quinta-feira, 22 de abril de 2010

“ELA É NEGRA, EU SOU ‘GAY’: NÓS FAZEMOS CULTURA!”

É sempre complicado falar da influência negativa das ditas minorias sociais no encrudecimento da Indústria Cultural, mas o pronunciamento da frase acima como sinônimo de qualificação no decepcionante 15º episódio do seriado norte-americano “Glee” me fez pensar no caso, posicionar-me contrário à formatação ideológica que discos ou filmes produzidos por segmentos da população que sofrem preconceitos massificados recebem defensivamente justamente quando tentam incrementar o mercado legitimador destes preconceitos. Afinal de contas, qualidade e (auto-)vitimização nunca foram bons sinônimos!

Pois bem, na manhã de hoje eu senti vontade de ouvir novamente “Life in Cartoon Motion” (2007), álbum de estréia do libanês Mika, logo incensado por público e crítica em virtude de sua privilegiada voz aguda e por apologias divertidas ao homossexualismo. Rapidamente, muitos de meus amigos estavam engrossando os fãs-clubes do artista, mas eu era relutante em apreciar o álbum, não obstante gostar tanto de suas emulações ‘pop’ felizes (caso das famosas canções “Grace Kelly”, “Relax, Take it Easy” e “Lollipop”) quanto das cançõezinhas tristes e com potencial ‘cult’ (a fabulosa “Any Other World”, a oculta “Over My Shoulder” e a levemente polêmica “Billy Brown”, sobre um homem casado e entediado que se apaixona por outro homem). É um disco fofinho, causa muito prazer ouvi-lo!

Em setembro do ano passado, Mika lançou outro álbum, onde confessa expurgar suas curiosidades adolescentes, chamado “The Boy Who Knew Too Much” (2009), com projeto gráfico muito semelhante ao anterior, no sentido positivo da comparação, inclusive. Seus fãs insistem que ele está mais maduro e triste neste novo álbum, mas eu estou ouvindo-o neste exato momento e receio preferir o anterior. O grande chamariz do álbum é a faixa 02, “Blame It On Girls”, em cujo videoclipe Mika veste-se de cor-de-rosa e explicita como foi criada a sonoridade da canção, baseada em objetos do dia-a-dia como máquinas de escrever e batucadas na mesa. Mas o que me cativou nela foi o discurso contra aquelas pessoas pseudo-pessimistas que sempre acham que seus problemas são maiores que os das demais pessoas, contra os seres humanos viciados em reclamações inócuas. Legal ver um refrãozinho pegajoso falando sobre isso sem subjugar eventuais ojerizas ‘pop’ por parte dos ouvintes...

“Blame it on the girls who know what to do
Blame it on the boys who keep hitting on you
Blame it on your mother for the things she said
Blame it on your father but you know he's dead”


Wesley PC>

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