quinta-feira, 29 de abril de 2010

“COMO DIZ A BÍBLIA” (2007) Direção: Daniel Karslake

“Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles” (Levítico, 20: 13)

Finalmente tive a oportunidade de ver este documentário, tão elogiado por aqueles que não consideram tão abominável assim a possibilidade de amar alguém do mesmo sexo e servir a Deus enquanto faz isso. Não vejo nenhuma impossibilidade entre as duas posturas, mas o extraordinário material de arquivo do filme dirigido por Daniel Karslake demonstra o quão violentas podem ser as reações de quem discorda, em especial num país tendente ao fundamentalismo como são os Estados Unidos da América. Na primeira cena, a famosa militante católica Anita Bryant é mostrada recebendo uma tortada na cara. Com um senso de humor cínico e mordaz, ela parece se consolar com o fato de que “pelo menos é uma torta de frutas” e enceta uma prece em favor da conversão do desviante, clamando a Deus que ele seja perdoado por seus pecados. Daí por diante, família desregradas pela inaceitação dos pais em relação à sexualidade dos filhos, taxas alarmantes de suicídios de homossexuais adolescentes e a comemoração pela decisão da Igreja Anglicana em promover um presbítero ‘gay’ dão a tônica do documentário, que, em minha opinião, perde-se discursiva e narrativamente em razão da grande quantidade de familiares de uranistas entrevistados, que nem sempre contribuem com depoimentos relevantes no que tange à associação pretendida entre sexualidade sadia ou desviada e religião. Mas o ponto alto do documentário é mesmo um segmento animado intitulado “A Homossexualidade é uma Escolha?”. Neste pequeno e divertidíssimo segmento, uma personagem de nome Christian (“cristão”, em inglês) permanece incauto diante da síntese dos principais estudos cientificistas sobre o tema, que vão desde o substrato do pensamento freudiano até pesquisas genéticas mais recentes. Em dado momento, é questionada a validade de supostos tratamentos em que ‘gays’ são convertidos em ‘pessoas normais’. Só este questionamento vale o filme todo: divertidíssimo, sem deixar de ser sério! (risos). Na pior das hipóteses, estimula boas (e más) discussões.

Wesley PC>

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