sábado, 17 de abril de 2010

O 14º EPISÓDIO DE ‘GLEE’ (A NÃO SER LIDO POR QUEM AINDA GUARDA BOAS EXPECTATIVAS SOBRE A SÉRIE)


Lema do episódio: “todo mundo é substituível. Inclusive tu”!

OK. Cerca de quatro meses se passaram desde dezembro de 2009, quando foi exibido o décimo-terceiro episódio do seriado norte-americano que mais me emocionou em vida, quiçá a melhor coisa já realizada para TV no século XXI. Na última terça-feira, foi lançado o primeiro episódio de 2010, o que me deixou igualmente ansioso e tenso, visto que o alargamento da primeira temporada da série obviamente a estragaria, mas resolvi correr o risco assim mesmo. Em conversa de MSN com um amigo-irmão na tarde de hoje, soube que o episódio em pauta já estava disponível para ser baixado, devidamente legendado em português. Não hesitei: apertei o sinal de ‘download’ e cheguei até a me perfumar para assistir ao episodio. Eis o que achei:

Antes de começar a vê-lo, perguntei ao meu camarada Américo o que ele tinha achado do episódio e a resposta foi taxativa: “começa bem, Wesley, mas logo fica entediante”. Suspeitava que fosse acontecer o mesmo comigo e, por proteção ideológica, fiz o possível para acentuar minha má recepção a tudo o que a série tem de pior e que, com certeza, seria explorada neste retorno ainda mais comercial do que antes. Dito e feito: os personagens estereotípicos ficaram ainda mais estereotipados, a vingança de Sue Sylvester (Jane Lynch) contra o Clube do Coral e a necessidade de vencer campeonatos tornaram-se ainda mais opressoras, o esquematismo suspensivo das tramas irresolvíveis ficou ainda mais óbvio e a música agora é tratada como algo seriamente vendável, conforme podemos perceber na focalização constante dos instrumentistas que acompanham os atores-cantores e nos pequenos videoclipes que ilustram as situações evocadas pelas letras das canções. Entretanto, mesmo com a percepção de todos estes problemas, quase lacrimejei durante a execução de “Gives You Hell” (originalmente interpretada por The All-American Rejects) pela progressivamente vilanesca Rachel Berry (Lea Michelle). Nem eu acreditei, mas... A série continuou funcionando muito em relação á identificação de minhas frustrações eternas. Acho que sou fútil!

Neste episódio de reestréia, chamado “Hell-O”, os personagens receberam a incumbência de pesquisar canções que contivessem a palavra “hello” no título. Com isso, foi elevado o nível autoral das canções interpretadas pelo elenco, que demonstraram conhecer artistas icônicos como Jim Morrison, Neil Diamond, Lionel Ritchie e John Lennon. Minha alter-ego portadora de Distúrbio Obsessivo-Compulsivo confessou sua virgindade (!), enquanto seu amado recém-divorciado Will Schuester (Matthew Morrison) teve um caso passageiro com outra coordenadora de corais. Entretanto, foi o novo dilema envolvendo Rachel e o deslumbrante Finn Hudson (Cory Monteith, agora investindo num preocupante diálogo com seu “‘rockstar’ interior”), visto que o segundo não consegue esquecer sua namorada do passado enquanto a primeira apaixona-se por um rival, que a está usando para sabotar o grupo de que ela faz parte. Na cena que quase me fez lacrimejar, duas líderes de torcida, comandadas por Sue, fingem que estão completamente atraídas por Finn, tentando seduzi-lo a fim de causar ciúmes em Rachel, mas foi o olhar iracundo e amargurando do homossexual Kurt Hummel (o adorável Chris Colfer) o que me marcou: como não compreender a impotência que era nutrida por sua alma apaixonada, no sentido de que, não obstante ter que lidar com o fato de que jamais poderá pôr em prática os prazeres carnais associados ao amor que sente por Finn, sofre com o fato de qualquer menina pode estar em superioridade em relação a ele somente por ser do sexo feminino. Parece um dilema forçado e idiota, sobre o qual eu particularmente nunca fui convidado a me preocupar (pelo menos, não do modo generalizado abordado pelo episódio de hoje), mas eventos recentes me levam sempre a reconsiderar o ambiente ao meu redor. E, infelizmente, o diálogo sobre este assunto que aparece aos 27 minutos do 11º episódio da primeira temporada (“Hairography”) voltou à tona: é hora de ilusões serem dissipadas. Nada disso, porém, impediu que eu gargalhasse lancinantemente quando Kurt explica como atende ao telefone, defendendo-se da similaridade que sua voz aguda guarda com a voz de sua falecida mãe. Como diria Cartola, tenho mais é que “rir pra não chorar”!

Mas, voltando à análise crítica do episódio, receio (felizmente) discordar de meu amigo-irmão Américo e dizer que, sim, gostei do episódio. Creio que, pelo menos nesta retomada, ele soube lidar bem com todos os problemas anteriormente destacados, apesar de eu estar ciente de que a forçação de barra envolvendo a concorrência entre corais igualmente competentes diluirá a emoção inerente ao tumultuado relacionamento entre os personagens em prol das exigências capitalistas do seriado. Pena. Mas, por hoje, ele ainda funcionou. Funcionou de com força, como dizem por aí... Que venha o décimo-quinto!

Wesley PC>

OBRIGADO PELA CONTRAFAÇÃO!

Conheci o sexteto alemão Rammstein através de um inesquecível filme de David Lynch em que duas de suas primeiras canções estavam presentes na trilha sonora. Encantei-me de imediato com a violência passional de “Rammstein” e “Heirate Mich”, as referidas canções, nas quais podemos compreender o que o baixista Oliver Riedel quis dizer quando afirmou que “a língua alemã acomoda perfeitamente a música pesada, visto que, se o francês é alegadamente o idioma do amor, o alemão é o idioma do ódio”. Entretanto, o ódio supostamente extravasado pela banda – pioneira do que a imprensa costuma chamar de ‘Neue Deutsche Härte’ (‘nova rudeza teutônica’) – é, na verdade, permeado pelo sentimento inverso, pelo amor incondicional, conforme eu pude constatar quando loquei “Sehnsucht” (1997), segundo álbum de estúdio da banda, quando me decepcionei a princípio com a overdose eletrônica, mas logo me flagrei apaixonado pela singeleza potente da oitava faixa, “Klavier”.

Tudo isto decorreu antes que eu ingressasse na Universidade, onde o Rammstein é comumente descrito como um grupo industrial menos valorizado, indicado primordialmente para adolescentezinhos revoltados que não sabem como extravasar a raiva de paixões não engendradas. Entretanto, fui plenamente seduzido pelos acordes sublimes de “Mein Herz Brennt”, faixa inicial de “Mutter” (2001), mesmo admitindo que a banda é um tanto simplista em seus polemicismo modista, visto que mescla incitações de humor negro ao nazismo a hermafroditismo, sadomasoquismo e chauvinismo em suas apresentações ao vivo e videoclipes. Com todos os problemas industriais da banda, gosto muito das canções listadas neste texto e, ao contar uma delas no trabalho, fui presenteado com a discografia quase completa do Rammstein por um colega de atendimento, que me apresentou ao novo disco deles, “Liebe ist Für Alle Da” (2009, que significa ‘o amor é para todos’), do qual ouço agora, exatamente agora, a maravilhosa faixa 6, “Frühling in Paris”, que cita versos caros a Edith Piaf em seu refrão. Francês e alemão se amalgamam durante a canção, provando que a miscelânea entre amor e ódio é prenhe de sentido, conforme denunciado na extraordinária capa do disco.

Infelizmente para mim, as demais faixas do álbum parecem demasiado similares, indistintas, medianas, o que faz com que eu não tenha muito tesão para ouvir demoradamente o disco, mas repetir a sexta faixa é uma boa pedida para o instante atual, o que fiz enquanto redigia este texto, encantado pelos versos que, traduzidos, dizem algo como “eu não conhecia meu corpo/ A visão tão evitada/ Ela mostrou luz em mim/ Eu nunca me arrependi”. Lindo mesmo! Dedico este trecho da canção, portanto, aos desencadeadores humanos do processo pessoal de (re)conhecimento de meu corpo que agora ensejo, numa linha bastante diferente da contida na letra de "Pussy" (risos), que grita algo como: "se eu tu tens uma buceta e eu tenho um pau, por que a gente não faz algo rápido?". Comigo, o processo é bem diferente. Faço meus os versos germânicos abaixo:

“Ich kannte meinen körper nicht
Den anblick so gescheut
Sie hat ih nmir bei licht gezeigt
Ich hab es nciht bereut”


O amor é para todos?

Wesley PC>

sexta-feira, 16 de abril de 2010

MEUS PROBLEMAS COM A GALHARDIA...

Enquanto almoçava, vi o curta-metragem russo-japonês-canadense “O Velho e o Mar” (1999, de Aleksandr Petrov), ultra-premiado ao redor do mundo e encantador para todos aqueles que o prestigiam. Achei-o ótimo como qualquer pessoa sensata acharia, mas algo me incomodou no roteiro: o elogio à galhardia. Baseado num famoso romance de Ernest Hemingway, o roteiro deste curta-metragem versa sobre Santiago, um velho pescador que desafia sua própria vida na luta com um gigantesco peixe-espada, com o qual se sente irmanado e o qual faz lembrar a coragem de sua juventude. Lembrei de um conto sergipano no qual não consegui me identificar nem me compadecer por um narrador enfadado com a velhice que o circunda. Preciso ler Ernest Hemingway URGENTE!

Wesley PC>

Quando acaba o verão

O que os integrantes de bandas de pagode baiano fazem durante o outono e inverno?


A) Queimam os neurônios compondo letras sofisticadas, tipo "Rebolation".

B) Migram para o Hemisfério Norte, pois lá terá primavera e verão.

C) Hibernam e só acordam com a chegada da primavera.



Leno de Andrade

Absinto Muito!

Minha primeira tentativa de haicai:

No abismo profundo
Desculpou-se o destino:
- AbSinto Muito!


Leno de Andrade

QUANDO A MASTURBAÇÃO LEVA AO VÍCIO DA COCAÍNA... E ISSO NÃO É O PIOR!

Há alguns anos, vi algo que me marcou definitivamente no que diz respeito ao acompanhamento da programação de um dado canal de televisão: a programação especial de Dia dos Namorados da TV Canção Nova, em que casais de jovens explicavam durante 24 horas como faziam para evitar o sexo quando estavam a sós e, no início da madrugada, um personagem da emissora (de nome Janjão) explicava, numa entrevista, como a masturbação o havia levado a se viciar em cocaína. Vindo dele, afetado pro excelência, eu até compreendi o absurdo gradativo, mas acabo de ver um filme independente homossexual ruim que me deixou chocado ao compartilhar deste mesmo moralismo: um tal de “Wrecked” (2009), dirigido pelos irmãos Harry & Bernard Shumanski, que assinam o filme como se fossem ‘auteurs’ consagrados, mas dos quais eu nunca ouvi falar...

O filme possui apenas 73 minutos de duração e, nele, um garotinho ‘pimba’ resolve acolher em sua casa um amigo também ‘pimba’ com quem teve um caso num passado recente. Dedicam-se à prática do sexo casual enquanto um deles alega estar buscando emprego e o ouro aspira a se tornar um ator teatral, mas este segundo entra em crise quando um ex-namorado de seu ex-namorado passa a viver entre eles e, depois de uma cena de sexo a três em que me surpreendi pela extrema similaridade nos usos e tamanhos de pênis, uma saraivada de imagens superpostas de consumo de drogas e fodas indiscriminadas deixa claro que o protagonista está se arruinando, conforme denota o título original não-traduzido. Os diretores/roteiristas, porém, pouco se importam em nos situarem ou nos fazerem se identificar com o filme e, ao invés disso, despejam suas imagens moralistas e concomitantemente pornográficas sem uma reflexão prenhe de sentido, apenas julgando e se compadecendo pelos personagens de forma superior, unilateral. Não sei que tipo de reação espectatorial o filme teve, visto que é desconhecido e supostamente muito alternativo, mas fiquei envergonhado de saber que existem pederastas tão tacanhos como este difundindo conceitos equivocados sobre a liberdade sexual e os clichês anti-entorpecentes. Triste ver o moralismo recalcado adentrando os espaços outrora destinados à contestação...

Wesley PC>

quinta-feira, 15 de abril de 2010

DON'T GO AWAY

Eles são antipáticos? Sim, e daí? Eles são metidos? Sim, e daí? Eles se comparam aos Beatles? Sim, e daí? As brigas entre os irmãos Gallagher parece mais uma jogada de marketing? Sim, e daí? Apesar de tudo, eu gosto do Oasis.

O disco "Be Here Now" do grupo inglês Oasis foi a primeira coisa que ouvi na manhã chuvosa de hoje e repeti várias vezes "Don't Go Away", a música mais expressiva do álbum. É daquelas que o refrão gruda na cabeça e volta a tocar quando você vai dormir. É simplesmente linda! Linda e do caralho! Como a própria letra diz: I can't find the words to say about the things caught in my mind.



Leno de Andrade

Ilha Presidencial

Estou sendo mais um a espalhar o que já está sendo sucesso na internet. A "Ilha Presidencial" é uma série produzida por um grupo de humor venezuelano chamado "El Chiguire Bipolar" e tem sido notícia em vários sites e em alguns telejornais. Trata-se de uma animação bem humorada que satiriza os presidentes da América do Sul mais o rei da Espanha. Pelo que dizem, a Ilha Presidencial é inspirada na série Lost (que eu nunca vi).

Só pra adiantar, os personagens ficam isolados em uma ilha após um acidente com o navio de Lula, onde todos os outros governantes estavam a bordos.

Lula é o presidente conciliador que adora tomar umas pingas e passar o olho na belezinha da Kirchner. Evo Morales é um cara carente que nutre uma forte paixão pelo falastrão Hugo Chaves. O Rei Juan Carlos é um velho gagá. E por aí vai... Vale a pena conferir!


Leno de Andrade

“LES HAUTES SOLITUDES” (1974, de Philippe Garrel):

Oficialmente, este filme é composto apenas por imagens silenciosas e em preto-e-branco da atriz Jean Seberg, que interpreta um alter-ego da diva Marilyn Monroe, que se suicidara em 1962, através da ingestão de barbitúricos. Sete anos depois da realização do filme, Jean Seberg seguiria o mesmo destino de sua personagem: se suicidaria exatamente desta forma!

Em virtude de sua curta duração (80 minutos), resolvi ver este filme no trabalho, durante o meu intervalo para o almoço. Como ele era completamente silencioso, cri que a barulheira ao redor não atrapalharia e que as pessoas que eventualmente zombavam da sessão quando me viam inerte diante de uma tela em que uma mulher triste me encarava por minutos a fio não me afetariam, mas... Como estive enganado: o filme me pungiu! Na tela, apenas olhares insistentemente infelizes, contrabalançados por sorrisos forçados e um resgate. Nico (egrégia vocalista feminina do The Velvet Underground, que, à época, era enamorada pelo diretor) aparece em algumas cenas, mas eu não pude reconhecê-la: estava hipnotizado por toda a angústia que a Jean Seberg transmita sem cessar. Saber o que acontecera na vida real após o filme só dotava o mesmo de maior expressividade, de maior dramaticidade, lancinando-me pungentemente a cada minuto que eu me sujeitava a ver aquele filme, que, de tão simples no início, revelou-se extremamente complexo em sua exigüidade de recursos, em sua mutabilidade gritante, em seu completo apelo à melancolia.

Permaneci absorto o restante da tarde, não obstante sorris de vez em quando, o que fez com que um companheiro de trabalho questionasse a minha alegada tristeza: “para alguém que se diz infeliz, tu sorris demais”, disse-me ele. Eu o ouvi, o olhei e, segundos depois, estava a lhe explicar o que era ciclotimia, o porquê de minha instabilidade humorística afetiva tangencial. O filme não me saía da cabeça. Temo vê-lo novamente, ciente de que não suportaria toda a carga de solidão que o mesmo nos faz compactuar, mas confesso aqui entender o mistério que afligia a belíssima e mui talentosa Jean Seberg: por que apelar para a morte, se a mesma era linda e respeitada artisticamente? Em minha lembrança, a resposta certeira dela é um olhar!

Wesley PC>

terça-feira, 13 de abril de 2010

O OUTONO DE MEU DESCONTENTAMENTO – PARTE II (A PARTE I ESTÁ EM OUTRO LUGAR):

Sonhei que, para ser aprovado num mestrado de Ciências Sociais, eu precisava me submeter a um compêndio de difíceis provas de esforço físico. Acordei triste por causa disso, me sentindo maltratado por um conceito capitalista de concorrência que renego até as veias. Estava triste e o choro de minha mãe atiçado por um ataque canino imaginado só fez aumentar o meu mal-estar emocional. Sentei-me numa poltrona, com um prato de cuscuz com ovo e café nas mãos. Via aleatoriamente o que era exibido na TV, quando me deparei com um desenho animado do personagem Horácio, dinossauro reflexivo criado por Maurício de Souza. Este lamentava que Jesus Cristo ainda não tivesse nascido. “Falta ainda muito tempo para que tenhamos contato com estes brilhantes ensinamentos de amor”, reclamava o dinossauro, enquanto elogiava as benesses do Natal, as quais não são comemoradas por mim.

Fiquei chocado com o anacronismo múltiplo do desenho animado. Sempre fui um defensor contumaz do Maurício de Souza, não somente por ter se estabelecido á altura na indústria de gibis contra a massificada produção estrangeira da Disney e dos quadrinhos de super-heróis, mas também por criar núcleos bastante coesos de personagens, com os quais nós, brasileiros, podíamos nos identificar: seja no núcleo bairrista principal (formado por Mônica, Cascão, Cebolinha, Magali e vizinhos), seja pelo núcleo rural (Chico Bento, Zé Lelé, Rosinha e outrem), seja pelo núcleo juvenil (Rolo, Pipa, Tina e demais personagens descolados), seja pelo encantador e divertidíssimo núcleo do cemitério (Penadinho, Morte, Frank, Zé Vampir e aquela maravilhosa caveira triste). Porém, algo sempre me incomodou naquele nucléolo pré-histórico: nunca gostei do caçador Piteco e não entendia bem a melancolia ‘pimba’ do Horácio, reverenciado por uma grande amiga no batismo de seu segundo filho.

A posteriori, encantei-me pelo personagem (vide tirinha anexa a esse texto), mas o desenho animado de hoje me deixou perplexo, preocupado, assustado: estou me convertendo gradualmente ao Catolicismo em virtude de uma paixonite, mas ainda não entendo adequadamente o Cristianismo. Por isso, não soube o que pensar diante daquele desenho absurdo e, ainda assim, emocionante. O pior é que, antes de o curto desenho animado ser exibido, houve um anúncio de censura: “o programa a segui foi editado para que seu conteúdo fosse adequado a todos os públicos”. Será mesmo? Não o foi para mim!

Wesley PC>

segunda-feira, 12 de abril de 2010

ALGUÉM MAIS NÃO SABIA QUE O MALCOLM McLAREN TINHA MORRIDO?


Na mesma semana em que confesso ao mundo a minha disposição recente em prestar atenção a matérias jornalísticas recentes – coisa que nunca liguei muito até então, não obstante o prazer supostamente vocacional em relação ao curso em que agora estou matriculado – fui seduzido pelas repetições sensacionalistas de notícias com larga repercussão climático-trágica e não me atentei que foi noticiada a morte de Malcolm McLaren (1946-2010), verdadeiro repaginador do ‘punk’, a criatura que se serviu da repercussão protestante do pauperismo social transformado em música e lançou um verdadeiro rótulo indumentário, aquele do qual Xuxa Meneghel (para ficar num exemplo mais absurdo) se serviu para lançar no mercado calças ‘jeans’ prévia e minuciosamente rasgadas na própria fábrica. Evidentemente, há quem ame o empresário, há quem o deteste e há quem seja justo e ignore o vazio polemicista e concentre-se no que realmente importa em relação ao ‘punk’. Como eu sou aficcionado por campanhas publicitárias ambíguas e bem-sucedidas, gostava sim do Malcolm McLaren e queria ter descoberto a notícia de sua morte há tempo, para lhe prestar a devida homenagem midiática. Só eu que não sabia?

Wesley PC>

BENOÎT MAGIMEL


Tanto que ainda me falta conhecer neste mundo... Tanto!

Explicando de forma sucinta: debaixo do toró que caiu ontem, houve a suspeita de que meu irmão havia penhorado o guarda-chuva lá de casa para comprar 'crack'. Por sorte, um colega de bebedeira devolveu o artefato na manhã de hoje, mas era tarde. Já havia me encharcado no trajeto para o trabalho. O consolo é que, ao chegar aqui, encontrei disponível um livro do Antonio Gramsci e descobri que não sou o único a perceber apelo homoerótico até mesmo nas mais convencionais cenas de sexo cúmplice filmadas por André Techiné.

Wesley PC>

SUPOSTO EX-VICIADO EM PAIXÃO (RESENHA CURTA)

Era um fã ardoroso da cantora Alanis Morissette quando adolescente. Não a ouvi quando foi lançado “Jagged Little Pill” (1995), quando ela chegou até mesmo em aparecer em programas de TV brasileiros, mas apaixonei-me pelo ‘single’ “Thank U”, terceira faixa do álbum “Supposed Former Infatuation Junkie”, de 1998. Antes que baixar CDs pela Internet fosse uma tendência banalizada, tínhamos que recorrer às locadoras e este foi um dos primeiros, se não o primeiro, que loquei. Lembro como se fosse hoje de tudo o que senti quando ouvi este CD pela primeira vez, aos 17 anos de idade: estranhei a faixa de abertura “Front Row”, desgostei de “Baba” (faixa 2) e entrei em transe quando me pus diante de “Thank U”, repetida N vezes no mesmo dia. Repeti esta mesma faixa tantas e tantas vezes que demorei a conhecer o restante do álbum, que ainda continha pérolas como “Can’t Not”, “That I Would Be Good” e “Joining You”, sendo que as mesmas tornaram-se bastante populares depois que algumas delas passaram a ser temas de novelas ou foram regravadas no “Acústico MTV” que a cantora e compositora lançou no ano seguinte. O tempo passou, eu e cantora canadense passamos por várias metamorfoses (permanecendo fiéis à nossa essência, obviamente) e hoje já não sou mais tão fanático por ela quanto o era á época, quando chegava até mesmo a roubar páginas re revistas das colegas de classe para colar fotografias da cantora num caderno. Depois que comprei (a contragosto inicial, conforme expliquei anteriormente) um reprodutor de mp4, “Supposed Former Infatuation Junkie” foi, por acaso, justamente o álbum escolhido para pontuar uma fase atual de minha jornada vitalícia, em que a letra epanafórica (como sempre) da obra-prima “Sympathetic Character” (faixa 5) tornou-se um verdadeiro mantra nostálgico. Afinal de contas, nos 5 minutos e 13 segundos que dura a canção, sua intérprete tudo o que teme (e deseja) num homem masculino, para, ao final, lançar o refrão modificado:

“You were my keeper.
You were my anchor.
You were my family.
You were my savior.
And therein lay the issue.
And therein lay the problem”.


Faço minhas as palavras dela!

Wesley PC>

INTUIÇÃO MASCULINA?


É sabido de todos que estou satisfeito com o pacote de TV fechada de que disponho. Tanto que não raro me flagro fazendo propaganda voluntária da redistribuidora de sinal dos canais, o que me tornou diretamente responsável pela adesão de um vizinho á tal redistribuidora. Na noite chuvosa de ontem, a mãe deste vizinho perguntou-me porque ela obrigada a pagar um valor tal por dado pacote pré-estabelecido de canais se existem alguns canais que ela jamais se interessou a ver. Ela citou o exemplo da TV Gênesis, destinada ao público evangélico e eu expliquei que conheço pessoas que assistem integralmente á programação do referido canal. “Tem gosto para tudo!”, foi o arremate clicheroso derradeiro. Ao chegar em casa, porém, senti um ímpeto estranho de ligar a televisão antes de dormir e lembrei que havia sonhado, na última terça-feira, se não me engano, que tinha alguém me impunha a obrigação de assistir ao canal Discovery Home & Health, sobre o qual nunca me interessei. É um canal absolutamente desprezível para mim, visto que a programação é destinada a senhoras ricas que seguem rotinas domésticas atreladas a exigências burguesas de higiene e saúde. Nunca me pareceu interessante, mas, por causa do sonho, resolvi dar uma olhadela antes de dormir e, às 23h30’ de ontem, o programa exibido tinha por nome “Antes de Morrer’. Era de origem norte-americana e, no episódio de ontem, o narrador e uma equipe médica acompanhavam o drama de uma funcionária mui estressada de uma dada empresa multinacional que descobrira nódulos encefálicos que temia serem malignos. No intervalo comercial, a solução para o problema dela: “fazer sexo ajuda a reduzir os níveis de estresse e a evitar diversos males para a saúde”. Disso eu já sabia. Seria este o aviso que a instância onírica que me cercara queria transmitir? Ciente de que não, liguei a televisão neste canal quando acordei na manhã de hoje e o que vi era ainda mais desagradável: um programa de venda com 2 horas de duração. O que será que meu subconsciente quis dizer ao me sugerir a programação deste canal?!

Wesley PC>

domingo, 11 de abril de 2010

... E CONTINUA A CHOVER LÁ FORA!

Só uma observaçãozinha: fico repetindo de 10 em 10 minutos que gosto quando chove. Gosto de água, gosto do céu nublado, gosto deste friozinho que faz a gente se vestir bem, mas, por outro lado, não tenho como não pensar nos inconvenientes que esta mesma chuva causa: na televisão, pessoas modestas são ridicularizadas pelos repórteres e pela audiência quando são mostradas chorando depois de “perderem tudo” numa enxurrada; goteiras e pingueiras estragam os móveis de minha casa e dos vizinhos; e o quintal de minha casa alagou tanto que até parece um riacho, uma açude, de maneira que minha cabrita Sganzerla entardeceu gripada. Ela está tossindo muito, mas os patos nem ligam: comemoram porque agora têm onde nadar. Viver tem dessas, né?

Wesley PC>

“ELOGIO DE BOCA PRÓPRIA É VITUPÉRIO”!

Já tive a oportunidade de estar a menos de 5 metros de distância do iraraense Antônio José Santana Martins, mundialmente conhecido como Tom Zé, na sala de reuniões da Reitoria da UFS, em 2001. Já assisti a dois concertos deste genial artista brasileiro, um deles fabuloso e o outro mediano, visto que tive problemas em digerir referencialmente o álbum de 2008 “Estudando a Bossa”. Mas nunca ousei chegar perto de admitir que ele é menos do que extraordinário. Tom Zé é gênio ‘hors concours’!

Pois bem, tive hoje a oportunidade de ver o documentário “Fabricando Tom Zé” (2006, de Décio Matos Jr.), sobre uma turnê que o artista realizou pela Europa em 2005 e, dentre vários eventos importantes, envolveu-se numa briga com um arrogante técnico de som suíço, que me fez relembrar uma situação particular em que um querido professor meu, Caio Amado, das Ciências Sociais, praticamente expulsou o ex-vice-governador de Sergipe, José Carlos Teixeira, de uma sala de cinema porque este político atendera ao celular durante uma sessão inesquecível de um clássico de Robert Bresson. Aliás, meus amigos costumam desgostar do documentário, no sentido de que ele pouco acrescentaria a quem já conhece e venera o artista em pauta, mas eu achei-o muito digno justamente pelo que ele fez evocar: lembranças.

Enquanto Tom Zé passeava pelas cidades francesas e italianas em que se apresentou e comentava tudo com seu tom sardônico mui particular, eu revivificava mentalmente os maravilhosos passeios que fiz, ao lado de vários amigos homossexuais, pela cidade de Belo Horizonte, onde éramos confundidos com a fauna local mesmo quando não conseguíamos disfarçar nosso deslumbramento pela beleza urbana ambiental do lugar. Admito que as animaçõezinhas que eventualmente apareciam no filme para comentar as histórias de infância do cantor e compositor eram simplistas e que as entrevistas com Caetano Veloso e Gilberto Gil poderiam ser melhor exploradas, mas foi muito bacana acompanhar o processo de criação do excelente álbum “Estudando o Pagode/ Segregamulher e Amor” (2005), perceber o grau de interação entre o artista e os músicos mui competentes e divertidos de sua banda, e, principalmente, ser cúmplice por 89 minutos do relacionamento marital com a empresária Neusa Martins, com quem também já tive o orgulho de estar ao lado, no mesmo evento de 2001, quando vi e ouvi ela explicando ao marido quem era Lacraia (“um homossexual que se rebola vulgarmente na TV”), quando este alegou não conhecer tal figura ao ser interrogado por um universitário sobre o que ele achava de manifestações execráveis de “popularesquismo” como o MC Serginho da época. Achei linda a cumplicidade entre marido e mulher naquele dia e achei ainda mais linda hoje. Afinal de contas, um gênio merece estar bem-acompanhado. E quem discordar, que “vá pra porra!”.

Wesley PC>

“QUANDO EXISTE COOPERAÇÃO MÚTUA, HÁ TAMBÉM PROSPERIDADE MÚTUA” (OU A LÓGICA DO EXPLORADO PERPÉTUO)


“O dinheiro é aqui tanto abstrato (tornando tudo equivalente) quanto vazio e desinteressante, já que seu interesse está fora dele mesmo; ele é, portanto, incompleto como as imagens modernistas que tenho evocado, dirige a atenção para outro lugar, para além de si mesmo, em direção ao que supostamente o completa (e também o destrói), a saber, a produção e o valor” (JAMESON, Fredric. A Virada Cultural: Reflexões sobre o pós-modernismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 253)

Cerceado por motivos diversos (a chuva incessante, a subsunção de minha família à programação iterativa da TV aberta, a impossibilidade de a porta do quarto dos pais de meu vizinho preferido ser fechada em virtude de uma goteira, a obsessão pensamental decorrente de uma paixonite, etc.), os únicos dois filmes que vi entre a tarde de ontem e a manhã de hoje foram contribuições randômicas da TV por assinatura: “Pu-239” (2006, de Scott Z. Burns) e “Antes das Chuvas” (2007, de Santosh Sivan). Não obstante suas diferenças de contexto, visto que é o primeiro é um telefilme sobre as conseqüências pessoais de um acidente radioativo na Rússia e o segundo é um drama indiano sobre adultério entre classes sociais distintas na década de 1930, ambos possui elementos bastante pontuais em comum, dentre os quais posso destacar dois: a utilização da língua inglesa como indício de colonização e a apropriação indébita de metáforas envolvendo artrópodes alados, elementos este que me fizeram perceber a validade do livro teórico que estava lendo antes das sessões. Vejamos os porquês.

No primeiro dos filmes – norte-americano em essência, mas repleto de técnicos romenos em sua ficha técnica – não há qualquer justificativa para que todos os personagens, advindos das mais diferentes províncias soviéticas, falem o mesmo tipo de inglês com sotaque. Fazendo-se o possível para ignorar este elemento aparentemente banal, mas deveras significativo em relação às motivações ideológicas que balizaram a escolha do tema e do cenário intra-apocalíptico do filme (em que os efeitos individuais de uma poderosa radiação de plutônio num dado homem são menos intimidadores que a pletora de mafiosos urbanos ignorantes), é difícil não se incomodar com a disritmia narrativa do filme, que intercala dois focos personalísticos que seriam concorrentes se não fossem embalados pelo mesmo apelo familiar-paternalista: o pai infectado tenta encontrar um modo de validar uma indenização industrial para sua esposa e filho, enquanto um criminoso pé-de-chinelo se desespera a fim de encontrar algo para presentear o filho que compartilha com uma prostituta. Em meio a estes embates, um questionamento em ‘off’: “o que dói mais: o gás que desnorteia a borboleta ou o espinho que a perfura?”. Não sei se entendi a resposta moral embutida no final inevitavelmente pessimista, o que me leva de supetão ao segundo filme, superior em qualidade e narratividade ao primeiro, em que um engenheiro britânico casado serve-se romanticamente de uma empregada doméstica indiana igualmente casada e a abandona quando esta é espancada pelo marido, o que desencadeará reações atreladas à luta pela independência daquele país. O uso do inglês é aqui muito bem contextualizado enquanto ferramenta de colonização sutil (visto que é associado a um tipo de civilização e educação superior, rejeitado pelos nativos que vislumbram a autonomia política), ao passo em que a metáfora para-religiosa envolvendo uma libélula libertada que supostamente permitiria a reencarnação da empregada morta é prenhe de sentido face aos engodos namoratórios prometidos pelo engenheiro. Se o filme insiste em ter problemas, estes mereceriam um artigo mais complexo e específico no plano da análise cinematográfica, em especial quando comparado ao filme que lhe deu origem, o israelense “Asphalt Zahov” (2001, de Dan Verete), ainda não visto e do qual o roteiro do terceiro episódio serviu de base para o roteiro indiano de Cathy Rabin.

Onde eu quero chegar com toda esta tergiversação fílmica? Justamente à confissão de que eu não sei onde quero chegar, à constatação de que, quanto mais eu leio e vejo bons ou maus filmes, fica a impressão certeira de que serei sempre refém (no sentido mais comunitário do termo) da opressão capitalista, visto que até mesmo os mais simples prazeres e/ou saciação de necessidades fisiológicas perpassam antes pela necessidade de aquisição monetária, conforme vislumbro neste exato instante, em que a exibição noturna de “Pretty Baby – Menina Bonita” (1978, de Louis Malle), verdadeiro clássico dramático sobre o leilão da virgindade de uma rapariga de 12 anos, atrela-se inconvenientemente à esperança de arrematar os licores genitais de um amante proibido de ser reconhecido por várias diretrizes da sociedade monetariamente regulamentada que nos rege. Ficam aqui, portanto, a confissão e o desejo.

Wesley PC>