sábado, 27 de novembro de 2010

TER-SE-IA DITO, BEM ANTES, QUE A MASTURBAÇÃO É UMA PRECE...

“Pelo Amor de Meu Amor”: este é o título brasileiro para “The End of the Affair”, filme que o artesão hollywoodiano Edward Dmytryk dirigira em 1955, com base no romance arrebatador de Graham Greene, “Fim de Caso” (1951), adaptado com primor novamente para as telas em 1999, sob a tutela directiva do irlandês Neil Jordan, que concedeu ao roteiro, escrito por ele mesmo, a honra de melhorar ainda mais ao livro, de elevá-lo ao paroxismo da Graça, entendendo-se este substantivo abstrato como derivativo não somente do amor humano, como também do amor carnal. Por isso, lendo agora o livro, não ouso recusar a idéia primeva de, quando se masturba pensando firmemente em alguém, o efeito psicológico é o mesmo que direcionar uma prece desesperada a Deus: o ato pode não surtir qualquer efeito (salvo a prazerosa e provisória satisfação solitária do desejo), mas é funcional muito mais enquanto ato do que enquanto meio para outro desejo, antecipado na procuração. A prece é uma punheta, em suma!

Arrebatado que fui – e que serei sempre – pelo amor a (mais de) um ser humano e pelo vigor da Glória Eterna e Infinita de Deus, comprei duas boas edições de bolso do livro magno de Graham Greene, na última noite de quinta-feira. Os únicos dois volumes disponíveis na loja em que eu estivera, mas que teriam que ser meus! Depois que eu paguei por um dos volumes, os funcionários da loja disseram que não seria possível encontrar o segundo, visto que “os clientes retiram os livros de seus locais apropriados” e que a busca tornar-se-ia infinda por causa disto. Mas eu precisava comprar o livro naquela noite! Eu precisava que ele estivesse nas mãos de um rapaz que não somente perturba (positivamente) meus sentidos como me re-encaminha em direção a Deus, a um Deus que pode não existir, mas que eu acredito como fogo, que queima e me restitui a mais dolorosa das pazes. Um Deus que me faz usar a palavra PAZ no plural, como eu nunca pensei que fosse possível. Um Deus que é amor supremo e superior a qualquer coisa que ele porventura tenha criado, “à Sua imagem e semelhança”. "O Deus", como diria a Clarice Lispector, e “eu preciso que o Deus venha”!

Consumindo o livro como se consumisse a água benta que escorreu do batismo erótico do ser amado, percebi que as diferenças entre o seu conteúdo metalinguisticamente literário e a versão fílmica que tantas vezes eu revi são mui significativas, mas eu não estou autorizado aqui a narrar. Não posso revelar nenhum detalhe deste romance sublime, sob pena de estragar o arrebatamento inevitável que advém de suas revelações pungentes – e, neste caso, bem que eu poderia ter escrito “revelações” com letra maiúscula inicial, para se assemelhar mais ao poder admoestador do livro bíblico do Apocalipse. É uma trama que surpreende, que arrebata, que mostra-nos o amor de uma forma tão intensa que, até mesmo assumida e perpetuamente apaixonado como eu me confesso, tendi a me sentir descrente! Tanto é que, ao invés de escrever a sua resenha após o término da leitura, resolvi adiantar-me e enfrentar a tentação. Faltam ainda 30 páginas da edição que possuo diante de meus olhos agora, mas já tenho a plena e reiterada certeza de que não posso revelar detalhes sobre ele. É um livro sobre a Descoberta, a maior descoberta que possamos fazer em vida, a Descoberta!

E, numa dada parte da trama, lemos o seguinte trecho: “Acredito que existe um Deus – acredito na história toda, não há nada em que não acredite. Poderiam subdividir a Trindade em 12 partes, que acreditaria. Poderiam desencavar registros que provassem que Cristo era uma invenção de Pilatos para se autopromover e, ainda assim, acreditaria. A fé se entranhou em mim como uma doença. Do mesmo modo como me apaixonei. Nunca amara antes como o amo e nunca antes acreditei em nada como agora. Tenho certeza. Nunca tive certeza de nada. (..) Lutei contra a fé mais tempo do que lutei contra o amor, mas não tenho mais forças”. Deus do céu, era eu falando através daquela personagem!

Insistindo, portanto, que sou incapaz de transmitir a empolgação religiosa, masturbatória, vívida, ultra-romântica e real deste livro em palavras, insisto também que não devo revelar detalhes sobre ele, mas sim suplicar que ele seja lido, consumido, para que, só assim, eu chegue perto de ser compreendido no meu afã amoroso diário. E, pensando agora em “Pelo Amor de Meu Amor” – cuja visão torna-se uma obrigação para mim – imagino o quanto o diretor Edward Dmnytryk teve que lutar consigo mesmo para levar às telas, tão precipitadamente, um romance tão ousado, cuja sexualidade iridescente e concomitante religiosidade questionada no âmago de sua totalidade crente não devem ser aspectos ousados visto com olhos aceitantes pelos produtores da época. Como é que ele conseguiu esta proeza? Tenho que conseguir este filme!

“O que se pode construir no deserto? Às vezes, depois de um dia em que fizemos amor várias vezes, imagino se não é possível chegar ao fim do sexo, e sei que ele imagina o mesmo, com medo daquele ponto onde começa o deserto. O que vamos fazer no deserto se perdermos um ao outro? Como se continua a viver depois disso? [...] Se uma pessoa pudesse acreditar em Deus, será que encheria o deserto?”

Deus!

Wesley PC>

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