sexta-feira, 21 de maio de 2010

DEPRESSÃO REAMBIENTALZADA

Já falei muito sobre os 15 violentos minutos de tristeza (melhor seria dizer: de vazio) que me assolaram ontem à noite, mas, reflexões posteriores e pseudo-causas anteriores à parte, a fim de que eu me sentisse novamente tranqüilo, precisei ouvir com atenção ao álbum “American Life” (2003), da diva Madonna, precisão esta que trouxe à tona novos questionamentos pessoais.

Por mais que eu reconheça o talento insofismável desta artista, descarto veementemente a associação pretendida entre a sua apreciação musical e os ícones ‘gays’ que ela supostamente representa. Digo mais: isto só não me é completamente irrelevante porque esta forçação de barra homoerotizada sobre os comportamentos performáticos da artista instiga-me a insistir comigo mesmo acerca do merecimento laudatório com que ela é celebrada ao longo de seus mais de 30 anos de carreira. Prestando atenção ao álbum, entendemos o porquê: Madonna pensa no que canta e leva-nos também a refletir sobre isto.

Fazendo parte da verve contemporânea ainda mais dançante (no mau sentido comercial do termo) da cantora, “American Life” faz pertinentes observações sobre o estilo de vida dominante no país onde a cantora reside, de maneira que canções como a faixa-título, “Hollywood”, “I’m so Stupid” e “X-Static Process” são bastante funcionais neste sentido, mas é “Love Profusion” a canção que mais se destaca, a que mais me tocou pessoalmente. Por mais que eu fique chocado ao imaginar pessoas rebolando enquanto a artista conta, em versos remixados, o quanto chorou ao saber da morte de sua mãe, aos 5 anos de idade (em “Mother and Father”), os jogos rítmicos da canção destacada, aliados à ternura da voz da cantora e a uma letra obviamente passional e prenhe de rimas, me deixam animadíssimo.

Cheguei cantarolando esta canção no trabalho, na manhã de hoje, e um colega de trabalho tachou-me de “guevariano”, por causa das tonalidades verdes da roupa que vestia. Na semana passada, fui tachado de “hippie largado” por alguém que telefonou para o meu chefe, tentando me identificar a fim de receber uma informação continuada. Achei engraçados os comentários identificatórios (em especial, quando descobri quais foram as principais influencias da cantora na confecção da capa e da coesão conteudística do CD), mas chateio-me quando isto descamba para uma suposta associação com os caracteres evasivos do termo ‘gay’. Não gosto deste termo e, numa conversa de pé-de-ouvido em sala de aula, há pouco, deixei entrever o porquê. Este será o tema de outra futura postagem confessional, mas, por ora, sigo a ouvir Madonna com cuidadosa reverência crítica. Ela merece!

Wesley PC>

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