segunda-feira, 3 de maio de 2010

AMOR A DEUS (E À VIDA) VERSUS INVEJA DE CRISTO

Direto ao ponto: vi hoje o polêmico documentário “Jesus Camp” (2006, de Heidi Ewing & Rachel Grady) e, para além de todas as qualidades técnico-discursivas do filme, o que mais me chocou foi a constatação amedrontada de que eu posso ficar daquele jeito. Pode acontecer a qualquer instante! Deu medo!

“Jesus Camp” é conduzido como se fosse o registro imparcial de uma comunidade de fundamentalistas evangélicos, mas é tendenciosamente pré-conceitual em sua abordagem: escancara as técnicas de lavagem cerebral infantil perpetradas por uma seita que promove acampamentos de veraneio a fim de manter as crianças em estado perpétuo de transe teológico. Utilizando músicas de ‘heavy metal’ ou ‘techno’ gospel para fisgar as necessidades catárticas dos meninos, a líder religiosa Becky Fischer explica como conduz o seu programa de catequese extremada, em que os pupilos são educados em casa (a fim de que não se pervertam pelas “aberturas democráticas falaciosas”), repetem o nome de Jesus Cristo e palavras de ordem como “amém” e “aleluia” de 10 em 10 segundos e, gradualmente, introduzem termos e atitudes bélicas em seus rituais de consagração religiosa. Duas crianças fanáticas e eloqüentes chamam particularmente a nossa atenção: a garotinha Tory, que enumera vitupérios contra cantoras ‘pop’ como Lindsay Lohan e Britney Spears, que desperdiçam seu tempo falando sobre “rapazes e moças” em suas canções; e o estiloso Levi, que ostenta uma longa mecha na parte traseira de seu cabelo curto. Vi-me em potência nostálgica regressiva naquelas duas crianças. Talvez eu tenha tido sorte de ser renegado pela Igreja quando tentei ingressar num grupo de jovens, em virtude de minhas ostensivas práticas sexuais da tenra idade.

Enquanto via este filme quase ótimo, percebi que um amigo adventista se incomodava bastante com o que ele chamava de “perspectiva unilateralmente destrutiva” no roteiro do filme. Eu, de minha parte, questionava a omissão da câmera no registro dos eventos, ao passo em que comparava os chocantes rituais de aliciamento pedofílico com o que vi numa auto-apelidada Igreja Inclusiva em Belo Horizonte - Minas Gerais, em que um pastor ‘gay’ casado com outro homem estimulava a proeminente platéia homossexual de seu culto a entregar qualquer soma de dinheiro no afã por construir um templo em que “Deus não se importa com quem tu dormes”. Aqui, todos têm direito ao perdão, de maneira que eu não me surpreenderei quando chegar ao Céu e encontrar Adolf Hitler me esperando lá”, continuava a pregação do pastor. E eu seguia impressionado. Não conhecia o fanatismo oportunista neo-pentecostal tão a fundo quanto os companheiros que me acompanharam a este arremedo de missa. As barbaridades mostradas no filme acontecem na vida real, é tudo verossímil. E eu fiquei com medo que pudesse ser eu fazendo aquilo...

Por mais que eu me considere intelectualmente capaz de enfrentar as tentações do obscurantismo religioso, a inveja que sinto (admito) do transe proporcionado – e, ao mesmo tempo, voluntariamente renegado – por jogos eletrônicos, maconha e sexo penetrativo me deixa exposto e fragilizado diante da aceitação grupal ilusória que este tipo de prática comunal deixa entrever. Minha sorte: a) crer num Deus definido magistralmente pelo mártir iconoclasta Blaise Pascal; e b) apaixonar-me por seres humanos que agem como tais e permitem, cada qual a sua maneira, que eu faça o mesmo. Mas que dá medo dá. Eu tenho medo!

E, por uma coincidência espantosa, olha só o que eu estava ouvindo enquanto escrevia isto:

“Talvez o tempo possa me livrar da culpa
Que eu não sei se vem de mim ou da cruz de Jesus
Mas eu tenho ainda um grande amor pra te dar
Quero saber se você aceita ele como for
My love is your Love”
(“Eu Menti Pra Você” – Karina Buhr)

Será mais um sinal, meu Deus? SOCORRO!

Wesley PC>

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