sábado, 13 de fevereiro de 2010

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 8 [“UP – ALTAS AVENTURAS” (2009, DE PETE DOCTER & BOB PETERSON)] E AS SURPRESAS SUPRA-COMERCIAIS DA ANIMAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Ainda não havia encerrado a inteligente seqüência de créditos finais e meu amigo Rafael Coelho já estava reclamando que o filme foi produzido visando muito mais o comércio de bibelôs relacionados aos personagens secundários fofinhos do que necessariamente a emoção que eu senti diante de cenas pungentes como o aborto metonímico da esposa do idoso protagonista ou as declarações de amor interminável por parte de um cachorro falante e eufórico (já elogiadas neste ‘blog’) que muito lembrou o meu finado Ludwig van Almodóvar de Castro. Não obstante concordar que Coelhinho estava prenhe de razão (que filme hollywoodiano não é uma fábrica de bibelôs?), admirei bastante este longa-metragem de animação que não me parecia interessante a princípio, mas que me conquistou violentamente nas duas vezes em que tive a oportunidade de vê-lo. Digo mais: baixei este filme porque sabia que um inteligente e belo formado em Direito gostava do mesmo e assim eu cria que podia puxar assunto com ele, mas fui completamente tomado pela beleza do filme. Por mais inverossímil que ele se revele quando vemos casas sendo carregadas pelos ares graças ao uso de bexigas ou quando encontramos uma matilha de cães falantes num local recôndito da Venezuela, quando “Up – Altas Aventuras” concentra-se nos dramas e traumas de abandono de seus protagonistas, eu praticamente caio no choro, tamanha a sua sinceridade neste aspecto. A construção delicada do vilanesco personagem dublado pelo veterano Christopher Plummer, inclusive, é algo que me chamou particularmente a atenção, em virtude de servir como exemplo de algo que tomou de assalto uma discussão que eu e meu amigo leporídeo tivemos sobre a maldade derivada da síndrome de vitimização. Afinal de contas, o explorador Charles Muntz tornou-se malévolo única e exclusivamente porque se isolou demais na tentativa de provar ao mundo que não era um mentiroso, um farsante, quando patenteou paleontologicamente a existência de uma exótica e gigantesca ave sul-americana.

Bom, elogios rasgados de minha parte e restrições mercadológicas acertadas de Rafael Coelho, este filme é um belíssimo exemplar de animação infantil quiçá mais destinada a adultos apaixonados, a pessoas que já amaram alguém e perderam ou não perderam esta pessoa e até hoje sentem falta, saudade e reverência da mesma. Fico sinceramente emocionado em cada segundo que o velho Carl Fredicksen relembra sua amada Ellie ou sempre que o cachorro Dug está em cena. Sem contar que a trilha sonora de Michael Giacchino é um verdadeiro convite às lágrimas de afeto. Recomendo de coração aberto – Para ver e rever, conforme os estúdios Disney e Pixar são exitosos em nos convencer!

Wesley PC>

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 7 [“DISTRITO 9” (2009, DE NEILL BLOMKAMP)] E A REEDUCAÇÃO SOCIOLÓGICA DO OLHAR E DO SENTIR

Caralho! Este é mesmo um filme do caralho! Tinha dito isto no final do ano passado e repito-o agora: este é o melhor filme realizado ano passado, que funciona tanto enquanto filme de ação quanto enquanto demonstração pseudodocumental e, ainda assim, muito realista do quanto o mundo que nos cerca está tomado pelo terror ambulante e crescente que é oportunamente disseminado pelos patronos do Capitalismo. Filme com F maiúsculo, “Distrito 9” focaliza um emaranhado caótico de situações de preconceito e falência societal envolvendo inicialmente o pouso forçado de uma nave alienígena sobre uma cidade populosa e preconceituosamente efervescente da África do Sul. 20 anos se passam e os alienígenas desnutridos são confinados num gueto que logo é tomado pelo crime, pelo tráfico de armas, pela prostituição entre espécies diferentes e pelo uso vicioso de comida de gato comercialmente disseminada. Quando uma empresa privada assume a responsabilidade por evacuar o violento gueto dos alienígenas, um simpático funcionário é contaminado por genes não-humanos e torna-se um mutante que se torna rigorosamente perseguido por seus antigos companheiros de firma e profissão, que querem fazer uso doloroso de seu corpo para o manejo de armas potentes e de funcionamento desconhecido. Paralelamente, inúmeras outras subtramas apocalípticas se desenvolvem no extraordinário roteiro do próprio diretor, que envolvem desde vodu, deformação biológica e pós-apartheid até o amor sincero entre um marido e sua esposa. Aliás, nem é sensato gastar muitas linhas atrapalhando as surpresas elencadas por este magnânimo exemplar de cinema inteligente de ação. Ao invés disso, eu grito: POR FAVOR, VEJAM E REVEJAM “DISTRITO 9”. Enfrentar a realidade parecerá um tanto quanto mais possível (e triste) depois dele!

Wesley PC>

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 6 [“BASTARDOS INGLÓRIOS” (2009, DE QUENTIN TARANTINO)] E POR QUE O FETICHE DA VINGANÇA NÃO IMPEDE A INVEJA CONTRA UM TRAVESTI

Que fique bem claro no começo desse texto: Quentin Tarantino é um cineasta genial! Por isso, qualquer cena dirigida por ele, mesmo que eu desgoste eventualmente, é carregada de muita paixão cinefílica, de vigor estético, de uma pletora de referências ‘cult’ e ‘trash’ simplesmente invejável. Porém, algo faz com que eu me desentenda com este filme, mais especificamente a partir do segmento intitulado “Operação Kino”. Fico chateado com a pretensão insuspeita do cineasta, que destila toneladas de citações à cinematografia berlinense das décadas de 1930 e 1940 a que muitos de nós jamais chegarão a ter acesso (visto que, inclusive, muitos dos filmes nazistas citados pelos personagens foram destruídos pelas forças aliadas) e desvia a condução brilhantemente ascendente dos três primeiros capítulos do filme, que infundem brilhantemente nossa empolgação e deslumbre diante dos três principais focos narrativos do roteiro. É uma falha menor, eu sei, mas ela fez com que eu também me irritasse sobremaneira com a vingança fetichista da personagem Shosanna (Melanie Laurent), que, sob o codinome de “grande cabeça da vingança judia”, comete alguns impropérios contra figuras históricas como Adolf Hitler e Joseph Goebbels que, definitivamente, não sobreviveram ao crivo tolerante de meu senso de humor. Só vendo o filme para entender adequadamente o que falo!

Antes de revê-lo, na madrugada de ontem para hoje, um dos meus companheiros de sessão, alguém que sabe que eu sinto uma atração sexual fortíssima por ele, mas que se recusa terminantemente a qualquer toque erótico de minha parte, mesmo quando há ridículas ofertas de R$ 50,00 (cinqüenta Reais) em pauta, confessou que recentemente pagou R$ 10,00 (dez Reais) para que um travesti chupasse seu pau. Repito: ele pagou para que outro homem fantasiado de mulher lhe fizesse sexo oral enquanto eu empenharia qualquer bem material que estivesse em minhas mãos num dado momento para ter o prazer de realizar a mesma ação. Fazia tempo que não me sentia tão traído. Tremia de raiva e/ou tristeza enquanto lavava os pratos e ouvia-o dizer que comigo é diferente: “é que tu és meu amigo, Wesley!”. Contra-argumentei: “justamente por eu ser teu amigo e vice-versa que não seria nada de mais aliar a tua necessidade de prazer físico ao meu desejo de ter teu pênis em minha boca”, mas a conversa rumou por vias mais tempestuosas, que atravessaram quase 12 horas e fizeram uso recorrente de termos como “egoísmo” e “intolerância”. Sorte que houve o filme entre nós dois para utilizarmos como parábola.

Voltando ao filme: com todas as minhas insatisfações derramadas sobre ele (a defesa da violência incondicional pelo personagem de Brad Pitt me dá arrepios – risos), admito que o mesmo é genial, conforme disse no começo. A seqüência de abertura é simplesmente preciosa, uma aula de cinema, de autoridade e, principalmente, de sociolingüística multi-idiomática. Qualquer aparição do justificadamente premiado Christoph Waltz enche o filme de muito brilho. Ele merece! A reputação do Coronel Hans Landa, de fato, precede mui dignamente as suas aparições.

Wesley PC>

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 5 [“UM HOMEM SÉRIO”(2009, DE JOEL & ETHAN COEN)] E AS SURPRESAS COTIDIANAS DO AMOR QUE QUASE NÃO MAIS PERCEBEMOS QUE SENTIMOS

Não são poucas as críticas e resenhas que este é um filme difícil de ser entendido. Ao contrário do que acontece com os preguiçosos e com aqueles que detestaram o final misteriosamente onírico de “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), receio dizer que este filme é bastante claro em seu poder fabular, em seu somatório crescente de parábolas judias, num verdadeiro inventário do que é o amor cotidiano, aquele que nos afeta, que nos punge, que nos faz sofrer e continuar desejando estar vivos.

Não que o filme não seja um tanto estranho a princípio. Os 10 minutos iniciais, por exemplo, são falados em iídiche e acompanham a maldição que supostamente se abate sobre um casal depois que o homem da relação dá abrigo a um espírito morto de febre tifóide há três anos. Durante os créditos de abertura, não reconheci o nome de sequer 01 (um) ator. Quase cheguei a pensar que se trata do filme errado, se não reconhecesse os maravilhosos acordes de Carter Burwell, um dos mais divinos músicos de cinema já nascidos e habitualmente associado aos filmes dos diretores. Estava diante de uma legítima semi-obra-prima coeniana, tive certeza!

Durante a sessão, recebi o telefonema de duas pessoas: uma amiga recifense que me explicava que eu passarei a entender e amar o Carnaval depois que passear por Pernambuco durante as festividades do maracatu ao lado dela; e um garoto que amo (e que muito me fez mal no passado, dizendo que jamais voltaria a falar comigo), ansioso para saber quais documentos necessitará apresentar ao setor em que trabalho caso seja convocado como excedente do vestibular deste ano. Atendi bem a ambos os amigos, enquanto minha mãe dormia no quarto, recuperando-se da diarréia que a afligiu no dia anterior. Olhei para os lados, para a tela paralisada da TV e pensei comigo mesmo: “amo a minha vida e as pessoas que me cercam”.

Talvez sem muita pretensão, talvez entupido de uma justificada e aguardada pretensão, é justamente sobre isto que o maravilhoso filme aqui descrito versa. O protagonista é um professor de Física que se digladia diuturnamente na tentativa de explicar a validade do Princípio da Incerteza de Heisenberg a seus alunos, por mais que o mesmo não seja compreensível (vide a extensão espacial do quadro-negro preenchida com equações na fotografia!); sua esposa exige uma cerimônia ritualística de divórcio a fim de se casar com um judeu viúvo que é amigo da família; seu filho mais novo vive em problemas com um vizinho traficante de maconha por não conseguir recuperar os 20 dólares apreendidos por um rabino-professor quando ouvia “Somebody to Love”, do Jefferson Airplane, durante uma aula idiomática na sinagoga; e sua filha mais velha vive agoniada por não poder lavar o cabelo no banheiro de sua casa, em virtude da necessidade constante de drenar um cisto uretral por parte de seu tio louco, matemático, apostador e sodomita. Situações e pessoas que podem estar ao nosso lado a qualquer momento, num filme que, acima de qualquer coisa, é ótimo justamente por ser comum.

Enquanto o via, percebia que estava atrasado para o trabalho. Como estou com um saldo sobressalente de horas trabalhadas, pedi que me substituíssem no expediente externo por alguns minutos, enquanto eu “resolvo um problema aqui em casa”. Chegarei atrasado de propósito, visto que necessito descansar, refletir, viver, encontrar pessoas, amar meus semelhantes, pequenas obrigações que me estavam sendo impedidas em razão da pletora burocrática que se acomete sobre parte da UFS nos últimos dias. Preciso descansar!

Wesley PC>

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 4 [“AMOR SEM ESCALAS” (2009, DE JASON REITMAN)] E OS OBSTÁCULOS PESSOAIS NO CASAMENTO COM A CARREIRA

Existem obras de arte que, para além de suas qualidades definidoras, funcionam muito melhor quando apreciadas num contexto que justifique a sua existência. “Amor Sem Escalas” (2009), novo filme superestimado do irritante diretor e roteirista ‘yuppie’ Jason Reitman é um desses casos – um dos mais precisos, aliás. Em linhas gerais, a trama do filme focaliza os dilemas existenciais de um profissional de demissões que passa boa parte de sua vida motivando as pessoas a não fixarem compromissos, até que motivos muito pessoais (a paixão por uma versão vaginal de si mesmo, o auxílio conselheiro prestado no casamento de sua irmã, etc.) fazem com que ele reveja seus propósitos de vida e, quando o faz, percebe que outras pessoas e eventos possuem as rédeas do seu destino. Típica saga ‘yuppie’ por excelência, previsivelmente atrelada a uma moral capitalista (in)conformista. O espectador que escolhe se retira os parênteses do adjetivo ou não.

Antes de debruçar-me um pouco mais sobre o que este filme me causou (ou melhor, irritou), convém adiantar o contexto em que eu o vi: numa folga improvisada, depois de três semanas ininterruptas de trabalho intensivo. Como todos sabem, ontem foi o último dia de matrícula institucional de quem passou no Vestibular 2010 para a Universidade Federal de Sergipe. Tivemos que dar muitas más notícias em virtude das várias polêmicas envolvendo as cotas para escolas públicas. Ontem à noite, enquanto eu e meu chefe tentávamos resolver um problema irritante com um aprovado desprovido de documento eleitoral, o setor em que trabalho foi invadido por uma equipe de TV com câmeras ligadas, acompanhada por dois advogados recém-formados (a quem tive a obrigação de entregar o diploma recentemente e conhecer todos os detalhes facilitados da formatura) e algumas reclamantes vinculadas ao curso de Medicina, que exigiam vaga por terem obtido pontuação superior aos cotistas. Independentemente de minhas opiniões pessoais sobre o assunto em pauta, fiquei irritadíssimo com a invasão midiática, com o desvio jornalístico da notícia, com a falsa impressão que se criou quando meus vizinhos reconheceram na TV, passando de relance no ambiente, com um telefone colado no ouvido. Vi tudo o que aconteceu por dentro, mas, como sou “café pequeno” (felizmente) nesta pendenga burocrática, o que me deixa muito tranqüilo por um lado e triste por outro, no sentido de que percebo como se formam as injustiças noticiosas. “Mas a menina estava chorando de verdade, Wesley!”, contestou uma vizinha. OK, OK, hora de ficar calado!

Voltando ao filme, surpreendente adorado por muitos escravos do trabalho, que não percebem a ideologia tosca do filme, em virtude de serem ludibriados pelas cenas românticas, familiares ou supostamente dramáticas do mesmo, destaco uma cena-chave, em que a personagem secundária de Anna Kendrick, uma carreirista que propõe um sistema de demissão virtual de funcionários depressivos, chora copiosamente num aeroporto depois que seu namorado encerra o relacionamento através de uma mensagem de celular. Ela reclama que toda a ascensão futura e certeira de sua carreira não terá sentido se não tive alguém ao seu lado para compartilhar, ao que eu concordei e fui obrigado a suportar as palavras ainda mais certeiras do protagonista George Clooney, que atira: “viver é melhor quando estamos acompanhados. Todo mundo precisa de um co-piloto”. Nem isso impediu que o filme contivesse a mesma modorra disfarçada de esperteza que satura obras perigosíssimas como “Obrigado por Fumar” (2005 – este sim, muito divertido em sua abertura) e “Juno” (2007 – que eu devo não entender, já que parece que somente eu não gosto), ambas do mesmo diretor. De resto, nem a trilha sonora pretensiosamente triste (e insossa) do filme, nem a ótima participação de Vera Farmiga, nem as obviedades roteirísticas conseguiram me convencer que... que... que ele estava com a razão (capitalista) o tempo todo. Admito!

Wesley PC>

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

INTERRUPÇÃO: “NOTHING YOU CONFESS COULD MAKE ME LOVE YOU LESS”

Em tese, tardes de quinta-feira são meus horários de folga no trabalho. Em virtude da matrícula institucional de quem passou no Vestibular 2010, minha folga foi suspensa hoje. Esqueci de trazer minha marmita vegetariana caseira e hoje, por conta disso, estou sobrevivendo gastronomicamente às custas das ojerizas vegetais de outrem (sempre há um filho de chefa que desgoste de quiabos, uma companheira sulista que tem um pêssego sobrando, etc.). Tinha marcado para ver um filme na casa de um amigo, mas vou ter que suspender. Pior. Hoje bem que eu precisava disto. Desde a madrugada de segunda-feira, um problema psicológico me atormenta: como lidar com a imponência do sexo numa relação para-sexual não-dialogística? Queria poder explicar em detalhes a angústia, mas ainda estou particularmente afetado pelo problema. 4 dias de extrema angústia. Até que, na manhã de hoje, ouvi uma canção de The Pretenders na voz do belo Cory Monteith. E a frase que intitula a postagem de hoje não resolve o problema, mas demonstra que, se há um problema, há também uma possibilidade de solução. Menos mal. Hora de voltar a trabalhar e a ver filmes. E a pergunta se mantém...

Wesley PC>

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 3 [“EDUCAÇÃO” (2009, DE LONE SCHERFIG)] E A INSIPIDEZ DAS BOAS INTENÇÕES CRÍTICAS

Recentemente, vi “O Sorriso de Mona Lisa” (2003, de Mike Newell) e fiquei surpreso com uma reviravolta enredística que acontece perto do final do filme, quando já considerávamos a professora protagonista uma mártir em sua tarefa de fazer as estudantes do colégio conservador em que ensinava desistirem do casamento para que foram treinadas desde a infância e, o invés disso, ela é confrontada por uma aluna que alega preferir casar a prosseguir com seus estudos em Direito. Confesso que foi um baque, mas fiquei concomitantemente ao lado de ambas as participantes do conflito de valores, providas de razão subjetiva na defesa de suas projeções vitalícias. Eis a prova.

Na noite de ontem, vi um filme que segue um caminho inverso. Dirigido por uma dinamarquesa que pediu ao escritor alternativo (e machista) Nick Hornby que roteirizasse as memórias de adolescência de Lynn Barber, “Educação” (2009) é um filme assombrosamente insípido, sobre uma inteligente garota inglesa de 16 anos que fica em dúvida se prossegue os seus estudos literários ou se entrega a um casamento aventuroso com um homem mais velho e de caráter duvidoso, apesar de sua extrema simpatia. No papel, talvez a historieta do filme funcione. Na película, as situações apresentadas são plenas de modorra, de tédio, de chatice mesmo! Não que o filme seja ruim, mas é inodoro e insípido que nem água contaminada por germes unicelulares.

A atuação da protagonista Carey Mulligan é preciosa e ela está particularmente encantadora, mas o restante do elenco (com gente do calibre de Peter Sarsgaard, Alfred Molina, Emma Thompson e Olivia Williams) se entrega à vacuidade do roteiro, ao dilema banal que se estende pelos 95 minutos de duração do filme. Não que seja ruim, insisto, mas é insosso, forçado e quase desnecessário em virtude de como ele está conseguindo abocanhar elogios por parte da crítica especializada.

Se serve de consolo, há pelo menos duas cenas que ficarão marcadas em minha memória, quando, ao deitar na mesma cama que seu pretendente amoroso mais experiente, a intelectual Jenny pede que ele conserve sua virgindade até o ano seguinte e, quando esta data chega, ela frustra-se ao perceber que “aquilo que tantos poetas e músicos dedicam a maior parte de suas composições dura pouco tempo”. Pelo menos isso compensou a sessão. O sexo (ou o amor físico propriamente dito, que seja) pode durar pouco tempo, admito, mas sou daqueles que se escraviza mnemonicamente em virtude das eternas sensações de prazer e satisfação vinculadas a estes breves momentos. Só isso me fez ficar ao lado da protagonista, não importa que decisão ela tomasse. Viva o sexo, abaixo a insipidez!

Wesley PC>

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

OSCAR 2010 - INDICADO Nº 2 [“PRECIOSA – UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA” (2009, DE LEE DANIELS)] E O ESTADO SOBREVIVENCIAL DE VIGÍLIA

Antes de se escrever qualquer palavra sobre as qualidades específicas deste filme cruel, convém dizer que fico preocupado com o contexto em que eu o recebi: enquanto indicado de uma premiação hipócrita, enquanto peça vitoriosa e favoritada, que enche de alegria os envolvidos em sua produção quando estes recebem a notícia de que foram premiados em festivais de cinema em que as partes são desconexas do todo, em que o brilho de uma atriz coadjuvante parece desvinculada dos atropelos estilísticos de um diretor e dos acertos esperados da trilha sonora. Digo mais: fiquei muito triste em ter recebido o filme nesse contexto competitivo, quando a sua trama urge exatamente pela necessidade inversa, validando um anonimato justificado pela superficialidade do que é comumente visto nas ruas. Creio que somente vendo o filme para entender o meu desconforto prazeroso em tê-lo visto, mas... Vou tentar!

Antes de tê-lo assistido e quando conhecia apenas um trecho da sinopse (“garota negra e morbidamente obesa é comumente estuprada pelo pai e espancada pela mãe, enquanto compensa os sofrimentos repetidos de sua vida real com delírios freqüentes de que é uma artista magra e famosa”), imaginava que o argumento enredístico lembrava bastante uma vizinha minha, que tem traços bastante similares à protagonista. É xingada de “bruxa” desde criança pelas colegas perversas por ser gorda, é pobre e igualmente xingada pelas mesmas crianças em virtude de a energia elétrica de sua casa estar comumente bloqueada, trabalha eventualmente como babá, mas ainda assim sonha em ser uma atriz famosa, uma cantora de sucesso, uma Miss Brasil. O pior: para além de todos os sofrimentos e privações que enfrenta e enfrentou, ela tem a personalidade maquiavélica. É mentirosa e fuxiqueira, não obstante alegar ser uma mórmon praticante, e volta e meia está envolvida em brigas homéricas aqui na rua por causa de disse-me-disses envolvendo outras vizinhas. Digo ainda mais: ela nutre uma paixão secreta (ou confessa) por meu fornecedor seminal, não sendo poucas as vezes em que eu os flagrei em estado pré-sexual, visto que ele não rejeita nada, tudo pode ser prazeroso. Sua função (e a do seu pênis) é encher pessoas tristes de alegria. Nesse sentido, eu e a garota em pauta somos igualmente beneficiados. Menos mal!

Abri um parêntese longo, mas tem sentido: para além dos comentários um tanto demeritórios que fiz sobre a personalidade maquiavélica de minha vizinha, nutro uma pequena simpatia por ela. Ou melhor, tenho pena dela, nutro compaixão pela mesma e, como tal, pensava em sugerir que ela visse o filme e, quem sabe, se identificasse e pensasse melhor numa escolhas equivocadas que ela insiste em tomar. Para a minha surpresa, porém, o filme seguiu numa linha bastante diversa da que previa. Não sei se digo que é mais adulto do que eu esperava ou não, mas me surpreendeu. É estranho, é fortemente independente, é tão esquisito que reproduz a impressão de um sono de vigília, como se estivéssemos sempre confusos sobre o que realmente está acontecendo e o que está sendo imaginado. Por oras, o final é genial. Por oras, o filme é uma decepção formulaica. Em geral, é um filme inteligente, precioso, intenso e, acima de tudo, sobrevivencial. Nem de longe esperançoso, mas sobrevivencial.

Tem uma cena que me deixou particularmente apavorado de satisfação: após chegar em casa 5 dias depois de parir o segundo ilho deficiente de seu pai, e de flertar um pouco com o enfermeiro interpretado por Lenny Kravitz, a personagem-título é atingida por toda a fúria de sua mãe colérica, que credita à filha a sedução de seu falecido marido. Com o filho recém-nascido e muito frágil nos braços, Clareece Precious Jones (vivida corajosamente por Gabourey Sidibe) caiu da escada e consegue se desviar por pouco do aparelho televisor que é atirado contra ela. Em meioa tudo isso, ouvimos uma canção natalina extra-diegética e vemos fotos de uma álbum de família imaginário em que mãe, filha e neto compartilham um afeto excessivo e absurdamente incompatível com a atmosfera perversa do filme. Fiquei atônito, chocado. Tive um óbvio pesadelo após a sessão!

Como a cópia em que tivesse acesso ao filme estava prejudicada por uma legenda em espanhol defeituosa, precisarei revê-lo o quanto antes, divulgá-lo para todos os meus amigos, defendê-lo quando tacharem-no de “filme de Oscar”. Ele é muito mais do que isso! É um filme poderosíssimo e (caralho, tenho que dizer) muito original em sua amostragem da realidade sem enfeites não-oníricos. Tenho certeza de que aquilo acontece e continuará a acontecer, mas o modo perturbador como a estória foi contada, a paixão da protagonista pela Matemática e o final absolutamente sem perspectivas, apesar de existir quem diga o contrário, são elementos que me fizeram achar o filme ótimo. Fizeram-me uma pinóia. Ele é! E, quando a minha vizinha precisar, não vejo nada de errado em dividir o meu “fornecedor” seminal com ela (risos). Chega de ciúmes!

Wesley PC>

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

OSCAR 2010 – INDICADO Nº 1 [“AVATAR” (2009, DE JAMES CAMERON)] E A ARTE DE SEGUIR EM FRENTE...

Há fortes suspeitas de que “Avatar” (2009), filme mais recente do pretensioso James Cameron, seja um dos filmes mais laureados na premiação mais importante de Hollywood deste ano. Eu particularmente detesto o filme, conforme já fiz questão de frisar, mas, ainda assim, aceitei o convite de um vizinho reconhecido como público-alvo e revi o filme neste início de madrugada. Continuei a detestar o filme, mas surpreendentemente aumentei a nota do filme de 0,0 para 3,0. Revendo-o no conforto do lar, pude verificar algumas (poucas) situações entretenedoras obnubiladas pela irritante trilha sonora de James Horner e pela má interpretação de Sam Worthington.

Se eu já descria dos pseudo-discursos ecológicos e anti-bélicos do filme, a recusa de meu vizinho pós-adolescente em sujeitar-se aos clichês amontoados do filme frisou a minha ojeriza em relação a esta produção tão bem-sucedida comercialmente. Em verdade, não entendo o porquê de este filme horrível conseguir abocanhar elogios de pessoas tão respeitadas no que tange às suas parcas inovações formais e/ou tecnológicas em detrimento da narrativa, conforme já havia acontecido no sucesso anterior do diretor “Titanic” (1997). Juro, aliás, que tentei controlar meu ódio em relação ao conteúdo do filme – justamente por crer que o mesmo estimula precisamente o ódio – mas não é possível suportar muito tempo: o filme é mau, definitivamente mau!

Não sei se é digno não recomendar que o mesmo seja visto por outrem, mas assumo cá a dependência acerca de comentários críticos alheios sobre o mesmo. Excetuando-se o deslumbre em 3D (que nós, sergipanos, não tivemos a oportunidade de conferir), o que há de relevante, poético, ecológico, ético ou essencialmente cinematográfico em “Avatar”? Juro que eu desejo muito saber, de coração abeto, desejo muito saber.

Não sei se suportarei acompanhar os longos 162 minutos deste filme uma terceira vez (nem tampouco a xaroposa canção “I See You”, interpretada sem vontade por Leona Lewis durante os créditos finais), mas ficarei eternamente triste em virtude das corruptelas históricas sobre massacres de povos considerados “incivilizados” que são ostensivamente levadas a cabo pelo roteiro asqueroso do próprio diretor. Como será doloroso (e previsível) se ele levantar o troféu gritando que é “o rei do mundo” este ano novamente. Mas, como previu um amigo de amigo “500% capitalista”, a tendência agora é decair... E, conforme vemos na foto, a passos larguíssimos!

Wesley PC>