terça-feira, 21 de dezembro de 2010

E SE EU DISSER QUE VINCENT VAN GOGH (1853-1890) SE MATOU DEPOIS DE PINTAR ESTE QUADRO?

A pergunta não é minha, mas do crítico de arte John Berger que, num dos vários exercícios válidos de apreciação artística contidos no livro coletivo seminal “Modos de Ver”, nos pergunta o que achamos deste quadro antes de fazer o questionamento acima. Aliás, acrescenta: depois que sabemos que o artista se suicidou depois deste quadro, a pintura por si mesma é acrescida de elementos dramáticos e trágicos não facilmente perceptíveis. Ou talvez já percebidos, mas não com a mesma amplitude. Antes, é uma paisagem tomada por aves daninhas. Depois, é o doloroso testamento de um artista incompreendido em seu próprio tempo. Ou algo parecido.

Façamos de conta que o que eu quero dizer com esta postagem está sendo mentalmente decodificado: uma zonzeira atroz em minha cabeça, uma expectativa, uma vontade de rever o filme mais assumidamente onírico de Akira Kurosawa, o medo de que tudo saia errado num encontro aguardado desde que fevereiro de 2010 raiou no horizonte de minhas frustrações anuais... A cada dia, aproximo-me mais e mais de Vincent Van Gogh, sem o mesmo talento, é claro. Se ele dedicou boa parte de sua carreira a expressivos auto-retratos, eu dedico a quase integralidade de minha vida a auto-expressões. E, por sorte, minhas orelhas são pequenas. E tenho que comprar fones de ouvido hoje. Na foto: “Campo de Trigo com Corvos” (1890). No ouvido: “Hurt”, em versão inicial de Trent Reznor, comandando sua “banda de um homem só”, Nine Inch Nails:

“I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hole
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything”


E, pelo visto, sentido, pintado e ouvido, esta canção voltará aqui mais e mais vezes!

Wesley PC>

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