quinta-feira, 15 de abril de 2010

“LES HAUTES SOLITUDES” (1974, de Philippe Garrel):

Oficialmente, este filme é composto apenas por imagens silenciosas e em preto-e-branco da atriz Jean Seberg, que interpreta um alter-ego da diva Marilyn Monroe, que se suicidara em 1962, através da ingestão de barbitúricos. Sete anos depois da realização do filme, Jean Seberg seguiria o mesmo destino de sua personagem: se suicidaria exatamente desta forma!

Em virtude de sua curta duração (80 minutos), resolvi ver este filme no trabalho, durante o meu intervalo para o almoço. Como ele era completamente silencioso, cri que a barulheira ao redor não atrapalharia e que as pessoas que eventualmente zombavam da sessão quando me viam inerte diante de uma tela em que uma mulher triste me encarava por minutos a fio não me afetariam, mas... Como estive enganado: o filme me pungiu! Na tela, apenas olhares insistentemente infelizes, contrabalançados por sorrisos forçados e um resgate. Nico (egrégia vocalista feminina do The Velvet Underground, que, à época, era enamorada pelo diretor) aparece em algumas cenas, mas eu não pude reconhecê-la: estava hipnotizado por toda a angústia que a Jean Seberg transmita sem cessar. Saber o que acontecera na vida real após o filme só dotava o mesmo de maior expressividade, de maior dramaticidade, lancinando-me pungentemente a cada minuto que eu me sujeitava a ver aquele filme, que, de tão simples no início, revelou-se extremamente complexo em sua exigüidade de recursos, em sua mutabilidade gritante, em seu completo apelo à melancolia.

Permaneci absorto o restante da tarde, não obstante sorris de vez em quando, o que fez com que um companheiro de trabalho questionasse a minha alegada tristeza: “para alguém que se diz infeliz, tu sorris demais”, disse-me ele. Eu o ouvi, o olhei e, segundos depois, estava a lhe explicar o que era ciclotimia, o porquê de minha instabilidade humorística afetiva tangencial. O filme não me saía da cabeça. Temo vê-lo novamente, ciente de que não suportaria toda a carga de solidão que o mesmo nos faz compactuar, mas confesso aqui entender o mistério que afligia a belíssima e mui talentosa Jean Seberg: por que apelar para a morte, se a mesma era linda e respeitada artisticamente? Em minha lembrança, a resposta certeira dela é um olhar!

Wesley PC>

Um comentário:

Meryone disse...

a melhor das infelicidades, a que provoca sorrir

verei o filme

beijos para você

(eu leo mas desde o reader -risos-)