segunda-feira, 7 de junho de 2010

A DESCOBERTA DE UM TESOURO CHAMADO “BISSEXUÁSTICA” (2004)

Segundo Fábio Mafra (vulgo Chupeta), um dos idealizadores da extraordinária banda pernambucana Textículos de Mary, a rejeição não somente das gravadoras (tementes em lidar com um material tão bruto e ousado) como também a má recepção de facções de público que incluíam ‘gays’ TFP (Tradição, Família e Propriedade) revoltados com o que tachavam de mau gosto da banda fizeram com que a mesma chafurdasse na extinção decorrente da incompreensão. Para o vocalista, isto representou ao menos um alívio, visto que ele não agüentava mais “usar calcinhas apertadas que machucavam os ovos” (risos). Pena. Os apreciadores de boa música de protesto como eu não mais poderão presenciar os espetáculos chocantes e arrasadores da Banda d’as Cachorra, cujo nome se escreve assim mesmo, com erro de concordância fechoso e tudo!

Para o nosso consolo, porém, descobri que, além do bastante divulgado álbum de estréia [“Cheque Girls” (2002)], pode ser facilmente baixado também “Bissexuástica” (2004), disco este cuja sonoridade difere do álbum anterior, tanto na qualidade técnica do som propriamente dito (inferior, visto que decorre de uma gravação ao vivo) quanto na qualidade das letras (mais taciturnas e conscienciosas) e na depuração das referências musicais (que pregam tributo explícito a The Doors, The Velvet Underground, Iggy Pop na fase mais suja e a banda brasileira Fellini, para ficar apenas naquelas que eu pessoalmente reconheci), de maneira que, se este segundo álbum não é tão poderoso em seus ataques ‘punks’ quanto o primeiro, ele é digno de menção bastante elogiosa pela maturidade discursiva. Faixas como “Bicha Escrota” (que dilacera o destino comum a homossexuais boêmios que envelhecem) e “Monstro Gay” (que narra a vingança de um afetado que, “para se livrar da deprê, contamina os michês com o vírus do HIV”) me conquistaram por completo e, como tal, serei um defensor contumaz da eternidade da banda, defesa esta que renderá um artigo acadêmico que pretendo apresentar no ENUDS (Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual) deste ano, a ocorrer entre os meses de setembro e outubro, na cidade de campinas – SP.

Infelizmente, as letras das canções deste segundo álbum não estão disponíveis na Internet, mas quem se dispuser a ouvi-lo perceberá que o mesmo é muito mais rico em termos de execução instrumental, de maneira que caem por terra as acusações de que a música seria apenas um interesse secundário para os membros da trupe da Chupeta, supostamente mais interessados no glamour transexual do que no poder de convencimento artístico sonorizado. O inteligente título do álbum, acrescido do subtítulo “Construindo uma Política Homossexual” revela que os vôos ideológico-culturais da banda são bem mais elevados do que pensam crer seus detratores elitistas. Os geniais Textículos de Mary militam, entretêm, excitam-nos e fazem-nos refletir sobre os papéis sociais que desempenhamos, voluntariamente ou não, tudo de uma gozada só. Recomendo de pau duro, coração aberto e cérebro em riste!

Wesley PC>

3 comentários:

Nina Sampaio disse...

Opa! Vou procurar baixar! Lembro-me de Jadson me ter mostrado uma música "Uma linda em Berlim" (é assim mesmo?) e eu ter gostado (tem a ver lé com cré?)...Beijinhos, pessoa!

Pseudokane3 disse...

Assim mesmo, cujo refrão é "o nome dela é Lindemberg!" (KKKK) - piada interna?

Baixe, baixe, baixe, Textículos de Mary é genial!

WPC>

Pseudokane3 disse...

"Monstro Gay" é outra canção...

A que eu menciono com amor chama-se "Terminal de Casa Caiada" . Genial!

WPC>