domingo, 18 de julho de 2010

“A VOZ DE POVO É A VOZ DE DEUS”!

A última vez em que ouvi este famoso dito popular foi no filme “Estrada da Vida” (1980, de Nelson Pereira dos Santos), visto há alguns minutos em companhia de uma família de fãs da dupla sertaneja que protagoniza o filme, Milionário e José Rico. O pai é um caminhoneiro dedicado. A mãe é uma dona-de-casa divertida. O filho é um mecânico que gostaria de seguir os passos do pai quando criança. E eu? Eu não sabia cantar a maioria das canções apresentadas no filme, mas admito a importância seminal de seu diretor para o cinema de nosso país, o que me traz de volta à cena: numa visita à Igreja de Nossa Senhora de Aparecida, a dupla protagonista deixa um LP no altar como oferenda à santa pelos préstimos concedidos enquanto padroeira, de maneira que quando um padre encontra o tal disco, seu sermão contém a frase-título desta postagem. Se eu discordei da mesma? Digamos que mais do que ter desgostado ou não do filme (que, ao final, é muito simpático e honesto com seu público-alvo), insisto que o mesmo é deveras funcional e digno de ser conhecido, não obstante os atropelos narrativos, a trama repleta de simplificações cômico-biográficas e o arcabouço indispensável no que se refere ao conhecimento de algo pessoal sobre a dupla. Digamos que a bela cena em que, do alto de um andaime de construção civil, a dupla entoa a idílica “Berço de Deus” justifica plenamente a audiência de algum espectador porventura mais ranzinza:

“Amigo irmão, não zombe da natureza
Existem tantas belezas pra gente contemplar
Se me seguir passo lente por onde vou
Com carinho e muito amor posso lhe mostrar

Em cima da terra, no fundo do mar
Existe um tesouro pra gente desfrutar
Em cima da terra, no fundo do mar
Existe um tesouro pra gente desfrutar”


Na cena em pauta, enquanto Milionário e José Rico interrompem os seus serviços como pintores de paredes para cantarem o referido libelo ecológico populista, imagens de belezas naturais tupiniquins substituem a selva de pedra em que eles se encontravam. E, neste exato momento, eu lembrei de algo que aconteceu a mim e alguns de meus melhores amigos quando descasávamos na areia da praia mais cedo: um trio de marginais adolescentes veio em nossa direção. Um deles perguntou-me o que eu escondia no meio das roupas, segurando algo em seu calção como se estivesse a me ameaçar com uma faca. Respondi, de forma ríspida: “apenas pano”. O mesmo rapaz rude tomou uma lata de cerveja doutro amigo meu e ficou irritado quando Américo recusou-se a apertar a sua mão. Foi embora mesmo assim, o que nos poupou de uma situação ainda mais inconveniente. Mas era tarde para não deixar efeitos negativos (e tênues) sobre o dia maravilhoso que passamos ao comemorar o aniversário de 29 anos de Jadson Teles: a minha paranóia típica me fazia temer violentamente um reencontro com aquelas três pessoas intimidadoras. Dos três, aliás, somente um falou conosco. Os outros ficaram calados, observando, vigiando... Era uma voz do povo manifestando-se diante de nós?

Wesley PC>

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