sábado, 13 de novembro de 2010

“OPRESSÃO EMPREGATÍCIA” (POR DENTRO) OU A BUROCRACIA SÓ É RUIM PARA QUEM ASSIM A QUER!

Na manhã da última segunda-feira, irritei-me brevemente com um estudante de Engenharia Elétrica da UFS. Ele precisava de um documento específico para apresentar numa seleção de estágio e queria que, no documento, constasse uma informação adicional, que demandaria uma verificação adicional e um tempo extra para digitação. Disse-lhe que o documento levaria dois dias para ficar pronto, depois que ele apresentasse o comprovante de pagamento do mesmo, ao que ele arrebatou: “não é só digitar algumas informações num papel? Por que não tem como fazer isso agora?”. Bufei, mostrei-lhe a pilha de documentos em que eu estava trabalhando no momento em pauta e frisei, em tom iracundo mas solícito, o tempo estimado para entrega do documento: dois dias”. Ponto. Ele pagou a taxa e depois, na quarta-feira, veio buscar o documento, sem mais reclamações e em tempo hábil de entregá-lo à seleção de estágio que lhe interessava. Custava ter entendido desde o começo que nós, empregados do setor público, precisamos de um tempo mínimo para atender á enorme demanda por emissão de documentos?

Pois bem, a situação acima descrita é apenas uma das centenas de reclamações semelhantes que enfrento por semana, sentado quase 10 horas por dia diante de um balcão de atendimento aos alunos cada vez mais mimados da Universidade Federal de Sergipe. Vendo, na noite desta sexta-feira, o elogiado filme “Um Passaporte Húngaro” (2001), em que a cineasta Sandra Kogut filma a si mesma num périplo internacional em busca da nacionalidade magiar, à qual estavam afiliados os seus ancestrais, com o intuito de adquirir o passaporte nacional do título. “Por que tu desejas adquirir este passaporte e a nacionalidade húngara?”, pergunta uma burocrata. A cineasta fica calada, incapaz de admitir que se tratava de um mero pantim pequeno-burguês. Deu vontade de xingar na mesma hora. Péssima demonstração de exibicionismo subjetivista pseudo-reclamante.

Durante os tortuosos 72 minutos de duração do filme, a cineasta entrevista sua avó húngara, visita embaixadas na França e na Hungria e penetra as catacumbas documentais de um arquivo brasileiro, onde estavam registradas as chegadas de vários imigrantes europeus no Brasil, sendo que a maioria deles mudou de nome ao chegar ao país por causa das perseguições que sofriam por serem judeus. Como o avô da diretora do filme fora um destes que mudaram de nome, ficou ainda mais difícil para ela descobrir suas origens magiares, o que só se torna ainda mais burocraticamente grave quando ela deixa de apresentar sua certidão de nascimento para uma autoridade budapestense. Ou seja, ela queria ser naturalizada húngara não porque nascera na Hungria, mas porque os pais de um de seus genitores nasceram lá. E daí? Por que ela se achou no direito de transformar este acerto de contas xaroposo com as raízes de sua família num libelo contra a atrofia burocrática, servindo-se, para tal, dos piores estratagemas documentais em primeira pessoa? Péssima argumentação, abominável deturpação de elementos e interessantes, detestável filme. Fiquei envergonhado por ter desejado ver este filme, com um título tão gracioso, por tanto tempo. Erca!

Voltando ao DAA: na noite desta mesma sexta-feira, apareceu-me uma estudante de Administração Pública alegando precisar de um documento ainda mais complicado que aquele solicitado pelo estudante de Engenharia Elétrica. Comuniquei-lhe o prazo-padrão. “Mas eu preciso enviar este documento para Brasília até quarta-feira!”. Disse-lhe que tentaria entregar o tal documento na terça-feira à noite. Ela reclamou, disse que morava numa distante cidade interiorana, que não teria como buscar noutro dia. Insisti que eu tentaria lhe entregar o tal documento na terça-feira à noite. Ela disse, então, que o seu namorado podia aparecer no DAA no dia em pauta. Antes de vir para casa, deixei o documento digitado e impresso sobre a mesa de minha chefa, somente aguardando a assinatura dela e um carimbo, para se tornar completamente oficial e aceito em qualquer repartição pública do País. Comigo, burocracia funciona!

Wesley PC>

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