sábado, 26 de junho de 2010

O QUE (ILUSÃO DE) AMOR NOS LEGA...

Num dado momento, houve a reconsideração de uma famosa banda brasiliense que me chateava na adolescência; noutro, houve o recrudescimento da minha fascinação pelos países eslavos e um destaque historiográfico e coincidente pela pátria magiar. Agora, há um reavivamento dos filmes baseados em HQs. Vi “Watchmen – O Filme” (2009, de Zack Snyder) e fiquei impressionado. Primeiro, porque a trama original de Alan Moore é tão pungente que nem mesmo os equívocos exibicionistas do nojoso diretor Zack Snyder conseguiram chafurdá-la. Segundo, porque a composição sobrevivencial dos personagens é largamente indicada para quem cultua um modelo pós-moderno de depressão modista. E, terceiro, porque os sentimentos alegadamente humanos são a base de todas as ações heróicas e anti-heróicas dos super-heróis marginais que protagonizam o filme. Tentar estuprar a mulher que ama é uma atitude tipicamente humana? Assassinar a vietnamita grávida que tenta argumentar sobre a paternidade de seu rebento também? Sacrificar a população inteira de uma cidade em prol da reconciliação entre duas grandes potências mundiais, então, é o quê? Por mais que o filme peque bastante na quinta parte de seus inspirados 162 minutos de duração, as lembranças psicanalíticas que ele difunde nas outras quatro partes dignificam – e muito- mais este estágio contemporâneo de minha subsunção eterna às paixonites intelectivas. Como tal, não tenho do que reclamar: submeter-me ao que parece ser um dos mais essenciais dos sentimentos humanos e, em virtude disso, ter acesso a produtos culturais que, de outra forma, eu não me interessaria tanto, é algo que rega o meu cérebro e o que quer que seja metaforizado por meu coração bem mais do que um dia inteiro de programação do canal de TV da Canção Nova faz por muita gente por aí...

Wesley PC>

sexta-feira, 25 de junho de 2010

DE COMO EU ENTENDO O PATRIOTISMO – II:

Ao ler as embalagens dos DVDs que eu comprei faz tempo, descobri que, num deles, havia como bônus um material simplesmente precioso: o documentário integral “Demônios e Maravilhas” (1987), dirigido e protagonizado por José Mojica Marins, em que este gênio singular de nosso cinema narra as diversas agruras que sofre a fim de realizar seus filmes de terror num ambiente industrial ditatorial que não entende – e muito menos valoriza – os seus intuitos. Nesse sentido, durante os 50 minutos de duração do documentário, acompanhamos o diretor enterrar seu pai, cair de uma escada e quebrar as costelas num dia que parecia ser a solução dos seus problemas, ser preso mais de uma vez, enfrentar o alcoolismo, sofrer um enfarto e, mais importante que tudo isso, estar sempre cercado por familiares, amigos e discípulos, aos quais agradece sem reserva através de sua narração empostada, sendo que, numa das reconstituições mais bonitas do filmes, vemos o amigo-técnico do realizador, de nome Satã, abraçar com força a mãe do mesmo enquanto ele jaz numa cama de hospital. Impossível não se emocionar diante de uma estória verídica como esta!

Em razão de não haver um mercado reconhecido de produção de horror no Brasil (não obstante haver, sim, um de consumo de produtos forâneos), José Mojica Marins foi vilmente marginalizado em seu próprio País, ao passo que gradualmente obtinha o reconhecimento merecido por parte de críticos franceses e do público norte-americano. No filme, inclusive, em que ele agradece também o apoio de celebridades importantes como Jairo Ferreira, Ozualdo Candeias, Glauber Rocha e Carlos Reichenbach, entre muitos outros, vemo-no colhendo os louros da boa acolhida de seu filme “Delírios de um Anormal” (1978), ao qual assisti antes de dormir. Horrível este filme, simplesmente horrível!

Produzido a partir do que chamou de “restos dos meus restos”, este filme é, na verdade, uma colagem pornográfica de cenas de impacto de seus filmes anteriores, com um fiapo (genial) de trama metalingüística em que um psicólogo é atormentado por pesadelos envolvendo Zé do Caixão e o rapto de sua noiva, de maneira que o próprio diretor José Mojica Marins é convocado para estudar o caso, de maneira que este é também perseguido oniricamente por seu personagem, o que redunda num infarto metonímico do que acontecera na vida real. Não é mais ou menos o que Wes Craven fizera ‘a posteriori’ no ótimo “O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger” (1994)? Até mesmo quando erra, José Mojica Marins acerta – e muito – em sua genialidade argumentativa. Por isso, tenho coragem em dizer que a culpa dos defeitos esvaziadores do filme devem-se muito mais a problemas e sabotagens executórias do que necessariamente à inventividade cadente do diretor-roteirista.

O que me faz voltar ao título da postagem, redigida num momento em que trabalhadores brasileiros ganham folgas em suas atividades empregatícias a fim de que possam assistir ao jogo de futebol envolvendo as seleções de Brasil e Portugal: enquanto a partida poderia ser entendida como uma metáfora esportiva para a nova configuração colonizatória que circunda a contemporaneidade, os espectadores contentam-se apenas em verem mais e mais dribles que redundem em gol. E, enquanto isso, gênios intelectuais como o de José Mojica Marins chafurdam na incompreensão popularesca concebida pelos detentores ideológicos da chamada Indústria Cultural. É o preço que se paga...

Wesley PC>

quinta-feira, 24 de junho de 2010

INTERVALO: KATHRYN BIGELOW GANHANDO O OSCAR DE MELHOR DIRETORA E SOBRE O QUE ISTO FEZ PENSAR...

Em março deste ano, quando Barbra Streisand foi entregar o prêmio de Melhor Diretor na cerimônia do Oscar, gritou “é chegada a hora!” antes de pronunciar o nome de Kathryn Bigelow. Era a primeira vez que uma mulher recebia esta honraria, à qual a própria Barbra Streisand já protestara para concorrer, rancorosa. Kathryn Bigelow, por sua vez, seguiu uma trajetória diferente: mais conhecida por filmes de ação, tinha como principal rival na festa seu ex-marido, James Cameron, quiçá o favorito. Foi muito engraçado perceber a cara de bobo dele quando ela venceu (vide foto – risos)!

Quase todos nós conhecemos a diretora Kathryn Bigelow através do clássico adolescente “Caçadores de Emoção” (1991), em que Patrick Swayze e Keanu Reeves se revezavam enquanto assaltante e policial num filme que misturava surfe com assaltos e saltos de pára-quedas. Anos depois, tive acesso a “Estranhos Prazeres” (1995), um daqueles apocalípticos filmes de ficção científica em que um futuro nigérrimo se descortinava diante de quem não sabia lidar bem com a combinação música triste + drogas audiovisuais + depressão reativa. Há quem goste e quem desgoste deste filme... Eu gosto muito! E, se trago à tona parte da filmografia desta diretora, é porque vi “O Peso da Água” (2000) antes de dormir e, não sei se o entendi como se deveria, mas... Ele me afetou de alguma forma!

Não é necessariamente um filme bem-construído. “O Peso da Água” tem diversos problemas de roteiro, visto que pretende fazer colidir dois eixos tramáticos que não se casam bem: no passado, duas imigrantes norueguesas são assassinadas e um suspeito inocente pode ter sido enforcado como culpado pelo duplo crime; no presente, uma fotojornalista investiga novamente o caso, ao passo em que suspeita que seu marido poeta tenha um caso com a namorada de seu cunhado, irmão dele. No elenco, estrelas hollywoodianas como Sean Penn, Josh Lucas, Sarah Polley, Catherine McCormack e Elizabeth Hurley. No enredo, doses cavalares de incesto interdito, lesbianismo velado, masturbação contida e reminiscências de um tipo masoquista e soçobrado de amor. Tinha tudo para dar certo, mas não deu, exceto para mim, que aceitei a vinculação titular/acadêmica ao jornalismo este ano e, como tal, fiquei pensando no quão propensa a dilemas morais é a relação entre fervor profissional e supressão de desejos subjetivos. Digo mais: este parece ser um tema recorrente na obra da diretora. Acho que encontrei uma chave interpretativa, que me será muito útil, inclusive pessoalmente. Isto é bom!

PS: sobre “Guerra ao Terror” (2008), acho que eu não preciso falar, visto que já o elogiei bastante por aqui...

Wesley PC>

quarta-feira, 23 de junho de 2010

DE COMO EU ENTENDO O PATRIOTISMO – I:

“O grande inconveniente da vida real e o que a torna insuportável ao homem superior é que, se se transportam para a vida real os princípios do ideal, as qualidades tornam-se defeitos, se bem que freqüentemente o homem com todas as suas potencialidades desenvolvidas tem menos êxito na vida do que aquele que tem por móveis o egoísmo e a rotina vulgar”. (‘Renan’ – Marc-Auréle)

Este forte apanágio do preço que se paga por acreditar em algo, que encabeça o livro “Triste Fim de Policarpo Quaresma” (1911), obra maior do mulato Lima Barreto (1881-1922), já antecipava que este romance se tornaria um dos melhores já lidos por mim, ao contrário do que sentenciavam vários colegas de escola quando se viam obrigados a ler tal livro frente às exigências sádicas de algum professor. Quanto erro de minha parte, ó Deus, em demorar tanto tempo para finalmente consumir com encanto cada uma das palavras de ordem aqui contidas. Simplesmente uma obra-prima, o tipo de livro que, se não muda nossa vida, a consolida no que esta tem de mais passional, em detrimento do que a sociedade alega, no afã de dirimir nossos sonhos mais elevados. A saga de Policarpo Quaresma partiu meu coração, por um lado, mas, por outro, pungiu-o de tal forma, que ele sentiu-se obrigado a agradecer por tal partição, no sentido de que alguns sentimentos são melhor compreendidos em suas manifestações extremas. A paixão, sem dúvida, é um destes!

Quando eu via este romance pousado sobre a mesa de algumas amigas de infância, estas logo se antecipavam em dizer que não o liam com prazer, que se enfadavam sobremaneira com a loucura do personagem principal, com o rigor descritivo de seu autor. Isto fez que, com o tempo, eu me desinteressasse pelo livro, não obstante o mesmo ser um dos mais egrégios baluartes de nossa literatura nacional. Em 1998, uma versão fílmica foi conduzida pelo pusilânime Paulo Thiago, que, quando vista por mim, não causou muito mais do que enfado. Deveria eu imaginar, porém, que era uma versão deturpada. Neste ano de 2010, em virtude de minha repulsa às manifestações espúrias de patriotismo que pululam pelas ruas em razão dos jogos do Brasil na Copa do Mundo, resolvi ler o livro como protesto. Como fui exitoso neste empenho: mais do que uma obra-prima, o que mais me surpreendeu no livro é a completa reviravolta a que ele nos conduz ao longo de suas três partes distintas. Na primeira, o protagonista é mostrado em seu cotidiano e em sua internação como louco; na segunda, ele é mostrado no retiro de um sítio chamado Sossego; e, na terceira, ele é atirado aos horrores da guerra, onde o “triste fim” do título faz sentido e leva-o a questionar a quem o seu fervor patriótico teria servido. Eu, enquanto isso, escandalizava-me, satisfeito, a cada página lida...

Se, no início, eu identificava-me por completo com o fervor protecionista do nobiliárquico protagonista, à medida que a trama evoluía, eu distanciava-me pessoalmente dele, no sentido de que o mesmo era engrandecido em seu subjetivismo em nível que eu ainda não alcançara. A própria trama, de sua parte, por vezes parecia secundária ao estilo depurado do escritor, que atolava seu livro com críticas severas ao comportamento ditatorial do Marechal Deodoro da Fonseca, descrito como preguiçoso, covarde, fingido e muitos outros ousados adjetivos negativos. Ao final, minha identificação pessoal era largamente restituída, visto que o personagem ia encontrando somente decepção, quando tentava explicar aos outros a sua paixão. Num dos momentos mais intensos do nadir do protagonista, li isso: A sua sensação era de fadiga, não física, mas moral e intelectual. Tinha vontade de não mais pensar, de não mais amar; queria, contudo, viver, por prazer físico, pela sensação material pura e simples de viver”. Tem como não gemer de satisfação subjetiva diante de uma passagem literária tão perfeita como esta?

Não sei se me cabe aqui revelar como o livro se encerra. Atesto que não é algo previsível (ou, se o for, por vias totalmente inesperadas e bem-vindas), de maneira que deve ser conhecido por qualquer apreciador de qualquer coisa que disponha dos auspícios adjetivos do termo “brasileiro”. O patriotismo do personagem não se confunde com o patriotismo do autor, ele próprio filho do casamento entre uma escrava e um português, que faleceu exatas 48 horas depois dele próprio, que fora internado por alcoolismo em dois momentos distintos de sua vida. Não são poucos os pontos de contato entre as descrições personalistas do livro e a própria biografia de Lima Barreto. Obra-prima: digo isso em voz alta! Impossível não se sentir orgulho de ter nascido no Brasil depois de ter lido isso...

Wesley PC>

segunda-feira, 21 de junho de 2010

POR ISSO QUE EU SOU FOUCAULTIANO!

Atendendo a protestos e sob protesto, consenti em ser acompanhado por duas colegas de trabalho ao setor médico da Universidade. Minhas suspeitas foram confirmadas: os funcionários tratam-me mal por eu não ser um servidor oficial, sequer chegaram a me examinar fisicamente (disseram-me apenas que eu tinha alergia a papéis, pasme!) e me empurraram um comprimido goela abaixo: Allegra D. Fui buscar a composição oficial do remédio (cuja fórmula é mostrada na fotografia) e ei-la:

“Cada comprimido contém:
- Cloridrato de fexofenadina (em formulação de liberação imediata).................. 60 mg
- Cloridrato de pseudoefedrina (em formulação de liberação prolongada).......... 120 mg
- Excipientes q.s.p.................... 1 comprimido
(celulose microcristalina, amido de milho, croscarmelose sódica, estearato de magnésio, cera de carnaúba, ácido esteárico, dióxido de silício coloidal, Opadry)”


O importante no evento, a que só consenti por curiosidade antropológica, é que pude confirmar severamente o meu foucaultianismo: hospitais e congêneres – salvo em casos de atendimentos graves, como atropelamentos e desmaios – têm a função dominante de reforçar a diferença inventada entre as classes sociais, de fazer com que seres padecendo de dores fisiológicas permaneçam reféns do Sistema Único de Saúde governamental e da ditadura farmacêutica que carteliza o mundo inteiro. De coração, eu digo: nesta armadilha eu não caio! De resto, a quem se preocupa com a minha saúde, um aviso: estou melhorando, acho.

Wesley PC>

SOBRE A INOCULAÇÃO DA TENDÊNCIA EM CONHECER MAIS OS ‘BROTHERS’ DO QUE OS ‘HERMANOS’...

Antes de dormir, vi o filme uruguaio “25 Watts” (2001, de Juan Pablo Rebella & Pablo Stoll), exibido na TV aberta. Tratava-se de um filme demasiadamente corriqueiro, em que atores com mais de 25 anos interpretam adolescentes típicos, enfrentando problemas corriqueiros como apaixonar-se pela professora de italiano, não saber que emprego escolher ou assistir a um filme pornográfico. O título faz menção às idéias que um deles, que nem sempre são aprovadas por seus amigos, todos acostumados a gastarem o dia inteira com o consumo de álcool e maconha e preocupados com o tédio que os atinge aos domingos. Muito parecido com a nossa realidade ou isto é só uma impressão capciosa de minha parte?

Pois bem, apesar da extrema familiaridade entre os comportamentos dos adolescentes sul-americanos, os tentáculos poderosos da Indústria Cultural fazem com que estes adolescentes costumeiramente se identifiquem com produções anglofílicas, encontrem amparo para suas reivindicações etárias que diferem sobremaneira do contexto legitimamente político (leia-se: tachado como sub-desenvolvido) dos países em que eles vivem. Por que cineastas como John Hughes, Kevin Smith ou Larry Clark são balsâmicos para muitos jovens cultos brasileiros? Porque, infelizmente, são exíguas as tentativas locais de abordar com sinceridade nossos problemas geracionais. Hector Babenco e Fábio Barreto, no passado, e, recentemente, Laís Bodanzky, Alejandro Agresti e Esmir Filho, no presente, são alguns dos cineastas que tentaram acrescentar suas visões a este vácuo temático injustificado. Devem haver bem mais, mas, infelizmente, estes exemplos ficam relegados às dificuldades distributivas dos filmes independentes latino-americanos. Pena!

O filme dirigido pelos uruguaios supra-mencionados equivoca-se violentamente: não conduz com segurança nenhum dos três focos tramáticos destacados, desperdiça muitos diálogos e personagens secundários (vide as possibilidades discursivas que se aventam depois que um entregador de pizzas traumatizado por seu passado militar espanca um atendente de videolocadora quando delira e imagina que este está xingando-o!) e não atinge êxito pleno na construção do interessante trio de personagens principais, mas é muito válido enquanto tentativa. A oportuna fotografia em preto-e-branco, a similaridade situacional contida no roteiro (olhem para a fotografia que acompanha esta postagem e digam: quem nunca viu ou participou de algo parecido?), alguns malabarismos circulares de câmera e a ótima trilha sonora ‘punk-rock’ revelam que Juan Pablo Rebella & Pablo Stoll tentaram. Pena que pouquíssima gente deve ter visto este filme, mesmo quando ele é exibido no horário nobre daTV aberta...

Wesley PC>

domingo, 20 de junho de 2010

CUSPA O CATARRO, NÃO O ESPERMA!

A dor de cabeça forte e a febre que me assolaram na última semana converteram-se numa tosse intensiva desde ontem. O catarro agora pulula em meu corpo, aguarda qualquer oportunidade para sair de minha garganta e fecundar ambientes e pessoas alheias. O meu catarro quer engendrar novos doentes, mas eu nunca fui muito bom em escarrar. Minha mãe sempre grita: “ponha para fora, Wesley!”, mas eu não consigo. Não sei se acontece como todo mundo que tem sinusite, mas escarrar dói!

Com dor ou sem dor, estou fazendo o possível para me livrar do excesso de ranho. Porém, uma situação engraçada me ocorreu ontem à noite: depois de um bem-aventurado processo de ejaculação alheia, encasquetei de tossir quando ainda não havia sorvido adequadamente as preciosas gotas do colóide mágico que saíam daquela uretra abençoada. Quem me conhece, sabe que nutro uma reverência supra-gastronômica em relação às propriedades do sêmen, que, por vir tão pouco em cada ejaculação, ingiro-o com cautela e lentidão, a fim de manter pelo maior tempo possível o prazer que esta substância me causa quando atravessa minha garganta. Aí me veio o dilema: como eu havia tossido antes de engolir a gala, o catarro se misturou a ela. E agora? O que fazer? Engolir catarro junto com esperma ou desperdiçar um em detrimento da malevolência do outro?

Por respeito aos brios nojosos de alguns dos leitores deste ‘blog’, não direi o que fiz. Direi, ao invés disso, que acordei neste domingo ansioso para assistir ao clássico “O Processo” (1962), dirigido por Orson Welles a partir da notável obra literária do tcheco Franz Kafka. Que filme genial! Tinha como não sê-lo, vindo de quem veio? Pior (ou melhor): para mim, que trabalho no centro burocrático da UFS, tem como não se identificar com esta trama obsedante? Recomendo-o a qualquer um que já se sentiu equivocadamente julgado por que quer que seja. Detalhe: os adendos eróticos do filme ao livro só me fizeram reativar o drama anterior. Tossia muito durante a sessão, mas não podia me levantar a toda hora, a fim de escarrar no banheiro. O que fiz? Digamos que eu realmente tenha medo de alguns advogados...

Amanhã cedo, estarei de volta ao trabalho. Quiçá, ainda tossindo bastante. Sofrerei novas ameaças hospitalares? Terei tempo de escarrar caso o expediente externo esteja cheio de pessoas para atender? Alguém me oferecerá esperma num potinho, com uma colher? Acho que eu ando vendo filmes neo-expressionistas demais...!

Wesley PC>