sábado, 5 de junho de 2010

CHANTAGEM PSIQUIÁTRICA (CAPÍTULO II)

Talvez eu demore mesmo para entender algumas (auto-)rejeições básicas e fundamentais para a manutenção do sistema capitalista, mas gostaria muito de conversar com alguém que tenha visto “De Repente, no Último Verão” (1959) quando este estreou nos cinemas.

Dirigido pelo mesmo Joseph L. Mankiewicz de “A Malvada” (1950) e “A Condessa Descalça” (1954), este ótimo filme adaptado de uma peça teatral do freudianamente ressentido Tennessee Williams conta uma trama que choca até mesmo em sua sinopse e com a qual eu me identifiquei por extensão invertida. Como eu agiria numa situação como aquela? Como?

Digamos que são dois núcleos temporais relacionados. No presente, o neurocirurgião vivido pelo belo Montgomery Clift é convocado pela personagem da deslumbrante Katharine Hepburn para clinicar a patológica jovem interpretada por Elizabeth Taylor. Motivo: ela está emocionalmente catatônica desde que presenciou a morte de seu primo, pelo qual eram apaixonadas tanto ela quanto a mãe do mesmo. Mas ele era um homossexual promíscuo, que a usava como isca praiana para se aproximar de heterossexuais excitados, que, afinal, o devoram literalmente num ritual antropofágico chocante que é traumaticamente revelado após longas e demoradas sessões de terapia, em que as personagens femininas, tais e quais os espectadores do filme, estarão apaixonadas por transferência de interesses traumáticos pelo neurocirurgião. Até que o passado volta para complicar ainda mais uma situação já demasiado complicada e psicanaliticamente irremediável. Impossível sair emocionalmente ileso deste filme!

Mesmo o filme não sendo de todo excelente (o que é assaz compreensível, visto que estes temas polêmicos foram encenados ainda sob a vigência do Códio Hays de censura), creio que a crueza de seu enredo seja-me suficiente para assumir a paspalhice de meu ser. Mais óbvio, patologicamente impossível!

Wesley PC>

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