quarta-feira, 31 de março de 2010

POR QUE A GENTE LÊ?

Sei que a pergunta é muito idiota e nem de longe deve ser respondida, mas acabo de ler a página final de um romance famoso e sinto-me agora bastante estranho, sem entender o que aconteceu comigo. Para além de o romance ser excelente e de seu autor ser demasiado célebre, uma série de coincidências me seduz. Escolhi o livro por puro acaso (encontrei-o disponível numa estante da Biblioteca da UFS, numa sedutora edição de capa vermelha, enquanto procurava o que ler numa fila) e funcionou como um oportuno consolo para dores psicológico-existenciais que me afligem. Foi publicado em 1942 (ano em que minha mãe nasceu) e suas primeiras linhas escritas são: “hoje, minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem”. Como todos sabem, minha mãe esteve (ou está) muito doente recentemente. Preocupei-me deveras com a situação, no sentido de que pressenti que, se a doença ficasse mais grave e incômoda para ela (na acepção mais lenta, dorida e terminal da situação), eu teria coragem de assassiná-la por compaixão. Assustei-me ao pensar nisso, mas cri que fosse certeza... Li o livro inteiro com o coração na boca, para, ao fim de vários capítulos, me deparar com o seguinte desfecho:

“Tão perto da morte, a minha mãe deve ter-se sentido libertada e pronta a tudo reviver. Ninguém, ninguém tinha o direito de chorar por ela. Também eu me sinto pronto a tudo reviver. Como se esta grande cólera me tivesse limpo do mal, esvaziado da esperança, diante desta noite carregada de sinais e de estrelas, eu abria-me pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Por o sentir tão parecido comigo, tão fraternal, senti que fora feliz e ainda o era. Para que tudo ficasse consumado, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muito público no dia de minha execução e que os espectadores me recebessem com gritos de ódio”.

E assim o livro termina! Não vou dizer qual, nem o nome de seu laureado autor, mas assim o livro termina. E, ao mesmo tempo, quanto começava nesse instante... Maravilhoso! E já estou cá pensando noutro romance...

Wesley PC>

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