terça-feira, 1 de junho de 2010

OBRIGADO A GLAUCO

Na velocidade informativamente saturada da contemporaneidade, milhares de músicas, filmes e fotografias passam por nós diuturnamente, sem que tenhamos tempo de refletir sobre o quanto algumas delas poderão mudar a nossa vida pessoal, inclusive no sentido de atenuar esta pletora desembestada de informações e produtos culturais. Não que eu esteja reclamando de boca cheia, mas é “tanta coisa para consumir, tão pouco tempo” (risos)...

Pois bem, numa de minhas visitas recentes à Gomorra, um Glauco entusiasmado pára diante de mim e pergunta o que eu tinha achado de “Destricted – 7 Vezes Erotismo” (2006), filme que concatena os olhares de sete artistas consagrados sobre o universo da pornografia artística. Não sei se já tinha conhecimento deste projeto ou não (sabia de uma experiência isolada atrelada a ele), mas fiquei desesperado para ver aquele filme, ali mesmo, suplicando diante de Glauco para que ele me concedesse o arquivo. Na segunda-feira, ele o fez – e o filme funcionou como deveria em mim. Portanto, antes de mais nada, digo-lhe OBRIGADO!

Não sei se vi o filme na ordem correta (os episódios estavam misturados e sem elementos de concatenação entre eles), mas seguem-se alguns comentários sobre cada um deles, do jeito como eles foram vistos (e sentidos) por mim:

Primeiro episódio, “Balkan Erotic Epic”, da Marina Abramovic, artista iugoslava famosa por suas pesquisas sobre sexualidade eslava, que é o que ela também faz aqui, numa belíssima sucessão de cenas que reproduzem costumes mágicos antigos, em que o auto-erotismo era utilizado para dirimir angustias ou temores em relação à natureza. A cena em que vários homens são mostrados fecundando o chão com suas masturbações é de uma beleza ímpar!

Segue-se “Sync”, episódio do Marco Brambilla, reconhecido pela direção do filme “O Demolidor” (1993), uma combinação muito boa de Sylvester Stallone e Aldous Huxley para as massas, mas se equivoca por completo neste filme, muito bem pesquisado, admito, mas que se milita a gastar quase dois minutos com cenas de sexo explícito, retiradas de vários filmes pornográficos. Sim, e daí?

O terceiro episódio é a obra-prima “Impaled”, dirigido por meu padrinho artístico Larry Clark, que realiza na tela as perversões adolescentes que ele (e eu, por extensão) não pôde, não quis ou não se satisfez durante a faixa etária mediana dos seus atores. Em tom documental, este média-metragem mostra-o entrevistando rapazes que responderam a um anúncio de jornal e falam sobre quando começaram a ver filmes pornôs, sobre a primeira vez em que fizeram sexo e sobre o porquê de alguns deles depilarem a púbis (mostrada em frente à câmera de forma quase sacra). Um deles é escolhido para fazer sexo com uma atriz pornô diante da equipe do filme, quando se passa para o segundo segmento do mesmo, em que o rapaz, um tal de Daniel, bastante gracioso, conduz as entrevistas com atrizes do gênero, a fim de escolher quem foderá com ele. Opta-se por uma espevitada simpaticíssima de 40 anos e o que vem a seguir é aquilo que conhecemos, mostrado em toda a sua falta de ‘glamour’ e paralelamente à “democracia irrevogável do prazer”, defendida por uma personagem almodovariana. Obra de arte em sentido lato, para ficar eternamente registrado em minhas memórias subjetivas de interesse antropológico e passional por este universo pós-adolescente tão encantador e misterioso. Obra-prima mesmo!

O curta-metragem que vem depois desta preciosidade é aquele pelo qual eu mais nutria curiosidade, o segmento “Death Valley”, de Sam Taylor-Wood, em que um homem bem-afeiçoado caminha por uma região árida, tira a sua camisa vermelha e começa a se masturbar, num movimento que dura sete minutos de um plano-seqüência tenso, em que ele parece não conseguir se concentrar ou manter a ereção ou ejacular. Não preciso dizer que é genial em seus intentos discursivos!

“House Call”, de Richard Prince, é lixo. Uma regravação de filme pornô sueco, realizado como se estivesse sendo filmado através de uma tela de TV. Vazio, repetitivo e enfadonho. Nulo, em outras palavras. Quem dera pudesse ser ignorado...

“Hoist”, do Matthew Barney, por sua vez, é muito estranho, mas muito bom e bonito. Filmado no Brasil e aquele que encabeça a arte do pôster do filme, neste curta-metragem vemos a interação homem-máquina-sexo através de um prisma surpreendente, em que um pênis fica ereto aos poucos, a engrenagem de um trator começa a funcionar e o esperma serve como lubrificante maquinal. De imediato, o que mais pensei é que parecia um filme da Björk e... Qual não foi a minha surpresa ao descobrir/lembrar que o talzinho que dirigiu o filme era justamente o marido da musa islandesa? Nada mais coerente, portanto!

Por fim, “We Fuck Alone”, do polemista Gaspar Noé. Muitos amigos meus gostam do segmento, que talvez até funcione isoladamente, mas aqui, em conjunto, ele praticamente nega todo o discurso construído até então. No curta-metragem, uma montagem estrobocóspica e elíptica mostra um rapaz com aparência de psicopata masturbando-se com o auxílio de um revólver e de uma boneca inflável, enquanto que, noutro quarto, uma rapariga faz a mesma coisa. O desfecho é violento como costuma assolar a obra pessimista de araque do diretor. Desgostei mesmo, um segmento “brochante”, como disseram por aí...

Impotência estilística derradeira à parte, o filme como um todo é otimamente funcional e, assim sendo, voltará a enfeitar algumas postagens futuras deste ‘blog’. Por isso, insisto neste provisório anúncio em agradecer a Glauco por ter me apresentado a este rico exemplar de arte e pornografia conjunta e, sendo eu incapaz de escolher uma imagem de algum dos segmentos que sintetize bem o que senti, exibo esta fotografia primeva do encantatório Larry Clark, em que um rapaz se penteia, supostamente nu, em frente a uma mobília de luxo. Acho que dá para subentender bem o que vem depois, né?

Obrigado mesmo!

Wesley PC>

Nenhum comentário: