sábado, 26 de setembro de 2009

SÓ ME RESTA A CONCLUSÃO FELIZ...

Não sei se eu já confessei este hábito, mas, sempre que estou a ler um livro de ficção, deixo para saborear o último capítulo, por separado, num contexto reservado. Pois bem, li irregularmente as primeiras 186 páginas da edição que ora leio de “Memórias de um Sargento de Milícias” (1853), único romance publicado por Manuel Antônio de Almeida (!), que o fez aos 21 anos de idade. Conforme disse antes, achei-o um tanto enfadonho no começo, mas apaixonante depois que começa a falar de amor(es). Em dado momento, a fim de explicar como se chega ao coração de um homem que tem em suas mãos os destinos de outrem, o cínico narrador diz:

“Dizem todos, e os poetas juram e tresjuram, que o verdadeiro amor é o primeiro; temos estudado a matéria, e acreditamos hoje que não há que fiar em poetas: chegamos por nossas investigações à conclusão de que o verdadeiro amor, ou são todos ou é um só, e neste caso não é o primeiro, é o último. O último é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda. As leitoras que não concordarem com esta doutrina convençam-me do contrário, se são disso capazes”.

Seria eu capaz de negar isto? Que seja, faltam apenas as três páginas curtas do de um capítulo intitulado “”Conclusão Feliz” para que eu dê por completa a leitura deste livro, enfim, surpreendente. E, qual não foi a minha surpresa ao descobrir um disco homônimo do Martinho da Vila, datado de 1971, com este título? Não o conhecia e confesso ser apenas um apreciador tangencial do artista, mas fiquei curioso para ouvi-lo. Alguém pode me fazer alguma recomendação antes que eu inicie (e seja seduzido) por um novo romance, tão verdadeiro quanto qualquer outro amor?

Wesley PC>

E, SÓ PARA DILUIR QUALQUER EFEITO NEGATIVO DA POSTAGEM ANTERIOR, UMA TRIVIALIDADE IDEOLÓGICA (PORQUE SÃO ELAS QUE FAZEM O MUNDO GIRAR)

Na semana passada, eu e alguns amigos vimos “A Pequena Sereia” (1989, de John Musker & Ron Clements), por sugestão minha, que havia detestado o filme, da primeira vez que entrei em contato com ele. Insisti em fazê-lo porque queria comparar com outro filme sobre tema aparente semelhante e porque os desenhos animados da Disney são ferramentas mui precisas para se analisar a decadência (ou não) das formas narrativas clássicas hollywoodianas. Todos os presentes na sala consentiram, vimos o filme.

Ariel é uma sereia e coleciona coisas dos seres humanos atirados ao mar. Em outras palavras: ela é tão atraída pelo lixo de outras espécies que venera um simples garfo como sendo “a coisa mais linda do mundo”, sendo que seu pai possui um similar e enorme tridente como instrumento acessório de poder. Apaixonada pelo humano que ela salva do afogamento após uma tempestade, ela faz um pacto legislativo com uma bruxa molusca malévola e abdica do que mais tem de relevante em seu corpo (a voz) em favor de um romance. Porém, o rapaz por quem ela se apaixona ficara atraído justamente por sua voz e, muda, ele não a reconhece e não se interessa por ela de imediato. Até que... Até que... Ah, vejam o filme!

O que importa nesta experiência é que constatei que rever este tipo de filme ultra-pernicioso no plano ideológico entre amigos é deveras salutar, no sentido de que, interagindo discursivamente, percebemos intenções subliminares por detrás de todas as boas intenções da trama superficial. Neste sentido, o filme foi acusado de favorecer oportunas sugestões de amor inter-racial e de patrocinar a interação xenofílica, mas... Foi o discurso do siri Sebastião o que mais me convenceu, através da canção “Under the Sea”, vencedora do Oscar naquele ano e assim traduzida na versão dublada do filme:

“O fruto do meu vizinho parece melhor que o meu
O sonho de ir lá em cima, eu creio que é engano seu
Você tem aqui no fundo, conforto até demais
É tão belo o nosso mundo, o que você quer mais?

Onde eu nasci, onde eu cresci
É mais molhado, eu sou vibrado por tudo aqui
Lá se trabalha o dia inteiro, lá são escravos do dinheiro
A vida é boa, eu vivo à toa, onde eu nasci

O peixe vive contente, aqui debaixo do mar

O peixe que vai pra terra não sabe onde vai parar
Às vezes vai pra um aquári, que não é ruim de fato
Mas quando o homem tem fome, o peixe vai para o prato (oh não)

Vou lhe contar:
Aqui no mar, ninguém nos segue nem nos persegue pra nos fritar
Se os peixes querem ver o sol, tome cuidado com o anzol
Até o escuro é mais seguro
Aqui no mar, aqui no mar”

E aí, convence?

Wesley PC>

PERGUNTA: “O QUE FOI QUE OS FORASTEIROS NOS TROUXERAM DE BOM?”. RESPOSTA: “SUA MÚSICA”

Este é apenas um ponto de vista extraído do novo clássico “Ondas do Destino” (1996), um dos propalados espetáculos de paixão e sadismo dirigidos pelo dinamarquês Lars Von Trier. Para além de eu legitimar ou não este diálogo contido nos primeiros 5 minutos de filme e que trata, nada mais, nada menos, de um argumento chinfrim para que a angustiada Bess (Emily Watson) consiga a permissão dos anciãos de sua aldeia para casar-se com um petroleiro estrangeiro, a trilha sonora do mesmo (ou, mais particularmente, uma canção) é o que está a conter o meu esmagamento neste exato momento. Nome da canção: “Your Song”, de Elton John, executada antes de um epílogo fúnebre. Já falei sobre esta canção aqui no blog, mas não custa nada traduzir alguns de seus versos e deixar claro em que(m) penso quando ela escuto (algo que agora faço):

“É um tanto engraçado este sentimento interior
Eu não sou daqueles que conseguem escondê-lo facilmente
EU não tenho muito dinheiro, mas, rapaz, se eu tivesse
Eu te compraria uma grande casa, onde poderíamos viver
(...)
Eu sei que não é muito, mas este é o melhor que eu posso fazer:
Meu presente é esta canção e ela é para ti
E tu podes dizer para todo mundo que está é tua canção
Pode ser muito simples, mas agora já está feita

Eu espero que tu não te importes
Eu espero que tu não te importes que eu ponha em palavras, mas
Como é maravilhosa a vida quando tu estás no mundo”!


Como explicar o que esta canção, tão bem utilizada numa das cenas finais do filme, me causou sem estragar as dolorosas surpresas de quem ainda não assistiu a esta preciosidade cruel e tão realista em seus exageros neuróticos? Como?

Em verdade, a trama do filme é bem simples: uma moçoila solitária de uma cidade isolada deseja se casar. Apaixona-se perdidamente pelo escandinavo que ocasionalmente encontra e consegue a permissão para sair de casa e viver em comunhão marital. Ele, porém, precisa voltar ao trabalho. Ela grita e chora copiosamente quando ele embarca num helicóptero da empresa petrolífera, mas, ao final, é obrigada a consentir em sua partida. Pede a sua mãe fanática religiosa para passar uns dias em sua casa, enquanto espera que ele a telefone, o que o faz com muito atraso, em virtude de mudanças nos turnos de trabalho. Algum tempo depois, ele volta para casa, com um detalhe: sofrera um acidente gravíssimo e está à beira da morte. Crente de que pode conversar com Deus e atendendo a um pedido moribundo de seu amado esposo, ela entrega seu corpo até tão pouco tempo virgem a outros homens, incluindo a tripulação criminosa de um navio. O que acontecerá a partir daí?

Desde o primeiro momento do filme, eu sabia. Eu sabia porque, no lugar dela, faria tudo igualzinho. Por mais que eu tenha plena consciência de que é errado (é errado?), eu faria tudo igual. Eu me entregaria, eu me diluiria, eu me devastaria por amor. Amor a Deus, amor a um determinado ser humano, amor ao que quer que fosse...

Segundo o que eu li sobre a biografia do diretor, uma de suas principais influências literárias é uma obra literária pueril chamada “Coração de Ouro”, a que lera várias vezes na infância. É sobre uma jovenzinha que doa tudo o que tem por filantropia extremada. O final, como em todo livro infantil com mensagens positivas sobre a vida, é feliz, mas... Faltava justamente a página final no exemplar do livro a que o pequeno Lars von Trier teve acesso. Conclusão: não houve o final feliz, não houve a recompensa da bondade, detalhe este que me fez crer ainda mais na tese de um grande amigo meu, que afirmou que, mais do que um seguidor kierkegaardiano, a perversão crescente dos filmes de Lars Von Trier é de cunho pascaliano. Verdade! Afinal de contas, ter fé é como uma aposta: o que se perde se não houver nada ao final de nossas ações? Resta a crença!

Não à toa, portanto, a longa duração do filme é dividida em capítulos. São através destas divisões capitulares que entramos em contato com paisagens naturais gradualmente modificadas, com as antológicas canções ‘pop’ da década de 1970 (interpretadas, além do já citado Elton John, por David Bowie, T-Rex, Deep Purple, Jethro Tull e Roxy Music, entre outros nomes célebres) e com palavras de ordem como Vida, Solidão, Fé, Sacrifício e Funeral. Eis, distintamente, sinônimos precisos para o quer dizer Paixão!

Em dado momento do filme, a personagem principal é condenada por se entregar à lascívia aos prazeres do corpo. Ela insiste que só o fez por amor pleno a seu marido, que implorava para que ela assim agisse, ao que ela insistentemente argüia: “mas eu não amo mais ninguém além de ti”. Ele, secamente ordenava: “prove!”. Ela bem o fez. Eu bem o faria.

Aliás, pretendia utilizar a foto (polêmica?) que emoldura esta postagem intimista/exibicionista com a paráfrase “quem eu quero não me quer”, aproveitando a oportunidade para dizer que, ao contrário do que continua esta canção popular, eu não consigo desquerer quem supostamente me quer. Tentaria manter-me através de exemplos neutros, mas... Não sou destes. Sou daqueles que amam, daqueles que prejudicam por crerem que só querem fazer o bem a quem amam... Sou destes!

Faria tudo igualzinho, tu-sabes-quem!

Wesley PC>

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

“HOJE EU PERCEBI QUE VENHO ME APEGANDO ÀS COISAS MATERIAIS QUE ME DÃO PRAZER”...

Enquanto muitas pessoas queridas prestigiavam uma palestra sobre a teoria ‘queer’ via Judith Butler [uma autora de quem, até então, nunca ouvira falar], eu estava preparando-me para sair do trabalho, dado que havia encerrado o meu expediente. No corredor da Reitoria da UFS, ouvi alguém falando ao microfone e percebi várias pessoas bonitas (no sentido quase negativo da palavra) perambulando pelo ambiente. Sentei-me numa cadeira branca e logo descobri que se tratava de uma cerimônia de encerramento de um evento internacional de estudantes de Direito. A pessoa falando ao microfone era um concludente do curso, conhecido por seu conservadorismo e sua vinculação atual ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFS. Este narrava a sua trajetória de vida e elogiava uma professora primária de Cedro de São João, que lhe ensinara o seguinte lema: “se tu não podes ser o melhor em algo, dê o melhor de si e, com certeza, serás um dos melhores”. Ao final de sua fala, uma suposta citação do lema dos estudantes revoltosos franceses de maio de 1968. “Se aqueles diziam: ‘seja realista. Realize o impossível’, nós aqui do Brasil fazemos as coisas diferentes: ‘somos realistas. Realizamos as coisas das melhores maneiras, na medida do possível’”. As palmas de sempre - e eu ciente de que havia escutado uma das mais estranhas inversões parafrásticas deste ano!

Saí dali. Caminhei um pouco e encasquetei de passar no departamento de História, para ver se encontrava alguém conhecido. Num auditório, deparo-me com Luiz Ferreira Neto, deslumbradíssimo com a doutoranda palestrante, que ministrava algo sobre Judith Butler, filósofa feminista norte-americana. Conforme já disse, não conhecia a autora até então. Conversei com alguns amigos e fui embora. Não me sentia muito identitário para assistir à palestra pela metade. No caminho, ouvi “Lóki?” (1974), obra-prima musical de Arnaldo Baptista. Até que eu cheguei em casa... E não tenho nenhum jargão de professora primária para citar!

Wesley PC>

“NOTHING GONNA CHANGE MY WORLD”?

Quando “A Vida em Preto e Branco” (1998, de Gary Ross) foi exibido no SBT há alguns anos, vi-o por pura obrigação. Cria eu que, para além dos inspirados efeitos de fotografia e do roteiro simpático e inverossímil, o filme seria pouco mais do que um daqueles confeitos oportunistas costumeiramente lançados em épocas de indicação aos prêmios da Academia de Cinema Norte-Americano. Surpreendi-me: o filme arrancou-me lágrimas sinceras. Por debaixo daquela trama divertida sobre um menino e uma menina que adentravam o mundo conservador de um seriado em preto-e-branco, havia uma crítica severa contra os preconceitos que os “coloridos” sofrem – e, ao final, em meio a uma troca de carícias tripla e madura, somos apresentados a uma encantatória versão de “Across the Universe”, na voz de Fiona Apple, conhecida por ter sido estuprada na tenra juventude. Pouco conhecia de The Beatles nesta época, muito conhecia sobre os preconceitos acromáticos. Revi o filme após alguns meses e as lágrimas quadruplicaram em meus olhos e alma. Sou particularmente atingido pela cena em que a dona-de-casa padrão (magnificamente vivida por Joan Allen) tenta se masturbar pela primeira vez e causa a combustão espontânea de uma árvore. As cores apareceram tardiamente em sua vida, graças à ajuda de alguém que veio de fora. Existem pessoas do “lado de fora”! Hoje, por exemplo, vi o verso que intitula essa postagem catártica acompanhar, à guisa de moldura emtovia, a bela fotografia oblíqua de uma jovem habitante da cidade de Recife e, ao contrário do que ela deixou perceber, sinto, não tão amedrontado quando antes, que quase qualquer coisa pode mudar meu mundo.

“Sounds of laughter, shades of love are ringing through my opened ears, inciting and inviting me.
Limitless undying love, which shines around me like a million suns,
And calls me on and on across the universe”

Quase qualquer coisa pode mudar meu mundo!

Wesley PC>

“TODOS DIZEM EU TE AMO”?


Todos dizem? Deveriam, talvez...

Assim asseveram os personagens de um dos filmes mais originais e insuspeitos do prolífico Woody Allen: “Todos Dizem Eu Te Amo” (1996). Trata-se de um musical protagonizado pelo próprio diretor, Julia Roberts, Goldie Hawn, Drew Barrymore, Edward Norton e grande elenco. Todos os atributos publicitários do filme poderiam fazer com que este fosse um dos trabalhos mais conhecidos do grande público deste brilhante cineasta (eu, por exemplo, vi este filme pela primeira vez no horário nobre de um canal da TV aberta), mas pouquíssima gente viu esta obra de arte, este apelo à vida, este elogio encantado à arte de viver...

Naquela que talvez seja a melhor e mais divertida cena do filme, a alma de um velhinho recém-falecido levanta-se e convoca os presentes ao seu velório a aproveitarem a vida enquanto ainda têm tempo; noutra cena, um noivo apaixonado disfarça a sua falta de dinheiro para comprar um presente material encetando “My Baby Just Cares for Me”, eternizada na voz da imortal Nina Simone; e, em vários e preciosos momentos, os personagens cantam “I’m Thru With Love”, cantada por Marilyn Monroe num celebre clássico do Billy Wilder. Na cena final, a ex-esposa do protagonista literalmente voa enquanto pronuncia os versos tristes da canção. O amor é algo perene...

“I'm through with love
I'll never fall again.
Said ‘adieu’ to love
Don't ever call again.
For I must have you or no one
And so I'm through with love”

Antes de a sessão findar, pensava eu em escrever um texto citando nomes bem específicos, pôr aqui uma imagem pessoal, declarar o meu amor incondicional a “sabemos bem quem”, mas agora o deslumbramento sincero que estou a sentir me faz perguntar “de que adianta?”. De que adianta? Contrariando o título do filme e a fascinante cena final, talvez ainda haja quem não diga “eu te amo”, quem não se deixe ser amado, quem não se importe, quem esteja acima (ou abaixo) disso, quem esteja cheio do amor... Não é meu caso, nem do Woody Allen, que continua a lançar filmes no mundo como se fossem gotas de sêmen...

Vale lembrar que este foi o primeiro de seus filmes a conter cenas fundamentais longe da cidade de Nova York, que este filme abriu espaço para as produções atípicas (e, ainda assim, apreciabilíssimas) rodadas na Europa, que estamos a conhecer hodiernamente. Se Woody Allen é um gênio mesmo quando erra, imaginem o que ele causa neste que é um de seus filmes mais graciosos e injustiçados...

Wesley PC>

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ESTAMOS EM 2009. ANO PASSADO FOI 2008, ANO QUE VEM SERÁ 2010.

Noite de quinta-feira. Enfadado pelo excesso de trabalho, invento de ouvir canções do (meu) passado. Em meio a Jane & Herondy, Mara Maravilha, Chiquititas, Sarajane, José Augusto,Vovó Mafalda, Pimpinella, Genival Lacerda, Marcelo Augusto, Harry Nilsson, Vange Leonel, Luan & Vanessa, Trem da Alegria e congêneres, redescobri o francês Jordy, que consta do Livro dos Recordes como sendo o artista mais novo (4 anos) a ter conquistado o primeiro lugar em venda de ‘singles’. A música em questão era “Dur Dur D’Être Bebé”, que eu detestava quando foi lançada. Fiquei curioso para saber como o tazlinho estava hoje em dia e, para a minha não-surpresa, ele é um galego mui gracioso e obviamente mal-sucedido na carreira. Porém, aos 18 anos de idade, ele tentou de novo e lançou o álbum “Je T’Apprendai” (2006). Ouvi as primeiras frases da canção-título. Quando tiver um tempinho livre, vou baixar. “Recordar é viver”, já dizia o satírico narrador de um famoso curta-metragem do Jorge Furtado...

Wesley PC>

“EXPANSORES DO MÚSCULO CEREBRAL” NO CINEMA – UMA INTRODUÇÃO SUBJETIVA:


Na tarde de ontem, Rafael Torres pediu-me encarecidamente que eu escrever algo atrelando a Sétima Arte à Psicodelia. Para além de achar a tarefa deveras lisonjeira, creio que muitos já o fizeram antes de mim, de maneira que só dignificaria tal intento se o fizesse através de um viés fortemente pessoal. Deixarei tal diligência para uma oportunidade vindoura. Por ora, adianto o tema por um ângulo transversal: como, até então, os “expansores do músculo cerebral” manifestaram-se ante mim através dos filmes?

Antes de qualquer coisa, convém adiantar de onde tirei tal expressão sinonímica: graças a uma definição de Arnaldo Baptista, que assim definiu as substâncias com efeitos concomitantes à maconha e ao LSD. Li uma de suas entrevistas recentes e, ao falar sobre os rituais grupais experimentados na Europa, no final da década de 1960. Fiquei contente ao ler tal expressão. Poderia assim abandonar o termo pejorativo (ou, no mínimo, demasiado genérico) drogas.

Quando foi que vi alguém utilizando tais substâncias expansoras num filme pela primeira vez? Acho que tal rememoração específica é irrelevante. Prefiro esboçar comentários sobre cinco de minhas experiências mais marcantes:

1 – TEMPOS MODERNOS (1936, de Charlie Chaplin): quem mais senão este gênio absoluto poderia cometer a ousadia de fazer com que um presidiário, gozando de “boa vida” na prisão, ingerisse por engano uma larga porção de cocaína diluído em seu café e, assim, malograr uma rebelião de encarcerado e ser libertado por bom comportamento, voltando a ser um infeliz sem-teto? Se este brilhante esteta tragicômico já havia causado o meu estupor prolongado no curta-metragem “Rua da Paz” (1917), quando flagramos um bandido injetando heroína em seu braço, aqui ele apresenta todas as contradições e ambigüidades ensejadas no extraordinário título do filme, sem dúvida, um dos melhores já lançados em toda sua História!

2 – O HOMEM DO BRAÇO DE OURO (1955, de Otto Preminger): clássico sofrido sobre um músico (interpretado por Frank Sinatra), que sai de um centro de reabilitação para viciados em heroína e se encontra dividido entre o tédio, o desemprego, os preconceitos e duas mulheres, uma sinceramente apaixonada e outra chantagista e louca. As cenas de abstinência são violentamente dramáticas!

3 – TRAINSPOTTING – SEM LIMITES (1996, de Danny Boyle): a obra-prima absoluta sobre o tema, o filme que, até então, melhor apresentou a questão sem os perniciosos julgamentos morais ou sem as perigosas apologias juvenis parciais. No filme, conhecido, visto e elogiado por quase todos, um grupo de amigos (ou conhecidos) escoceses reagem à heroína e ao que está atrelado a ela, no sentido gregário do termo, usando até mesmo Vitamina C, “desde que esta fosse proibida”. Uma aula de livre-arbítrio!

4 – RÉQUIEM PARA UM SONHO (2001, de Darren Aronofsky): não obstante este filme ser bastante elogiado por jovens deslumbrados, acho a sua abordagem negativa, no sentido de que o pretensioso diretor utiliza seus bem-sucedidos recursos videoclipescos para cometer uma atrocidade moralista, em que o castigo para os vícios mais diversos é imposto como se fosse um imperativo categórico. É um filme que diverte e seduz, mas, enquanto discurso, é nojoso, deplorável. Pode ser bom, admito, mas deve ser recomendado com muitíssima cautela, em casos direcionados, deveria vir com uma bula acoplada ao seu suporte midiático.

5 – Por fim, CIDADE DE DEUS (2002, de Fernando Meirelles & Kátia Lund): admito que é delicado assumir que gosto deveras deste filme, mas, por enxergar de dentro o problema do tráfico de drogas (neste caso, utilizar o termo ‘drogas’ é importante), a maneira como o magno roteirista Paulo Lins instiga os espectadores ao fazer com que eles percebam-se como sutis mantenedores do sistema longevo de perpetuação da malevolência sistemática neste filme me fizeram sentir assustadoramente contemplado: o que acontece nas cidades-cenário deste filme acontece ao redor de todo o mundo, neste exato momento. Fica o aviso a mim mesmo.

Ficam aqui os primeiros passos de minha abordagem temática e, na foto, uma campanha publicitária antiga, de uma época em que os portadores privilegiados destas substâncias “expansoras” utilizavam-na a seu bel-prazer comercial. Conforme diz o povo, este tema é muito mais delicado do que parece num primeiro bater de teclas. Para além do bem e/ou do mal, o tema voltará...

Wesley PC>

LAMENTO LIBANÊS (EM PRIMEIRA PESSOA):

“Law kan da hob ya waili mino
W law kan da zanbi matoub aano
Law kan naseebi aaeesh fey gerah
Hayaeesh fey gerah”

Ou, em bom português:

“Se isto é amor, minha miséria provém dele
E se eu for me culpar, é porque não consigo dizer ‘nunca mais’
E se isto me fizer viver no tormento,
Sim, eu devo viver no tormento”

Assim canta a musa ‘pop’ libanesa Nancy Ajram, na faixa 04 do álbum “Ah W Noss” (2004), “Enta Eih”, em que ela se pergunta onde está o repsonsável por seu amor, o homem a quem ela permite não ter a menor piedade para com ela. “Por que toda ternura se foi do meu coração quando eu perdi a minha fé em ti?”. Não sou capaz de responder!


Wesley PC>

SE AINDA DER TEMPO...


A partir de que momento se pode declarar uma situação irremediável? Até quando merecemos uma segunda chance? Há um momento limítrofe para a desistência? Até onde se deve ou se pode ir em dados investimentos lidibinais? Quem determina os nossos limites: nós mesmos ou as situações e pessoas que confrontamos? Amor é hierarquizável? Todas estas questões são respondidas (ou, na pior das hipóteses, antecipadas) no maravilhoso filme “O Beijo Amargo” (1964), dirigido pelo subversivo Samuel Fuller, um dos cineastas mais originais e “contrabandistas” que existem num dos filmes mais fabulosos e pessoais com que já tive a glória de entrar em contato. Mediante prévias organizações, este filme será exibido em Gomorra na noite de hoje, às 20h15’. Se alguém tiver interesse de conferi-lo...

Em linhas gerais, a trama é focada numa prostituta careca (interpretada por Constance Towers), vilipendiada sem tréguas pelo cafetão, que foge de sua cidade natal e resolve tentar vida nova noutro lugar, empregando-se como enfermeira numa clínica para deficientes físicos. Torna-se uma funcionária exemplar, uma filantropa modelar, mas as chantagens efetivadas por um policial molestador a fazem questionar a possibilidade de seguir em frente. Acontece o mesmo comigo. Vi-me completamente agraciado pelo filme. Gostaria que o vissem... Gostaria que o vissem!

Wesley PC>

“LEMBREI, É PANGLOSS!”


Assim gritei num ônibus, quando finalmente consegui lembrar o nome do mentor do personagem-título mais célebre do iluminista Voltaire. Passei o dia inteiro conversando sobre a lógica do “tudo é para o melhor, neste que é o melhor dos mundos”, mas não consegui lembrar o nome de seu idealizador, baseado no filósofo Gottfried Leibnz. Demorou, mas lembrei – e foi lindo e curativo!

Na noite de ontem, visitei Gomorra. Estava com algumas bananas na bolsa e ofereci-as ao meu amigo Glauco. Ele respondeu-me: “ôba, Wesley, vamos fazer um cuscuz?”. Consenti. Quando o referido cuscuz estava sendo cozido, no frescor de sua derivação de milho, senti um estranho cheiro de azedo. Fiz o absurdo comentário olfativo com o cozinheiro e este perguntou se eu estava a padecer daquela doença que nos faz perder a capacidade de reconhecer adequadamente os cheiros das coisas. Nome da doença? Não conseguia lembrar, mas sabia que tal patologia fora tema de um belo filme triste independente, do qual não conseguia lembrar também o nome. Sabia que três garotinhos de 12 anos o protagonizavam. Um deles, gêmeo de um garoto falecido em virtude de um espancamento, alimenta em si fortes intentos de vingança e torna-se um homicida ainda na adolescência. Uma garotinha precoce descobre a sexualidade ao se apaixonar pelos clientes de sua mãe psicóloga. E o terceiro personagem foi aquele que mais me intrigou: um rapazola obeso que detesta maçã, mas, ao padecer da referida doença, após inúmeros sangramentos no nariz, torna-se um consumidor compulsivo da referida fruta. Nome do filme? Nome da doença? Estava tudo na ponta da língua, mas não conseguia lembrar!

Percebi que um grande amor estava presente também no recinto. Encontrei-o num canto da geladeira e conversamos sobre o que ele estava a assistir recentemente, no plano midiático. Ele me falou sobre a telessérie “Dexter”, da qual tornamo-nos fãs do amargurado protagonista. Conversamos, e, para mim, foi bom, muito bom, o melhor momento da noite. Nem dei quatro passos e uma epifania instaurou-se em minha cabeça: o produtor executivo da telessérie, e diretor dos quatro primeiros episódios da mesma, é o diretor do filme cujo título eu queria lembrar há pouco: Michael Cuesta! Conclusão: tudo se revelou. Nome do filme: “12 Anos e Pouca Ilusão” (2005). Gritei “eureka” e minha vida pareceu ter sentido por alguns instantes. Foi lindo!

Daquele momento em diante, tudo seria água abaixo em minha vida. Mas podemos ser maiores do que nossa própria desesperança. E, ao menos, pelo que me conste, ainda não sofro de anosmia, a maldita da doença causadora de degeneração dos nervos olfativos, cujo nome eu desesperadamente pelejei para lembrar...

Wesley PC>

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SÓ EU QUE NÃO TENHO SAUDADES DE MINHA INFÂNCIA?

Na noite de ontem, assisti ao segundo longa-metragem do cineasta norte-americano Frank Oz, “Os Muppets Conquistam Nova York” (1984), ao lado de minha mãe. Não obstante o filme ser repleto de situações simplistas, costumeiras em filmes infantis (o que faz com que este seja um dos subgêneros cinematográficos que menos aprecio), relevei-as em virtude justamente das convenções genéricas. Aliás, comprando o filme com as produções seguintes do diretor Frank Oz, fiquei tão empolgado que escrevi uma pequena exegese noutra página virtual:

A partir de “A Pequena Loja dos Horrores” (1986), ótima regravação de um clássico de Roger Corman, o cineasta sempre aborda temas polêmicos sob o viés da comédia leve e rasgada, seja o masoquismo neste, o oportunismo monetário-sexual em “Os Safados” (1988), o Transtorno Obsessivo-Compulsivo em “Nosso Querido Bob” (1991), o homossexualismo em “Será que Ele é?” (1997), a autoria cinematográfica em “Os Picaretas” (1999), e a guerra dos sexos em “Mulheres Perfeitas”. Ainda não vi seu filme mais recente, “Morte no Funeral” (2007), mas sei que alguns desses temas voltam a ser abordados. Conclusão: mesmo derrapando em alguns filmes [“A Chave Mágica” (1995), por exemplo], a insistente ousadia de Frank Oz merece, no mínimo, nossa atenção e curiosidade. Convém ficar de olho!

Lembrei de um famoso desenho animado que eu assistia na infância, protagonizado pelos famosos personagens de Jim Henson, em versão infantil. Ficava encantado com aqueles personagens (me identificava com o estranho Gonzo, que, num episódio genial, tentava identificar a que classe animal ele pertencia), gargalhava sempre que as pernas da Babá apareciam de relance, amava a abertura musical do seriado animado, desgostava da personagem suína Piggy, não obstante achar encantatório o seu amor incondicional pelo anuro Caco. Na melhor cena do filme visto ontem, inclusive, há um ‘flashback’, no qual todos os personagens testemunham um juramento de amor eterno por esta porquinha. Foi lindo!

Contudo, receio não sentir saudades daquele tempo, em que “Muppet Babies” era exibido diariamente nas manhãs do canal SBT. Os desenhos animados eram melhores, a programação dos canais de TV, as músicas no rádio, etc., etc.. Mas, como diria Jesus Cristo, “antigamente, quando eu era menino, eu agia como menino, falava como menino, pensava como menino”. Agora que sou homem...

Wesley PC>

“GOOGLE IT!”

Tu conheces o Paulo Antonio Lopes Santana? Não? Pois bem, este rapaz é especialista num jogo eletrônico para Nintendo chamado Zelda e estuda Jornalismo na Universidade Federal de Sergipe. Na última segunda-feira, eu, ele e outrem discutimos sobre a predominância dos mecanismos virtuais de busca cibernética de pessoas comuns. Ele, inclusive, comentou a existência de uma conhecida expressão anglofílica, com valor de verbo, que corresponde ao título desta postagem. Pus o nome do referido rapaz no Google e descobri que ele foi responsável, em 2008, por pendências burocráticas relacionadas ao ENADE dos estudantes de Laranjeiras. Menino ocupado...

Fiz o mesmo com meu nome completo e descobri que um homônimo mineiro faleceu em 26 de março de 2007, pouco tempo depois de seu Título Eleitoral ficar disponível no Tribunal Eleitoral do referido Estado. Tornou-se agora uma obsessão fetichista de minha parte: antes de morrer, serei fotografado no túmulo de Wesley Pereira de Castro! Poderia ser eu...

Notícia completa aqui. Vale a pena ler o texto na íntegra.

Wesley PC>

O PROCESSO DE REDIGNIFICAÇÃO DO ‘POP’ (NO MAU SENTIDO DO TERMO)

No local em que trabalho, as mulheres acima dos 50 anos de idade comprazem-se em possuírem vários automóveis. Uma delas comprou um estonteante veículo na semana passada e, como tal, não pára de fazer alarde, de comemorar sua mais nova (e exibicionista) aquisição. Até que, coitados de nós, ela descobriu uma chula versão em português de “A Thousand Miles” (composta e interpretada por Vanessa Carlton), na qual a assassina da canção original comemora os passeios que fará em seu carro chique. Não preciso dizer o quanto esta horrível versão comercial é executada aqui no DAA, mas, como possuo o disco de estréia da Vanessa Carlton, “Be Not Nobody” (2002), foi com ele que eu me consolei na manhã de hoje. Com todos os problemas e concessões atrelados ao ‘pop’ atual norte-americano, insisto em dizer que o disco da pianista pós-adolescente é muito agradável.

Além da já clássica “A Thousand Miles”, merece destaque no disco a deliciosa regravação de “Paint in Black”, de The Rolling Stones, na voz suave da cantora, e a última faixa “Twilight”, cuja letra fala sobre a impossibilidade de se ver o céu da mesma forma depois que se diz ‘adeus’. A agonia crescente em sua voz, cada vez mais gemebunda à medida que a canção evolui, faz com que compactuemos facilmente com seu estado de espírito, de tal forma que não é nenhuma surpresa se eu confessasse aqui que costumo repetir esta canção várias e várias vezes sempre que escuto o disco...

“I was stained, by a role, in a day not my own
But as you walked into my life you showed what needed to be shown
And I always knew, what was rightI just didn´t know that I might
Peel away and choose to see with such a different sight”

No geral, o disco é bobo como toda menininha apaixonada, mas quem consegue resistir a canções simpaticíssimas como “Pretty Baby”, “Rinse” e “Paradise”? Definitivamente, eu e os espectadores-padrão de televonelas não somos destes!

Wesley PC>

terça-feira, 22 de setembro de 2009

NUNCA MAIS EU PONHO UM CIGARRO DE MACONHA NAS MÃOS (RISOS)!


Antes de ver um filme, pessoas diferentes seguem rituais diferentes. Alguns se banham, alguns se alimentam, alguns desligam o celular, alguns se deitam em locais confortáveis, alguns fazem cocô enquanto rezam. Eu basicamente abdico de toda e qualquer pendência que esteja a me incomodar, a fim de que as imagens, sons e interstícios lingüísticos na tela mantenham-me num estado de estupor político-estético que, com o tempo, ajudar-me-á a resolver, inclusive, as pendências existentes.

Pois bem, na noite de ontem, enquanto alguns amigos meus divertiam-se com a ingestão de “amplificadores do músculo cerebral”, eu segurei o que cognominam como “pacaio” nas mãos. Fiz pose, sorri, mas, quem me conhece sabe o porquê, não pus o referido cigarro em minha boca. Mas fiquei lombrado! Via filtros d’água em lugar de geladeiras e vice-versa. Relembrei eventos de minha adolescência sociopática e troquei experiências com os demais graduados/graduandos em Comunicação Social do recinto. Sorri e lembrei que chorei. Percebi que, agora, enquanto escrevo estas linhas, estou bem melhor do que sempre estive. Por mais que eu não enxergue evolução como um termo substitutivo, os adendos conscienciosos de minha vida pós-Gomorra revelam-se cada vez mais e mais como aditivos. Tenho do que me orgulhar: sou um sobrevivente!

Na tarde de hoje, conversava com um afetado colega de trabalho e enumerei, mais uma vez, os motivos traumáticos que me levaram a desgostar de beijos na boca: quando pequeno, enquanto fazia sexo com meninos e meninas de todas as idades e raças, sempre tentava pôr minha língua em seus orifícios bucais. Eles nunca deixavam! Não importava o que fazia com minha genitália ou com a deles, mas boca com boca não me era permitido! Depois que me tornei um fanático católico, fui afligido por cáries frontais. Sofri rejeições esperadas por conta deste problema de saúde no colégio. O trauma anti-beijo aumentou. Hoje, de vez em quando, até disponho de oportunidades para beijar outrem, mas recuso, evito, corro, tenho medo! Mas, por dentro, será que eu sonho em corrigir este problema? Todos que conheço dizem que “beijar é tão bom”...

Que seja, recebi um telefonema hoje á noite e o amigo do outro lado da linha perguntou o motivo de eu ainda não ter feito qualquer comentário escrito sobre a sessão nostálgica de ontem á noite. Faço-o agora – eis a catarse: estou vivo!

Wesley PC>

“O CRISTAL ENCANTADO” (1982, DE JIM HENSON & FRANK OZ)

Mesmo sonolento, na manhã de hoje, desejei consumir um filme há muito gravado em minha casa e deveras elogiado pelos especialistas em filmes infantis. Seus diretores são referências superiores na confecção de bonecos simpáticos e, no filme ora comentado, uma admoestação era destacada no que diz respeito ao perfeccionismo dos mesmos. Segundo o artigo que eu li, a riqueza de detalhes nos bonecos dificultaria a atenção do espectador, mas, em minha opinião, este não me foi um problema: visualmente e musicalmente, o filme é estonteante. O problema é que o roteiro me pareceu senso-comunal, salvo por alguns detalhes sabiamente previsíveis no que diz respeito à dicotomização de alguns personagens. Por ter visto e revisto um clássico infantil de Wolfgang Petersen na infância, todos os filmes fantasiosos a que vejo são comparados a este referencial posterior e comumente ficam abaixo de sua imponência mitológica, mas, ainda assim, “O Cristal Encantado” merece destaque.

Na trama, o cristal do título é um poderoso talismã cobiçado por duas castas de entes, uns bons, outros maus. Estes últimos dizimaram a população dos Gelfings, de quem só restaram os dois membros do casal mostrado na imagem. Segundo a lenda, há uma profecia que apregoa a vitória de Jen sobre os malévolos Skeksis, conforme educado pelos Mystics. O decorrer da trama é conhecido de antemão: o bem vence, mas a graciosidade daqueles bonecos é ainda mais vitoriosa!

Detalhe: estava com sono enquanto via o filme. Em alguns momentos, fiquei em dúvida se o ambiente onírico que se destacava na tela era realmente do filme ou era resultante de uma combinação mnemônica com meus próprios anseios pueris. Adormeci ao final da sessão. Sonhei. O amigável monstrinho Fizzgig fez lembrar meu falecido cachorrinho...

Wesley PC>

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CAPÍTULO 8 DA SEGUNDA PARTE DO LIVRO: “NOVOS AMORES”

Após muito tempo temeroso, resolvi arriscar a leitura do livro “Memórias de um Sargento de Milícias” (publicado entre 1852 e 1853), de Manuel Antonio de Almeida. Sempre cri que seria um romance enfadonho. Lembro que, quando criança, o referido livro foi adaptado para a televisão, com o ator Murilo Benício como protagonista, mas nada que me despertasse a atenção. Li o livro quase por obrigação, até que, no capítulo 21 da primeira parte (chamado “Contrariedades”), leio:

“Cremos, pelo que temos referido, que para nenhum dos leitores será ainda duvidoso que chegara ao Leonardo a hora de pagar o tributo de que ninguém escapa neste mundo, ainda que para alguns seja ele fácil e leve, e para outros pesado e custoso: o rapaz amava. É escusado dizer a quem”.


Fui tomado pelo encantamento. Finalmente havia encontrado algo que me fisgara definitivamente, algo que me permitia a contrafação, algo que me fezia ter intenções pessoais mui definidas no que diz respeito à conclusão da trama. Havia encantado-me, repito sumamente. Porém, seguindo em frente com a leitura, decsubro que inúmeras contrariedades, conforme anunciado pelo título do capítulo, impedirão a consumação ideal do amor do protagonista injustiçado e peralta, que se apaixonará por uma nova pessoa no finalzinho do capítulo 7 da segunda parte do livro. Interrompi a leitura. Fiquei assustado: não consigo imaginar um novo amor como substitutivo! Sou um tolo, ultra-romântico, talvez. O que, obviamente, não impede que eu elogie o estilo iconoclasta da narração, obviamente influenciado por Machado de Assis, em que, num dado momento, a instância narrativa diz que não sabe o que determinados personagens estão a conversar porque eles estão a falar muito baixo. Ok, Ok, por isso eu grito: SOU DESTES QUE AMAM! É escusado dizer a quem?

Wesley PC>

PLANOS PROTÓTIPOS PARA UMA SEGUNDA-FEIRA...

Meus amigos experientes costumam me dizer que evitar expectativas é um estratagema efetivo para se evitar as decepções. Acho que finalmente estou conseguindo compreender esta fórmula... Logo, tentarei pô-la em prática!

Expectativas à parte, para o CineGomorra de hoje à noite, foi prometida a presença do fagotista mais querido de nosso círculo de existência. Além disso, tenho gana de exibir “Operação Dragão” (1973, de Robert Clouse), clássico absoluto das artes marciais, que, para além de ser muito problemático no plano avaliativo cinematográfico mais geral, contribuiu para o reconhecimento de um subgênero muito valorizado por parcelas alternativas do público e entrou em decadência na contemporaneidade, em virtude da sobrevalorização quantitativa dos efeitos especiais e maquinários em detrimento das potencialidades naturais do corpo humano.

Para falar a verdade, nem gosto muito deste filme (só o vi uma vez, cabe aqui uma revisão) e a trama é tão banal que uma sinopse seria irrelevante, mas a construção dos arquétipos defensores de Hong Kong e as metáforas sobre a luta de classes que podem ser oportunamente retrabalhadas pelos obsessivos hermeneutas pós-marxianos. É uma excelente oportunidade para estudarmos o poder do mito, do ‘star system’ e de diversas outras ferramentas ideológicas. Afinal de contas, todo mundo conhece Bruce Lee, mas pouquíssimos viram seus filmes originais. Este aqui é considerado o melhor dentre aqueles que ele participou como ator. Infelizmente, o DVD que eu consegui, por acaso, contendo o referido filme, apresenta-o numa versão dublada. Dada a raridade e urgência da empreitada, tentarei convencer os companheiros de sessão a prestigiá-lo assim mesmo, dilacerado sonoramente. É pena, mas a necessidade de dirimir a perda crescente da historicidade nas obras de arte nos obriga a este tipo de concessão formal...

Detalhe: Quentin Tarantino gosta tanto do filme que ele é uma das trocentas mil referências contidas em “Kill Bill: Volume 1” (2003). Com todas suas deficiências visíveis (e audíveis), recomendo-o deveras.

Wesley PC>

domingo, 20 de setembro de 2009

“PASSEI TANTO TEMPO DENTRO DO OCEANO QUE, AGORA, QUANDO ESTOU FORA DELE, ELES ESTÃO COLOCANDO NOVAMENTE O OCEANO DENTRO DE MIM”

Esta é, basicamente, a conclusão a que o jovem ambientalista canadense Rob Stewart chega quando sua perna é infectada por estafilococos e ele observa a introdução de solução salina em suas veias. Para falar a verdade, não conhecia o trabalho deste belo ser (em mais de um sentido) até a tarde de hoje, quando assisti a “Sharkwater” (2006), escrito, dirigido, protagonizado, narrado e fotografado por ele. No documentário de longa-metragem, acompanhamos a sua luta para impedir a caçada ilegal de tubarões em lugares como as Ilhas Galápagos e a Costa Rica, onde tais animais são perseguidos e quase extintos em virtude da máfia oriental da barbatana.

Para além de registrar imagens impressionantes do ambiente marinho, desvendar mitos problemáticos sobre a falaciosa periculosidade de alguns tubarões e exibir seu corpo como parte ostensiva de um trabalho de proteção ambiental marinha, Rob Stewart também nos apresenta a um dos fundadores do Greepeace e explica os fundamentos radicais desta organização no que diz respeito à impetuosidade em evitar matanças de seres vivos por humanos gananciosos. Só por isso, já é muito e muito válido!

Várias foram as pessoas queridas que me recomendaram a audiência a este filme, que estava gravado em VHS em minha casa há alguns meses. Porém, depois que vi seu ‘trailer’ ostentar a coleção virtual de vídeos de Orkut de um adorável rapaz vegetariano com quem tive a honra de trocar algumas palavras no ENUDS, resolvi antecipar a apreensão de seu conteúdo. O rapaz recomendou-me cautela, dado que, segundo ele, este tipo de filme sempre o deixa deprimido, o que é fácil de entender o porquê (durante os créditos finais, soubemos que, enquanto assistíamos pacientemente ao filme, milhares de elasmobrânquios eram mortos ao redor do mundo), mas a reação emocional que se abateu sobre mim logo após a sessão não foi necessariamente a depressão, e sim uma revolta potente: em dada cena (real) do filme, os ambientalistas são presos pelas autoridades costarriquenhas logo após terem sido convocadas pelas mesmas para ajudarem a impedir formas ilegais de pesca. Nesse sentido, podemos acompanhar o quanto as chamadas Leis são oportunamente comandadas e modificadas pelos detentores do poder monetário. Absurdo!

Pode não ser um filme extraordinário no plano estético-inovador, mas em sua urgência, ele merece nossa recomendação clemente: busquem “Sharkwater” e adiram a mais esta causa – sem contar que o filme faz um interessantíssimo apelo às ações individuais e, neste sentido, a pujança ultra-personalista de Rob Stewart é digna de demorados panegíricos: sou, desde já, seu fã!

Wesley PC>

COINCIDÊNCIAS QUE (NÃO) FEREM...


Por algum estranho motivo, um trecho bem específico da canção “Sloop John B.”, de The Beach Boys, ficava indo e vindo em minha cabeça na sexta-feira pela manhã. Não ouvia a canção fazia tempo, mas aquele “I feel so broken” do refrão me parecia ideal para ficar repetindo e repetindo... Qual não foi a minha surpresa ao chegar em casa e, ao pôr um VHS para assistir a um programa de TV que gravara anteriormente, apertar o botão de execução justamente numa cena de um filme adolescente qualquer em que era pronunciado o referido verso da referida canção. Assustei-me. Sentia-me ferido conforme a canção anunciava... Simples coincidência ou esperada provocação?

Pois bem, seguindo a linha de casualidades, vi dois filmes independentes bastante diversos hoje: o norte-americano “Full Frontal” (2002, de Steven Soderbergh), ruim, e o espanhol “Azul Escuro Quase Preto” (2006, de Daniel Sánchez Arévalo), quase ótimo. O primeiro chafurda em suas pretensões analíticas sobre o universo hollywoodiano paralelo. O segundo me conquistou por seu painel simpático da vida de típicos perdedores urbanos, como um graduado em Administração (ou Economia?) que não consegue emprego pois precisa trabalhar como zelador e cuidar do pai inválido e um vizinho que não sabe se é homossexual ou não, desde que flagrou seu pai sendo masturbado por um massagista. O que me traz de volta às coincidências: no filme soderberghiano, uma massagista também masturba um cliente, que aparece morto numa cena-chave. Será que isso é comum?

Para além das coincidências (no filme espanhol, inclusive, o nome Marcos Miranda é pronunciado!), eu fiquei encantado com “Azul Escuro Quase Preto”: seu protagonista Quim Gutiérrez é lindo e muito carismático, as situações de desamparo irreversível e não irremediável do filme me deixaram consolados em relação aos percalços da vida que levo e meu coração ficou menos machucadinho com o desfecho terno e ousado da trama. A cena mostrada na foto, por exemplo, é repleta de poesia, e envolve uma presidiária, um rapaz que até então era apaixonado por uma moça rica e não tão esnobe quanto parecia e uma gravidez desejada. Há muito por detrás das aparências e joguetes do acaso. Acho que vou dormir contente, apesar de estar um tanto preocupado com o cachorro do vizinho do fundo, que parece estar sendo espancado, às 2 horas da madrugada... Não se pode ter tudo, é o que me (a)parece!

Wesley PC>