sábado, 29 de maio de 2010

“PAU NO CU DA GLOBO, PAU NO CU DE DEUS” E OS ERROS BEM-INTENCIONADOS QUE FICARAM PELO MEIO...

“Mesmo aqueles que buscam na criminalidade a realização de seus desejos imediatos de consumo, sejam de classe média ou da periferia, não podem ser caracterizados como marginais ou como excluídos do sistema, posto que partilham os valores instigados todos os dias, o dia todo, em todos os lugares, haja vista em cada canto haver uma TV ligada ou um ‘outdoor’ oferecendo a felicidade” (PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. ‘A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização’ – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 – página 153).

Pronto, consegui baixar e ver o restante do filme e digo agora em letras garrafais: “BOTINADA – A ORIGEM DO PUNK NO BRASIL” (2006, de Gastão Silveira) TERMINA MUITO, MUITO MELHOR DO QUE COMEÇA! Os problemas apontados anteriormente – sendo o maior deles a opção por centralizar o roteiro na condução de entrevistas irregulares – continuam a se manifestar, mas são justificados por uma análise diacrônica de contexto, de maneira que um dos segmentos finais, quando os ‘punks’ de outrora respondem sobre como estão trabalhando hoje, enfia o dedo na ferida aparentemente enciclopédica e dota o filme de um interesse maior do que o seu deslumbrado diretor pretendia. Afinal, se o filme serviu para que eu percebesse o quanto o desempregado Redson, vocalista do Cólera, ainda é coerente em seu discurso de insatisfação social (sem contar que ele é bonito fisicamente), irritei-me deveras com os depoimentos supostamente engraçados – mas irritantes – do secretário de cultura Clemente, ex-vocalista da banda Inocentes e atualmente um inimigo do que ele próprio tenta negar como órgão sociopolítica do ‘punk’.

Queria eu ter o poder de julgar uma obra ou um movimento de organização social (adolescente) tão importante como este sem precisar apontar o dedo para um ou dois porta-vozes equivocados, mas não consigo. Sei que é muita tabaroice de minha parte julgar os erros do ‘punk’ como um todo pelas ações errôneas de uns rebentos que só se aglomeraram sobre este rótulo por causa da possibilidade de mais farra e bebedeira, conforme alguém disse no filme, mas tenho que começar por algum lugar: e, neste sentido, os blagues nostálgicos de mau gosto do tal Clemente me irritaram sobremaneira.

Por outro lado, fiquei particularmente emocionado com o depoimento do cantor com garra-de-ferro numa das mãos explicando como se envolveu na explosão do coquetel molotov que ocasionou a perda da referida parte do corpo e com o depoimento de alguém que explica que os erros cometidos – que foram muitos e não são negados – assim aconteceram de forma bem-intencionada, parecendo fazer sentido na época em que se deram, em que um estranho bairrismo competitivo e mui violento corria em paralelo a uma bandeira de “destruição reconstrtuiva”. Com toda miséria e com toda a acumulação de defeitos, este filme meia-boca convida-nos à reflexão, nem que seja por vias involuntárias, que se renovam de sentido quando ouvimos Wander Wildner à frente dos Replicantes na “Festa Punk” cantada durante os créditos finais.

Aliás, este tipo de proposta de discussão sempre me traz à tona uma conversa inesquecível que travei com um amigo metaleiro, em que analisávamos as principais diferenças de protesto entre os seguidores pretensamente inconformados do ‘hardcore’/’punk’, do ‘heavy metal’ e do circuito ‘indie’/’pimba’ (ao qual me filio, creio). Enquanto os primeiros revoltavam-se com propostas de autogestão, os segundos propunham a dizimação dos inimigos e os terceiros, o suicídio. No futuro, espero poder discutir esta lembrança dialógica com maior conhecimento de causa, mas, por ora, explicito aqui minhas insatisfações e parcas interferências enciclopédico-positivas do filme ora criticado. Espero contar com vozes alheias neste processo de auto-conhecimento cultural e de enfrentamento das mazelas do mundo globalizado neo-liberal hodierno... Afinal de contas, não creio que mandar enfiar um “pau no cu” da Rede Globo e de Deus no meio de uma mesma ordenação frasal seja condizente com a revolta ‘punk’!

Wesley PC>

EXISTE O DESSERVIÇO LEGITIMAMENTE ENCICLOPÉDICO?

Pelo que vi nos 27 minutos iniciais do filme “Botinada - A Origem do Punk no Brasil” (2006), do conhecido ex-apresentador independente de TV Gastão Moreira, a resposta infelizmente é SIM – e temo não parecer demasiado rabugento por isso, mas fiquei realmente decepcionado com o teor esvaziado das entrevistas que compõem o ponto nodal do documentário. Digo mais: o problema nem de longe está no fato dos integrantes de bandas canônicas como Cólera, Garotos Podres, Inocentes, Restos de Nada e Os Replicantes terem envelhecido ou coisa do gênero. Muito pelo contrário, alguns parecem ainda mais coerentes com o avançar da idade, mas há uma carência ideológica crassa nalguns depoimentos e, como era esperado (tanto que relutei um pouco até finalmente começar a ver este filme), me decepcionei bastante com o mesmo.

Gosto de muitas das bandas ali mostradas, conhecia um pouco do contexto abordado, mas sempre me mantive contrário a falsas polêmicas como qual teria sido a cidade-natal do movimento punk brasileiro (onde entra em vigor o dilema materialista da posse dos discos importados de bandas internacionais pioneiras do gênero) ou a posturas revoltosas embasadas no tédio ou no anti-conformismo provisório, associado a determinadas faixas etárias dos filhos de burgueses consolidados, que dispõem de capital aquisitivo suficiente para ouvirem coletâneas musicais raras antes de todo mundo, conforme se gaba o execrável João Gordo.

Para piorar ainda mais a minha situação (visto que eu percebia que estava a detestar um filme que uma parcela considerável de meus amigos com opiniões positivamente consolidadas amavam), o DVD de que dispunha estragou após os 27 minutos supracitados de exibição. Conclusão: estou aqui a baixar novamente o filme, ansioso para que o tempo restante de duração centre-se mais em apresentações ao vivo ou informações didáticas no sentido lato do termo e não se concentre demasiado nas palavras contraditórias de alguns artífices do movimento.

Enquanto espero o disco baixar, ouço e reouço o disco mostrado em fotografia, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” (1987), verdadeira descoberta tardia em minha vida: até agora, estou impressionado no quanto as letras das canções são coerentes em relação ao discurso que opõe violência e diversão, estabelecendo esta segunda como uma alternativa válida para enfrentar a primeira. Genial mesmo!

Wesley PC>

BICHA, NÃO. QUASE-MULHER...

Nesta noite de sexta-feira, estava ouvindo uma canção antiga d’Os Trapalhões, interpretada pelos comediantes Mussum e Jorge Lafond. Na letra, o primeiro reclamava de pulgas na cueca e pedia que alguém se habilitasse a coçar, de maneira que, quando o segundo se habilitava a tal, ele reclamava que o mesmo estava abusando de suas habilidades. Detalhe: era para ser uma música infantil!

Virei o alto-falante para um colega de trabalho e este não reconheceu a voz afetada do Jorge Lafond, só fazendo sentido para ela depois que eu pronunciei o nome de seu personagem mais famoso: o travesti Vera Verão, do programa humorístico “A Praça é Nossa”, do SBT. Como o tempo passa rápido... Como as coisas são esquecidas hoje em dia!

Para falar a verdade, não sei dizer com exatidão se eu gostava ou não da Vera Versão, mas admito que era um quadro engraçado e que o Jorge Lafond, com toda a sua afetação e exagero homossexual, deixa saudades. Ele morreu em janeiro de 2003, aos 50 anos de idade e foi um dos principais focos de visibilidade pederástica que eu vi na TV, quando era criança. Pensava comigo mesmo à época: “bicha é isso?”. Rir deste tipo de personagem é um ato apolítico? A velocidade atroz da contemporaneidade capitalista visa impedir até mesmo a formulação de uma resposta...

Wesley PC>

quinta-feira, 27 de maio de 2010

BOLSA NOVA (OU: QUAL A PRINCIPAL SEMELHANÇA ENTRE UM RELÓGIO CARO, UM ESPETÁCULO DE ‘ROCK’ INSTRUMENTAL VAZIO E A FAMÍLIA?)

Antes de começar a tentar responder, o contexto: quem encontrou comigo esta semana, percebeu que eu estava bastante tenso, em virtude da recusa em chafurdar nos meandros político-partidários dos projetos administrativos de segurança pública para o Brasil, elementos constitutivos da prova de Jornalismo Policial que estava programada para as 7h da manhã de hoje e terminou sendo menos traumática do que eu previa. Finda esta primeira tensão estudantil, portanto, pude desfilar pela UFS com a vestimenta especial que escolhi para a feitura desta prova: calça de brim, camisa de linho, sapato social preto, cueca negra e uma bolsa nova de estudante, trazida diretamente de São Paulo por meu irmão mais velho, que é caminhoneiro. Irmãos dão presentes uns para os outros!

Dentre os lugares em que desfilei nesta quinta-feira, presenciei alguns minutos de um bem-vindo espetáculo de ‘rock’ instrumental (!) no Restaurante Universitário, como parte de um novo projeto do Diretório Central dos Estudantes, que pretende fazer algo semelhante na última quinta-feira de cada mês. Não sei se por recusa política ou por falta de informação, mas a platéia do espetáculo era bastante exígua, o que me deixou chateado, por dois pontos: 1 – a banda era muito boa; 2 – nem todos ali presentes entenderam a proposta da banda, da qual não ouvi o nome, visto que cheguei atrasado ao evento, que sequer eu sabia que estava acontecendo...

No caminho de volta para casa, resolvi aproveitar a sonoridade dos comentários sobre minha bolsa nova e dei uma segunda chance ao álbum “Estudando a Bossa” (2008), do genial Tom Zé, do qual eu não gosto muito, em virtude de alguns desentendimentos com o bairrismo histórico das canções, que contextualizam muito bem a situação em que a Bossa Nova surgiu no Brasil e mostrou ao mundo que “a nossa capital não era Buenos Aires”. Se ouvirmos este CD sabendo que ele é mais um projeto investigativo do que necessariamente uma coleção de petardos experimentais ‘tomzenianos’, o resultado é bem melhor – tanto que eu me senti deveras satisfeito com o modo apaixonado/referencial com que é interpretada a faixa 04, "O Céu Desabou”.

Ah, sim, e a família?
Vai tentando ficar bem, obrigado!

Wesley PC>

quarta-feira, 26 de maio de 2010

UM POUCO MAIS SOBRE “GLEE” OU DE COMO SE PERCEBE UMA LAVAGEM CEREBRAL EM PROGRESSO?

Na postagem anterior, eu teci alguns comentários ligeiros sobre o episódio mais recente do seriado que mais me empolga nos dias atuais. Caminhando para o trabalho, ouvi o reverenciado disco de estréia da diva Lady Gaga pela primeira vez em minha vida e, por mais que uma vozinha protetoral consciente ficasse repetindo lá no fundinho da minha mente (“desgoste do disco, desgoste do disco...”), duas ou três canções me fisgaram por causa dos acordes alarmistas bastante graciosos em sua verve dançante. Canções em pauta: a faixa de abertura, “Just Dance”, e a faixa 06, “Poker Face”. Ambas chamam a minha atenção por causa de seu frenesi dialogístico ou grudaram em meu subconsciente porque eu já tinha ouvido seus refrões milhares de vezes antes? Não consigo responder de imediato.

O engraçado neste percalço ‘pop’ é que, por mais que a vozinha protetoral de minha consciência fosse deveras insistente, se eu tivesse que gostar ou desgostar do disco, isso aconteceria assim mesmo. Será? Como ou quando se sabe que se está imerso num processo de lavagem cerebral ‘pop’? Se um dia eu vier a gostar desta mulher, eu posso desgostar de Novos Baianos, por compensação? Ou ambos podem conviver em harmonia, junto a Beck, Karlheinz Stockhausen, Korn e Pato Fu? Pode parecer um conjunto de questionamentos bobocas, mas eles me deixam levemente atormentado agora.

Voltando ao episódio recém-comentado, esqueci de dizer que achei de muito bom tom que a canção lenta “Speechless”, da própria Lady Gaga, estivesse sendo executada de forma incidental numa das discussões entre Kurt e Finn, gostei que o primeiro demonstrasse afeição estética pelos filmes de Josef von Sternberg e ri bastante com incrementos cômicos, como a comparação entre a troca de figurinos de Lady Gaga e a troca de parceiros sexuais de uma líder de torcida descerebrada e o comentário chistoso sobre o sapo de pelúcia de Rachel. Portanto, insisto, com todas as concessões generalistas (envolvendo, geralmente, o diretor imigrante do colégio em que eles estudam, que tem medo patológico de vampiros!), “Theatricality” é, ao menos para mim, um momento surpreendentemente perfeito de televisão estadunidense!

Wesley PC>

“VOCÊS PODEM ME ESPANCAR O QUANTO VOCÊS QUISEREM, MAS EU JURO: JAMAIS VOU MUDAR QUEM EU SOU. EU SOU DIFERENTE!”

Eu sempre penso que vai chegar o momento em que eu não me submeterei ao universo ‘pop’ do seriado televisivo “Glee”, mas o vigésimo episódio da mesma, nomeado “Theatricality”, atingiu o apogeu defensivo de seu discurso auto-estimado, aqui enxergado em seu viés mais positivo. Estou de boca aberta diante da funcionalidade discursiva e da qualidade técnica do episódio: simplesmente impressionante, levando-se em consideração, principalmente, minha aversão confessa à hipnose televisiva!

O episódio começa quando a personagem gótico-asiática do coral é impedida pelo diretor da escola em que estuda de vestir-se como se fosse uma vampira, proibição esta que leva seus colegas a compararem a sua necessidade expressiva através da indumentária com o visual espalhafatoso da estrela (acho estranho dizer: cantora) Lady Gaga, de quem não sou aficcionado, mas, depois deste episódio, darei a mim mesmo a chance de ouvir seu CD de estréia pela primeira vez, no caminho para o trabalho. O truque vendável realmente funcionou comigo!

Depois que os colegas da jovem gótica Tina (muitíssimo bem defendida por Jenna Ushkowitz) começam a se vestir tão escandalosamente quanto a tal da Lady Gaga, o homossexual Kurt (Chris Colfer) é agredido repetidamente por dois valentões do colégio e, quando pede ajuda a seu novo meio-irmão Finn (Cory Monteith), por quem é intensamente apaixonado, é brutamente repreendido por este, que o tacha agressivamente de “viado” e reclama não ter privacidade para trocar de roupa ou se masturbar. Lágrimas vieram aos meus olhos. Por mais que estas situações, dentro do espírito de auto-ajuda do criador (e, aqui, diretor e roteirista) Ryan Murphy, homossexual militante, abram espaço para as lições de moral e redenção tipicamente norte-americanas, não foi possível conter a emoção: aquele episódio foi ara mim! Só vendo-o e chafurdando o contexto biográfico para entender...

No mesmo episódio, outros dramas adolescentemente válidos são abordados: o destino que a ex-líder de torcida grávida Quinn (Dianna Algron, maravilhosa) dará ao seu bebê, agora querido pelo pai irresponsável Puck (Mark Salling, cada vez mais se revelando como um excelente cantor); e o reencontro da histriônica Rachel (Lea Michele) com sua mãe verdadeira (Idina Menzel), tão histriônica e apaixonada por Barbra Streisand quanto ela. Sem contar que, em resposta a Lady Gaga, os rapazes do coral fantasiam-se como os membros da banda de roqueiros maquiados Kiss. Ou seja, em todos os seus vértices, o episódio revelou-se perfeito, embutindo-se aí as necessárias concessões qualitativas para TV. Juro que fiquei empolgado e emocionado diante deste episódio! Podem me chamar de frívolo, mas “Glee” é algo de que me lembrarei com nostalgia caso eu consiga envelhecer um dia...

Wesley PC>

“JOGOU NA MÃO DO BARTOLOMEU/ FOI POR ISSO QUE O BICHO NÃO DEU”...

“As ações policiais têm de respeitar as diferenças de gênero, classe, idade, pensamentos, crenças e etnia, devendo criar instâncias de proteção aos direitos dos diferentes, a fim de proporcionar-lhes um tratamento isonômico. Não se pretende uma abdicação da força. O que se pretende é o uso técnico, racional e ético da força, nos casos em que ela for necessária” (Projeto de Segurança Pública Para o Brasil – Antônio Carlos Biscaia et alli., 2005)

Com este parágrafo, dois dos meus atuais projetos de pesquisa não inicialmente voluntários mesclam-se num interesse comum: descobrir o que se legitima por detrás de discursos institucionais preconceituosos de esquerda, entendendo-se esta subdivisão pseudo-política como uma cisão programada pelo próprio sistema capitalista, em sua insistência por polaridades espúrias que só encrudecem ainda mais o seu poderio, através de impotência da imutabilidade. Pois bem, estudo agora os filmes da Companhia Cinematográfica Atlântida (mal-falada, inclusive por mim, por causa de sua porra-louquice estilístico-carnavalesca) e os vetores teoréticos das funções policiais (comumente rejeitados em virtude de vazamentos oportunistas de situações envolvendo corrupção operacional e inversão valorativa em julgamentos classistas e contra-entorpecentes, por exemplo).

Sobre este segundo tema, estou a ler um documento coletivo muito interessante, ditado em sala de aula, em que os problemas administrativos do Brasil no que se refere à Segurança Pública são enxergados mais como deturpações conspiratórias verídicas que empresários poderosos (inclusive, do narcotráfico “consentido”) do que como manifestações “(i)naturais” da desorganização demográfica das classes menos favorecidas aquisitivamente. Para minha surpresa – digo mais: choque! – o documento é muito claro em sua explicitação de que interesses políticos e oligopolistas-midiáticos se escondem por detrás da criminalização do que deveria ser tratado como “caso de saúde pública” e da hipertrofia disfuncional das atividades policiais. Mesmo que eu não faça uma boa prova sobre o assunto amanhã, sei que entrei em contato com um ponto de vista progressivo e relevante, demonstrando que ainda existem jornalistas pensantes e eticamente comprometidos no contexto atual de anomia comunicacional de massa.

Sobre o primeiro tema, as descobertas estão sendo ainda mais graduais e comparadas, visto que tenciono perceber como um conceito estimulado de “povo” migra da reprodução festiva de eventos e costumes pitorescos do malandro (carioca, principalmente) para a imbecilidade impositiva de alguns filmes produzidos pela TV Globo, estando a contestação intelectual do Cinema Novo entrecortando (sem sucesso? Por quê?) este processo. Eis um estudo que talvez me acompanhe até o dia em que eu jaza num caixão...

Entretanto, algumas palavras sobre o pouco conhecido exemplar cômico “E o Bicho Não Deu” (1958, de J. B. Tanko), exemplar tardio da supracitada Atlântida, devem sem proferidas: trata-se de um filme sem Oscarito, astro-mor da produtora, em que, como o título anuncia, o outrora popular jogo do bicho é o tema central. Grande Otelo, inspirado e mui competente como sempre, interpreta um bicheiro “honesto”, que, sem que perceba, fomenta os crimes maiores dos empresários corruptos e malévolos que financiam suas apostas. O desengonçado (digo mais: sem graça mesmo!) Ankito interpreta, por outro lado, um detetive anti-jogatina que, após sofrer um acidente encefálico, reveza-se numa personalidade bicheira do passado sempre que ouve algum apito desencadeador. Entre esses dois personagens, transitam todas aquelas tipificações popularescas, números musicais de qualidade e caricaturas sub-hollywoodianas que tanto caracterizam a Atlântida, mas o que me perturbou aqui foi como um tom mais sério – e, ainda assim, não denuncista – se consolidava por entre as correrias e qüiproquós dos protagonistas. Minha mãe (beirando os nostálgicos 70 anos de idade) sorria bastante vendo o filme, enquanto eu emitia sorrisinhos amarelos (alguns realmente sinceros) e me dispunha internamente a estudar com mais afinco estes filmes. Enquanto novas oportunidades se descortinam no horizonte histórico de meus contatos passionais de Universidade, fica aqui um diálogo genial do filme:

“ – Quer dizer que amnésia e magnésia são coisas diferentes?
- São!
- E quando é que alguém tem amnésia?
- Quando ele não sabe para onde vai.
- E magnésia?
- Ah, este sabe para onde vai, isso eu garanto!”


Wesley PC>

“A RAZÃO DO MEU AFETO” (OU O SOM QUE OS ESTORNINHOS FAZEM QUANDO CITADOS EM CANÇÕES BRITÂNICAS)

O diretor britânico Nicholas Hytner foi apresentado ao mundo em 1994, com um filme de nome “As Loucuras do Rei George”, ao mesmo tempo denso e bem-humorado, sobre um monarca que finge-se de louco para não deixar que sua herança seja dilapidada – e que, aos poucos, enlouquece de verdade, sem que sua esposa fiel deixe de estar ao seu lado. Em 1996, ele realiza “As Bruxas de Salém”, mais um excelente filme sobre incompreensão alheia e loucura fingida como elemento sobrevivencial. Em 1998, foi a vez de ele realizar “A Razão do Meu Afeto”, filme resumido como sendo a relação terna entre uma mulher grávida e um homossexual carente. Levei 12 anos para ter acesso a este filme e, vendo-o finalmente, na madrugada de hoje, percebei que ele é bem maior do que seu argumento, bem melhor do que eu suspeitava, um filme que me deixará angustiado e contente antes de dormir...

Se digo que ele me deixará contente é porque encantei-me por completo com o clima honesto do filme, com o bom humor do roteiro, com a gama de personagens secundários que evita que a paixão “não-correspondida” da personagem de Jennifer Aniston pelo homossexual vivido por Paul Rudd transforme-se no dramalhão melodramático e forçado que se tornaria em mãos menos hábeis. E, dentre estes brilhantes personagens secundários, encontramos um ator acostumado a representar o alter-ego do diretor, o extraordinário Nigel Hawthorne, que vivifica um velho crítico de teatro, incapaz de obter êxito numa relação homoerótica com o ator teatral por quem se apaixona e eternamente amargurado por não conseguir se divertir diante da pletora de releituras pretensamente “modernas” de clássicos shakespeareanos. Foi graças a este personagem que precisei dar uma pausa na sessão e pensar sobre o que o filme (simples, apesar de tudo) estava me causando. Digitei mensagens para dois estimados estudantes de História e voltei à sessão, o que me leva à angústia também conseqüente à sessão.

Se digo aqui “angústia”, é por falta de palavra melhor. Se digo aqui “angústia”, é no patamar mais elogioso do termo, no sentido de que esta palavra está associada a consciência, à percepção de que algo vai mal no mundo que nos cerca, conforme ele se apresenta diante de nós hodiernamente, modelado irrefreadamente por homens poderosos e injustos, defensores do Capitalismo ou das mesmas contradições entre ação e prática socialista que acometiam o namorado “bolchevique” da protagonista do filme. Se vou dormir agora levemente angustiado é porque insisto em ter escolhas num espaço-tempo em que a própria capacidade de escolher é dizimada pela similaridade chinfrim de opções. Se vou dormir angustiado, é porque insisto em tentar ser feliz num contexto em que a depressão pré-consumista é estimulada a passos largos, conforme se demonstra nas canções agradáveis que escuto enquanto digito estas linhas...

O que me leva a um traço de coesão com a postagem anterior, quando citava um amigo de infância que, reencontrado após um largo tempo de ausência, questiona o meu arcaísmo acerca de alguns utensílios materiais de ostentação. Fui à casa dele, conforme prometido, e descobri que o mesmo enfrentou alguns problemas sentimentais extremados, agravados pelo fato de que não sabia escolher entre quem amava de verdade e as fofocas que difundiam acerca de sua (in)fidelidade namoratória. Vale dizer que, sendo ele um heterossexual externalizado, que sempre fez questão de filiar-se a ideais plenos de macheza, nunca houve problemas sérios em relação às conversas que tínhamos quando mais jovens, em que, eventualmente, eu me sentia atraído por sue esbelto corpo juvenil, uma vez exposto em todo o seu esplendor após um banho, a pedido meu, atendido de forma discreta e inesquecível. Nada sexual propriamente dito, nada que me faça sentir vergonha ou orgulho imbecil, mas um momento de entendimento exibitório assimétrico entre pessoas que pensavam diferentemente, agiam de formas diferentes, mas tinham objetivos comuns e, como tais, podiam ser amigos, para além das ameaças rondantes àqueles anos da década de 1990, que tão definitivos nos pareciam. Hoje, esta década passou. Talvez estejamos ainda mais diferentes, eu e ele, mas estamos conectados naquilo que realmente importa: sobrevivemos ao Capitalismo – ou tentamos!

Wesley PC>

terça-feira, 25 de maio de 2010

O QUE NÃO SE FAZ POR AMOR?!

Dormi demais hoje. Isto equivale a dizer que passei mais de oito horas em processo soporífero, talvez decorrente de cansaço, talvez decorrente da preocupação ideológicas acerca da prova de Jornalismo Policial a que me submeterei em alguns dias. O que importa é que, mesmo não conhecendo os motivos de meu sono exacerbado de ontem e hoje, acordei com forte dor de cabeça. Pior: acordei com fastio, sem vontade de apreciar as deliciosas guloseimas preparadas por minha mãe. À guisa de terapia, forcei-me a ver “$ 9.99” (2008, de Tatia Rosenthal), longa-metragem animado sobre a depressão reinante de um grupo de personagens, entre eles, um pai de família transtornado com o suicídio de um mendigo à sua frente, que só queria dinheiro para comprar café, e seus dois filhos, o mais novo iludido pelos livros de auto-ajuda vendidos pelo preço-título e o mais velho apaixonado por uma modelo anoréxica, que gradualmente o leva a raspar todos os pêlos do corpo e a remover seus ossos através de um supostamente indolor processo cirúrgico.

Enquanto via o filme, a fome voltava, de maneira que abocanhei um pouco de cuscuz com feijão e cenoura ralada assim que a sessão acabou, mas algo me deixou pensativo acerca dos comportamentos tristes descritos no filme, tratados como se fizessem parte de um processo educativo (“não se pode ter tudo o que se quer”, diz um pai austero ao filho que desejava ganhar um brinquedo) atrelado às insatisfações mantenedoras do Capitalismo. No caminho para o trabalho, encontrei um amigo de infância, hoje não mais visto com freqüência, que indagou em tom de chacota o porquê de eu usar um telefone celular tão simplista quanto aquele que eu utilizo. Respondi-lhe que, por mais simplista que pareça, o meu telefone celular funciona para fazer ligações, que é para aquilo que ele serve. Bastou-me. Mais tarde, tenho uma visita agendada com o perguntador, que está desempregado e perguntou se eu sei como ele consegue se afiliar a uma destas empresas de terceirização empregatícia. Na pior das hipóteses, teremos o que conversar.

Wesley PC>

segunda-feira, 24 de maio de 2010

TU JÁ FOSTE PICADO POR UMA ABELHA MORTA?

Os personagens de Howard Hawks, depois citados por Jean-Luc Godard, sim. Até hoje, eu sequer havia sido picado por uma abelha, mas, ao meio-dia de hoje, tive a oportunidade de receber uma ferroada fatal enquanto almoçava minha marmita vegetariana. Conclusão: a abelha morreu e eu fiquei de barriga cheia, enquanto eu e alguns amigos digladiávamo-nos, noutro ‘blog’, justamente numa discussão sobre os prós e contras da (in)aplicabilidade do pensamento vegano hodierno. Tomarei este homicídio culposo como um sinal!

Wesley PC>

FALTA A OUTRA METADE!

Apesar de já ser o quinto álbum da dupla de ‘hip-hop’ OutKast, o disco duplo “Speakerboxxx/The Love Below” (2003) foi o que permitiu que o duo recebesse a merecida visibilidade de público internacional, graças ao sucesso de “Hey Ya!”, faixa 09 da metade comandada por André 3000 (visto que a primeira metade é produzida pelo outro membro da dupla, Big Boi). Para minha surpresa, o restante do disco – ou seja, as demais 19 faixas ali contidas – diferem bastante da euforia desta canção mais famosa, clamando por uma dramaticidade e sonoridade setentista que não deve nada a Marvin Gaye e congêneres. Se eu não soubesse que este disco foi lançado em pleno século XXI, juro que eu acreditei que era uma peça nostálgica de qualidade.

Quando friso aqui a qualidade do mesmo – que é elevada, antes que alguém interprete o contrário a partir de qualquer insatisfação vazada – deixo subentendido que o disco não é “fácil” de ouvir. Em outras palavras, ele não é puramente dançante como as propagandas fazem pensar, não é descerebrado como alguém possa intuir ao ler títulos de canções como “Where are My Panties?” ou “She Lives in My Lap”. O disco é genial, fundindo-se magnificamente a uma geração de militância racial norte-americana promulgada ‘ad extremis’ pelo inspirado cineasta Spike Lee. Enquanto caminhava para o trabalho, prestava atenção a letras como “Love Hater” e “Roses” e, caramba, quanta poesia saiu da batuta do frenético André 3000. As influências que ele utiliza para o álbum, inclusive, vão bem além do ‘hop-hop’ de outrora. É um disco tão documentalmente importante quanto o foi “Play” (2001), do vegetariano Moby!

Para meu azar, até a noite de ontem, quando me dediquei a ouvir o disco com atenção, não sabia que o disco era duplo e nem tampouco que cada metade dele era produzida por um artista diferente, que imprime diferentes tonalidades à obra conjunta. Para atiçar ainda mais o azar supra-referido, descobri que só possuo a segunda metade do disco, visto que os arquivos concernentes ao mesmo são bastante pesados quando baixados pela Internet (“The Love Below”, por exemplo, ocupa mais de 170 MB de meu computador), mas estou interessadíssimo em ouvir o restante. Se alguém quiser me passar... Enquanto isso, sigo cantando “Prototype” (faixa 07), que tem tudo, mas tudo mesmo, a ver comigo atualmente:

“Today must be my lucky da, baby
You are the prototype
Do somethin out of the ordinary
Like catch a matinee, baby
You are the prototype
I think I’m in love...again
I think I’m in love...again”


Sempre!

Wesley PC>

APICHATPONG WEERASETHAKUL VAI VIRAR “MODINHA”?

O mais recente filme dele, “Lung Boonmee Raluek Chat” (2010), algo que pode ser traduzido como “Tio Boonmee que Pode Falar com Suas Vidas Passadas”, foi laureado com a Palma de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Cannes e, como disse um amigo virtual há pouco, mereceu ser noticiado até mesmo no Jornal Hoje, da TV Globo. Assisti ao ‘trailler’ do filme na Internet e, desde já, estou encantado por esta trama mística, típica do genial diretor tailandês, que envolve, entre vários outros subtemas críticos da contemporaneidade, o sobrinho do personagem-título, que transforma-se em macaco depois que morre (vide fotografia, por detrás da cortina rosada).

Conheci este cineasta de nome aparentemente impronunciável em 2002, quando sua primeira obra-prima “Eternamente Sua” (2002), já comentada em detalhes elogiosos neste ‘blog’, foi lançada e ultra-recomendada na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento este que um dia eu sonho participar. Vi seu filme posterior, “Mal dos Trópicos” (2004), alguns anos depois e logo o alcei ao panteão dos 7 melhores e mais originais filmes visto em vida. Impressionado que estava com o estilo surpreendente do cineasta, busquei seu filme imediatamente anterior [“Objeto Misterioso ao Meio-Dia” (2000)] e imediatamente posterior [“Síndromes e um Século” (2006)], todos geniais em seu aguardo de 2 anos para que sejam lançados. Não vi ainda o filme cômico ‘gay’ que ele co-dirigiu com Michael Shaowanasai em 2003, mas anseio por este momento. Apichatpong Weerasethakul (que prefere ser chamado apenas de “Joe” pelos íntimos cinefilicos) é genial e, como tal, estou desesperado para ver este novo filme ‘pimba’. Será que alguém já disponibilizou para ‘download’?

Wesley PC>

domingo, 23 de maio de 2010

PARA QUEM NÃO TEM MAIS MEDO DO PAULO VILHENA COMO ATOR...

Ao lado do paspalho embrutecido Dado Dolabella e do idiota ascendente Fiuk, Paulo Vilhena destacou-se entre os consumidores andromaníacos pós-adolescentes como sendo um dos mais espalhafatosos desta geração pós-adolescente auto-suficiente, que não atuam bem, mas chamam a atenção pelos equivocados clamores pseudo-rebeldes que vociferam através de seus papéis de destaque. Por motivos óbvios e até sensatos, detesto os três, mas admito que Paulo Vilhena está rendendo-se ao cinema de forma minimamente satisfatória, aos 31 anos de idade, graças aos bons diretores com quem eventualmente se envolve. Se ele nos oferece atuações surpreendentemente críveis em “Chega de Saudade” (2007) e “As Melhores Coisas do Mundo” (2010), ambos de Laís Bodanzky, sua vivificação como o protagonista de “O Magnata” (2007, de Johnny Araujo) é simplesmente assustadora, no melhor sentido do termo.

Pois bem, antes que meu tom elogioso fique estranho nesse texto descompromissado, advirto que minha intenção em falar sobre o Paulo Vilhena está na simples tentativa de encontrar qualquer coisa digna de menção (nem que seja inversa) em “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida” (2004, de Moacyr Góes), filme previsivelmente horroroso que acabo de ver e no qual Paulo Vilhena interpreta o típico menino bobo e tatuado que se apaixona pela menina boba e prometida em casamento para outro, numa fórmula cara ao que de pior é realizado na televisão brasileira. Na verdade, só puxei este assunto proto-biográfico para exibir esta imagem engraçada que encontrei acidentalmente em navegação pela Internet: um flagrante peniano do pênis do ator quando este trocava de roupa depois de se banhar numa praia. Fiquei a imaginar o contexto em que tal fotografia foi captada: o fotógrafo estava escondido desde que o ator desceu no carro e ficou esperando ele voltar? Foi tudo um golpe de sorte e ele ganhou fortunas de editores homossexuais oportunistas que exploram a nudez alheia? Astro pós-adolescente e fotógrafo estavam mancomunados num plano de visibilidade midiática sensacionalista? Pouco importa o contexto, mas a fotografia está devidamente salva em meu computador como “objeto de estudo” jornalístico (risos).

Wesley PC>