domingo, 6 de junho de 2010

“FOI O PRÓPRIO MÉDICO QUEM RECOMENDOU QUE ELE VOLTASSE AO TRABALHO”...

O diretor carioca Jom Tob Azulay tem motivos para estar tão orgulhoso enquanto segura o material de divulgação do icônico filme “Os Doces Bárbaros” (1976), relançado recentemente em DVD restaurado. Acabo de ver este filme em exibição na TV Brasil e ainda estou absorto diante de tanta magia, diante de tanto encantamento, diante de tanta brasilidade! Não somente por causa das músicas maravilhosas em si, mas em virtude da própria constituição fortuita que assolou os produtores do filme à época, que, além do espetáculo homônimo, registraram a prisão e o internamento de Gilberto Gil por posse de maconha (o julgamento que o condena é hilário de tão conservador!) e flagram três grandes situações jornalísticas de caráter invasivo e emburrecedor que me fazem realmente questionar o que eu quero ao me embrenhar na formação profissional deste curso. Eis as três situações:

Na primeira, ainda no começo do filme, quando os quatro geniais artistas baianos estavam explicando as intenções e motivações do espetáculo, eles participam de uma entrevista coletiva e soa cinicamente atacados por seus entrevistadores, que perguntam se eles tencionam imitar The Beatles por conjugação inversa (enquanto estes começaram juntos e depois se separaram, aqueles começaram separados e agora se juntam – venhamos e convenhamos, uma comparação muito tosca) ou se eles não se sentem culpados por lançarem música enquanto “produto” tocável no rádio. Ri diante da ignorância atacante daqueles jornalistas. Senti vergonha por eles e gostei muito do modo sincero como Gilberto Gil enfrentou o cinismo idiota dos repórteres.

O que me leva à segunda situação, envolvendo o julgamento deste artista, antecedido por depoimentos do gerente do hotel em que ele estava hospedado e do prepotente delegado que o prendeu. Ao sair do tribunal, Gilberto Gil é cercado por repórteres e gentilmente ele pede que estes o deixem ir para casa, que ele precisa descansar e estar com sua família, comprometendo-se a conceder uma entrevista no dia seguinte. Os impacientes jornalistas não se calavam, queriam que ele respondesse às suas perguntas invasivas ali mesmo, sendo que, ao final, ele consegue convencer que, ao invés de entrevistas, seja concedida apenas uma sessão de fotos, em que os jornalistas se aproveitam para pedir que Gilberto Gil beije seu filho Pedro de forma externalizada, etc., etc.. Minutos antes eu estava rindo com um comentário chapado do artista, que disse que este episódio (sua prisão) teria “um efeito negativo apenas superficial em nossos corpos e em nossas almas”, de maneira que não atacaria o espírito. Os outros integrantes do quarteto mostrariam que sim, afetaria bastante, mas também que eles são geniais o bastante para superarem isto com dignidade e alento. Digo mais: fiquei surpreso com a simpatia e inteligência do Gilberto Gil. O modo delicado e risonho com que ele agradece e se despede da imprensa tocou o meu coração!

E, por fim, a terceira situação, tragicômica: um jornalista completamente equivocado conversa com Maria Bethânia enquanto esta se maquia e faz perguntas imbecis sobre política e religião, elucubra erroneamente acerca de declarações e eventos prévios da carreira da cantora (o modo como ela e seu irmão foram lançados como artistas, por exemplo) e se torna merecedor do desdém que ela destina quando ele insiste em desrespeitar os pontos de vista da baiana. Enquanto a situação se estendia, inclusive, eu ficava gritando comigo mesmo: “meu Deus, este cara não se toca, não?!”. Eis algo que deveria ser reproduzido em todas as salas de aula de Jornalismo do Brasil!

De resto, é isso: o filme é incrível, o quarteto prova-se fantástico dentro e fora dos palcos (com exceção talvez de Caetano Veloso, bastante apagado em relação aos demais e tolo num encontro circunstancial com membros dos Novos Baianos) e é muito poderoso enquanto documento universitário, cultural e popular acima de tudo. Quero um DVD destes para mim, Sr. Jom Tob Azulay!

Wesley PC>

2 comentários:

Nina Sampaio disse...

Poxa eu não assisti a primeira parte do filme! Mas, como estou numérica hoje vou falar por tópicos enumerados: Primeiro: você jorra textos, né menino? Vc escreve em quatrocentos mil lugares, trabalha no DAA, asssite a trezentos mil filmes, dança quinhentas mil músicas e as ouve, com acuidade, seiscentas mil vezes!Segundo: eu tenho que virar uma pessoa internética e vir sempre aqui! Terceiro: a gente escreveu impressões parecidas quanto aos jornalistas! (que engraçado!).Agora já sem número e/ou ordenação: também mexeu comigo o filme e eu os queria muito perto de mim.Bora sim baixá-lo e assisti-lo de mão dadas irmanamente como vc falou no Maracujá! Viva sim a máquina de lavar: sempre, meu nego!

Unknown disse...

Wesley semeando curiosidade. Agora quero assistir também. Pô, foi passar logo num sábado à noite.