terça-feira, 13 de abril de 2010

O OUTONO DE MEU DESCONTENTAMENTO – PARTE II (A PARTE I ESTÁ EM OUTRO LUGAR):

Sonhei que, para ser aprovado num mestrado de Ciências Sociais, eu precisava me submeter a um compêndio de difíceis provas de esforço físico. Acordei triste por causa disso, me sentindo maltratado por um conceito capitalista de concorrência que renego até as veias. Estava triste e o choro de minha mãe atiçado por um ataque canino imaginado só fez aumentar o meu mal-estar emocional. Sentei-me numa poltrona, com um prato de cuscuz com ovo e café nas mãos. Via aleatoriamente o que era exibido na TV, quando me deparei com um desenho animado do personagem Horácio, dinossauro reflexivo criado por Maurício de Souza. Este lamentava que Jesus Cristo ainda não tivesse nascido. “Falta ainda muito tempo para que tenhamos contato com estes brilhantes ensinamentos de amor”, reclamava o dinossauro, enquanto elogiava as benesses do Natal, as quais não são comemoradas por mim.

Fiquei chocado com o anacronismo múltiplo do desenho animado. Sempre fui um defensor contumaz do Maurício de Souza, não somente por ter se estabelecido á altura na indústria de gibis contra a massificada produção estrangeira da Disney e dos quadrinhos de super-heróis, mas também por criar núcleos bastante coesos de personagens, com os quais nós, brasileiros, podíamos nos identificar: seja no núcleo bairrista principal (formado por Mônica, Cascão, Cebolinha, Magali e vizinhos), seja pelo núcleo rural (Chico Bento, Zé Lelé, Rosinha e outrem), seja pelo núcleo juvenil (Rolo, Pipa, Tina e demais personagens descolados), seja pelo encantador e divertidíssimo núcleo do cemitério (Penadinho, Morte, Frank, Zé Vampir e aquela maravilhosa caveira triste). Porém, algo sempre me incomodou naquele nucléolo pré-histórico: nunca gostei do caçador Piteco e não entendia bem a melancolia ‘pimba’ do Horácio, reverenciado por uma grande amiga no batismo de seu segundo filho.

A posteriori, encantei-me pelo personagem (vide tirinha anexa a esse texto), mas o desenho animado de hoje me deixou perplexo, preocupado, assustado: estou me convertendo gradualmente ao Catolicismo em virtude de uma paixonite, mas ainda não entendo adequadamente o Cristianismo. Por isso, não soube o que pensar diante daquele desenho absurdo e, ainda assim, emocionante. O pior é que, antes de o curto desenho animado ser exibido, houve um anúncio de censura: “o programa a segui foi editado para que seu conteúdo fosse adequado a todos os públicos”. Será mesmo? Não o foi para mim!

Wesley PC>

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