sábado, 28 de novembro de 2009

“QUANDO TU ESTIVERES NO PARAÍSO, QUÃO FELIZES SERÃO OS...”


“Anjos” é a palavra que deveria completar a frase acima. Trata-se de um elogio tardio que uma velha luterana faz a sua cozinheira francesa, que trabalha de graça há 14 anos, como agradecimento por ter encontrado refúgio num austero lar dinamarquês quando fugia da morte certa numa França tomada pela guerra civil. Ao ganhar a elevada quantia de 10.000 francos na loteria, ela despende toda esta fortuna num jantar para doze pessoas, das quais 11 programaram não esboçar qualquer elogio à comida ou à bebida, a fim de que, assim, se sentissem protegidas das tentações do corpo, que, segundo elas, deveria estar subsumido ao espírito.

Mais ou menos este é o enredo de “A Festa de Babette” (1987), magnífico filme do dinamarquês Gabriel Axel a que acabo de assistir com minha mãe. É um daqueles filmes em que animais são utilizados como comida do começo ao fim, mas ao contrário de outras obras menos inspiradas, tão bem contextualizadas historicamente que fazem sentido até mesmo quando se levam em consideração as contradições morais e religiosas da trama, na verdade, um belíssimo elogio à vida e à mantença sofrida das escolhas que fazemos para nós mesmos.

Via este filme de duas em duas semanas quando era adolescente, mas a fita VHS que eu possuía deste filme logo se estragou. Revendo-o hoje, depois de vários anos, não pude conter uma certa gagueira emocional. Por dentro, também não conseguia encontrar a palavra ideal para completar a óbvia frase acima. Anjos são pessoas – e, contra a vontade delas, poderia aqui me dar ao luxo de nomear alguns...

Na foto, uma lembrança da juventude, em que beleza e talento vocal são desdenhados em prol da submissão a preceitos religiosos. Teriam estas jovens agido errado ao obedecerem fielmente a tudo aquilo que seu austero pai ditava? Quem seria capaz de julgar?

Wesley PC>

É NORMAL IGNORAR OS ARCTIC MONKEYS?


Assisti a um programa televisivo sobre esta banda britânica que tanto empolga os críticos de música atual ao redor do mundo e, sinceramente, ouvir aquelas canções e conhecer as estórias de um bando de moleques (no sentido mais elogioso do termo) obcecados pelo que fazem não me fez gostar da badalada banda que, confesso, até então nunca dei trela, por mais recomendada que a mesma seja. É normal? Segundo as entrevistas a que assisti, o que os integrantes da banda mais frisavam eram um som diferenciado daquilo a que eles estavam acostumados a ouvir. Para mim, o problema foi justamente esse: em minha opinião, eles não conseguiram, de maneira que não consegui diferenciá-los de trocentas e duas bandas (algumas positivas) que ouço por aí... Devo insistir, a fim de justificar as páginas 944 e 945 do indispensável guia “1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer”? Acho que não. Nem sempre a gente acerta, né?

Wesley PC>

sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Quando não dá vontade de fazer uma coisa, dá vontade de fazer a outra!

Wesley PC>

Quem quer ficar na zaga?

Se bem me lembro, morei no Cond. Visconde de Maracaju de 1992 a 1995, foi lá que comecei a me interessar bastante por futebol. O interesse foi em grande parte provocado pela excelente campanha da seleção brasileira na Copa de 1994. Eu queria ser Romário! Mas acabei sendo o Márcio Santos. É verdade! Pois só decidi desfilar no "7 de Setembro" de 94 de última hora e só me restou ser o zagueiro Márcio Santos da camisa 15. Hoje vejo que não é de lamentar tanto, pois a função que adaptei melhor no futebol foi ser zagueiro. Meu pai joga na zaga. Eu toco baixo, que é como se fosse um zagueiro na música.

Mas, por onde anda Márcio Santos? Alguém lembra dele?


Leno de Andrade

JOÃO-TURRÃO

Quando falo da minha infância pra alguém, sempre digo que a melhor época foi a que morei no Cond. Visconde de Maracaju. Este condomínio fica situado entre os bairros Santos Dummont e 18 do Forte, pertencendo aos dois bairros, tanto que dando o endereço de um desses bairros qualquer correspondência chegava lá.
Lembrar da infância é algo que tem sido constante em mim. O nome da minha primeira banda (El Chavo) surgiu depois de uma longa conversa sobre os programas de televisão que marcaram a infância daquele grupo de adolescentes doidos por Beatles.
Há uns 3 anos, em outro papo sobre infância, tomando Montila no tapete aqui em casa com Paulo, Nino e meu irmão, lembramos de um tal João-Turrão. Este ser era um tipo de minhoca, larva, sei lá... que fazia parte de uma das nossas brincadeiras. O bichinho ficava dentro de buracos minúsculos no chão e o esquema era pegarmos fiapos de capim e meter no buraquinho pra tentar "pescar" o João, conseguido o objetivo era uma alegria danada.
Depois dessa recordação, eu e os amigos citados perguntamos a conhecidos se eles também brincaram com o João-Turrão, a maioria respondeu que nunca tinha ouvido falar sobre. O curioso foi que os únicos que disseram lembrar do João-Turrão passaram a infância no Santos Dummont.

Será que esse bichinho só existiu na Zona Norte de Aracaju durante o início da década de 90 e foi extinto pelas únicas pessoas que hoje lembram dele?

Leno de Andrade

terça-feira, 24 de novembro de 2009

ACHO QUE ESTOU DOENTE!


Ontem, levaram-me para casa de automóvel. Estava passando mal. Vomitei no ambiente de trabalho. Vomitei muito. Agachado no chão, fui socorrido por uma transeunte, que me levou ao setor médico, mas, como sempre, fugi antes de ser atendido. Não gosto de autoridade médica. Em casa, fiquei com medo de comer. Vomitar dói demais. Minha caixa torácica apertava, sentia dor. Ai, gritava, ai! Doía. Mesmo com medo, sentia fome. Comi um tomate. Vomitei 5 vezes. Minha mãe disse que eu chorei feito um menino. Doía. Dormi. No dia seguinte, liguei a TV. Tentei ver o filme do cartaz. Doía ainda, Tinha medo de comer ainda. Tomei um mingau. Tomei chá. Comi uma banana. Faltou energia elétrica. Comi goiaba, manga e melancia. Lavei os pratos, tomei banho e fui para o trabalho, mesmo sem me sentir bem. Doía. Dói. Acho que estou doente... Picacilina urgente!

Wesley PC>

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

EPÍLOGO NA VOZ DO JOHNNY CASH:


A letra é mais uma cortesia da dupla Lennon/McCartney, mas a interpretação propositalmente moribunda e suprema é que, somada ao faroeste abaixo citado, tornou fatal esta recaída de madrugada:

“Mas dentre todos estes amigos e amores, não há nada que se compare a tu e todas estas memórias perdem o sentido quando eu penso no amor como algo novo. Apesar de eu nunca perder a afeição das pessoas e coisas que vieram antes, eu sei que eu eventualmente pararei e pensarei nelas. Mas, em minha vida, tu és aquele que eu mais amo!”

E não vou pedir desculpas por aquilo que não é culpa minha!

Wesley PC>

domingo, 22 de novembro de 2009

O QUÃO HOMOSSEXUAL ESTA DEVOÇÃO...?


O homem que assumiu a responsabilidade pelo assassinato de Jesse James (1847-1882) foi alguém que o venerou desde a infância. Guardava todos os recortes de jornais sobre suas façanhas, conhecia detalhes pessoais sobre sua vida como os dedos que faltavam em suas mãos ou o número de sapato que ele calçava, observava-o até mesmo durante o banho, com o pretexto de que estava apenas a imaginar onde ele guardava os revólveres neste instante...

O homem que assumiu a responsabilidade pelo assassinato (por trás) de Jesse James, um dos bandidos mais célebres dos EUA, corroeu-se até o dia em que também foi assassinato e o atirador que ceifou a sua vida foi inocentado por petições populares.

O homem que assumiu a responsabilidade pelo assassinato de Jesse James o reproduziu no teatro, tantas e tantas vezes que chegou a acreditar que algum dia receberia um aplauso. Não o recebeu. Entendeu o porquê, mas também cria que não poderia ter sido diferente. Havia uma recompensa. A prisão do fora-da-lei era certa. A devoção era cadente com o tempo, em virtude da instabilidade compreensível do humor de seu antigo muso da pistola. Ele foi apenas um avatar precipitado...

Vi agora “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” (2007, de Andrew Dominik) e fiquei ao lado daquele que é julgado até mesmo pelo título do filme. Na trilha sonora, Nick Cave quase me fez chorar na cena em que o assustado (e apaixonado) personagem de Casey Affleck deita-se na cama de Jesse James (interpretado por Brad Pitt), bebe da água depositada num copo à beira da cama, cheira os seus lençóis e fronhas, esfrega os dedos em seu peito e imagina-se com 34 anos de idade, sem o dedo médio da mão direita. Naquela cena, imaginei um futuro para mim mesmo, devoto. Devoto e covarde.

Quando morto, Jesse James foi objeto de fetiche. Seu corpo inerte permaneceu sobre um jazigo de gelo por meses. Foi fotografado, visitado, pintado, litogravado, lembrado e defendido tardiamente por alguns dos visitantes. Quando morto, Robert Ford esteve morto. Mas insisto é foi com ele que eu mais me identifiquei.

Wesley PC>

“FIQUE RICO OU MORRA TENTANDO”!


“Vou te levar pra loja de doces
Vou te deixar lamber um pirulito
Vai garota...não pare
Vá indo até você gozar”


Na manhã de hoje, acordei sob os gritos de minha mãe, que tentava recuperar uma galinha choca que voara para o quintal do vizinho. Levantei, esperei que ela fosse buscar o galináceo, comi um pouco de cuscuz com leite e dormi novamente. Sonhei que, enquanto tomava sopa, era visitado por um mendicante infantil, que me pedia comida. Dei-lhe um pouco da sopa, que estava deliciosa e fiquei observando-o comer, na clçada em frente a minha casa. Como fiquei satisfeito com a sua satisfação (ele estava realmente agradecido, ao contrário de alguns pseudo-corteses que costumam vender jujubas em ônibus, sob as ordens decoradas de outrem), estava a ponto de presentear-lhe com um pacote de biscoitos ‘wafer’, quando acordei. Lembrei de um traumático episódio infantil (tão traumático que eu oblitero) em que a mãe de um amor de 11 anos confundiu-me com um mendigo e fiquei imaginando finais diferentes para o sonho interrompido... Horas depois, estava lendo os parágrafos finais do livrinho de Teixeira Coelho sobre “o que é Utopia”.

Falei comigo mesmo sobre esta explicável confusão externa sobre os elementos que permitiram distinguir as classes sociais por suas aparências em tempos passados. Hoje, ricos vestem-se como “manos do gueto”, enquanto pobres veneram a publicidade indumentária direcionada às pessoas com dinheiro. Quase me arrependi de não ter comprado o DVD do filme “Fique Rico ou Morra Tentando” (2005), com que me deparei disponível para venda numa loja qualquer de Sergipe. Ainda não vi este filme, não sou necessariamente o que se pode chamar de fã dói diretor irlandês Jim Sheridan e desgosto do ‘rapper’ 50 Cent, que compôs o trecho musical livremente traduzido que serviu de epígrafe a este texto, mas admito que legitimo a sua sensualidade barata, visto que, quando me interessei por comprar o DVD, o que menos me interessou foram os dados semi-biográficos descritos no entrecho, mas sim a possibilita de ver o ‘rapper’ seminu como ele costuma sempre aparecer. Não sabia que ele era tão explicitamente nojento. Por algum tempo, cheguei a crer que a letra de “Candy Shop” era lúdica, não obstante sermos bombardeados por imagens de violência erótica em seu videoclipe. Foi inocência de minha parte, desculpem-me!

Engraçado é que, acostumado a ficar seminu o tempo inteiro em seus videoclipes e/ou divulgação de canções (oficialmente, não-eróticas), o ‘rapper’ 50 Cent, nome artístico para Curtis James Jackson III, demonstrou-se relutante em mostrar seus dotes corporais em sua estréia como ator de longa-metragem, visto que, em “Fique Rico ou Morra Tentando”, ele participaria da fatídica cena do chuveiro em prisão. Ao final, ele consentiu e a cena estampa a contracapa do DVD, num dos mais espertos e nojos golpes publicitários do ‘rapper’, que fora um órfão pobre e, ao tornar-se um ‘megastar’ do ‘hip-hop’, estimula como ninguém a cultura do dinheiro pelo dinheiro. Ok, Ok... Deixa eu voltar para os meus sonhos pré-filantrópicos...

Wesley PC>

“EU ESTAVA ESCONDIDO NA TUA VARANDA PORQUE EU TE AMO”!


Bastou esta frase para que o cachorrinho Dug, do longa-metragem animado “Up – Altas Aventuras” (2009, de Pete Docter & Bob Peterson), me conquistasse por completo e, como tal, melhorasse ainda mais a qualidade deste filme surpreendente que, para além de todas as possíveis (e permitidas) inverossimilhanças, é uma bela estória de amor, uma aula de como se enfrentar as perdas, decepções e a morte, bem como de se enfrentar os incômodos da velhice e da infância. A seqüência sem diálogos que mostra o amadurecimento de um casal (desde a infância, quando se conhecem, até a morte da mulher, passando pelo doloroso momento em que ela sofre um aborto) é, desde já, um dos mais profundos momentos humanos que eu tive a honra de acompanhar numa obra norte-americana lançada no século XXI! Estou encantado com o filme, mesmo ciente de que ele é repleto de defeitos, de que muitas situações climáticas são abandonadas (ou resolvidas precipitadamente, como prefiram) e de que o entrecho parece não me interessar, numa primeira leitura. Ledo engano. “Up – Altas Aventuras” é uma lição de cordialidade e superação. Belo filme – e basta aparecer um cachorrinho fiel (um não, diversos) para que eu fique todo molhadinho de emoção. Recomendo, ainda sem acreditar direito no quanto o filme me tocou: lindo, lindo, lindo!

Wesley PC>