sábado, 19 de junho de 2010

“TUDO É ESPETÁCULO!” (VERSÃO 19 DE JUNHO)

Assim diz o Guy Debord! Quem sou eu para dizer o contrário?

Na tarde de hoje, tossindo feito um condenado que eu estava, encasquetei de ir ao cinema, ver o filme novo do Roman Polanski. Vesti um casaco por sobre o outro e saí de casa, às 15h. Como ambos os casacos superpostos eram quadriculados, meus vizinhos começaram a interrogar: “vais para o forró, Wesley? Todo junino deste jeito...” Dei de ombros. Estava com frio, com febre, com vontade de ver o filme. Segui caminhando, em direção ao ponto de ônibus. O telefone apitava. Uma mensagem. Outra. Mais outra. Ao final, eram cinco, da mesma pessoa, costurando uma mesma denúncia. Li. Reli. Subi no ônibus, ainda em calafrios. Estava com febre. Meia-hora depois, estava no Terminal D.I.A. 15 minutos à frente, estava no ‘shopping center’. Comprei o meu ingresso e, impaciente até o horário da sessão, passei por lugares em que se vendiam produtos que eu não precisava. Como estava com algum dinheiro na certeira, comprei um iogurte. Marca cara e inusual, sabor pêssego. Devia ter comprado alguma das marcas baratas a que eu estava habituado: achei o iogurte doce demais. Tomei um tanto forçado. Estava com fome e com medo de ficar com vontade de mijar. Na tela, o filme tinha 128 minutos de projeção, mas parecia mais. Ótimo, tenso, me manteve em perpetuo suspense. Era como se diretor gritasse para mim: “APRENDA A LER OS SINAIS!”. Me senti positivamente agoniado: “É um mundo injusto”. Roman Polanski ainda está preso. E se fosse comigo? Tenho que ver um filme do Orson Welles pela manhã...

Wesley PC>

sexta-feira, 18 de junho de 2010

QUANTO MAIS EU VEJO OS FILMES DO BLAKE EDWARDS, MAIS EU APRENDO COMO É POSSÍVEL SER ANÁRQUICO NO INTERIOR MESMO DO SISTEMA REPRESSIVO!

Antes de dormir, na noite de ontem, vi um filme menosprezado do genial diretor norte-americano Blake Edwards. Tossi tanto depois, que acordei com a coluna doendo, mas os efeitos gozosos do filme ainda se abatiam sobre mim. Tratava-se de “S.O.B. – Nos Bastidores de Hollywood” (1981), um filme bizarro e autobiográfico em que um cineasta enlouquece depois que um filme protagonizado por sua esposa vai mal nas bilheterias e, depois de tentar se matar várias vezes, tem uma idéia genial ao ser despertado numa orgia: refilmar sua produção como filme pornográfico! Não vale aqui contar como termina o filme – visto que as surpresas se acumulam de forma tão impressionante no roteiro que qualquer linha sobre o mesmo estragaria o impacto tragicômico – mas uma cena em particular ficará eternamente cravada em minha memória: na vida real, o diretor Blake Edwards é casado com a atriz Julie Andrews, geralmente protagonista de seus filmes. No filme, o diretor esclerosado (Richard Mulligan) é também casado com a atriz protagonista de seus filmes (a própria Julie Andrews) e, como tal, estabelece-se um conflito: “tu queres que eu, tua esposa legítima, mãe de teus filhos, fique nua em um de teus filmes?!”. A resposta prática a esta pergunta é simplesmente de encher os olhos!

Ainda estou em casa com mais dois filmes do Blake Edwards aguardando o momento de serem vistos [“Minhas Duas Mulheres” (1984) e “Assassinato em Hollywood” (1988)], mas, enquanto não os vejo, convém aqui explicar o quanto o impacto iconoclasta de seus filmes baliza algumas das decisões que insisto em manter em vida. Exemplo: no trabalho, hoje, fui tachado de “mal-criado” e “insensato” e quase suicida por me recusar terminantemente em visitar um hospital e diagnosticar que doença está a me afligir desde a última segunda-feira. Não gosto de médicos, não suporto o clima hospitalar e, conforme já foi dito aqui, recuso-me a ceder às vontades da Indústria Farmacêutica, de maneira que cheguei a ser ameaçado de demissão por minha chefa, caso insista em levar esta idiossincrasia foucaultiana adiante. Estou pouco me lixando: em hospital, eu não vou (na pior das hipóteses, somente em último caso)!

Que seja. Ignorando-se este contratempo ameaçador – que, pelo visto se estenderá caso eu não melhore até segunda-feira – minha descoberta das obras menos conhecidas (mas igualmente geniais) do Blake Edwards só atesta o quanto este cineasta é capaz de driblar resistências da censura e da limitação de talento em prol do sucesso comercial. Blake Edwards assumia os riscos por sua originalidade, tanto é que muitos de seus filmes clássicos [“Bonequinha de Luxo” (1961), “A Pantera Cor-de-Rosa” (1963), “Um Convidado Bem Trapalhão” (1968), “Mulher Nota 10” (1979) e “Victor ou Victoria?” (1982)] costumam ser reverenciados por motivos equivocados. Apesar de ainda estar vivo, no vigor de seus quase 88 anos de idade, ele está há mais ou menos 15 anos afastado do cinema. Pena! Somos nós que perdemos com isso...

O que me leva ao filme mostrado em foto: Jack Lemmon ajoelha-se numa igreja, mesmo sendo descrente, depois de ter adquirido piolhos pubianos ao transar com uma vidente charlatona. Detalhe: ele é (muito bem) casado. Detalhe adicional: ele está sofrendo de impotência sexual crônica em detrimento de seu comportamento avançadamente hipocondríaco. Detalhe extremo: ele ignora que sua esposa adorada (mais uma vez, Julie Andrews) está temerosa de ser vítima de um câncer de garganta. Filme em pauta: “Assim é a Vida” (1986), belíssima obra de arte autobiográfica, em que casa, família e animais de estimação do diretor são utilizados como componentes fílmicos. Impossível não se emocionar com a coragem superlativa do diretor/produtor/roteirista, que desnuda suas obsessões, traições e erros com uma coragem tão avassaladora que é impossível ficar imune à bravura confessional desta obra, ainda mais quando se sabe que, na realidade, Julie Andrews realmente sofreu uma moléstia na garganta que a impediu de prosseguir com sua notável carreira musical. São estórias como esta que me levam a continuar sendo como eu sou. Assim sendo, Ave, Blake Edwards! E que eu melhore do mal-estar físico que me aflige...

Wesley PC>

quinta-feira, 17 de junho de 2010

PESQUISANDO SOBRE OXÍMOROS NO GOOGLE, EIS O QUE DESCOBRI:

Não quero tomar remédios! Por mais que eu repetisse isso mais e mais vezes, os gemidos de dor que eu não consigo conter enquanto o dia avança me desautoriza a recusar os cuidados profiláticos das diversas senhoras que me cercam. Em casa, minha mãe encheu o meu bornal de Anador. No trabalho, sugeriram-me Dorflex, Paracetamol e outras substâncias patenteadas pela indústria farmacêutica. Tomei um Buscopan, a contragosto, na segunda-feira porque não suportava mais a agonia, mas, estando eu racional, prefiro ser curado prela combinação entre calor humano e descarrego cibernético. Mas tem horas que até mesmo isso falha...

No dia de hoje, atendi duas vezes a um mesmo garoto, coincidentemente estudante de Farmácia. Eu tossia muito enquanto ajudava-o a preencher sua solicitação de revisão de processo de equivalência de disciplinas, mas ele ignorava por completo o mal-estar supostamente advindo dos ruídos de tosse. Fiquei imaginando o que fez com que ele se sentisse motivado a estudar este curso em particular. Neste entretempo, irritei-me ao constatar o quão oportunista é o curso de Farmácia. Quem viu o clássico telefilme “E a Vida Continua” (1993, de Roger Spottiswoode), superprodução que mostrava as longevas brigas entre pesquisadores norte-americanos e franceses pela descoberta do vírus da AIDS. Foi graças a este filme que conheci Gaëtan Dugas, o comissário de bordo homossexual e promíscuo que entrou para a História como o “paciente zero”, o maior disseminador da doença quando esta ainda era apelidada de “peste gay”. Posso dizer que foi um filme que marcou a minha adolescência!

É isso: estou doente ainda e gemo, mas não quero, por isso, ser tachado de mimado. As minhas colegas de trabalho, ao me flagrarem urrando de dor, comentaram: “imagino o barulho que tu fazes durante o sexo”... Quase que eu grito: “SOU VIRGEM!” (risos)

Wesley PC>

A MÚSICA DE MINHA SEMANA ENFERMA:

Uma única frase com duas letras (substantivo + adjetivo), mas é o suficiente para marcar esta semana de moléstia física. Enquanto eu tento me recuperar das dores, tremores e tossidos que me assolam sem precisar recorrer a comprimidos farmacêuticos, “Sexy Boy”, faixa 2 do CD “Moon Safari” (1998), obra de estréia da banda eletrônica francesa Air, é o que me redime. 4 minutos e 58 segundos de tons musicais explosivos, combinados a um refrão sussurrado, que faz qualquer um entender a mensagem de imediato. “Garoto Sensual”: quem é ele? Precisa ser só um?

Na manhã de hoje, faltei novamente à aula por causa de uma forte nevralgia. Durante o almoço, gastei mais de uma hora para comer meu prato típico de comida vegetariana materna, em virtude de um fastio patológico que me deixou extremamente irritado. O que me resta para tarde e noite? Ê, frio. Ê, dor! Ê, ansiedade para conhecer “Somewhere” (2010), o novo filme da Sofia Coppola, já prontinho para sair do forno. Infelizmente, a colaboração longeva entre esta artista e o Air parece não se manifestar neste novo filme, mas nada que eu não aceite o pagamento pela espera...

Wesley PC>

NAQUELA MESA ESTÃO FALTANDO ELES...

“Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor

Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã

Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim

Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim”...


Esta composição do Sérgio Bittencourt já foi executada muitas vezes em Gomorra, na voz do Otto, seja diretamente em áudio, seja através do filme “Árido Movie” (2006, de Lírio Ferreira), um dos mais repetidos ali. Naquela casa, havia tanta gente, que às vezes até esquecíamos que era uma casa. Hoje, deu saudades!

Estava, há pouco, vendo um filme em que uma atriz paraplégica recebe a visita de suas ex-companheiras de telenovela e uma delas conversa com a enfermeira da mesma, que pergunta: “vocês eram amigas?”, ao que a outra responde: “nós passávamos muito tempo juntas... No trabalho”. Como diferenciar? Hoje, nós, gomorrenses, não mais passamos mais tanto tempo juntos (por motivos diversos), mas, de vez em quando, sou visitado no trabalho por alguns deles. Somos amigos, apesar de tudo. E hoje, mais do que qualquer outro dia, deu saudades! Muitas! E a saudade deles está doendo em mim!

Wesley PC>

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O QUE TEM A VER A CHUVA QUE TRAZ ALGUÉM E O INFERNO DE QUE ESTE MESMO ALGUÉM FOGE?

Responderei em primeira pessoa, como é de meu feitio: depois de ter visto “Fugindo do Inferno” (2009, de Tran Anh Hung), fui dormir. Não entendi quase nada do que se passava na tela, mas a combinação entre fotografia esverdeada e deslumbrante, elenco e equipe técnica multinacional, a trilha sonora que combina Gustavo Santaolalla, Radiohead e ‘post-rock’ e cenas de extrema violência gráfica (como, por exemplo, um mendigo sendo assassinado com o corpo de um cachorro!) fez com que algo em minha sanha ‘pimba’ se deslumbrasse diante do filme, irritante para quem se acostumou ao estilo compassado do diretor [divulgado fora de seu Vietnã natal através de magníficos filmes como “O Cheiro do Papaia Verde” (1993) e “As Luzes de um Verão” (2000)] e sedutor para quem fora advertido do potencial concomitantemente poético e fatalista do diretor em “O Ciclista/ Entre a Inocência e o Crime” (1995), para mim, sua obra-prima. Como fui dormir assim que terminou a sessão (depois de ter suportado 115 minutos de canibalismo, fanatismo religioso e sexualidade autodestrutiva), sonhei que dava R$ 5,00 encontrados no chão a um mendigo bêbado que caminha com um cachorro dividido em dois (explico: ostentando uma fratura exposta cicatrizada) e, quando me dirigia ao ponto de ônibus, uma família com três evangélicas perguntou se eu já havia conhecido Deus. Fiquei sem saber o que responder e, obviamente, acordei perturbado. E, na vida real, ninguém que eu conheça gostou do filme. É o preço que se paga!

Wesley PC>

terça-feira, 15 de junho de 2010

MEUS MOTIVOS PARA “INSÔNIA”, CONTO DO GRACILIANO RAMOS:

“Nada sei: estou atordoado e preciso continuar a dormir, não pensar, não desejar, matéria fria e impotente. Bicho inferior, planta ou pedra, num colchão. De repente a modorra cessou, a mola me suspendeu e a interrogação absurda me entrou nos ouvidos: - ‘Sim ou não?’. Encostar de novo a cabeça ao travesseiro e continuar a dormir, dormir sempre. Mas o desgraçado corpo está erguido e não tolera a posição horizontal. Poderei dormir sentado?”

Pura coincidência este livro fabuloso de contos alagoanos ter parado em minhas mãos no dia do ano de 2010 em que eu mais dormi. Não no sentido consecutivo, mas quantitativamente intermitente. Senti fortes dores de cabeça o dia inteiro, febre alta e aftas carcomiam a parte interna e inferior de meus lábios. Dormindo, eu esquecia estes males. Dormindo, eu não ouvia os gritos e fogos de artifício durante o jogo de futebol vespertino. Dormindo, eu era privado de acompanhar um vizinho na sessão do filme “Fúria de Titãs” (2010, de Louis Leterrier). Acordei, portanto, e, contrariando minhas suspeitas e as do meu vizinho, até que achei o filme surpreendentemente razoável. De um lado, eu reclamava de dores de cabeça e frio. Do outro, ele se encolhia, em virtude das feridas que cobrem o seu corpo em virtude de um acidente recente de motocicleta. Na tela, uma regravação bélica de um clássico oitentista, que nos manteve entretidos por 106 minutos, Foi alguma coisa!

“Evidentemente, sou um sujeito feliz. Hem? Feliz e imóvel. Se alguém comprimisse ali o botão do comutador, eu veria no espelho uma cara sossegada, a mesma que vejo todos os dias, inexpressiva, indiferente, um sorriso idiota pregado nos beiços”.

Nada como respeitar as opiniões alheias e chegar a um consenso: Graciliano Ramos é um gênio!

Wesley PC>

INFELIZMENTE PARA MIM, ‘POP MADE IN FINLAND’ , QUANDO RUIM, É POP RUIM ANTES DE QUALQUER COISA (NO PIOR SENTIDO DA PALAVRA)

Tadinho de mim. Tão empolgado que eu estava depois que escutei a maravilhosa faixa-título do filme “Gelo Negro” (2007, de Petri Kotwica – resenhado abaixo e algures) que baixei o álbum “Lovers” (2007), da Hanna Pakarinen, antes de dormir. Ouvi o CD na íntegra duas vezes hoje à tarde (depois de repetir “Black Ice” umas 15 vezes!) e, caramba, como é ruim! Parece uma Kelly Clarkson piorada, disfarçada de metaleira nórdica. E olha que, nomenclaturalmente, faixas como a própria “Lovers”, “Tears You Cry” e “Tell me What to Do” têm muito a ver comigo, mas a decepção causada por este disco fez com que eu constatasse que, na pletora informativa dos dias atuais, digitar três consoantes aleatórias e pesquisar artistas no Google não é mais uma boa técnica de garimpo ‘pimba’. É tanta coisa parecida, no aspecto mais desagradável da estandardização capitalista, que só vale mesmo a pena arriscar naquilo que é recomendado por outrem. Assim sendo, previno-vos: apesar de parecer deveras sedutora, a Hanna Parakinen é uma farsa!

Wesley PC>

O EROTISMO JUSTIFICA QUALQUER COISA?

Dia desses, eu pensava em escrever um textinho em que diria que “um ou dois filmes eslavos, dois discos de música cigana e 4 ou 5 fotos do Eliéser nu eram suficientes para garantir um bom fim de semana confinado em casa”. Antes de postar (por sorte, não o fiz) pensei no quão idiotizada era esta observação. O quão contraditória até, para pessoas que, como eu, vivem por aí a fazer patrulha ideológica em relação aos valores decadentes do mundo ao nosso redor. Mas agora esta observação faz sentido. Explico:

Estou doente. Não sei que doença me aflige especificamente, mas dor e febre se instalam sobre mim de tal forma que tenho poucas forças para me levantar da cama ou sofá e largar as colchas e casacos pesados que cobrem o meu corpo neste instante. Como é típico em moléstias, os agentes patogênicos fazem com que pareçamos sem apetite. Tinha que comer, porém, nem que fosse a pulso, para não adoecer mais! Sentei-me no sofá e liguei a TV de 21 polegadas recém-comprada num filme bobo e curto qualquer. Deparei-me com o documentário dublado “Jonas Brothers 3D – O Show” (2009, de Bruce Hendricks) na HBO2. Como o filme era curtinho, achei que superaria bem sua insuportabilidade enquanto comia. Ledo engano?

Durante os 76 minutos de projeção do filme, minha mãe gritava de irritação com os comportamentos abilolados das meninas que insistiam em correr atrás do trio de músicos. Espera aí: eu escrevi "músicos"? Alguém aí já ouviu as músicas do Jonas Brothers? O documentário permitiu que eu as ouvisse pela primeira vez e, putz, como são ruins! Muito abaixo da média ‘pop teen’, aliás! Pior: os três irmãos alegadamente celibatários gastavam o concerto pedindo para que a platéia batesse palmas e retribuía esta atitude com exibicionismo de golpes que pareciam de capoeira pelo palco. Uma babaquice, me dava nos nervos, mas algo me fazia continuar de olho na tela...

“Algo me fazia continuar de olho na tela”: o excesso de divulgação publicitária sobre a virgindade voluntária dos artistas me deixava encucado. Por mais que eles estivessem cercados de garotas, eles não se atreviam sequer a chamar uma delas de bonita. Seriam eles assexuados? Lembro que eu já vi trechos de episódios do seriado que eles protagonizam no Disney Channel e acredito que o vocalista Joe Jonas é claramente afetado. Será que eles não se masturbam também? Numa das cenas mais ridículas do filmes, eles começam a se despir em frente à câmera, até que interrompem o ato bloqueando a lente, deixando tempo suficiente ara que meninas obcecadas deixassem comentários idólatras nos fóruns sobre o filme, dizendo que “é uma loucura ter visto o Joe sem camisa. Uaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaau!”. O que eu posso dizer diante disso? Nada, pois sou culpado: vi o filme até o final, desobedecendo aos protestos de minha mãe.

Por que eu me dispus a ver este filme? Por que eu não gastei estes preciosos 76 minutos de existência doente com algo mais revigorante? Prefiro não dizer, apelando como resposta a esta imagem-oxímoro de um ensaio erótico/pornográfico do modelo André Sampaio, que posa nu em meio a diversos pirulitos. Não seria mais sensato se eu apagasse estas mais de 80 fotos de meu computador?

Wesley PC>

A FALTA QUE 8 POLEGADAS FAZEM...

Em razão do mal-estar físico que me assola desde ontem, não fui trabalhar hoje. Também não tive forças para caminhar até minha aula de Introdução ao Jornalismo. Por sorte, uma colega de classe avisa-me que a professora faltou: sentia dor de cabeça. Eu também. Ao invés, porém, de aceitar a tese precipitada de que eu estou doente, prefiro acreditar em minha mãe quando esta diz que eu estou vitimado por uma forte crise psicossomática de estresse. Semana passada, foi um vazamento na caixa d’água daqui de casa que não me deixava dormir. Ontem, foi a televisão que queimou! De uma hora para outra, a televisão não quis mais ligar... E agora?

Dinheiro para comprar uma nova eu não tenho. Cartões de crédito com limites disponíveis são difíceis de encontrar. Tive que aceitar a oferta de uma vizinha, que me vendeu a TV de sua cozinha. 21 polegadas. R$ 350,00 se eu tiver sorte na pechincha. Parece tão pequena quando posta no lugar da antiga TV de 29 polegadas. Antes esta do que ficar sem nenhuma. Tenho um irmão depressivo e toxicômano. Sem TV, ele se entediará ainda mais facilmente. Tive que arcar com o prejuízo.

Como arranjar/economizar dinheiro para pagar este gasto de última hora? Como me libertar das agruras domésticas que intensificam minhas dores físicas? Como não se deixar enternecer pelos gritos da Tori Amos no rádio? Como? Para piorar, meu consolo humano sofreu um acidente de motocicleta e está com mais ou menos 35% de seu corpo coberto de feridas. Sente dor. Ontem à noite, ele ainda me deixou alisar os seus mamilos, antes que eu soubesse que a TV de minha casa havia queimado repentinamente, mas, à medida que minhas carícias tornavam-se mais genitais, ele reclamava de dor. Dor dói. E ainda vêm me dizer que “é ótimo escrever sobre dor”? Não é mais!

Só por desencargo, descobri que 1 polegada equivale a 2,54 centímetros. Medi a tela convexa de minha antiga TV de 29 polegadas e encontrei 42 centímetros (mais ou menos 16,5 polegadas). A tela reta de minha atual TV de 21 polegadas apresentou 33 centímetros (equivalente a quase 13 polegadas). Ao pé da letra, encontramos entre uma e outra tela apenas 9 centímetros de diferença! 9 dividido por 2,54 é igual a aproximadamente 3,54 polegadas. Onde está o erro na conversão?

Wesley PC>

segunda-feira, 14 de junho de 2010

COMO ASSIM? QUER DIZER QUE AS PESSOAS NÃO SÃO PERFEITAS? NEM OS FILMES? E ISSO É BOM?

Tudo aconteceu de uma vez só, portanto o raciocínio seguirá de maneira troncha mesmo: hoje à tarde, eu finalmente vi “Mary e Max – Uma Amizade Diferente” (2009, de Adam Elliot) no computador do trabalho. Sentia frio, estava doente. Uma amiga que me viu tremendo durante a sessão perguntou se não era o conteúdo dramático do filme que estava a me deixar daquele jeito. Ao término da sessão, havia lágrimas no teclado numérico do computador. Às 16h15’, tive que ir para casa. A dor era forte. Precisava me deitar!

No momento exato em que escrevo estas palavras, parece que há uma furadeira na minha testa, mas é mister aproveitar este momento de dor física para avaliar os efeitos consoladores da observação conscienciosa acerca da dor psicológica no filme, observação esta, que num momento de suicídio é metonimizada através da canção “Que Será, Será”, vencedora do Oscar de Melhor Canção Original pelo filme “O Homem que Sabia Demais” (1956, de Alfred Hitchcock), do qual foi tema. Dentre tantos filmes que poderiam ser referenciados, logo este? E se eu dissesse que, por mera coincidência, dei de presente este filme à pessoa que, em troca me passou o filme ora resenhado, teria o direito de dizer que estou isento de culpa por choramingar os meus lamentos identificados no roteiro? Tomara que sim...

Difícil escolher por onde começar a falar sobre este filme. Segundo meus próprios interesses analíticos, talvez seja necessário destacar que ele é imperfeito. Que ele falha. Que ele poderia ser bem melhor do que é, mas não foi. E isso é bom!

Para quem não sabe, o filme é basicamente o registro das correspondências fortuitas entre uma solitária garotinha australiana e um obeso judeu norte-americano. Ela vive acossada entre as humilhações que seus colegas de escola a fazem passar, o isolamento de seu pai e o alcoolismo de sua mãe cleptomaníaca; ele lamenta que as pessoas sejam descuidadas em relação a onde depositam o lixo, é viciado em receitas inventadas com chocolate e não consegue mais acreditar em Deus.À medida que os anos se passam e as cartas são trocadas, cada um dos dois vai se sentindo melhor, vai descobrindo que tem um amigo em algum lugar. “Graças a Deus, ainda podemos escolher os amigos”, diz a moral do filme em dado momento.

Talvez o que mais tenha me fisgado de imediato foi a reação de pânico patológico que o obeso Max desencadeia quando começa a ler as cartas de Mary. Inocentemente, ela pergunta sobre situações que são traumáticas para Max, ao que “ele reage do único modo que sabia”: quedar-se tremendo sobre uma cadeira no interior de seu apartamento. Ao perguntar sobre os dilemas básicos da vida (Exemplo: “nos EUA, os bebês nascem em latas de Coca-Cola?”), Mary faz com que Max saia da manutenção ostensiva de sua própria fragilidade e mergulhe num território de instabilidade, que é positivo, indispensável, mas dói até que seja devidamente compreendido. Até o final do filme, alguém pedirá desculpas. Outrem dirá que alguém tem o direito de ser perdoado.

Para além da inebriante premissa enredística básica do ótimo roteiro de Adam Elliot, foram os pequenos detalhes que me encantaram: o amontoado de mortes culposas de peixes-dourados, o caracol deficiente que foi batizado como Stephen Hawking, a confusão terminológica entre agorafobia e homofobia, a tristeza e a concomitante necessidade de sorrir que assola ambos os personagens... Mas o que me fez mesmo deixar aquelas lágrimas no teclado numérico do computador de trabalho onde vi o filme foi a assunção de que as pessoas não serem perfeitas não é necessariamente um problema. Isso é bom. Desde que, obviamente, saibamos pôr em prática, de forma obviamente não egoísta, um ensinamento básico: “ame a si mesmo primeiro”! Eu amo...

Wesley PC>

“KARMEN” (COM FINAL FELIZ) – GORAN BREGOVIC EM 2007

Por dentro de minhas raízes essencialmente brasileiras, deve haver um gene cigano. Somente assim para entender a minha fascinação crescente pelo servo/croata Goran Bregovic. “Elo Hi (Canto Nero)”, tema final de “A Rainha Margot” (1994, de Patrice Chéreau, um dos filmes favoritos de minha adolescência), foi a canção romântica escolhida para ler uma carta enviada por uma namoradinha de colégio, que exigia que eu o fizesse ao som da canção que, à época, eu achava mais bela. Anos depois, toda a trilha sonora deste filme marcante permaneceu um desejo intenso para mim, emulando todo o clima de sexo e violência barrocos que emanavam do excelente roteiro. Precisava ter aquele disco em casa. Precisava!

Graças a um amigo acostumado a cair de moto e beijar alunas de Enfermagem, consegui ter acesso à discografia deste gênio iugoslavo. Dito e feito: “Mesecina” e “Kalasnjikov” tornaram-se clássicos recorrentes em meus momentos boêmios entre amigos; “Ausência” e “Death” configuraram-se enquanto manifestações de minha melancolia titubeante; e “Ederlezi” sempre põe minha mãe e minha cadelinha para dançar. Na madrugada de hoje, mais um incremento à magia bregoviquiana: baixei “Karmen (With a Happy End” (2007), primeira ópera escrita pelo gênio otimista, que, por ter sido realizado priorizando o enfoque musical (e não como trilhas incidentais, como noutros casos), encanta pela originalidade, pelo vigor, pela euforia.

Por enquanto, só ouvi este disco magnífico uma vez, mas já foi o suficiente para eu declarar a sua excelência e para que eu gemesse de gozo enquanto repetia faixas inebriantes como “Gas Gas”, “Mashala Mashala” e, principalmente, “Dikh Mo Vast”. Meus genes ciganos exultam e agradecem!

Wesley PC>

domingo, 13 de junho de 2010

ESTOU COM VONTADE DE CHUPAR UMA BOCETA AGORA!

“Acredito ser necessário ter a sensibilidade de uma pedra para não admirar esta obra genial”: esta frase não é minha, mas serve bem para iniciar como me sinto agora, minutos após a sessão de “Gelo Negro” (2007), filme do finlandês Petri Kotwica que estava gravado em minha casa faz tempo, apenas aguardando a oportunidade ideal para me fisgar e provar a minha ginecofilia bradante. Se eu tivesse como, bem que eu lamberia uma vagina agora!

A trama do filme me fisgou pela originalidade tendenciosa: uma obstetra faz sexo com seu marido engenheiro na primeira cena. Trilha sonora composta por Eicca Toppinen, um dos fundadores da banda de violoncelistas Apocalyptica. Na cena seguinte, a obstetra encontra um pacote de camisinhas entre os pertences de seu marido. Havia três na embalagem, que continha originalmente cinco. “Onde estariam as outras duas?”. Num movimento quase inverossímil, mas totalmente passível de acontecimento, a obstetra matricula-se na classe de ‘aikido’ ministrada pala amante de seu marido. Sob um nome e profissão falsos, elas tornam-se melhores amigas. A obstetra faz sexo com um belo alemão de 22 anos. A treinadora de ‘aikido’ confidencia os detalhes de seu relacionamento proibido à suposta psicóloga que conversa com ela. Onde será que isso vai dar?

Numa das mais brilhantes cenas do filme, a obstetra tenta verificar se a amante de seu marido está grávida. Convence-a a fazer um teste barato de gravidez, mas ela deixa o material necessário para tal cair na privada, de tão bêbada que estava. A obstetra, então, como recurso extremo, Poe sonífero na bebida de sua rival emocionalmente entregue e, quando esta adormece, enfia a mãe em sua vagina para verificar o inchaço do colo do útero. Ela acorda na hora H. Assustada e hábil, a obstetra taca um beijo na amante de seu marido. O desenrolar desta situação não tem como não ser trágico!

Por incrível que pareça, muito ainda acontece no filme, que, para além de suas imperfeições, deixou-me impressionado por abordar tensões tão cálidas entre indivíduos apaixonados numa região com clima gélido. Quem estava acostumado com os filmes melancólicos e taciturnos do Aki Kaurismäki, por exemplo, vai ser pego de calças curtas. E, quando mais eu pensava que o filme estava acabando, havia chegado ao ápice de seus conflitos, vem mais e mais e mais!

Não sei se é estragar a surpresa de alguém dizer que há um parto no filme. Há um parto. E há uma maravilhosa canção ‘pop’ nos créditos finais cantada pela estrela finlandesa Hanna Pakarinen. Tenciono baixar um CD dela amanhã mesmo. Enquanto não faço isso, curto o meu frio com músicas tipicamente islandesas. Quem me dera um xibiu agora...

“O que ela faz de diferente contigo? Penetração retal? Se tu quiseres, eu busco um vaso de lubrificante no hospital e a gente pode conversar sobre os seus desejos”...

Wesley PC>

PELO JEITO, EU VOU TER MESMO QUE FALAR MAL DESTA COPA DO MUNDO...

E, pelo visto, o gancho vai ser mesmo a história real do jogador de pólo aquático Ervin Zádor, espancado em plena piscina de final de campeonato, no derradeiro mês de 1956, enquanto bombas e mais bombas explodiam em sua terra natal. Não conhecia a referida estória (resumida pessoalmente aqui) até ter acesso fortuito ao filme húngaro ‘pop’ “Filhos da Revolução/ Sangue nas Águas” (2006, de Krisztina Goda), que chama bem mais atenção pela seminudez subaquaticamente valorizada do astro magiar Ivan Fenyö do que pelo melodrama bélico revolucionário em si (vide foto), mas, com toda a miséria, este é um filme que me deixou pensando: “como é fácil confundir instinto competitivo com fervor nacionalista”!

Em época de Copa do Mundo, não tem como não se irritar com as aberrações tipicamente noticiadas (e defendidas) pelos repórteres, como o caso de uma sertaneja que caminha mais de 5km para assistir aos jogos ou a “benevolência” da ex-colombiana Shakira em ensinar a pobres crianças sul-africanas as coreografias dos espetáculos que serão proibidos para a maioria avassaladora dos habitantes das cidades-natal dos jogos. Qual é o truque de alguns governos para alimentar esta confusão? Decretar feriado nos horários dos jogos. E foi isso que o Governo Brasileiro fez e continuará a fazer: terça-feira à tarde será feriado, mas, ai de mim se quiser assistir a algum filme ou fazer algo que não assistir a um jogo maldito. Onde? Com quem?

É isso: temo que esta postagem é apenas uma advertência conflituosa. Não queria falar sobre isso (ignorar é um truque bem mais efetivo do que falar mal, sempre senti isso na pele), mas acho que serei moralmente obrigado. Pelo socorro neste intuito, portanto!

Wesley PC>