual impedida de usar o banheiro das mulheres não foi levado em consideração. Poucos participantes se dispunham a conversar de verdade, dado que estavam muito mais interessados em contato epidérmico. Ou seja, problemas que já encontrávamos aqui mesmo. Mas foi ótimo para levantar a nossa estima!

No ônibus de volta, consegui exibir “A Lei do Desejo” (1987), obra-prima de Pedro Almodóvar. Identifiquei-me fortemente, o que me levou a perceber que a noção de Identificação é mais relevante que o conceito de Identidade. Sinto-me mais maduro agora que regressei ao meu lar – e com um nojo imenso de guetos homossexuais!

E quem eu amo está aqui...
Wesley PC>

ALGUÉM ESPERA QUE EU FALE ALGUMA COISA SOBRE MINAS GERAIS?


OK, estou de volta. Tenho muito para falar sobre o que vi e vivi no ENUDS 7 – Encontro Universitário de Diversidade Sexual, mas antes preciso tecer algumas considerações sobre a própria cidade desenvolvida de Belo Horizonte, onde estive alojado por quase uma semana e de onde voltei provido de um (não tão) surpreendente ufanismo. Vamos por partes, então:

Em “O Pequeno Soldado” (1962), um dos inúmeros clássicos do gênio francês Jean-Luc Godard, apreendi uma das definições políticas (e autocríticas) que mais têm a ver comigo mesmo. No filme, o belo protagonista diz que gosta da Espanha porque é fã de um dado poeta e que desgosta da Inglaterra porque desgosta de um dado artista. Não lembro da citação exata, mas é mais ou menos assim que acontece comigo: não odeio nem amo local nenhum especificamente. Gosto (ou desgosto) do que há neles. E, nesse sentido, Belo Horizonte é, até então, o lugar mais impressionantemente positivo em que já pisei os pés. E isso nem de longe me faz desgostar de Aracaju, onde vivo. Continuemos por partes.

Vasculhando por acidente um guia turístico da cidade, pude prestigiar gratuitamente um festival de cinema em que filmes islandeses e filipinos eram exibidos de forma plural. Assisti a um culto evangélico para homossexuais inclusivos e conversei com um DJ de puteiro às 2h da manhã, hum ponto de ônibus. Fui a uma boate em que ‘gogoboys’ exibiam seus pênis eretos e andei numa linha de ônibus que atravessava a imensa universidade onde aconteceu o evento de que participei. Vi e toquei em pessoas de todos os Estados do Brasil e entrei em contato (predominantemente visual) com a maior concentração de pessoas lindas por metro quadrado, mas, ao conversar com elas, nada devi a todos os que conheci por aqui. Pessoas são pessoas em todos os lugares...

Ainda voltarei a falar sobre isso, dado que enfrentei uma viagem de retorno de 30 horas de duração e vim direto para o mesmo trabalho de sempre, mas não consigo disfarçar o encanto e a discreta decepção em relação ao magnífico desenvolvimento daquela cidade. Quero voltar e, ao mesmo tempo, estou felicíssimo por estar de volta – e, como diz a razão das músicas ‘punk’ do Cólera: “ser é mais importante do que ter”. senti na pele isso!

Wesley PC>

domingo, 6 de setembro de 2009

O surrealismo do Fauno




Em “O labirinto do fauno” (2006), o cineasta Guillermo Del Toro apresenta uma fábula sombria recheada de metáforas e alegorias. Além de ser puro entretenimento, o longa também é uma ótima refeição mental para os cinéfilos e amantes da literatura fantástica. O filme abre com uma pequena narração sobre uma princesa que abandonou seu reino subterrâneo para conhecer a realidade humana e as conseqüências de seu ato. Depois disso conhecemos Ofelia, uma menina de 10 anos fascinada por livros de contos e fábulas com fadas. Ela está viajando junto com a sua mãe Carmen para o campo, onde vai encontrar seu padrasto, Vidal. Ele é o capitão das forças fascistas do general Franco, que governa a Espanha em favor dos ricos e poderosos com a aprovação da Igreja Católica. Logo de cara percebemos que Vidal é um homem extremamente sádico e que maltrata Ofelia.
Ao redor de sua nova casa, a menina encontra um labirinto que leva a uma trilha subterrânea. Lá ela conhece o Fauno, uma criatura metade humana, metade bode, que a convence de que ela é a princesa perdida do reino subterrâneo e que precisa realizar três tarefas para retornar para seu reino. Ao mesmo tempo em que Ofelia embarca nessa viagem repleta de fantasia, Vidal não poupa esforços e sadismo para exterminar os rebeldes que ameaçam o governo. Mas o debate não é só social, mas também político. Vidal não consegue ver nos rebeldes uma ameaça. Para ele, é uma questão de tempo para que todos sejam eliminados.
Fica evidente a diferença entre o mundo de Ofelia e o de Vidal. Ela acredita em sonhos e fantasia, sentimentos e características vitais para o desenvolvimento do ser humano. Vidal é um produto de mundo rígido e fascista. Sua ideologia é baseada na violência. Del Toro aproveita para analisar psicologicamente como homens dessa natureza são resultado de uma relação agressiva e abusiva dos seus pais.
Esse universo onírico e gótico é a espinha dorsal do filme. Del Toro não delimita o que é fantasia ou realidade. Ele aponta caminhos e deixa que o público embarque na viagem de sua preferência. Mesmo na conclusão, Del Toro contrasta os dois mundos. O espectador tem a possibilidade de escolher baseado em suas crenças pessoais. Quem não acredita em fadas, lendas e mitologia não se sentirá enganado. Otimistas que ainda vêem esperança no mundo caótico em que vivemos ficarão satisfeitos. E essa dualidade fica evidente na personalidade de Ofelia. Ela mostra que talvez a melhor maneira de escapar da realidade, neste caso, de um país em guerra, seja criando um mundo de fantasia.
Assim, realidade e fantasia se completam em um verdadeiro banquete de cenas e personagens inesquecíveis. Visualmente, o filme é soberbo. A cor é extremamente carregada de um sombreado que transforma a narrativa em um livro antigo de fábulas. O Labirinto do Fauno é visceral, violento, mágico e impressionante. É o retorno da fábula a seu devido lugar e uma história que nos choca e emociona com seus toques líricos e oníricos diante da violência de um país assolado pela Guerra Civil Espanhola.
A criatividade percebida no decorrer do longa, geralmente acontece na quebra de padrões, aplicando uma nova visão a fatos e coisas. Analisar problemas sobre novos ângulos. Perceber detalhes sutis e retirar a poesia da vida. Ver a arte antes mesmo dela existir. Estes fatores de criatividade e criticidade se mostram presentes no mexicano Del Toro. O diretor reuniu em “O labirinto do Fauno” uma série de metáforas e alegorias, fazendo do filme uma excelente obra destinada a públicos diversos, principalmente para aqueles estudiosos da Guerra Civil Espanhola. Além disso, inteligentemente, Del Toro transporta seu argumento para o campo. Cercado de florestas, o público se sente confortável em aceitar que possa existir por ali um universo mítico. Envolvendo este universo estão as duras cercas do mundo real, chamando a atenção do público e dos apreciadores da arte cinematográfica.


Anne