quarta-feira, 21 de abril de 2010

PRINCÍPIOS DE AUTO-AJUDA (PARTES I e II):

Uma jovem pergunta a uma colega de trabalho se esta quer acompanhá-la numa apresentação musical do seu marido, que é músico e sempre se apresenta em bares praianos nas noites de sexta-feira. A segunda moça recusa de imediato, mas depois muda de idéia e pede que eu telefone para a primeira moça, a fim de dizer que agora aceita o convite. Telefono várias e várias vezes para o celular dela, mas a mesma não atende. Deduzo que a mesma está fazendo sexo marital, visto que o componente masculino da relação passa as noites fora de casa. Ciente disso, envio-lhe uma mensagem, em que lhe desejo “uma boa menstruação”. Minutos depois, um número desconhecido me telefona, perguntando enfurecido quem sou eu. Respondo quem sou, ao que ele explica que é o marido da jovem citada na primeira linha desse texto, recém-hospitalizada em virtude de um acidente doméstico, quando cai por sobre uma porta de vidro e corta ambos os pulsos, coincidentemente depois de ter descoberto que o marido tem uma amante. Eles brigam antes de ir ao hospital, visto que ele suspeita que ela tentou se suicidar ao descobrir o fato. Daí por diante, o casamento vai por água abaixo. Cada um vai para um canto. Ela dorme na casa de sua mãe, enquanto ele possivelmente se diverte ao lado de sua nova companheira sexual. Fim da estória.

Muda alguma coisa se eu disser que o parágrafo acima é a descrição de um evento real, narrado por uma colega enquanto outra pessoa com quem eu conservava diz que a ficção talvez prevaleça sobre a crônica no sentido de que a primeira envolve maior capacidade de criação? Pois bem, é uma história real! E, enquanto eu me deslumbrava ao admirar meu interlocutor, a outra moça mencionada no parágrafo anterior cantarola uma versão musical abrasileirada para “The Blower’s Daughter”, canção triste do britânico Damien Rice. Era verdade: eu não conseguia parar de olhá-lo! Perguntei, então, ao meu interlocutor o que ele achara do episódio-piloto do seriado “Glee” (do qual estou a baixar, neste exato instante, o 15º episódio) e este respondeu que desgostou do mesmo em relação ao abuso de auto-ajuda. É ruim servir-se de um produto cultural como auto-ajuda? E se eu disser que as duas canções mais famosas do extraordinário álbum “MCMXC a.D.” (1990), do grupo Enigma, serviram-me justamente como auto-ajuda na manhã de hoje? Nada como mesclar canto gregoriano e gemidos lascivos para apaziguar uma alma barroca atormentada!

“Je veux aller au bout de me fantasmes
Je sais que c'est interdit
Je suis folle. Je m'abandonne
Mea culpa”


Wesley PC>

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