sábado, 15 de maio de 2010

A DIACRONIA DO THC (OU CADA UM SE LOMBRA COMO QUISER!)

Por mais que a gente consuma, mais e mais produtos de consumo são lançados e descobertos a cada dia. Eu, por exemplo, em todas as minhas pretensões cinefílicas, nunca havia sequer ouvido falar de “A Porta da Loucura” (1936, de Louis J. Gasnier), tradução nacional para “Tell Your Children”, depois relançado como “Reefer Madness”, polêmico e sensacionalista filme contra “o vício malévolo da maconha, a semente do demônio que está dizimando a nossa juventude”. Descobri este filme no começo desta semana e, junto com ele, diversos outros títulos norte-americanos da década de 1930 que pregavam abertamente contra o vício na maconha e no sexo, títulos estes que hoje funcionam como comédias involuntárias, tamanha a quantidade de impropérios mal-fundamentados. Acabei de ver o filme do Louis J. Gasnier e, ao contrário do que acontece com a maioria, não sorri, mas fiquei chocado com o quão dementes podem ser as pessoas que se unem numa causa oportunista.

Não me disporei aqui a resenhar o filme, pois isto foi feito de maneira absolutamente genial por um blogueiro que, desde já, é um dos meus favoritos (no endereço virtual dele, há até mesmo uma oportunidade singular de assistir ao filme na íntegra), mas confesso-me aqui desnorteado diante de sua qualidade técnico-cinematográfica em detrimento de suas aberrações conteudístico-discursivas. Não obstante eu nunca ter posto sequer um cigarro de maconha nos lábios, minhas insatisfações em relação a esta substância dizem respeito a causas ciumentas muito pessoais e nem de longe quero parecer apologético ao que é pregado no filme, mas confesso que, quando pequeno, era mais ou menos aquilo que me diziam que os maconheiros faziam. Como foi determinante para mim perceber que usos diferentes de uma mesma substância por pessoas diferentes podem causar reações absolutamente diversas – e, com isso, falo não somente da maconha, mas desde água filtrada até esperma em decomposição!

Infelizmente, não encontrei legendas para o filme, visto que seria muito divertido e providencial assistir a este filme em Gomorra, onde lombras eternas já foram registradas, onde verdadeiras odes comunais já foram permeadas pelo uso positivo dos “expansores do músculo cerebral”... Como seria pertinente analisar em grupo as absurdas interpretações dos atores do filme, que berravam freneticamente após o mínimo trago de um cigarrinho de cannabis sativa, tornando-se ninfômanos compulsivos e indomados! Como disse antes, não ri diante do filme, mas achei-o deveras providencial na observação do conservadorismo canhestro que ainda inocula alguns fanáticos conservadores, conforme podemos perceber dedicando um tempo imerecido de audiência à TV Canção Nova, por exemplo, na qual já ouvi violentas pregações contra comportamentos tipicamente juvenis, que me assustaram não pela veemência contrária, mas sim pela assessoria informativa deturpada, dado que, numa destas pregações, o padre-orador em pauta chegou a afirmar que “os historiadores estão errados: eles costumam dizer que a Idade Média foi a ‘Era das Trevas’, mas foi durante estes séculos que Deus mais reinou sobre a Terra”!

É difícil lidar com as diferenças entre indivíduos quando cremos que uma determinada atitude é criminosa ou pecaminosa, mas julgar precipitada e decisoriamente os atos de outrem por pura discordância político-ideológica em relação a algo é perigoso e antiético. Eu mesmo já cheguei a pronunciar muitas besteiras contra o consumo das chamadas drogas, contra o sexo anal e contra os jogos eletrônicos, atividades com as quais não me filio por razões íntimas, mas suponho que hoje eu esteja mais ciente e alo-respeitoso em relação às minhas idiossincrasias morais, visto que percebo que não sou maltratado por quem discorda de mim ou pratica aquilo com o que não compactuo pessoalmente (ou vice-versa). Nada como crescer com o passar dos anos e o contato com novas pessoas!

Wesley PC>

Um comentário:

iaeeee disse...

kkkkkkkk, vou ver!