quinta-feira, 10 de junho de 2010

O FIM DE UMA “PIADA INTERNA” OU O PONTO DE PARTIDA DE VÁRIAS OUTRAS?

Vários de meus amigos reais e virtuais elogiaram com afinco “Eletrodoméstica” (2005), curta-metragem dirigido pelo crítico pernambucano de cinema Kleber Mendonça Filho. Diversos contratempos levaram-me a não ver este filme até a tarde de hoje, quanto literalmente me encantei diante do mesmo, visto que ali, para além da fecundidade discursiva e sociológica de seu enredo, que aborda o cotidiano de uma dona-de-casa saturada por eletrodomésticos e demais controladores elétrico-eletrônicos da vida contemporânea, estive diante de uma cena absolutamente espetacular, tanto no plano da realização quanto no que diz respeito á minha identificação pessoal: no clímax do filme, a protagonista do filme (magnificamente interpretada por Magdale Alves) goza com a movimentação frenética de uma maquina de lavar, dependurando-se sobre a mesma, fazendo com que as laterais do aparelho entrem em contato direto com sua vagina. Não é mais ou menos o que eu e uma amiga brincamos quando nos referimos sexualmente a “máquina de lavar”? Juro que eu não sabia da existência desta preciosa cena neste filme genial!

A fim de validar ainda mais a magnânima experiência de ter visto (tardiamente, mas ainda a tempo) este filme brilhante, falta energia elétrica pouco tempo depois de encerrada a sessão. Numa cena-chave do filme, coincidentemente, também falta energia, o que dá origem a diálogos excelentes por parte do roteiro escrito pelo próprio diretor, seja no que diz respeito à devoção maternal da protagonista (que ensina sua filha a valorizar a Matemática com base em exemplos econômicos e eletrodomésticos pontuais) seja na explicitação completa da indissociação contemporânea entre homem (ou mulher) e máquina nos tempos atuais. Em outras palavras: a ótima condução directiva do filme demonstra como cada simples ato da protagonista é mediado por aparelhos eletro-eletrônicos, como uma surpreendente lição de moral escolar com o filho (que perdera o trabalho plagiado que digitava no computador) ou um gesto de caridade para com um pedinte (que a elogia por ser a primeira dentre 30 donas-de-casa que lhe abre a porta para lhe conceder um copo com água). Ou seja, o filme não fica no mero denuncismo pós-moderno como acontece com diversos produtos artísticos similares. Mostra a protagonista como ser humano e, acima de tudo, respeita os espectadores (eu incluído) como sendo igualmente humanizados e tendentes à postura humanitarista. Impressionante. Recomendo!

Quanto à pergunta-título, deixo-a em aberto.

Wesley PC>

Nenhum comentário: