domingo, 3 de outubro de 2010

"POIS ESTE AMOR PODERÁ TRAZER MAIS PESARES PERMANECENDO OCULTO, DO QUE RANCORES, SE FOR REVELADO”.

Assim diz Polônio à sua filha Ofélia, depois que seu criado Reinaldo sai da sala, na primeira cena do segundo ato de “Hamlet” (1602), peça absolutamente magistral de William Shakespeare que, por mais que sejamos voluntariados a achá-la ótima em razão de seus antecedentes históricos, desdenhamos destes e achamo-la excepcional e mui divertida em razão de toda melancolia e ironia que perpassa cada página de sua curta extensão. Juro, o texto do bardo é simplesmente fenomenal! Como é que eu não li isto antes?

Digo mais, enquanto consumia aquelas palavras escritas para serem recitadas, revia em minha mente a extraordinária versão cinematográfica de Kenneth Branagh (1996), que, em seu fulgor e agilidade, dota de ainda mais ciclotimia o protagonista, que ri e chora em igual medida, que se angustia, se atormenta e exulta em igual medida, nos eu afã por pôr fim às desgraças que, de súbito, o flagram quando ele se vê apaixonado por uma vassala ou quando descobre que sua mãe entregara-se traiçoeiramente ao homem que assassinara seu pai. “Por que o Todo-Poderoso fixou suas leis contra o suicídio? Meu Deus! Meu Deus! Como me parecem abjetas, antiquadas, e vãs todas as práticas deste mundo! Opróbrio para o mundo! Ah! Abjeção! É um jardim que não foi limpo, onde tudo cresce à vontade; produtos de natureza grosseira e amarga unicamente o ocupam! Que tenhamos chegado a isto!”. Deus do céu, obra-prima!

Wesley PC>

Nenhum comentário: