quinta-feira, 28 de outubro de 2010

“KRIG-HA, BANDOLO!” (1973) E TUDO O QUE VEM INCLUÍDO...

Como muitas outras crianças periféricas, fui apresentado à magistral (e, admitamos, religiosamente irregular) de Raul Seixas através de coletâneas. Somente no passado, 2009, pude ter a honra de escutar os álbuns integrais deste célebre artista baiano, que tanto me chamava a atenção por ser, coincidentemente, um dos artistas que minha mãe mais gosta de ouvir. Desde que eu era pequeno, aliás, o que sempre me instigou: como é que pode que minha mãe seja contemporânea deste artista tão bem-humorado (apesar do pessimismo reinante em algumas canções mais esotéricas) e seja tão ríspida (porque, sim, minha mãe era muito ríspida em minha infância)? Nunca soube a resposta, mas fiquei contente em ouvir ao lado dela o álbum em pauta nesta postagem, por três vezes seguidas, na manhã nublada de hoje. “Krig-Ha, Bandolo!” é um álbum tão bom e repleto de sucessos que até parece uma daquelas coletâneas a que me acostumei...

Na introdução, o pequeno Raul Seixas, numa gravação realizada aos 9 anos de idade, interpreta “Good Rockin’ Tonight”. Não é muito interessante no plano musical (minha mãe até pensou que fosse uma homenagem onomatopaica à nossa cabrita!), mas exala nostalgia. E isto me valeu enquanto expressão. Em seguida, uma das 10 melhores canções brasileiras de todos os tempos, em minha modesta opinião: a egrégia “Mosca na Sopa”, brilhante exercício poli-rítmico e discursivo. Genial! Depois vem o clássico “Metamorfose Ambulante”, quiçá a canção mais famosa do artista, depois de “Maluco Beleza”. As demais faixas são eclipsadas por estas preciosidades iniciais, salvo o último petardo, “Ouro de Tolos”, com o famoso adágio “esperando a morte chegar...” e a faixa 08, dramática ao extremo, mesmo sendo interpretada em inglês: “How Could I Know”. Como me identifico com esta letra, com a impaciência descrente no retorno de Cristo, com as variações de crescimento capilares, com a solidão titubeante, com tudo o que isto implica. E, na aula de hoje, a professora diferenciava expressão de comunicação. São situações diferentes. E eu bem sabia disso!

Wesley PC>

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