terça-feira, 2 de novembro de 2010

HORA DE REVELAR O SEGREDO...

Creio que seja suficientemente óbvio, mas, da mesma forma que “a morte é assaz promiscua para ser amada” (acabo de ler esta frase genial numa crítica do filme que ora me pretendo a analisar metonimicamente), “verdades óbvias precisam ser anunciadas a fim de que não se configurem em ideologias ditatoriais”. Ou algo parecido. Então, segue o óbvio: durante este feriado, as postagens que eu adicionei a este ‘blog’ eram comumente acompanhadas por imagens em preto-e-branco. Era como se fosse um aviso, um clamor, um anúncio, que, eu não sei bem se interessa dizer, mas tem um destinatário-padrão, por mais que este seja relutante ou ocupado demais para prestar atenção em sinais abobalhados de um insuportável apaixonado, no mesmo sentido promíscuo atribuído à morte que protagoniza este filme através de negação onipresente: “O Parque Macabro” (1962), do injustamente desconhecido Herk Harvey.

No Brasil, o título acostado aprisiona as ações perturbadoras do filme a um cenário específico, enquanto que a tradução original (“Carnaval de Almas”) aplica-se melhor ao estupor que nos acompanha durante a curta, porém impactante, duração do filme. Apesar de não ter sequer 90 minutos de duração cronológica, os minutos que passei diante deste filme repercutirão eternamente diante de meu subconsciente tendente ao atordoamento. Isso porque eu não sei se entendi pouco ou muito o filme ou se ele tem pouco ou muito para ser entendido: é um filme para ser sentido e temido, como a morte ou a vida!

Poucas vezes, aliás, estive diante de um roteiro tão simples que consegue ser efetivo na transmissão de seus efeitos psicóticos: na primeira cena, um automóvel dirigido por homens desafia um automóvel dirigido por mulheres para um racha. O automóvel delas derrapa e cai de uma ponte. Buscas são efetuadas no local, tentando encontrar os defuntos femininos ou o carro em que elas estavam. Uma mulher aparece cambaleando no píer. Ela é organista e resolve sair da cidade, atormentada e desviada do mundo que estava. É perseguida por estranhas imagens de um avantesma morbidamente masculino (interpretado pelo próprio diretor). Encontra emprego noutra cidadela, mas desperta o interesse romântico/sexual de um vizinho de quarto. Ela não bebe, ela não dança, ela é tachada de adúltera pelo padre da congregação eclesiástica para a qual é contratada para executar o órgão. Ela fica surda de vez em quando e, nesta surdez, é como se ninguém mais a visse, como se o mundo a expelisse psicologicamente (apesar de sua presença física ser irrevogável) e ela enlouquece, grita, geme, sofre... Isso tudo resumido em menos de uma hora de projeção. O que acontece nos minutos finais me escandalizou! Uma verdadeira obra-prima do terror obliterada pelos preconceitos genéricos hollywoodianos, num filme que precisa ser conhecido, divulgado, sanado, debatido, analisado, curado. E, por isso, eu revelo o segredo: se tudo der certo, na próxima postagem, as cores brotarão!

Wesley PC>

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