sábado, 24 de abril de 2010

‘E-MAIL’ NÃO ENVIADO: “PODIA SER QUALQUER UM, MAS HOJE É TU!”

“Basta apenas um segundo para que percamos tudo aquilo que achamos que temos”: este é o tipo de mensagem pregada nos filmes do cineasta pessimista Gaspar Noé, mas hoje, pela primeira vez em muito tempo, também eu pense que a recíproca também seja verdadeira, justamente por tentar justificar para mim mesmo que existem situações em que a recíproca é irrelevante. Tentarei explicar, partindo da premissa cara a Umberto Eco de que cada texto admite um leitor ideal. Mais do que um leitor “ideal”, esta postagem possui um destinatário imediato, mas não somente a ele se destina.

Havia programado uma noite e uma madrugada repleta do que se poderia chamar de diversões planejadas no que tange à proximidade da contravenção. Motivo para esta programação: minha mãe parece satisfeita na noite de hoje e meu irmão problemático não parece ter intenção de se embebedar e ficar violento. Ao contrário de este bem-estar familiar alheio ser motivo para que eu saia de casa, não deveria ser justamente o contrário: justamente por eles estarem bem, não deveria eu ficar ao lado deles? Respondi que sim e desistir de sair de casa nesta noite de sábado justamente quando me vestia para tal. E não penso em me arrepender disso. Mudar de opinião é também muito positivo. E, para além de saturar o destinatário imediato desta postagem com agradecimentos que ele não mais tolera (e que nem eu tampouco tenciono que sejam recíprocos – jamais serão e isto pouco importa na aplicação de seus efeitos!), aproveito a oportunidade para confessar ao mundo o quanto me sinto geracionalmente compreendido pelo cineasta Judd Apatow, do qual acabo de ver “Ligeiramente Grávidos” (2007), filme que estava em minha casa faz tempo, mas que não havia tido ainda a oportunidade de vê-lo em sua integralidade, visto que ele atinge os insuspeitos 133 minutos de duração, coisa rara em se tratando de comédias contemporâneas.

A longa e inusitada duração do filme, considerando-se os atuais padrões ligeiros do gênero, é um indicativo tácito de sua qualidade (inclusive, dramática), já anunciada no ótimo filme anterior do diretor e roteirista, “O Virgem de 40 Anos” (2005), com o qual obviamente me identifiquei. Neste filme, o que mais me surpreendeu foi o quando Judd Apatow demonstra conhecer os anseios e decepções caros à minha geração, aqueles que beiram os 30 anos de idade, que transitam entre a instabilidade empregatícia de forte cunho midiático-referencial e a pletora informacional cara à contemporaneidade. A trama do filme parece banal: um moço inconseqüente (Seth Rogen, espécie de ator-fetiche do cineasta) e uma funcionária solteira de uma rede de fofocas televisivas (Katherine Heigl) conhecem-se numa festa e, ambos bêbados e adeptos do sexo casual, fazem sexo sem camisinha, o que redunda numa gravidez surpreendentemente desejada. Antes que o parto da protagonista se desse e, quando sua irmã entra na maternidade para abraçá-la eu sentisse por um segundo uma “inveja positiva” de quem tem a oportunidade de gozar do padrão nuclear heterossexual de família, fiquei abismado com a qualidade superior das piadas destiladas ao longo da projeção. Juro que gargalhei solitariamente enquanto via o filme, visto que vi nele registrados perfeitos retratos de alguns de meus melhores amigos!

O grande diferencial dos filmes roteirizados pelo Judd Apatow está no modo como ele insere piadas envolvendo citações verbais a outros filmes, constituindo o cerne de alguns diálogos brilhantes, como quando um grupo de amigos compara a púbis de Julianne Moore (vista num filme de Robert Altman) ao labirinto de folhagens que marca o final de um famoso filme de Stanley Kubrick ou a cena genial em que duas mulheres não entendem os comentários que seus cônjuges fazem a respeito de suas vidas, comparando-as aos eventos modificáveis de uma famosa trilogia fílmica do Robert Zemeckis. Porém, os blagues envolvendo as mudanças de comportamento atual em relação a drogas e sexualidade me surpreenderam: seja no momento em que dois protagonistas masculinos são mostrados sob o efeito de cogumelos alucinógenos numa apresentação do Cirque Du Soleil, seja quando o pai do filho da protagonista questiona como se não soaria hipócrita ao aconselhar seu bebê a não usar drogas se ele próprio é um consumidor contumaz de maconha. A resposta do seu pai é não somente hilária quanto fabulosamente perspicaz!

Depois que vi o filme – e fiquei deveras satisfeito com seus resultados morais – lembrei de uma daquelas anedotas típicas de minha vida, referente a ume garota que se apaixonou por mim quando eu tinha 16 anos de idade e, quando veio me confessar seus intentos namoratórios, eu disse-lhe que tinha problemas nesta área, ao que ela respondeu: “não te preocupes. Eu te amo tanto que suportarei namorar pelos dois”. Dei uma chance a ela e, meses depois, a mesma estava aos prantos no interior de um ônibus, dizendo que eu a magoara tanto que não se sentiria mais capaz de amar outro homem depois de mim. Hoje ela está aparentemente bem-casada com um rapaz de sua igreja (Testemunhas de Jeová). Não a culpo. Talvez ela também tenha se deparado com aquele segundo epifânico de vida, em que tudo muda... Tomara!

Pelo sim, pelo não, fica a recomendação: “Ligeiramente Grávidos” é muito melhor do que parece aprioristicamente!

Wesley PC>

“EU VOU BEBER PRA ESQUECER MEUS PROBLEMAS”...

Não obstante meus 412 principais problemas de inserção societal, fiquei um tanto famoso na universidade quando de minha primeira graduação em virtude de uma suposta “cigana” que baixava em mim nas festas e fazia com que eu dançasse e me comportasse de forma muito frenética e destacável. À medida que os anos foram passando e minha velhice proto-depressiva se intensificando, a “cigana” tornou-se mais reservada, aparecendo prioritariamente em eventos festivos mais reservados, em especial àqueles vinculados à Comunidade que dá nome a este ‘blog’. Na noite de ontem, porém, resolvi dar uma folga ao tom auto-depreciativo de minhas lamúrias confessionais e, a convite de amigos, aceitei conferir um evento musical que se desenrolava na UFS. A “cigana” queria trabalhar em público novamente. Resolvi dar uma chance noturna de sexta-feira à entidade e caminhamos todos em direção ao local do evento, brincando com as “inclinações homossexuais” que vemos criticadas na capa de um livro de auto-ajuda publicado pela editora da Canção Nova.

Lá chegando, deparamo-nos com uma banda que aparentemente estava passando o som. Mais de uma hora se passou e a banda parecia estar ainda passando o som. Percebemos com dificuldade, portanto, que o que parecia ser a passagem de som da banda era o efeito proposital de uma ‘jam session’, constantemente negada quando o vocalista da banda usava o microfone para anunciar que só estavam “enrolando enquanto o segundo guitarrista não chega”. Nome da banda: The Drunk Orchestra.

Com certa dificuldade, advinda de minha proposital disfunção fisionomista, percebi que conhecia o vocalista da referida banda. E pior: não estava gostando de sua postura de palco, o que parecia ser consensual em relação à maior parte do público. Problema 1: não somente eu conhecia o referido vocalista, como o acho uma pessoa simpaticíssima e inspirada. Problema 2: apesar de eu discordar do modo como a platéia estava se opondo à sua presença de palco, entendi o porquê de isto estar acontecendo. Motivo: ele (que não vou citar o nome, mas como intuo que ele comentará esta postagem, deixo ao mesmo a honra auto-nomeadora) não parecia, ao menos em meu entender de abstêmio, tão bêbado quanto o nome da banda requeria e, sendo assim, o que de interessava havia na proposta iconoclasta da banda redundava em piadas e chistes facilmente acessíveis em sua irritação defensiva por parte dos membros insatisfeitos da platéia que porventura estavam ali para assistirem às outras atrações da noite, popularescas no pior sentido do termo. O vocalista referiu-se a mim em dado momento da sua apresentação, mas eu não soube como reagir à lisonja: a “cigana” estava um pouco envergonhada em sua observação carinhosa de uma aplicação deficitária de princípios artísticos.

Conversando via Internet com o referido vocalista na manhã de hoje, antecipei muitas das críticas que tencionava redigir aqui acerca de sua apresentação de ontem, o que me deixa cauteloso em relação ao que eu poderia acrescentar neste texto mais geral, o que me leva a crer que comentários mais específicos sobre as insatisfações coletivas acerca da recepção do espetáculo da The Drunk Orchestra talvez sejam melhor cabíveis em respostas aos possíveis comentários ou em conversas pessoais com os integrantes (todos eles condizentes com os adjetivos elogiosos que destinei ao vocalista). Porém, algo deve ser acrescentado: com todos os problemas de execução, mas não necessariamente de proposta, a suposta orquestra bêbada causou certo ‘frisson’ na platéia composta por meus amigos em função de um verso reiterativo com os fonemas da palavra /reuel/ e com a iteração frasal “baixe as suas calças” no refrão de uma canção mais virtuosística no plano instrumental. Aliás, meus amigos gostaram muito dos incrementos instrumentais da banda, elogiaram-nos até, mas houveram problemas de compreensão objetiva do desempenho do vocalista, muito gracioso, muito simpático, muito doce, mas comicamente problemático na noite de ontem.

Acima de tudo, quero dizer que o espetáculo findou sendo muito interessante não somente para o avatar da “cigana” (que, conforme visto em foto, já havia sido estimulado antes mesmo de chegar ao local do evento, ainda quando saía de seu ambiente de trabalho), mas também para seu grupo de amigos, que dispuseram de um frenesi dançante enológico por agradáveis e prolongados minutos e de uma nova possibilidade discursiva acerca de como se pode produzir arte contestatória nos dias de hoje, em que tudo está banalizado, até mesmo (e/ou principalmente) o ato de “baixar as calças”. Será que tudo seria diferente com outro tipo de platéia (acima de tudo, numericamente menor)? Será que foi o público que não entendeu a banda ou a banda que não se fez “entender” pelo público? Pelo sim, pelo não, aviso ao vocalista tão citado nesse texto que ele é uma pessoa muito graciosa tanto para mim quanto para a “cigana”, que, antes de dormir, tomou novamente meu corpo e dedicou-lhe uma evocação masturbacional pré-onírica. Bom estar de volta aos palcos hedonistas da vida!

Wesley PC>

sexta-feira, 23 de abril de 2010

DOS PORQUÊS DE QUE NÃO TER QUERIDO SABER SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ATÉ AGORA...

Já vem se tornando uma tendência viciosa (ou saudável?) dedicar a segunda metade de meu horário de almoço de sexta-feira à análise pessoal das aulas de Jornalismo Ambiental que enfrento neste dia. Na manhã de hoje, a aula (comumente ótima) foi-me particularmente proveitosa no sentido de que me ofereceu uma possibilidade de solução duradoura para minhas eventuais crises sobre “o sentido da vida” que vai muito além do congregacionismo egóico pretendido na postagem anterior: lidar com o meio ambiente – em especial, enquanto agente midiático, no combate aos falsos denuncismos de empresas que disfarças suas atitudes maléficas em relação à natureza com campanhas ambientais – é muito mais proveitoso do que abraçar horas fios pessoas involuntariamente hipócritas que repetem em idiomas supostamente angelicais os 10 Mandamentos da lei de Deus, mas consomem largos quilogramas de carne animal quando chegam em casa e sequer questionam se isto é religiosamente legítimo ou não.

Pois bem, na aula de hoje, baseada num ambientalista que não por acaso estou lendo (Carlos Walter Porto-Gonçalves, autor de “A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização”), a professora tentou destacar as ambigüidades discursivas dos órgãos de protecionismo ambiental que são financiados por empresas particulares ou pelo Estado. Uma colega de classe citou o WWF (“Fundo Mundial pela Natureza”, numa tradução lata), cujo logotipo estampa esta postagem confessional mais pelo chamariz interrogativo-motivacional do que necessariamente por uma adesão de princípios. Quanto mais eu leio sobre este tipo de iniciativa ou vejo filmes ecologicamente contraditórios (no plano mais massificado e expansivo do termo, em que o exemplo de Louis Psihoyos [vencedor do Oscar de Melhor Documentário deste ano por causa de “A Enseada” (2009), sobre a matança indiscriminada de golfinhos no Japão, acompanhando investigação do treinador arrependido do finado Flipper], mais eu percebo ou constato ou interpreto que a luta neste âmbito soa mais digna através do prisma subjetivo, pessoal, muito mais discreto do que através do que é apelidado de Organização Não-Governamental. Em dado momento da aula, por exemplo, a professora criticou os óbvios estratagemas sensacionalistas do Greenpeace, mas não teve como negar que os mesmos são ostensivamente funcionais.

Já tive oportunidades para comentar o que acho das campanhas publicitárias sensacionalistas do PETA, por exemplo (caso A, caso B), mas sempre me pego consentindo em ignorar alguns aspectos negativos tangenciais deste tipo de campanha em razão de sua aplicabilidade funcional no mundo pessimista que se deslinda diante de nossos olhos e sentidos. Aliás, percebo que nem todos gostam da aula, visto que alguns colegas só levantavam as mãos para fazer comentários impertinentes sobre a letra da professora (portadora de tendinite aguda) no quadro, enquanto eu me chateava por, sendo ainda calouro, ter vergonha de levantar alguns debates acerca das questões contraditórias que tanto me incomodam e, como percebo agora, são muito mais funcionais em momentos de crise erótica do que um patenteamento de minhas vocações religiosas. Está dado o recado, portanto!

Wesley PC>

POR POUCO, NÃO ENTREI NAQUELE TEMPLO. A PERGUNTA: RESOLVERIA?

Jamais saberei enquanto não entrar!

Mais uma vez, a tentação inversa me aflige: enquanto alguns religiosos passam a extensão de sua vida temendo o pecado, eu temo justamente a institucionalização de meus anseios religiosos. Na noite de ontem, enquanto caminhava para casa, vi e ouvi pessoas cantando de mãos dadas num pequeno templo evangélico de bairro em que, numa situação anterior, uma amiga baiana pediu para usar o banheiro e flagrou várias pessoas contando dinheiro por detrás de uma cortina. Sei que congregação religiosa pré-fabricada não resolve problema nenhum, mas esta é uma tentação que me persegue há tempos: quero conhecer o interior de uma igreja evangélica!

Um dia, confessei a um amigo com tendências luciferistas este ímpeto e este disse que duvidava que um dia eu me submetesse definitivamente à lavagem cerebral que costuma acometer quem ingressa num cotidiano religioso diferente do seu. Em virtude de algumas tendências equivocadas que se repetem em meu dia-a-dia, receio duvidar desta dúvida. Pergunta adicional: como se compensa virtual e intelectualmente a compensação pela decadência dos confessionários?

Wesley PC>

quinta-feira, 22 de abril de 2010

ANNEFEST 2010!!! VERSÃO DANCEHALL!


Como alguns de vocês sabem, o tradicional Annefest rola todos os anos dia 28 de Abril, e algumas exceções para outros eventos comemorativos. Este ano lançarei a versão Dancehall, uma coisa mais "numa relax, numa tranquila, numa boa"; isso por que a crise ta braba e mega festas não são permitidas.Rsrs... Então, se vai ficar de boresta na próxima quarta(28/04/2010), deixa dessa e compareça ao Annefest 2010, pra tomar umas cervejas, sorrir, dançar e celebrar comigo.


RESUMO:

O QUE SE TRATA: ANNEFEST-VERSÃO DANCEHALL (MEU NIVER)
LOCAL: DCE DA UFBA. RUA CAETANO MOURA, 142, FEDERAÇÃO. EM FRENTE A FACULDADE DE ARQUITETURA.
QUANDO: 28/04/2010 ÀS 18 HORAS
O QUE PRECISA LEVAR: POSITIVIDADE, VIBRAÇÃO, ALEGRIA E NA FALTA DE CRIATIVIDADE PARA O PRESENTE, UMA CAIXINHA DE CERVEJA! rsrs...
O QUE VAI TER: 300 LATAS DE CERVEJA,WHISKY, CONHAQUE, VINHO, COMIDINHAS, LINDAS PESSOAS, MAINHA, APRESENTAÇÃO DE MALABARES, DJ TOCANDO RAGGA, DUB, REGGAE, MC'S, DEPOIS PLAYLIST DE TUDO QUE VOCÊ QUISER OUVIR.
O QUE FALTA: VOCÊ!!!!
OBS.:POR FAVOR CONFIRME SUA PRESENÇA RESPONDENDO A ESTE RECADO. E se vc por acaso quiser fazer um som tb, me avise pra articular os bafons necessários.

DÚVIDAS ME LIGUEM: 71 87540367


Bjim a todos, aguardo vocês!

“ELA É NEGRA, EU SOU ‘GAY’: NÓS FAZEMOS CULTURA!”

É sempre complicado falar da influência negativa das ditas minorias sociais no encrudecimento da Indústria Cultural, mas o pronunciamento da frase acima como sinônimo de qualificação no decepcionante 15º episódio do seriado norte-americano “Glee” me fez pensar no caso, posicionar-me contrário à formatação ideológica que discos ou filmes produzidos por segmentos da população que sofrem preconceitos massificados recebem defensivamente justamente quando tentam incrementar o mercado legitimador destes preconceitos. Afinal de contas, qualidade e (auto-)vitimização nunca foram bons sinônimos!

Pois bem, na manhã de hoje eu senti vontade de ouvir novamente “Life in Cartoon Motion” (2007), álbum de estréia do libanês Mika, logo incensado por público e crítica em virtude de sua privilegiada voz aguda e por apologias divertidas ao homossexualismo. Rapidamente, muitos de meus amigos estavam engrossando os fãs-clubes do artista, mas eu era relutante em apreciar o álbum, não obstante gostar tanto de suas emulações ‘pop’ felizes (caso das famosas canções “Grace Kelly”, “Relax, Take it Easy” e “Lollipop”) quanto das cançõezinhas tristes e com potencial ‘cult’ (a fabulosa “Any Other World”, a oculta “Over My Shoulder” e a levemente polêmica “Billy Brown”, sobre um homem casado e entediado que se apaixona por outro homem). É um disco fofinho, causa muito prazer ouvi-lo!

Em setembro do ano passado, Mika lançou outro álbum, onde confessa expurgar suas curiosidades adolescentes, chamado “The Boy Who Knew Too Much” (2009), com projeto gráfico muito semelhante ao anterior, no sentido positivo da comparação, inclusive. Seus fãs insistem que ele está mais maduro e triste neste novo álbum, mas eu estou ouvindo-o neste exato momento e receio preferir o anterior. O grande chamariz do álbum é a faixa 02, “Blame It On Girls”, em cujo videoclipe Mika veste-se de cor-de-rosa e explicita como foi criada a sonoridade da canção, baseada em objetos do dia-a-dia como máquinas de escrever e batucadas na mesa. Mas o que me cativou nela foi o discurso contra aquelas pessoas pseudo-pessimistas que sempre acham que seus problemas são maiores que os das demais pessoas, contra os seres humanos viciados em reclamações inócuas. Legal ver um refrãozinho pegajoso falando sobre isso sem subjugar eventuais ojerizas ‘pop’ por parte dos ouvintes...

“Blame it on the girls who know what to do
Blame it on the boys who keep hitting on you
Blame it on your mother for the things she said
Blame it on your father but you know he's dead”


Wesley PC>

BEM MAIOR QUE O MEDO DE VIRAR MULA-SEM-CABEÇA!

Só mesmo nunca tendo visto nada do Nicolas Roeg para crer que sua evocação do horror no maravilhoso filme “Inverno de Sangue em Veneza” (1973) seria desprovida de paixão, de questionamentos carnais mais amplos e não-lineares. Não foram poucas as vezes em que elogiei este cineasta aqui, portanto serei breve nesta evocação, visto que o que me interessa nele é uma particularidade, mas...

O inquieto britânico Nicolas Roeg estreou em longas-metragens cinematográficos com o genial “Performance” (1970, co-dirigido por Donald Cammell), um dos mais geniais filmes sobre a perda de uma geração contestatória que já vi. Nele, Mick Jagger é vítima e algoz das conseqüências capitalisticamente abarcadoras de nosso tempo, sentimento este que perpassa todas as obras seguintes do diretor, sempre magnificamente editadas e intercaladas com ações íntimas e intimidadoras. Não vi ainda sua versão televisiva para “Sansão e Dalila” (1996), o que me enche de curiosidade, mas, no filme aqui em pauta, a edição do excelente Graeme Clifford mexeu com meus sentidos e pulsões: não sabia se tremia ou se ficava excitado. Por precaução, tremi de medo e excitação ao mesmo tempo.

Para quem não conhece a trama (resumida integralmente na página 568 do guia “1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer”, sendo um dos quatro filmes do diretor resenhado no livro, fato raro), “Inverno de Sangue em Veneza” é o título nacional (surpreendente bom, aliás) para “Don’t Look Now”, um filme em que um restaurador de arte sofre a perda de sua filha, morta por afogamento, e, numa viagem a trabalho por Veneza, sua esposa aflita conhece uma médium cega que diz que a falecida garotinha está feliz e que eles devem sair urgente da cidade, sob pena de que algo pior aconteça. Não preciso dizer que acontecerá – e é impressionante! Porém, não é só o temor que se destaca no filme: a química impressionante entre os ótimos atores Julie Christie e Donald Sutherland e todas as seqüências de questionamento eclesiástico me deixaram com vontade de visitar uma igreja. Não que eu creia que isto vá redimir quaisquer de meus pecados, mas... Fiquei com vontade. Estou querendo! Talvez seja culpa da pletora da cor vermelha na direção de fotografia de Anthony B. Richmond (parceiro freqüente do diretor) ou os acordes românticos do Pino Donaggio...

Vale acrescentar que, aos 81 anos de idade, Nicolas Roeg está realizando este ano um filme de nome “Night Train”, protagonizado por Sigourney Weaver, basicamente sobre a investigação policial sobre o assassinato brutal da filha de um delgado. Nas mãos competentes e ainda muito ágeis de Nicolas Roeg, qualquer tema se torna um estudo potente sobre a inteligência/ignorância humana e suas implicações na própria carne. Sendo assim, aguardo com ansiedade o lançamento de mais este novo filme, enquanto lido internamente com o medo de virar mula-sem-cabeça...

Wesley PC>

quarta-feira, 21 de abril de 2010

PRINCÍPIOS DE AUTO-AJUDA (PARTES I e II):

Uma jovem pergunta a uma colega de trabalho se esta quer acompanhá-la numa apresentação musical do seu marido, que é músico e sempre se apresenta em bares praianos nas noites de sexta-feira. A segunda moça recusa de imediato, mas depois muda de idéia e pede que eu telefone para a primeira moça, a fim de dizer que agora aceita o convite. Telefono várias e várias vezes para o celular dela, mas a mesma não atende. Deduzo que a mesma está fazendo sexo marital, visto que o componente masculino da relação passa as noites fora de casa. Ciente disso, envio-lhe uma mensagem, em que lhe desejo “uma boa menstruação”. Minutos depois, um número desconhecido me telefona, perguntando enfurecido quem sou eu. Respondo quem sou, ao que ele explica que é o marido da jovem citada na primeira linha desse texto, recém-hospitalizada em virtude de um acidente doméstico, quando cai por sobre uma porta de vidro e corta ambos os pulsos, coincidentemente depois de ter descoberto que o marido tem uma amante. Eles brigam antes de ir ao hospital, visto que ele suspeita que ela tentou se suicidar ao descobrir o fato. Daí por diante, o casamento vai por água abaixo. Cada um vai para um canto. Ela dorme na casa de sua mãe, enquanto ele possivelmente se diverte ao lado de sua nova companheira sexual. Fim da estória.

Muda alguma coisa se eu disser que o parágrafo acima é a descrição de um evento real, narrado por uma colega enquanto outra pessoa com quem eu conservava diz que a ficção talvez prevaleça sobre a crônica no sentido de que a primeira envolve maior capacidade de criação? Pois bem, é uma história real! E, enquanto eu me deslumbrava ao admirar meu interlocutor, a outra moça mencionada no parágrafo anterior cantarola uma versão musical abrasileirada para “The Blower’s Daughter”, canção triste do britânico Damien Rice. Era verdade: eu não conseguia parar de olhá-lo! Perguntei, então, ao meu interlocutor o que ele achara do episódio-piloto do seriado “Glee” (do qual estou a baixar, neste exato instante, o 15º episódio) e este respondeu que desgostou do mesmo em relação ao abuso de auto-ajuda. É ruim servir-se de um produto cultural como auto-ajuda? E se eu disser que as duas canções mais famosas do extraordinário álbum “MCMXC a.D.” (1990), do grupo Enigma, serviram-me justamente como auto-ajuda na manhã de hoje? Nada como mesclar canto gregoriano e gemidos lascivos para apaziguar uma alma barroca atormentada!

“Je veux aller au bout de me fantasmes
Je sais que c'est interdit
Je suis folle. Je m'abandonne
Mea culpa”


Wesley PC>

terça-feira, 20 de abril de 2010

DA ARTE DE SE APAIXONAR PELAS DISCORDÂNCIAS...

Depois de uma conversa excruciante com um colega de trabalho, percebi que haviam dois pseudo-hippies vendendo bugigangas em frente à Universidade. Fiz de conta que procurava algo em meu caderno e passei correndo por frente a eles, visto que os mesmos costumam me assediar para vender produtos que, da forma como são comercializados, não me interessam conceitualmente. Dito e feito: eles gritaram por mim: “ei, velho!”. Como eu estava ouvindo música no fone de ouvido, fiz de conta que não ouvi seu chamado, ao que escutei a reclamação que o mesmo fez para seu colega: “deve ser viado!”. ‘Hippie’ homofóbico? Como este tipo é que eu não falo mesmo!

Pois bem, segui em frente em meu caminho e, ao chegar em casa, fiz uma anamnese dramática dos eventos e confissões diárias e algo me fez trazer à tona o problemático e divertido filme “O Exército dos Frutas” (2004), péssima tradução brasileira para “The Raspberry Reich”, filme sarcástico do homossexual canadense Bruce LaBruce.

Vi este filme faz um tempinho, mas o mesmo merece exaltação demorada por causa de suas críticas sardônicas aos militantes de fachada, que se servem de conceitos marxistas ou genéricos para militarem em causa própria. No roteiro, acompanhamos as atividades de uma célula anarcoterrorista que deturpa algumas leituras de Wilhelm Reich e prega que “a heterossexualidade é o ópio das massas” e, a fim de pregar esta máxima exacerbada, seqüestra o filho de um imponente banqueiro alemão que, após alguns dias de confinamento, cede à orgia pretendida pelo grupo. Principais problemas do filme: 1- ele leva a sério demais os erros teóricos difundidos pelo grupo; 2 – as cenas de sexo (em especial, as envolvendo homens penetrando homens) são muito demoradas e superando o pornográfico; e 3 – as contradições internas do roteiro e da produção alimentam preconceitos mais do que combatê-los, seja no que se refere à cena de mau gosto em que vegetarianos invadem uma hamburgueria ou na eleição protestante de artefatos variados (de Madonna à masturbação, passando pelo ‘hip hop’ corporativo e pelos sucrilhos) como contra-revolucionários. Fiquei com vontade de rever o filme para saber o que eu acharia dele depois da proveitosa conversa que tive hoje sobre a necessidade de algumas contradições, mas o apelo ultra-penetrativo do filme no que tange às cenas de sexo faz com que eu espere minha mãe dormir para realizar este intento (risos).

Por causa de todos estes problemas, acho o filme quase ruim, não obstante admitir que o mesmo é muito, mas muito divertido mesmo e, em mãos “erradas”, pode ser um poderoso instrumento político. Pena que não consegui encontrar legendas para o filme, senão eu achava um jeito de exibi-lo na universidade. Bem que aqueles ‘hippies’ comerciais mereciam uma sessão destas!

Wesley PC>

NÃO PRECISO DE NENHUM SERIADO DE TV PARA SABER DIFERENCIAR FELICIDADE DE OSTEOPOROSE!

Acordei cedo na manhã de hoje para ver “Geração Roubada” (2002, de Phillip Noyce), recomendado na página 910 do indispensável guia “1001 Filmes Para ver Antes de Morrer”. Sabia que o filme não seria tão bom quanto mencionado no referido guia, mas, ainda assim, o filme é deveras meritório no que se refere à exposição de um aberrante conjunto de eventos durante a colonização britânica na Austrália, em que as crianças aborígenes eram retiradas de suas famílias e entregues a famílias de brancos ricos, que as manteriam como escravas e, gradualmente, visavam extirpar sua raça através de fecundações mistas multigeracionais. No roteiro do filme, acompanhamos a jornada de três garotinhas, duas irmãs e uma prima, que fogem de um campo de reabilitação racial e, com o intuito de voltarem para casa, acompanham, em fuga, o trajeto de mais de 2.000 quilômetros abarcados por uma cerca supostamente construída para afastar os famintos coelhos selvagens das plantações dos colonos. Por mais que o filme seja emocionante enquanto revelação de um projeto humano/capitalista absurdo (os depoimentos das personagens verdadeiras, tardiamente inseridas na sociedade que as escravizou e perseguiu, são terríveis!), enquanto produção cinematográfica é um tanto convencional, não obstante a excelente equipe técnica sustentacular, que inclui o fotografo Christopher Doyle e o músico Peter Gabriel, cujos acordes não-sagrados permaneceram em minha mente reativa por um bom tempo. Merece ser conhecido, mas a hipertrofia sentimental de seu tema pode ser ideologicamente comprometedora.

Em verdade, antes de ter escrito o parágrafo criticamente receptivo acima, tencionava listar uma série de crises conscienciosas e passionais que me afligiram antes que o filme fosse finalmente visto, programado desde a noite de ontem. Pedi que minha mãe me acordasse sem falta às 7h da manhã (o filme seria exibido na HBO às 7h30’), mas não consegui dormir. Na véspera de toda terça-feira, fico agoniado, tenso, ansioso, amedrontado, desejoso... É o dia da semana em que folga pela manhã (quando tenho aula) e à noite (quando geralmente vou ao cinema), mas, durante o período da tarde, no trabalho, é que a coisa pega: vejo gente – e nem sempre sou imune ao seu charme. Quase nunca sou, aliás! Por isso, antes de dormir, na noite de segunda-feira, fiquei zanzando pela TV, em busca de algo que me entretecesse e assisti a um episódio do reverenciado seriado “30 Rock”, em que a diferença estapafúrdia contida neste título de postagem era evidenciada. Mas não precisei disso: acho que já consigo diferenciar por mim mesmo felicidade e osteoporose. Será? Pelo sim, pelo não, Phillip Noyce é um artesão cinematográfico muito talentoso, conforme já demonstrara em filmes interessantes como “Terror a Bordo” (1989), “Fúria Cega” (1989), “Invasão de Privacidade” (1993) e, principalmente, sua regravação emocional para “O Americano Tranqüilo” (2002), baseado num livro de Graham Greene que possuo mas ainda não li. Ficam as dicas!

Wesley PC>

domingo, 18 de abril de 2010

DA ARTE DE PREFERIR A VIDA, SEJA COMO FOR – PARTE II:

Não conheci o Brendan Perry quando este compunha a aclamada banda “neo-medieval” pessimista Dead Can Dance, ao lado de Lisa Gerrard [mais conhecida por sua antológica colaboração na trilha sonora de “Gladiador” (2000, de Ridley Scott)], mas fui apresentado a este amargo e genial cantor, compositor e multi-instrumentista na última sexta-feira por um amigo que morou recentemente na cidade de Paripiranga – Bahia (coincidência?) ao lado de seu marido, mas voltou a habitar a zona de colonização universitária fronteiriça à UFS.

Quando me pôs para ouvir trechos do recente álbum do artista [“Ark”, lançado oficialmente em 31 de março de 2010], este amigo homossexual casado apresentou-me à lancinante faixa 3, “Wintersun”, canção que repeti N vezes na tarde de hoje e que serve como perfeito complemente às confissões do texto anterior. Deixo aqui a introdução da letra da canção, enquanto insisto: dói, mas eu sobreviverei!

“Can’t stop the hurt, can’t stop the bleeding
I am invisible
Can’t stop the thought, nor the feeling
I don’t exist at all

But when you call my name
Do you feel the same way?
That we’re trapped in time
We’re both living a lie”


Às vezes me pergunto, num ímpeto de tristeza mecanizada, por que eu nasci, mas pessoas queridas se apressam em enumerar porquês. Ouvir esta canção, no contexto em que ela comparece agora em minha vida é, com certeza, um deles. Recomendo!

Wesley PC>

DA ARTE DE PREFERIR A VIDA, SEJA COMO FOR – PARTE I:

Na tarde de hoje, vi um filme sobre jovens em que um blogueiro “com muita dor para um rapaz de 17 anos”, vale-se de um célebre aforismo do escritor Albert Camus (“o suicídio é a única questão filosófica essencial”) para acabar com a própria vida, ingerindo uma mixórdia letal de soporíferos depois que sua ex-namorada recusa seu pedido de perdão. Para além de meus panegíricos ou insatisfações em relação ao filme em pauta, que estarão evidentes na crítica que planejo escrever de hoje para amanhã. Porém, antes que a mesma fique pronta, convém repassar a limpo algumas coincidências artísticas que me fazem preferir a vida mais e mais, não importa quão dolorosa ou insatisfatória ela pareça. Como o assunto foi pauta de um diálogo mui relevante na última semana, elenco algumas destas relações não necessariamente coincidentes, com um propósito auto-consolador que vai além da contrafação explicitada e reiterada. É um texto confessional, mas creio que possua alguma relevância para que seja aqui publicado. Espero que as razões deste texto sejam compreendidas (e perdoadas), visto que não quero difamar ninguém, mas apenas agradecer adequadamente a todos os seres humanos que permitem que eu continue a existir neste mundo paradoxal e repleto de gozos e frustrações.

Antes de qualquer lamúria mais específica, peço licença para citar pela segunda vez num mesmo dia uma seqüência do execrável filme “A Saga Crepúsculo: Lua Nova” (2009, de Chris Weitz), mas acho que a mesma vem ao caso: numa das cenas iniciais do filme, daquelas cujo roteiro preparam o espectador para reconhecer referências que parecem fugazes, mas que são tão oportunistas que beiram o plágio, o casal protagonista é intimado por um professor de colégio a escrever um trabalho sobre o amor trágico de Romeu e Julieta. Quando os mesmos estão assistindo uma versão cinematográfica antiga da peça shakespeariana, versão esta que parece entediante para ambos, o vampiro interpretado pro Robert Pattinson admite que sente muita inveja do apaixonado veneziano que tem por sobrenome Montéquio, não porque ele é correspondido em seu amor proibido por uma bela rapariga, mas porque ele é capaz de tirar a própria vida, algo que ele é incapaz de fazer. Num ridículo eco fílmico, o personagem consegue levar a cabo um suicídio por procuração, mas é impedido de cometê-lo no derradeiro segundo, graças à moça que ama e que ele pensara que tivesse se suicidado antes dele.

Ciente da irrelevância discursiva desta elegia suicida, não pude deixar de pensar um pouco nisso antes de sair de casa em direção a uma sala de cinema, onde dois amigos queridos me acompanhariam na sessão do mais recente filme da Laís Bodanzky, o que me fez lembrar de novembro do ano retrasado, quando uma pessoa muito querida esteve ao meu lado durante a projeção de “Chega de Saudade” (2007), filme que me fez redescobrir a tristeza sincera da Bossa Nova e que me propiciou vésperas de choro vitalício mui proveitosas para a aceitação de quem sou hoje. Encantei-me inesperadamente por aquele singelo filme sobre casais que se reencontram num baile para idosos, provando que a diretora Laís Bodanzky, responsável anteriormente pelo ótimo “Bicho de Sete Cabeças” (2001) e posteriormente pelo simpático “As Melhores Coisas do Mundo” (2010), visto hoje.

Chegando da sessão, visitei uma pessoa que, noutros tempos, foi o grande conforto de minha vida em relação ao que a personagem de Denise Fraga no filme mais recente chamou de “necessidades atávicas”. A mudança radical no seu horário de trabalho, porém, impede que nos encontremos, que eu pinha em prática a minha distinção até então não problemática entre as pessoas por quem me apaixono e aquelas por quem eu não hesito em me servir proto-sexualmente. Mais uma vez, a obrigação social do homem em trabalhar (no sentido empregatício do termo, o qual não considero necessariamente dignificante, conforme insiste o senso comum) limita uma possibilidade salvaguardadora de interação, que só se torna pior quando sei que amanhã não encontrarei novamente nenhum de meus redentores, nem o carnal (que estará confinado em seu ambiente de trabalho durante toda a madrugada) nem o anímico (visto que segunda-feira é seu dia de folga, quando não pode pôr em prática o nobre conselho redigido em letra esverdeada num pedaço de papel que, desde já, é um de meus tesouros fetichistas mais nobres). Tenho certeza de que sobreviverei, mas, dói! E, ao escrever esta conjugação verbal do verbo doer, sou obrigado a concordar tardiamente com Rafael Maurício num comentário elogioso que o mesmo fez sobre a simpatia exalada pela quarta faixa do álbum “Uhuuu!” (2009), da banda cearense Cidadão Instigado. Estou vivo ainda – e planejo continuar assim. Não sem a devida ajuda, evidentemente. Por sorte, esta existe. Graças a Deus, no sentido mais literal e acolhedor do termo!

Wesley PC>

“ESTE É O TÍTULO DESTE FILME”!


Na manhã de hoje, como forma de terapia passional-intelectiva, vi um péssimo filme ‘pop’ em que uma ridícula menina depressiva mete-se numa pendenga ancestral e meramente tipológica entre lobisomens e vampiros e, enfrentando a infelicidade de um abandono, sujeita-se a ver um fictício filme de ação chamado “Soco na Cara” com um grupo de amigos. Ao final, somente dois comparecem à sessão, ambos apaixonados por ela. Um deles é um adolescente recém-anabolizado pelo qual sabemos que ela se apaixonará perdidamente e o outro é um ‘nerd’ com cara de ‘nerd’, tratado injustamente como um ‘nerd’ odiado pelo roteiro pútrido. Quando este ‘nerd’ abandona a sessão violenta do filme que viam para vomitar, o adolescente rebelde arremata: “ao invés de ficar com este tipo de idiota, prefira alguém que ria do sangue que faz os fracotes vomitarem”. Fiquei escandalizado ao perceber que esta foi uma declaração aceita como positiva, vinda de um personagem por quem o roteiro tenta nos fazer atraídos, tamanha a quantidade de cenas em que ele é mostrado sem camisa. Lamento informar, mas não funcionou comigo: filmes como este é que nos fazem (re)perceber o quanto os ditos “rechonchudos” são encantadores...

Disfunções atrativas à parte, o que me consolou na situação acima descrita é que, antes de me submeter a este péssimo exemplar de produto cultural de massa, vi um dos filmes experimentais mais radicais, pretensiosos e inteligentes a que tive acesso desde que me deslumbrei pela obra de estréia do jovem Guy Debord: “So Is This” (1982), do canadense Michael Snow, um filme de 48 minutos de duração em que pouco mais vemos do que letras brancas sobre um fundo negro e silencioso. Nem de longe, porém, isto implica numa experiência chata ou desgastante. O incrementado senso de humor do cineasta responsável pelo projeto e a sua genialidade discursiva no que diz respeito aos elos pretendidos entre palavra escrita e cinema de autor é incrível, impressionante e, acima de tudo, divertido. Sendo assim, recomendo a qualquer ser humano digno este filme. Vejam-no e provem a si mesmos que são boas pessoas:

“So Is This” (1982)

Wesley PC>