domingo, 18 de abril de 2010

“ESTE É O TÍTULO DESTE FILME”!


Na manhã de hoje, como forma de terapia passional-intelectiva, vi um péssimo filme ‘pop’ em que uma ridícula menina depressiva mete-se numa pendenga ancestral e meramente tipológica entre lobisomens e vampiros e, enfrentando a infelicidade de um abandono, sujeita-se a ver um fictício filme de ação chamado “Soco na Cara” com um grupo de amigos. Ao final, somente dois comparecem à sessão, ambos apaixonados por ela. Um deles é um adolescente recém-anabolizado pelo qual sabemos que ela se apaixonará perdidamente e o outro é um ‘nerd’ com cara de ‘nerd’, tratado injustamente como um ‘nerd’ odiado pelo roteiro pútrido. Quando este ‘nerd’ abandona a sessão violenta do filme que viam para vomitar, o adolescente rebelde arremata: “ao invés de ficar com este tipo de idiota, prefira alguém que ria do sangue que faz os fracotes vomitarem”. Fiquei escandalizado ao perceber que esta foi uma declaração aceita como positiva, vinda de um personagem por quem o roteiro tenta nos fazer atraídos, tamanha a quantidade de cenas em que ele é mostrado sem camisa. Lamento informar, mas não funcionou comigo: filmes como este é que nos fazem (re)perceber o quanto os ditos “rechonchudos” são encantadores...

Disfunções atrativas à parte, o que me consolou na situação acima descrita é que, antes de me submeter a este péssimo exemplar de produto cultural de massa, vi um dos filmes experimentais mais radicais, pretensiosos e inteligentes a que tive acesso desde que me deslumbrei pela obra de estréia do jovem Guy Debord: “So Is This” (1982), do canadense Michael Snow, um filme de 48 minutos de duração em que pouco mais vemos do que letras brancas sobre um fundo negro e silencioso. Nem de longe, porém, isto implica numa experiência chata ou desgastante. O incrementado senso de humor do cineasta responsável pelo projeto e a sua genialidade discursiva no que diz respeito aos elos pretendidos entre palavra escrita e cinema de autor é incrível, impressionante e, acima de tudo, divertido. Sendo assim, recomendo a qualquer ser humano digno este filme. Vejam-no e provem a si mesmos que são boas pessoas:

“So Is This” (1982)

Wesley PC>

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