domingo, 3 de outubro de 2010

A MALDADE E A BONDADE SUPRA-GENÉTICAS!

Quando eu gravei o filme “Pura Liberdade” (1999, de Sergei Bodrov), minha intenção era puramente conferir mais um exemplar mediano da cinematografia destinada ao público infantil. Não conhecia nada sobre o filme, salvo que a capa nacional do mesmo mostrava um garotinho abraçado a um cavalo (mais um!) e que o diretor é um dos rebentos ‘pop’ do cinema cazaque. E só! Vendo-o na manhã de hoje, porém, por mero acidente, surpreendi-me desde a cena inicial: apesar de a perspectiva narrativa ser deambulatória (ora subjetiva, ora oniscientemente objetiva), a narração eqüina do mesmo fisgou-me de imediato. Repito: o filme é supostamente narrado por um cavalo, um potro recém-nascido, que vem ao mundo num navio de tráfico, quando sua mãe estava sendo carregada para a Namíbia, em 1914, quando seria obrigada a trabalhar sem parar numa mina recém-descoberta de cobre. Seu parto dá-se em plena viagem e isto permite uma deliciosa observação política do narrador: “ali naquele barco, onde eu dei meus primeiros passos, logo percebi que estava sobre um mundo instável e tremente”. Eis o Capitalismo!

Pensei comigo mesmo que este era um filme supostamente zoofílico em que eu deveria prestar atenção e estive certo: à medida que a trama evolui, o potro até que conhece um menininho bem-intencionado, mas este é secundarizado em função das descobertas sobrevivenciais a que tem acesso, ainda numa fase mui tenra de sua vida animal: sua mãe morre espancada por outro cavalo, considerado “malvado” em razão de sua linhagem superior (para quem?); ele é picado por uma cobra no deserto; encontra um oásis e lamenta não ter com quem compartilhá-lo; apaixona-se e é repreendido por isto (“é um mundo injusto, mas não só para mim!”, pensa ele); e interage de formas diferenciadas com filhotes de leões, com antílopes, com girafas, com povos humanos do deserto e etc.. Juro que fiquei impressionado com o filme, emocionalmente afetado até. Quase lacrimejei de emoção!

Não é um filme perfeito, lógico – as ambições estéticas ‘for export’ de seu diretor não permitiram isto – mas possui lindos momentos, grande partes deles advindos da colaboração no enredo do para-ambientalista cinematográfico Jean-Jacques Annaud e da inebriante trilha sonora de Nicola Piovani. Recomendo-o, portanto, visto que é raro um filme infantil conservar-se tão nobre em seus intentos. Com tudo o de “suspeito” que esteja contido nas cenas de domesticação eqüina (aquilo é amizade?) que acompanham os créditos finais...

Wesley PC>

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