quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

“EU NÃO SOU AQUILO QUE EU SOU” (IAGO, PERSONAGEM SHAKESPEAREANO, SENDO CITADO EM FILME DE JAMES TOBACK)

Antes de ver “Preto e Branco” (1999), filme do cineasta pouco conhecido James Toback que eu desejava ver desde que foi lançado, mas que nunca tive oportunidade até então, eu li um capítulo do livro “A Cultura da Convergência” (2006), do comunicólogo Henry Jenkins, em que este diagnosticava, com riqueza de detalhes, um novo contexto midiático em que produção e consumo de artefatos culturais são posicionamentos espectatoriais que se confundem. Para minha surpresa positiva, o filme bebe na mesma fonte teorética espalhafatosa e lança bem mais questões do que está habilitado a resolvê-las, assemelhando-se ao episódio-piloto de um seriado urbano de TV. E não é que o filme é muito bom assim mesmo? Correspondeu mais do que positivamente às minhas expectativas!

Talvez por ser um fã compulsivo de filmes-painel, minha apreciação positiva já estivesse parcialmente garantida. Um elenco mega-estelar numa trama que põe em foco a confusão identitária que vem se manifestando progressivamente ao redor do mundo, num contexto que ultrapassa as acusações caracteristicamente direcionadas contra a globalização. Senão, vejamos: Iago, rival invejoso do personagem-título da peça “Otelo, o Mouro de Veneza” (escrita por William Shakespeare em 1603) é citado pelo professor afetado que o cantor Jared Leto interpreta, quando interroga sua classe acerca de como eles se vêem enquanto raça. Uma garota loira de cabelos curtos diz que é negra por dentro e, numa cena anterior, é mostrada fazendo sexo com um cantor de ‘hip-hop’ enquanto beija outra mulher. Numa cena posterior, ela é entrevistada pela personagem de Brooke Shields, que interpreta uma documentarista superficial, casada com um homossexual (Robert Downey Jr., hilário ou tragicômico?) que, em dado momento, dá em cima de Mike Tyson e... A foto mostra o que aconteceu! (risos) Fiquei impressionado com o ótimo desempenho do pugilista, dando vida a ele mesmo, utilizando a sua prisão por estupro como componente empático fundamental de seu próprio personagem, estratagema este que deu tão certo que, em 2008, o mesmo diretor James Toback realizou um documentário sobre ele. Não vi “Tyson” ainda, mas, se for tão bom e potencialmente cáustico quanto “Preto e Branco”, recomendo!

Wesley PC>

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