sábado, 5 de junho de 2010

CHANTAGEM PSIQUIÁTRICA (CAPÍTULO III)

“A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila, depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor”
(Tom Jobim)

E com isso eu renovo uma promessa, eu interrogo a mim mesmo uma pessoa neurótica pode agir de forma “normal” diante das carências afetivas. Co o quase sempre me acontece, a resposta epifânica veio em forma de filme: o argentino “Amorosa Soledad” (2008), dirigido por Martín Carranza & Victoria Galardi e protagonizado por uma iluminada Inés Efron.

O ponto de partida da trama não poderia ser mais tolo: uma jovem hipocondríaca, cujo nome significa solidão (!), é abandonada pelo namorado e decide que pode ser feliz sozinha. Em meio às suas várias visitas hospitalares e paranóias alimentícias, conhece um homem ocupado e também solitário que se apaixona por ela, cujo passatempo favorito é brincar de adivinhar nomes de doenças com a filha da vizinha. Tudo indica que ela vai ficar curada, que a reciprocidade afetiva irá aliviar algumas de suas agruras. Porém, ainda num dos primeiros contatos com seu novo amado, Soledad pede que, ao invés de acariciá-la, ele aplique pequenas palmadas em sua cabeça. “Tu realmente gostas que eu te faça isso?”, pergunta ele. “Sim, isto me acalma”, responde ela. Ao final, a solidão voluntária, as visitas hospitalares e uma visita à cidade de Fortaleza serão atitudes-chave. Bonito filme, ideal para pessoas que não têm jeito, como eu...

“A felicidade é como a pluma, que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar”.


Estará ventando lá fora? Pelo sim, pelo não, algumas exaltações sobre-empregatícias não mais!

Wesley PC>

CHANTAGEM PSIQUIÁTRICA (CAPÍTULO II)

Talvez eu demore mesmo para entender algumas (auto-)rejeições básicas e fundamentais para a manutenção do sistema capitalista, mas gostaria muito de conversar com alguém que tenha visto “De Repente, no Último Verão” (1959) quando este estreou nos cinemas.

Dirigido pelo mesmo Joseph L. Mankiewicz de “A Malvada” (1950) e “A Condessa Descalça” (1954), este ótimo filme adaptado de uma peça teatral do freudianamente ressentido Tennessee Williams conta uma trama que choca até mesmo em sua sinopse e com a qual eu me identifiquei por extensão invertida. Como eu agiria numa situação como aquela? Como?

Digamos que são dois núcleos temporais relacionados. No presente, o neurocirurgião vivido pelo belo Montgomery Clift é convocado pela personagem da deslumbrante Katharine Hepburn para clinicar a patológica jovem interpretada por Elizabeth Taylor. Motivo: ela está emocionalmente catatônica desde que presenciou a morte de seu primo, pelo qual eram apaixonadas tanto ela quanto a mãe do mesmo. Mas ele era um homossexual promíscuo, que a usava como isca praiana para se aproximar de heterossexuais excitados, que, afinal, o devoram literalmente num ritual antropofágico chocante que é traumaticamente revelado após longas e demoradas sessões de terapia, em que as personagens femininas, tais e quais os espectadores do filme, estarão apaixonadas por transferência de interesses traumáticos pelo neurocirurgião. Até que o passado volta para complicar ainda mais uma situação já demasiado complicada e psicanaliticamente irremediável. Impossível sair emocionalmente ileso deste filme!

Mesmo o filme não sendo de todo excelente (o que é assaz compreensível, visto que estes temas polêmicos foram encenados ainda sob a vigência do Códio Hays de censura), creio que a crueza de seu enredo seja-me suficiente para assumir a paspalhice de meu ser. Mais óbvio, patologicamente impossível!

Wesley PC>

CHANTAGEM PSIQUIÁTRICA (CAPÍTULO I)

Na tarde de hoje, minha mãe telefona-me desesperada, para comunicar-me, quase aos prantos, que suspeita que nosso cachorro Bogdanovich esteja com calazar. Fiquei tenso de imediato, mas, como ainda estava em horário de trabalho, tive que fingir que estava tudo bem. Preocupei-me com outras coisas e sorri, pois sorrir ainda não é proibido. Ou eu pensava que não era, ao menos.

As horas se passaram e, por volta das 20h30’, cheguei em casa e examinei o cãozinho. Feridas imensas cobriam seus testículos, mas estas não assemelhavam-se ao que comumente eu entendia como leishmaniose. Tentei me convencer de que é apenas uma infecção cutânea, mas vi algumas fotos dos sintomas externos desta doença e... Senti medo! As feridas têm, sim, um grau leve de semelhança com o que percebi em nosso querido Boguinho. Tremi!

A fim de não preocupar ainda mais minha mãe, vi um filme, comi algo salgado, escutei um pouco de música. Para piorar, outro problema (este de ordem mais pessoal) obsedava meus pensamentos. Tentava me concentrar no filme, sobre um caronista assassino, mas os problemas se amalgamavam em meu cérebro perturbado: de um lado, o temor que meu cãozinho venha a sentir dor; do outro, o despreparo de minha parte para lidar com erros de convívio que eu sempre alimento ao exagerar em minhas condutas servis em relação às pessoas que gosto. Entre um e outro sentimento, a agonia. Preciso acreditar que minhas suspeitas estão erradas!

Wesley PC>

sexta-feira, 4 de junho de 2010

ENTENDENDO AS RECORRÊNCIAS DO ABANDONO ADVERTIDO (ou “TE VER SORRINDO É O NIRVANA!”)

Antes de desligar o computador em que trabalho, resolvi apagar uns ‘e-mails’ antigos. Percebi que tinha guardadas mensagens de mais de 3 anos atrás, de maneira que algumas das pessoas que se declaravam meus amigos ou que diziam gostar muito de mim à época, hoje sequer falam comigo! Sério: nem percebia isto, mas era grande a quantidade de mensagens antigas de pessoas que cansaram de suportar o meu histrionismo sentimental ou situações do gênero. Puxa, logo comigo que faço questão de deixar bem claro desde o primeiro encontro que sou emocionalmente insano...

Não vou nem saturar este texto com “piadas internas” que talvez façam sentido somente a duas ou três pessoas, mas sim com uma confissão pessoal de uma espécie de engrandecimento personalístico: apesar de ter ficado triste com as mudanças de postura compreensiva por parte das pessoas que ali se declaravam fiéis, ouvir com atenção as letras do grupo gaúcho Os The Darma Lóvers em disco homônimo lançado em 2000. Diante de preciosidades como “O Cara da Flor”, “Everest” e, principalmente, “Sweet Lama”, percebi o quanto um pouco de sabedoria budista faz bem para quem é sujeito à depressão pós-moderna:

“Nós morremos como peixes
O amor que não vivemos
Satisfeitos mais ou menos
Todas iscas que mordemos
Os anzóis atravessados , nossos gritos abafados”...


Na moral, a brancura deste disco é balsâmica!

Wesley PC>

HAYAO MIYAZAKI TEM 69 ANOS DE IDADE E UM FILHO DE 43...

E, pelo visto, só eu que não sabia disso! Escrevi um pequeno texto apreciativo acerca do belo longa-metragem de animação “Contos de Terramar” (2006), dirigido por Goro Miyazaki, noutro endereço virtual e um colega de curso me disse que este filme foi realizado na época em que o diretor estava brigado com seu pai. Pelo que entendi, Goro Miyazaki prefere ser paisagista de animação, o que explica o rigor naturalista de seus traços, o modo como o enredo do filme, por mais subsumido à magia que seja, privilegia sempre relações de verossimilhança entre os personagens, que transitam num mundo em crise, devido à ganância crescente dos seres humanos, que não merecem sequer conviverem com os dragões do passado.

Pitorescamente, este filme estava gravado em VHS desde o final do ano passado, mas, como eu não sabia nenhuma informação adicional sobre ele, não tinha muita gana de vê-lo, somente curiosidade cinefílica. Quando vi o logotipo dos Estúdios Ghibli na abertura do filme, tremi: tinha certeza de que gostaria muito dele. Minha mãe estava ao meu lado durante a sessão e tive razão ao prever o meu apreço: o filme é encantador no plano técnico (sendo, como disse antes, surpreendente por sua condução realista) e no plano discursivo (visto que o seu conteúdo ecológico tem muito a ver com meus próprios pontos de vista sobre o mundo que nos cerca), de maneira que senti uma empolgação extrema em seu clímax, quando o encantamento proveniente das feitiçarias é convocado sob um prisma ainda bastante realista. Posso jurar de pés juntos, portanto, que me surpreendi e que, para além da qualidade insuspeita do filme, o mesmo teve um efeito deveras terapêutico sobre mim, visto que havia sonhado que minha residência havia sido atacada por teiús gigantescos na manhã de ontem. Acordei com a perna dormente, mas o filme me fez aplacar o medo. Mais do que ótimo, um filme providencial!

Wesley PC>

quinta-feira, 3 de junho de 2010

VERMELHO-AUSÊNCIA (RELIGIÃO)

Comigo trabalha uma espevitada garota evangélica, formada em Letras/Francês a apreciadora da Lady Gaga. Há alguns meses, passei-lhe um DVD com uma série de filmes dirigidos pelo polonês Krzysztof Kieslowski e, na tarde de anteontem, quando eu e outro rapaz conversávamos sobre alguns filmes que eu queria que ele visse, a mocinha levantou a voz e disse que havia gostado muito de “Decálogo 3” (1988), um dos filmes da cinessérie que eu menos aprecio. Será que o problema era comigo? Certifiquei-me com ela de que a mesma estava a elogiar o filme correto e, na madrugada de ontem para hoje, revi o filme. Insisto em achar dele o que achei da primeira vez. Porém, sempre que revemos algo, vemos algo que não tínhamos percebido da primeira vez. Talvez tenha sido o caso...

Para começo de conversa, não percebo que o protagonista, ainda vestido de Papai Noel, esbarra no protagonista do primeiro filme. Porém, senti a mesma aflição no que diz respeito à excelente direção de fotografia de Piotr Sobocinski que dota o filme com um clima extremamente avermelhado de solidão extrema. Por mais que tendamos a associar a cor vermelha à luxúria ou a algo do gênero, aqui o tom eritrocromático tem mesmo a ver com desolação, com abandono natalino. De um lado, um homem que comemora esta festa religiosa com sua família (mulher e filhos). Do outro, uma mulher amargurada e solitária(de oportuno nome Ewa), que havia sido amante do homem casado num passado recente. Além dele, ela tivera também um caso com outro homem casado, que desaparecera, aparentemente louco. Ela, então, pede que o ex-amante inicial a acompanha numa jornada por delegacias, hospícios e necrotérios, em busca do seu amante atual, em plena madrugada natalina. Mandamento religioso em voga (e desobedecido): “guardarás o dia do Senhor e o santificarás”.

O fotograma acostado a esta postagem é o que a atual esposa do ex-amante da mulher solitária observa pela janela de sua casa, quando o marido sai de casa em plena comemoração natalina, alegando que alguém está tentando roubar o carro da família. Esta mesma imagem terá eco noutra cena cabalística do filme, que, ainda que seja um dos menos interessantes e um dos mais narrativamente confusos da cinessérie, é tocante, é musicado por Zbigniew Preisner, nos deixa pensativos ao final da curta sessão. Depois do feriado santo de hoje, portanto, terei o que conversar com minha amiga de trabalho evangélica e espevitada.

Wesley PC>

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O FILME QUE EU QUASE NÃO VI, O LIVRO QUE EU JÁ DEVERIA TER LIDO E O MENINO QUE DIZ “SEMPRE” (= “NUNCA”) PARA MIM E “QUASE” PARA AS OUTRAS PESSOAS...

19h de terça-feira é meu horário de folga. Como eu dispunha de umas horas trabalhadas a mais, pude sair meia-hora antes e partir para o cinema, onde planejava ver “Quincas Berro d’Água” (2010, de Sérgio Machado), menos por interesse propriamente dito no filme – não obstante ter gostado muito do clima sensual de “Cidade Baixa” (2005), do mesmo diretor – e mais por necessitar de um pretexto para postar algo em meu ‘blog’ de críticas cinematográficas, inane há algumas semanas, em razão de minha falta de estímulo para ver filmezinhos meia-bocas no cinema, gastando dinheiro para tal.

Cheguei ao ‘shopping center’ onde fica localizado o cinema com meia-hora de antecedência. Precisava apenas ficar numa fila de caixa automático do Banco do Brasil antes de comprar o ingresso, visto que não dispunha de dinheiro em espécie na carteira. As filas estavam imensas, em todos os caixas automáticos do local. Posicionei-me pacientemente numa delas e, a duas pessoas de chegar a minha vez, o caixa desliga sozinho, misteriosamente. Faltavam 5 minutos para começar o filme. Resolvi comprar algo para comer num supermercado (a velha combinação iogurte de morango + batatas-fritas industrializadas), mas as filas estavam igualmente longas. O horário de início da sessão estava tinindo. Como já estava na fila, permaneci ali por mero mecanicismo famélico-burguês, se é que esta expressão composta não é um oximoro. Para piorar a minha pressa, a máquina de passar cartão no caixa do supermercado estava com defeito, mas a atendente era simpática e precisava de um descansinho. Fiquei feliz ao poder proporcionar-lhe isso, ao preço de meu atraso.

Segurando duas bolsas plásticas com os meus objetos de consumo alimentício, corri em direção à sala de cinema. “Será que eles aceitam depositar o preço do ingresso como débito em meu cartão bancário?”. A resposta foi positiva, de maneira que consegui entrar na sala em que o filme estava sendo exibido, ainda no primeiro minuto de projeção. Ufa!

A sala estava lotada. Pessoas gargalhavam freneticamente ainda no começo do filme. Eu arranjei um lugarzinho para saciar a minha fome e comecei a prestar atenção ao filme. Era bom. Exagerava nalguns estereótipos baianos e errava ao incluir atores do sudeste brasileiro em meio àquela talentosa fauna local. Mas o filme era bem-conduzido e bem-interpretado. O roteiro do diretor Sérgio Machado era bom. Não ri tanto quanto as pessoas ao meu redor, mas gostei do filme, das noções morais de apreço à boemia que ele dignifica. Trama resumida: um bêbado querido falece e, durante o velório, os melhores amigos do defunto são expulsos da cerimônia pela filha do mesmo, envergonhada por saber que o pai tornou-se vagabundo já depois dos 50 anos de idade, quando se enfastiou da esposa megera e do tédio decorrente de seu trabalho como burocrata. O resto é embate de classes!

Senti que questões morais importantíssimas do filme foram dirimidas em função das gargalhadas involuntariamente legitimadoras de preconceitos populares do público. Tentei esboçar as primeiras linhas da crítica assim que cheguei em casa, mas só consegui fazê-lo 12 horas depois. Precisava regurgitar mais as imagens e sons por mim consumidos. Aliás, gostei tanto da trama que suspeitava que deveria ler o romance-base o quanto antes. Dito e feito: às 19h desta quarta-feira, pedi permissão aos meus colegas de trabalho e fui à Biblioteca da UFS, buscar “A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água” (1959), obra-prima do baiano Jorge Amado. Tinha programado a sula leitura para o feriado de ‘Corpus Christi’, nesta quinta-feira. É um livro curto. A oportunidade, portanto, era ideal.

Ao chegar em casa, depois de caminhar meia-hora, pensando numa diferença essencial de tratamento por parte do belo estagiário novo [sempre que perguntamos se ele está bem, a resposta para mim é “sempre” (que é igual a “nunca” em valor), mas para as meninas, ele diz “quase”]. “Por que ele faz isso?”, pensava eu, enquanto me deleitava com as músicas tristes da banda turca Duman.

Caminhei um pouco mais e adentrei a residência de um jovem parceiro para-sexual. Este jazia sozinho no sofá de sua casa, com os cabelos molhados. Havia acabado de tomar banho e, como estava sozinho, com certeza havia se masturbado demoradamente. Não havia possibilidade de eu obter gotículas de seu sêmen nesta noite. Porém, como ele é uma pessoa agradável e sua presença fetichista me faz bem, quedei-me alisando seus pés, pernas e genitália por pura necessidade de demonstrar afeto, enquanto que, com a outra mão, eu folheava o livro que acabara de tirar de minha bolsa.

Logo na primeira página, a certeza de que era uma obra-prima de nossa literatura: como eu pude deixar de conhecer Jorge Amado antes? O livro é uma extraordinária exortação à vida, à amizade, à prazenteira valorização de cada minuto de vida e morte. Nem uma hora se passou e eu acabara de ler o livro: perfeito. Estava emocionado. Sentia-me bem. Sentia-me feliz!

São 23h19’ de quarta-feira. Ainda me sinto assim.

Wesley PC>

“TROFÉUS SÃO COMO HERPES: QUANTO MAIS TENTAMOS NOS LIVRAR DELES, MAIS ELES VOLTAM PARA A GENTE!”

(risos)

A cada semana fico contente com as novas oportunidades cômicas e dramáticas que são oferecidas à atriz Jane Lynch, antes esquecida em papéis secundários de filmes independentes sem sempre bons e agora ultra-destacada num seriado de TV, em que interpreta uma vilã emocionalmente instável (para além das aparências), o que lhe rendeu, com mérito, várias indicações e láureas em premiações televisivas. Em verdade, esta postagem é uma forçação de barra terapêutica para que eu não escreva mais uma resenha elogiosa ou internalizada do mais recente episódio de “Glee”, o 21º, o penúltimo desta primeira temporada. Digo mais: se estou a fazer isso, é porque até eu mesmo estou a me dar conta do quanto é enfadonho dedicar tanto tempo de devoção publicitária a um mesmo produto, mas... É estranho, mas algo me punge, algo me faz ficar acordado nas madrugadas de terça para quarta-feira esperando o ‘download’ do episódio, algo me torna muito indolente em relação aos crassos defeitos formais e ideológicos da telessérie... Por que eu gosto disso? Por quê?!

Mas, pelo sim, pelo não, insisto: as versões musicais são boas, os atores são legais e as intenções comerciais e propagandísticas dos responsáveis capitalistas pela produção do seriado têm muito a ver com as exigências de acolhida segmentada da “nova ordem mundial”. Ou seja, até mesmo o que é essencialmente bom aqui, não passa de estratagema mercadológico. E funciona comigo! Por pouco, não gastei R$ 80,00 na compra de um material em DVD que já possuo em formato Dvix. Preciso ficar de olho em mim mesmo. Tornei-me um “escravo da moda” em sentido lato – E o pior: com plena consciência disso!

E, só para não perder o costume: cria que fosse desgostar ostensivamente de “Funk”, mas fiquei entusiasmado com o balé de mulheres grávidas, com a bagunça premiada da residência da personagem mostrada em foto e com uma situação de divórcio que redundará em assédio sexual hebefílico. Ponto.

Wesley PC>

terça-feira, 1 de junho de 2010

OBRIGADO A GLAUCO

Na velocidade informativamente saturada da contemporaneidade, milhares de músicas, filmes e fotografias passam por nós diuturnamente, sem que tenhamos tempo de refletir sobre o quanto algumas delas poderão mudar a nossa vida pessoal, inclusive no sentido de atenuar esta pletora desembestada de informações e produtos culturais. Não que eu esteja reclamando de boca cheia, mas é “tanta coisa para consumir, tão pouco tempo” (risos)...

Pois bem, numa de minhas visitas recentes à Gomorra, um Glauco entusiasmado pára diante de mim e pergunta o que eu tinha achado de “Destricted – 7 Vezes Erotismo” (2006), filme que concatena os olhares de sete artistas consagrados sobre o universo da pornografia artística. Não sei se já tinha conhecimento deste projeto ou não (sabia de uma experiência isolada atrelada a ele), mas fiquei desesperado para ver aquele filme, ali mesmo, suplicando diante de Glauco para que ele me concedesse o arquivo. Na segunda-feira, ele o fez – e o filme funcionou como deveria em mim. Portanto, antes de mais nada, digo-lhe OBRIGADO!

Não sei se vi o filme na ordem correta (os episódios estavam misturados e sem elementos de concatenação entre eles), mas seguem-se alguns comentários sobre cada um deles, do jeito como eles foram vistos (e sentidos) por mim:

Primeiro episódio, “Balkan Erotic Epic”, da Marina Abramovic, artista iugoslava famosa por suas pesquisas sobre sexualidade eslava, que é o que ela também faz aqui, numa belíssima sucessão de cenas que reproduzem costumes mágicos antigos, em que o auto-erotismo era utilizado para dirimir angustias ou temores em relação à natureza. A cena em que vários homens são mostrados fecundando o chão com suas masturbações é de uma beleza ímpar!

Segue-se “Sync”, episódio do Marco Brambilla, reconhecido pela direção do filme “O Demolidor” (1993), uma combinação muito boa de Sylvester Stallone e Aldous Huxley para as massas, mas se equivoca por completo neste filme, muito bem pesquisado, admito, mas que se milita a gastar quase dois minutos com cenas de sexo explícito, retiradas de vários filmes pornográficos. Sim, e daí?

O terceiro episódio é a obra-prima “Impaled”, dirigido por meu padrinho artístico Larry Clark, que realiza na tela as perversões adolescentes que ele (e eu, por extensão) não pôde, não quis ou não se satisfez durante a faixa etária mediana dos seus atores. Em tom documental, este média-metragem mostra-o entrevistando rapazes que responderam a um anúncio de jornal e falam sobre quando começaram a ver filmes pornôs, sobre a primeira vez em que fizeram sexo e sobre o porquê de alguns deles depilarem a púbis (mostrada em frente à câmera de forma quase sacra). Um deles é escolhido para fazer sexo com uma atriz pornô diante da equipe do filme, quando se passa para o segundo segmento do mesmo, em que o rapaz, um tal de Daniel, bastante gracioso, conduz as entrevistas com atrizes do gênero, a fim de escolher quem foderá com ele. Opta-se por uma espevitada simpaticíssima de 40 anos e o que vem a seguir é aquilo que conhecemos, mostrado em toda a sua falta de ‘glamour’ e paralelamente à “democracia irrevogável do prazer”, defendida por uma personagem almodovariana. Obra de arte em sentido lato, para ficar eternamente registrado em minhas memórias subjetivas de interesse antropológico e passional por este universo pós-adolescente tão encantador e misterioso. Obra-prima mesmo!

O curta-metragem que vem depois desta preciosidade é aquele pelo qual eu mais nutria curiosidade, o segmento “Death Valley”, de Sam Taylor-Wood, em que um homem bem-afeiçoado caminha por uma região árida, tira a sua camisa vermelha e começa a se masturbar, num movimento que dura sete minutos de um plano-seqüência tenso, em que ele parece não conseguir se concentrar ou manter a ereção ou ejacular. Não preciso dizer que é genial em seus intentos discursivos!

“House Call”, de Richard Prince, é lixo. Uma regravação de filme pornô sueco, realizado como se estivesse sendo filmado através de uma tela de TV. Vazio, repetitivo e enfadonho. Nulo, em outras palavras. Quem dera pudesse ser ignorado...

“Hoist”, do Matthew Barney, por sua vez, é muito estranho, mas muito bom e bonito. Filmado no Brasil e aquele que encabeça a arte do pôster do filme, neste curta-metragem vemos a interação homem-máquina-sexo através de um prisma surpreendente, em que um pênis fica ereto aos poucos, a engrenagem de um trator começa a funcionar e o esperma serve como lubrificante maquinal. De imediato, o que mais pensei é que parecia um filme da Björk e... Qual não foi a minha surpresa ao descobrir/lembrar que o talzinho que dirigiu o filme era justamente o marido da musa islandesa? Nada mais coerente, portanto!

Por fim, “We Fuck Alone”, do polemista Gaspar Noé. Muitos amigos meus gostam do segmento, que talvez até funcione isoladamente, mas aqui, em conjunto, ele praticamente nega todo o discurso construído até então. No curta-metragem, uma montagem estrobocóspica e elíptica mostra um rapaz com aparência de psicopata masturbando-se com o auxílio de um revólver e de uma boneca inflável, enquanto que, noutro quarto, uma rapariga faz a mesma coisa. O desfecho é violento como costuma assolar a obra pessimista de araque do diretor. Desgostei mesmo, um segmento “brochante”, como disseram por aí...

Impotência estilística derradeira à parte, o filme como um todo é otimamente funcional e, assim sendo, voltará a enfeitar algumas postagens futuras deste ‘blog’. Por isso, insisto neste provisório anúncio em agradecer a Glauco por ter me apresentado a este rico exemplar de arte e pornografia conjunta e, sendo eu incapaz de escolher uma imagem de algum dos segmentos que sintetize bem o que senti, exibo esta fotografia primeva do encantatório Larry Clark, em que um rapaz se penteia, supostamente nu, em frente a uma mobília de luxo. Acho que dá para subentender bem o que vem depois, né?

Obrigado mesmo!

Wesley PC>

segunda-feira, 31 de maio de 2010

E QUANDO EU PENSAVA SER VÍTIMA DE UM FALSO DILEMA...

Lendo (e me irritando com) “A Miséria da Filosofia” (1847), resposta econômico-literária de Karl Marx ao livro “Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria” (1846), de Pierre-Joseph Proudhon, deparei-me com um trecho polêmico em que o autor classifica alguns gêneros alimentícios como de necessidade primária (a carne entre eles) e outros de necessidade secundária. No mesmo livro, há uma nota de rodapé corrigindo um julgamento precipitado do autor acerca da associação das batatas a escrofulose, que não era causada pela batata, como se pensava no século XIX, mas sim pela má alimentação, o que se explicava pelo fato de as batatas serem baratas (logo, acessíveis à grande massa de trabalhadores da época).

Oficialmente, este não foi a minha maior insatisfação em relação ao livro, mas sim o tom de bazófia, de ego ferido, visto que o mesmo é uma resposta quase rancorosa aos escritos do anarquista que, conforme sabido por meus amigos, não é necessariamente um escritor benquisto por mim. Porém, o tom persecutório (corretivo e justificado, que seja) do livro assombrou-me durante a leitura. Tomara que eu não fique intelectualmente rabugento desse jeito...

Mas o que me leva a redigir esta postagem é um dilema mercadológico imediatamente decorrente desta leitura: ontem, eu estava num supermercado e tinha R$ 10,00 no bolso, disponíveis para gastos com o que eu quisesse. Duas ofertas tentadoras se expuseram diante de mim: de um lado, o DVD com o filme “O Castelo de Cagliostro” (1979), estréia em longa-metragem do cultuado diretor japonês Hayao Miyazaki, de quem sou aficionado, o único a que eu ainda não assisti; do outro lado, um frasco de 500ml de azeite de oliva extra-virgem, fetiche alimentício absolutamente tentador. Só tinha dinheiro suficiente para um dos produtos. E agora, o que escolher?

Fiz uma enquete com amigos acerca de o que eles comprariam nesta situação e, dentre as 11 pessoas entrevistadas, 11 (onze!) disseram que comprariam o DVD. Eu, por minha vez, comprei o azeite de oliva e cria que o questionamento em si era ridículo. Não era, pelo visto. Tenho que rever meus conceitos?

Wesley PC>

“O PRIMEIRO CORTE É O MAIS PROFUNDO”!

Paralelamente a descobertas nacionais muitíssimo bem-vindas, ouvi um destes discos badalados da atualidade [“Rockferry” (2008), da artista galesa Duffy] e, lá no finalzinho, encontrei uma versão ao vivo, bem baixinha, da famosa canção setentista “The First Cut is the Deepest”, uma daquelas canções tristes, que, sempre que é regravada por um novo intérprete, acrescenta novos componentes de lamentação vocal à já pungente letra, que versa sobre a pretensa tentativa de alguém em “amar de novo”, depois de ter o seu coração dilacerado por outrem. Estou ouvindo e reouvindo a canção neste exato momento e a beleza ‘soul’ da tal da Duffy em sua interpretação mereceu, de minha parte, não somente estas notas curtas como uma resenha completa do disco, programada para um futuro próximo. E o pior é que já estou ficando sem espaço no meu computador para tanta música (risos)...

Quanto mais eu baixo músicas, mais eu sinto a necessidade de conhecer outras, a fim de entender melhor referências e traços de coesão dramática, quase sempre vinculada a relacionamentos que se extinguem, a dores consumistas que o Capitalismo jamais permitirá que sejam sanadas. Por mais que eu tenha consciência de meus mergulhos progressivos nestes estratagemas de identificação material, volta e meia me flagro viciado numa dada canção potencialmente sanativa. No caso desta em particular, basta o título, absolutamente genial em seu direcionamento otimista (por incrível que pareça, a canção é otimista!). Segue a confirmação do relato:

“I still want you by my side
Just to help me dry the tears that I've cried
Cause I'm sure gonna give you a try
and if you want, I'll try to love again
oh, baby, I'll try to love again, but I know”


Wesley PC>

EDY STAR ARRASA, BABY!

Não tenho a mínima idéia de como o disco “Sweet Edy” (1974) veio parar em meu computador, mas ouvi-lo hoje me propiciou gratas surpresas. Primeiro, porque a qualidade surrealista/psicodélica das canções é muito boa, o que não era de se estranhar considerando-se a filiação do mesmo com gênios vocabulares do calibre de Raul Seixas e Sérgio Sampaio; Segundo, porque eu não sabia de seu pioneirismo enquanto ‘glam’, sempre pondo em voga a sua assunção como pederasta festivo, o que fez com que ele recebesse o papel do cientista transexual Frank N. Furter na montagem teatral brasileira de “Rock Horror Picture Show”, em 1975. Como é que eu posso ter vivido tantos anos fronteiriços ao universo ‘glitter’ sem nunca ter ouvido falar deste homem, deste baiano cognominado Edy Star?!

Tratei logo de remediar o atraso e descobri que o afetado artista vivinho da silva, é mestre-de-cerimônias em um cabaré madrilenho e possui um ‘blog’ nostálgico muito interessante em sua auto-complacência militante. Em verdade, o ‘blog’ é escrito num portunhol justificado e, tal qual o conterrâneo cinematográfico de Edy Star defendia, este linguajar próprio ajuda a promover uma linha de pensamento individual concomitante farrista e melancólico em relação às contradições ideológicas do mundo que nos cerca. Quem duvidar, que se atreva a ouvir o disco, em que estão contidas 13 faixas, compostas por celebridades alternativas tão dispares e competentes como Lupicínio Rodrigues, Caetano Veloso, Roberto & Erasmo Carlos, Jorge Mautner, Moraes Moreira, Leno, Gilbert Gil e o próprio Edy Star. Eu recomendo!

Wesley PC>

domingo, 30 de maio de 2010

QUAL O PROBLEMA EM SE PEDIR MUITAS DESCULPAS?

Sou a pessoa mais suspeita para tentar responder a esta questão-título, mas vou tentar. Meu intuito inicial, inclusive, era começar este texto pedindo desculpas. Desculpas a dois grandes amigos que costumam me acompanhar em sessões de fim de semana, mas hoje eu precisava estar só. Soube que o primeiro filme como diretor do roteirista Guillermo Arriaga estava em exibição numa sala de cinema sergipano e quis ir só. Sozinho. Sabia que o filme era solidão e eu quis ver se simulando/sentido este sentimento, a identificação seria mais funcional. Para minha não-surpresa, a conclusão deste experimento coloca mais em pauta a qualidade inerente ao filme do que qualquer pretensão identificatória por parte do espectador. Quando um filme é bom, fisga quem aprecia coisas boas, não importa como ele esteja a se sentir. Mas... Desconfiava do Guillermo Arriaga e tinha razão em fazê-lo. Que seja explicitado o contexto:

Ainda no ônibus de ida para o ‘shopping center’, vi algo que nunca tinha visto: uma mendiga fazendo cocô em frente a um prostíbulo, em plenas três horas da tarde. Os demais passageiros ignoraram o fato, enquanto eu fiquei agoniado, tentando ver se ela limparia o cu ou não. O ônibus virou a esquina e a mendiga saiu de meu campo de visão, mas permaneci pensando nela até a sessão começar...

Antes de a sessão começar, enviei uma mensagem de celular propositalmente ininteligível a um menino bonito. No minuto imediatamente posterior, expliquei o porquê e pedi desculpas e quase pude visualizar a irritação do menino diante de mais este pedido de desculpas, o qüingentésimo desde que nos conhecemos. Mas precisava fazer isso. Senti-me culpado por não ser capaz de resistir ao instinto de declarar a minha culpa. O filme começou.

Lançado no Brasil como “Vidas que se Cruzam” (2008), este péssimo título estragava muitas das pretensas surpresas de um filme que, no original, chamava-se poeticamente algo como “A Planície Candente”. Centro da estória principal: um homem e uma mulher, ambos casados, morrem queimados, no interior de um ‘trailler’ em pleno deserto fronteiriço entre EUA e México. Seus filhos se apaixonam, a duras penas. Entremeadamente, a sul-africana Charlize Theron aparece em cena como uma ninfomaníaca infeliz, que trabalha num restaurante. Na cena em pauta, em que ela mostra seus seios a um homem que não fala inglês, ela busca sexo. Ela busca a ex-mulher de seu melhor amigo acidentado. Ela precisaria pedir desculpas nesse contexto. Elipse.

Ao final do filme, me senti traído, como se a tristeza planejada pelo diretor-roteirista fosse um engodo, que não funcionou necessariamente comigo, não obstante eu ter achado o filme deveras simpático, magnificamente fotografado e interpretado com louvor pelo corpo actancial. Aliás, um detalhe me intrigou: por mais que as regiões que serviram de cenário ao filme fossem desérticas, todos os personagens reclamam de frio o tempo inteiro. O botijão de gás que causa a morte do casal adúltero, inclusive, foi arranjado justamente porque a mulher desejava tomar banho quente em pleno deserto. Será que isso foi proposital? Pelo sim, pelo não, queria novamente pedir desculpas ao menino bonito do outro lado do telefone celular, mas talvez não fosse prudente. Comprei um vaso de 500 ml de azeite de oliva extra-virgem e tentarei me consolar a partir daí...

Wesley PC>