sexta-feira, 14 de maio de 2010

O ÔNUS POR FAZER PARTE DO SEGUNDO GRUPO...

“- O primeiro mal da humanidade é o egoísmo. Sabe qual é o segundo? A sensibilidade. As pessoas se afetam demais por qualquer besteira”!

Mais ou menos estas foram as palavras de um estagiário do local de trabalho quando uma alvoroçada estudante ergueu a voz para mim quando reclamou justamente de eu estar levantando a voz para ela durante uma explicação. No momento em si, a explicação (defensiva) do garoto fez sentido para mim. Agora, temo que a polissemia do referido termo me deixe confuso em relação ao contexto reclamante com o qual eu pretendia iniciar este relato. Nada como um minuto após o outro para confundir tudo aquilo que tínhamos como certo até então...

Tinha como certo que “Um Amor de Família” (“Married... With Children”, no título original) era um dos seriados cômicos norte-americanos favoritos de minha pré-adolescência. Revendo um de seus episódios na manhã de ontem, constatei que o mesmo era muito mais negativamente ideológico do que eu tinha condições afetivas de lembrar. Ainda assim, fui tocado pelo aquilo que me era relevante: a promessa da identificação com o protagonista interpretado por Ed O’Neill, que soçobrava diuturnamente sua vida num trabalho que considerava insatisfatório (era sapateiro) e, ao chegar em casa, frustrava-se com a indiferença sarcástica de sua esposa (magnificamente interpretada por Karey Sagal) e com as deficiências morais de seus filhos, um obcecado por sexo (David Faustino, outra de minhas paixões midiáticas de infância) e outra também obcecada por sexo, mas destacada por sua estereotípica burrice loira (Christina Applegate, hoje ainda mais famosa por aparições em vários programas televisivos, inclusive o recente “Samantha Who?”), sem contar a sanha crematística de seu cachorro Buck, hilária na abertura musicada por Frank Sinatra. Inesquecíveis momentos sorridentes foram-me causados por este seriado...

Voltando ao mundo fora-da-tela: não sou sapateiro, mas, neste exato momento, estou com ambos os sapatos furados. Um deles foi costurado recentemente por minha mãe, mas a linha negra utilizada não foi suficiente para conter o frenesi de meus pés inquietos. Caminho todos os dias uma distancia mínima de 7 quilômetros no trajeto ida e volta de casa para o trabalho e vice-versa. Neste entretempo, sou agraciado em quatro dos dias da semana pela possibilidade de acompanhar o senso de humor extremamente sardônico do compositor do ditame mencionado como epígrafe. E, conforme incitado através do chiste de uma funcionária que faz as vezes de chefa, ele brilha. Mesmo com as luzes apagadas, ele brilha. Mesmo quando eu discordo dele, ele brilha. Mesmo que seja desnecessário afirmar isto aqui, ele brilha. E brilha. E brilha.

Para possíveis interessados na futilidade cômica televisiva, o seriado aqui elogiado de forma moderada é exibido todas as manhãs, às 6h, no canal pago Sony. Quanto à mensagem erótica propagandeada pelo Al Bundy, ofereço de graça, mesmo que ainda não esteja capacitado para tal. Ai, Senhor, quem me dera... Para finalizar, o diretor do setor em que trabalho adentra o espaço vazio de atendimento aos alunos e pergunta, fazendo menção a uma canção boêmia: “para quê tanta paz?”. Respondo com minhas palavras.

Wesley PC>

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