Como surgem as coincidências? Por mero fruto do acaso póstumo reorganizador.
Pois bem, No começo da noite de ontem, um colega de trabalho cantou um verso musical que correlacionava a importância em se ter um carro e a inevitabilidade de se possuir testículos. Não reconheci de imediato a canção, mas associei de imediato a aparente vulgaridade genital da mesma a algum verso contestatório do cearense Falcão, ao que o meu interlocutor perguntou espantado: “tu nunca ouviste esta canção?! É uma bandinha ‘cult’ destas que o pessoal daqui gosta muito”. Tratava-se do Mundo Livre S/A, faixa 06 do álbum “Guentando a Ôia” (1996), para ser mais preciso: “Tentando Entender as Mulheres”. Em verdade, já havia ouvido este álbum, mas nunca prestado atenção suficiente às letras de suas canções. Resolvi fazê-lo na manhã de hoje, a fim de evitar novos espantos em relação a este colega de trabalho que tanto me agrada.
Pois bem, logo na faixa 01, “Free World”, cujos versos auto-referenciais gritam e repetem: “salve Zero Quatro/ salve a música”, lembrei de um momento cândido que desfrutei numa de minhas viagens a Recife, quando a família que me acolheu fez com que eu reconhecesse o vocalista da referida banda num dos álbuns de fotografias antigas das irmãs de minha amiga. Admitindo as diferenças gritantes de postura socialista entre o cotidiano daquelas pessoas e as letras protestantes de algumas das canções do disco, tachei algumas breves elucubrações demeritórias sobre os germes burgueses daqueles que mais se dizem favoráveis a levantes populares armados, conforme aqueles que são exaltados na faixa 04, “Desafiando Roma”, uma das mais executadas no mês de dezembro de 2009 em Gomorra. Enquanto ouvia a letra ratificando apologias às atividades militantes sandinistas e zapatistas, percebi que conheço mais informações sobre as revoltas argelinas e maoístas do que sobre o que acontece na América Central. E se eu disser que este foi justamente o tema de minha aula de Introdução ao Jornalismo na manhã de hoje, quando a professora repetiu a minha interrogação quase com as mesmas palavras, atribuindo a culpa desta defasagem informacional sobre o que acontece ao nosso redor ao poderio das agências de imprensa internacionais e afiliadas aos grandes detentores do poderio capitalista?
Voltando ao disco: sorri com a similaridade de efeitos entre a distribuição de psicotrópicos e aplicação de eletrochoques em “Destruindo a Camada de Ozônio”, curti os jogos discursivos constantes da letra de “A Música que os Loucos Ouvem (Chupando Balas)” e achei particularmente positiva as acusações contidas em “Computadores fazem Arte”, outra canção muito executada no final do ano passado em Gomorra:
“Computadores fazem arte
Artistas fazem dinheiro
Cientistas criam o novo
Artistas pegam carona
Pesquisadores avançam
Artistas levam a fama”
De resto, antes que eu ouvisse o restante do álbum, precisei desligar o reprodutor de MP4, a fim de prestar atenção à aula. Porém, reitero o que já disse noutra situação: gosto muito do Mundo Livre S/A, para além dos problemas eventuais que tive com as letras sobre mulherio e futebol em “Por Pouco” (2000). Salve Fred Zero Quatro!
Wesley PC>
DOIS É DEMAIS EM ORLANDO (2024, de Rodrigo Van Der Put)
Há uma semana
Nenhum comentário:
Postar um comentário