quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

“URUBU QUANDO TEM AZAR, ATÉ O DE BAIXO CAGA NO DE CIMA”!

Saí de casa pensando em ver um filme e, ao penetrar na sessão, vi-me diante de outro: assim, portanto, revi “Pra Frente, Brasil” (1982), clássico de Roberto Farias, numa sala de cinema, na tarde de hoje. Como a exibição do filme fazia parte de uma mostra sul-americana interligando Cinema e Direitos Humanos, a sala foi invadida por fotógrafos, câmeras, portadores de deficiência visual, crianças, todos eles fazendo alarde e causando um desconforto inicial na sessão, que logo se entregou ao silêncio beatífico, diante do filme enquanto obra de arte, e de revolta, diante do roteiro absurdamente realista em sua denúncia histórica. Digo mais: o filme é extremamente defeituoso no plano formal, no plano enredístico, no plano das emulações telenovelescas da época, mas... Como funciona! Como foi pungente para mim ver aquelas crianças inicialmente teimosas de 10 anos de idade questionando a si mesmas porque aqueles personagens estavam sendo barbaramente torturados. Como foi positivo, aliás!

Conheço amigos que desgostam das soluções “fáceis” executadas pelo diretor Roberto Farias, que venhamos e convenhamos, sempre lidou com cacoetes da cultura ‘pop’ (trabalhou com Roberto Carlos, no início da carreira, e dirigiu programas humorísticos televisivos chinfrins, no que parece ser o final dela). Por outro lado, conheço também pessoas intelectualmente mui confiáveis que elogiam sobremaneira a efetividade denuncista do filme, o poder discursivo de cenas como aquelas em que a morte de alguns personagens simpáticos é contrabalançada por imagens da conquista do tricampeonato de futebol pela seleção brasileira de futebol, em 1970; ou quando um militar norte-americano explica aos militares brasileiros que o maior problema da prática de tortura que consiste em enfiar um cassetete no ânus de um humilhado está no fato de que “alguns deles gostam disso”. Glupt! Filme forte, bem-aproveitado numa sessão que tinha de tudo para não dar certo...

Wesley PC>

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