domingo, 19 de dezembro de 2010

“O VERDADEIRO VAMPIRO É O TEMPO – (...) É ELE QUE SUGA A VIDA. MESMO A NOSSA” (página 67)

A frase é do livro “O Vampiro que Descobriu o Brasil” (1999), de Ivan Jaf. A imagem é do filme “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosa” (2003, de Tim Burton), quando o protagonista explica aquele momento em que o tempo parece parar quando nos deparamos com a pessoa que amamos. A reflexão concatenadora é minha, mas poderia ser de qualquer pessoa. Qualquer pessoa! Bem que poderia ser qualquer outra pessoa...

O livro em pauta é recomendado como leitura obrigatória em muitos colégios públicos sergipanos. Um vizinho presenteou-me com uma fotocópia do livro certa vez, mas nunca tive um interesse efetivo de lê-lo. Pensei que se tratasse de um livro infantil convencional, que forçasse comicidade a partir de fatos históricos legítimos. Depois que vi um formando em História atribuir a cotação máxima a este livro numa rede social cibernética de leitores, resolvi arriscar uma leitura. E como me surpreendi: o livro possui âmago dramático, para além de suas interessantes reflexões tragicômicas sobre a História de nosso país, como o destaque para a ausência de pescoço no presidente militar Camilo Castelo Branco (risos). Dizendo de outra forma: o livro, muito curto, narra o périplo de mais de 500 anos de um taverneiro português que, tendo sido mordido por um vampiro, chamado de O Velho, fica incapacitado de vivenciar alguns de seus prazeres favoritos, como fazer sexo, bebericar vinho ou comer bacalhau. O resto do livro, portanto, mostra-o caçando seu algoz eterno, a fim de recuperar a capacidade de pôr novamente um pão na boca, sem vomitar.

O filme em pauta, por outro lado, denota uma triste inversão valorativa dos interesses tramáticos de Tim Burton, que agora parece mais preocupado com a realidade convencional, abandonando o seu apreço característico pela fantasia mitômana. Dizendo de outra forma, o roteiro deste filme, realizado quando o próprio diretor enfrentava o luto por seu próprio pai, narra o conflito entre um filho ‘yuppie’ e seu pai contador de histórias. Ao final, o filho vence enquanto ponto de vista dominante, ainda que o diretor deixe espaço para nossas fantasias. Depois deste filme, Tim Burton será cada vez menos merecedor de seu próprio nome...

E, paralelamente a isso tudo, de fato o tempo pára quando vemos quem amamos. Mas, de fato, o tempo talvez seja o verdadeiro vampiro. Estar ao lado de quem amamos, portanto, é a única forma de paralisar o vampiro. Mas se quem amamos não pode estar perto, o vampiro vence. E o vampiro suga... e suga... e suga!

Wesley PC>

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