quarta-feira, 15 de setembro de 2010

“NÃO ENXERGO MAIS O INFERNO QUE ME ATRAIU”...

Passei muito tempo de minha vida protelando a leitura de “A Divina Comédia”, obra imortal do mestre italiano Dante Alighieri. Cria eu que o livro seria intragável, seja na forma seja no seu extenso conteúdo. Não sei nem mesmo o que eu entendia como “intragável”, mas protelei... Na semana passada, no intuito secundário de agradar a sanha literária de outrem, peguei o tal livro na biblioteca e comecei a lê-lo. Sete séculos depois, estava eu a consumir uma das obras mais reverenciadas da Literatura universal e enfrentando duas classes dominantes de problemas: a) o texto em versos do livro talvez só funcione adequadamente em seu idioma original, de maneira que para quem uma velocidade de varredura ocular de páginas tão rápida quanto a minha as rupturas frasais em prol de um ritmo poético não conservado na tradução disponível de que ora disponho; e b) o mesmo problema anterior com outras palavras: talvez este não seja um livro que deva ser lido tão rápido quanto eu estou acostumado a fazer...

Não sei se cabe resumir aqui a trama do livro, tão conhecida de todos, mas o périplo do poeta-autor pelos nove círculos do Inferno chegou ao auge (até então, pelo menos) no terceiro, quando deparamo-nos com o cão Cérbero a mastigar os gulosos aqui reunidos, conforme ilustração de Gustave Doré que ficou célebre no século XIX. Não à toa, foi no terceiro círculo que encontrei uma página riscada, no volume que peguei emprestado na BICEN/UFS (Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe): “quando a coisa é mais perfeita, mais se sente o bem, e também a dor. Se bem que esta gente maldita nunca atinja a verdadeira perfeição, espera ser menos imperfeita depois do dia de juízo”, disse Virgilio, o guia de Dante. “Glupt!”, fez Wesley, leitor do mesmo.

Nesta semana escolhida para ler o tal livro, alguns pequenos inconvenientes me assolaram: desesperei-me com uma soma monetária que entrou inadvertidamente em minha conta bancária; discuti com minha mãe porque ela queria ver o capítulo tardio de uma telenovela no mesmo horário em que eu queria ver um filme; dormi no final de “Resident Evil 3: A Extinção” (2007), bobagem dirigida pelo australiano Russell Mulcahy; fui destratado por um funcionário provisório do setor em que trabalho, quando tentei adverti-lo de que o mesmo cometeria uma bobagem criminosa; testemunhei os mal-estares corporais de alguém cuja saúde me é muito prezada; e descobri que um dos rapazes que mais teimaram para que eu abandonasse a minha depressão frasal estereotípica havia falecido no último fim-de-semana, horas depois de eu tê-lo desejado boa viagem numa lua-de-mel transcorrida na Bahia. Viver tem dessas coisas, né? E ainda me faltam quase 2/3 de leitura!

Wesley PC>

Um comentário:

tatiana hora disse...

eu descobri que leio rápido demais quando estava numa aula e o professor mandou os alunos lerem o texto que estava na transparência e eu terminei primeiro e fiquei esperando um tempão.
depois que descobri isso resolvi tentar ler mais devagar, pois acho que isso é um problema de concentração.