terça-feira, 18 de maio de 2010

BRASILIDADE CONSCIENCIOSA

Nas últimas semanas, em virtude de um contato próximo com filmes popularescos que eu detestava aprioristicamente, passei a sentir um renovado patriotismo – num viés que não beira o ufanismo, mas que está atrelado a um orgulho regional que, por vezes, escorrega em concessões exageradas de ordem cultural.

Pois bem, o mesmo pivô humano responsável pelo resgate dos filmes produzidos pela Atlântida em minha vida fez com que eu finalmente visse “Cartola – Música Para os Olhos” (2006, de Hilton Lacerda & Lírio Ferreira), documentário sobre este egrégio sambista carioca que estava guardado em minha casa faz tempo, mas que nunca senti suficiente motivação para começar a ver. Motivos preliminares: 1- Não me interesso necessariamente por biografias de artistas, pelo menos, não em detrimento da autenticidade do eu-lírico em suas obras (vide reclamações pessoais íntimas que posto comumente aqui no ‘blog’); e 2 – Tenho um problema drástico de antipatia difusa em relação ao contexto que gerou grandes sambistas como Pixinguinha, Zé Kéti e o próprio Cartola. Não gosto da “malandragem” que eles defendem (ou do modo como eles viveram, pelo menos), não obstante esta mesma malandragem ser dialeticamente defendida por nobres teóricos de nossa cultura efetivamente nacional – Antonio Cândido, à frente, com louvor!

Explicando melhor o segundo ponto: não sei como classificar a minha suposta adesão à boemia, mas, apesar de viver num conglomerado periférico de habitantes suburbanos, não me divirto carnavalescamente (em datas e lugares específicos, ao menos) como os personagens entrevistados no documentário, bastante pusilânime para construir um ponto de vista reflexivo sobre o artista que usa como matéria-prima, não obstante o convidativo subtítulo do mesmo, efetivado através de uma montagem deveras pretensiosa que mistura depoimentos dos conhecidos de Cartola, imagens históricas da ditadura militar e da formação da Bossa Nova, por exemplo, e cenas de inúmeros filmes famosos, somente identificados como tais nos créditos finais. Tais características são fundamentalmente ruins? Nem de longe, mas, do modo como foram estruturados pelos diretores e roteiristas do filme, soam mais exibicionistas do que pedagógicos (ou algo do gênero), de maneira que eu me senti muito mais ignorante sobre Angenor de Oliveira (1908-1980) ao final do filme do que antes. Se não houvesse um estagiário culto no local em que trabalho que insistisse tanto em ouvir as canções do célebre Cartola em meio a Legião Urbana, Lily Allen, Seu Jorge e James Blunt, talvez eu ficasse mais irritado com o mau filme. Por sorte, o garoto se dispôs a ver o filme e me dizer o que achou do mesmo, após a audiência. Fico aqui na espera, portanto!

Sobre o que o filme tem de interessante: fiquei encantado com o contexto em que ele veio a se casar com a notória Dona Zica da Mangueira, fiquei intrigado com a insistência do artista em usar óculos escuros o tempo inteiro, e, claro, uma obra audiovisual construída sobre as músicas tristes e magnificamente cadenciadas deste gênio carioca não tem como ser de todo ruim! Mesmo que a extraordinária “Preciso Me Encontrar” não seja executada durante o filme, preciosidades como “Divina Dama”, “O Mundo é um Moinho” e “As Rosas Não Falam” estão lá, mas é “Quem Me Vê Sorrindo”, a canção dele que mais me apetece:

“Quem me vê sorrindo, pensa que estou alegre
O meu sorriso é por consolação
Porque sei conter para ninguém ver
O pranto do meu coração

O que eu sofri por esse amor, talvez
Não compreendeste e se eu disser não crês
Depois de derramado, ainda soluçando
Tornei-me alegre, estou cantando”


Quem me vê sorrindo, sabe!

Wesley PC>

2 comentários:

Tiago de Oliveira disse...

O mundo tritura os meus sonhos tão mesquinhas e reduz minhas ilusões a pó...

Agora, preste atenção, queridO, de cada amor tu herdarás só o sinismo....!!!! rsrsrs

né não... mas que o mundo é um moinho é... xeru!

Pseudokane3 disse...

Moinhos são, acima de qualquer coisa, deveras funcionais...

E acho o cinismo uma conseqüência aceitável (risos) - Que ele venha, se o amor o anteceder, lógico! Eu aceito!

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