sábado, 7 de agosto de 2010

O VERDADEIRO ESCÂNDALO CONSISTE EM AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS!

Preciso pedir perdão pelo que vou fazer agora, mas não conseguirei dormir sem resumir aqui parte do impacto que “El Sacerdote” (1978), filme do basco Eloy de la Iglesia a que acabo de assistir e que, de coração, deixou-me impactado. Não por suas imagens fortes de auto-mutilação ou crise sexual, mas pelo viés político anti-franquista praticado no auge de um sistema repressivo, pela fé supra-institucional que o filme legitima, pela inventividade cinematográfica que agora se descortina diante de mim... Maravilhoso!

Quando pus o filme no aparelho reprodutor de DVDs, minha mãe ainda estava na sala. Ela viu a abertura iconográfica do filme e comentou comigo: “olha só, parece ‘Marcelino Pão e Vinho’ (1955, de Ladislao Vajda), né?”. Eu sabia que não, mas preferi não responder nada. Deixei que ela visse e ouvisse com seus próprios olhos e ouvidos: numa das primeiras seqüências, o padre protagonista deixava cair a hóstia consagrada ao deparar-se com uma imponente mulher que entra em sua igreja. Na seqüência seguinte, um padre socialista lista Jesus Cristo como sendo parte de sua teoria sobre filhos célebres de mães solteiras. Na subseqüente, o padre do início lembrava da primeira vez que praticou sexo com uma mulher. Até que o filme terminasse, acompanharíamos um filho ser espancado pelo pai porque optou pelo celibato santo, seríamos cúmplices de uma competição de pênis adolescentes que culminaria no estupro de um pato e saberíamos que as funções urinárias não seriam de todo prejudicadas após o ato extremo de cortar a própria genitália indutora de pecado. Para além do choque que qualquer uma destas seqüências pode provocar, o toque discursivo genial de Eloy de la Iglesia: é realmente o sexo um pecado? As possibilidades responsivas enumeradas pelos diversos sacerdotes do filme são simplesmente anagógicas!

Peço novamente perdão para interromper este texto estupefato e declarar aqui meu amor irrestrito a uma noção de Deus que não me impede de praticar o que considero amar ao próximo, mesmo que isto implique em empanturrar a minha boca com testículos alheios ou engasgar-me com fluidos eróticos. Amo a Deus porque não me vejo impedido disso! Amo a Deus porque isto não me impede de fazer qualquer coisa que eu realmente deseje e considere necessário! Amo a Deus porque isto implica amar muitas outras pessoas por extensão. Amo a Deus porque vejo n’Ele a extensão suprema do que é o próprio amor. Amo a Deus porque amo a Deus. Ponto!

Wesley PC>

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

NASCIDO EM 30 DE DEZEMBRO DE 1963, MORTO EM 20 DE FEVEREIRO DE 1992. E ENQUANTO ISSO?

A resposta à pergunta acima foi proferida pelo ator espanhol José Luís Manzano, protagonista de cinco filmes sobre delinqüência juvenil dirigidos por seu padrasto erótico Eloy de la Iglesia. Por ser viciado em heroína, porém, ele morreu como conseqüência de seu vício. Overdose foi o diagnóstico. Qual o detalhe neste diagnóstico? Na maioria dos filmes por ele protagonizados, o tema é justamente “a escravidão das drogas”. Assisti ontem à noite a “El Pico 2” (1984), continuação do maior êxito de público do diretor e, confesso, irritei-me um pouco com o tom moral da película tendenciosamente hipócrita, visto que é sabido que diretor e elenco consumiam largas doses de ‘caballo’ nos intervalos da filmagem. Conclusão: nada mais trágico do que ver uma vida jogada fora, sabendo que está sendo jogada fora, tentando justamente não jogá-la mais fora, sendo, portanto, impossível julgar qualquer um por causa disso. Pós-conclusão: o filme me deixou em crise, com dor, sofrendo, mesmo que eu não tenha gostado tanto dele quanto dos outros dirigidos pelo mesmo Eloy de la Iglesia e protagonizados pelo mesmo José Luís Manzano... E, enquanto eu escrevia isso, o estagiário novo de meu setor limpava o seu relógio com a parte de baixo de sua camiseta e deixava-me ver, inconsciente, a bela protuberância peluda e adiposa de seu abdome. Consolou os meus sentidos, mas não a minha consciência: é um mundo que desmorona a passos largos e não há álcool nem carne que nos embriague o suficiente para deixarmos de perceber isso, como perceberiam os futuros personagens de “Los Novios Búlgaros” (2003), último e, até então, melhor filme (para mim) de Eloy de la Iglesia, morto em 2006 em decorrência de um câncer renal.

Wesley PC>

“AS VOGAIS SÃO FASCISTAS, CARA!” (OU: QUEM NÃO ADMITE QUE ESTÁ TRISTE DANÇA TAMBÉM!)

Mesmo sem ter ouvido “XTRMNTR” (2000), conceituado álbum de música eletrônica do grupo britânico Primal Scream, há tempos que eu venho elogiando e divulgado este álbum. Sempre cri que ele cumprisse à risca os preceitos protestantes contidos em sua proposta e em seu título. Ouvi-o pela primeira vez no começo desta semana e posso atestar: é um disco genial! Não sei se entendi bem contra o que ele está e opondo (apesar de concordar de antemão), mas insisto que é um disco genial!

A primeira faixa “Kill All Hippies” é direta e devastadora (dando vozes a quem pronuncia isto, por exemplo: “Punk is not sexual, it’s just aggression”, sobre o que eu obviamente discordo), a segunda (“Accelerator”) é barulhenta ao extremo, a terceira (“Exterminator”) recupera certo caráter transitivo até nos apresentar ao carro-chefe do disco, a extraordinária “Swastika Eyes”, que reaparece no mesmo disco em um ‘remix’ de The Chemical Brothers:

“I'll vent my spleen I'll keep my dreams
My flesh my bones my soul I own
My mind's a weapon immune from infection
Blood in my eyes, my vision is clear
Parasitic your syphilitic
Parasitic your syphilitic”


Em verdade, só ouvi o disco duas vezes até então e ainda não consegui chegar até o final, visto que fico repetindo “Swastika Eyes” mais de uma vez, mas recomendo o disco mesmo assim – com tudo de polêmico que ele implica!

Wesley PC>

QUEM ESTÁ TRISTE DANÇA!

Dirigido pelo artesão hollywoodiano Mark Pellington, o videoclipe da canção dançante “One Time We Lived”, mais novo ‘single’ do disco “Wait for Me” (2009), do especialista em música eletrônica Moby fisgou-me na manhã de hoje. É um videoclipe triste, apesar do gênero musical atrelado à euforia. Dentre as imagens mostradas no filme, vemos um dedo sendo cortado e derramando sangue, uma garotinha atravessando a rua e a luz do Sol refletida nas janelas de vidro dos prédios onde uma dada mulher faleceu. Uma mulher que morreu nos braços de alguém, que assina na tela como se tivesse culpa do acontecimento. Como é Moby quem compôs e quem canta a canção, ele chora. As lágrimas escorrem de seu rosto enquanto ele tenta manter-se firme na interpretação da letra, sobre “um tempo que foi vivido”, “um tempo que já se foi”, um tempo que “é somente o que temos”... Glupt!

Wesley PC>

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

NEVOU EM SANTA CATARINA, RAFAEL MAURÍCIO TEM AGORA 21 ANOS!

Antes de vir para o trabalho na tarde de hoje, vi uma cobertura noticiosa deveras espalhafatosa, por parte de um telejornal da Rede Globo de Televisão, sobre um fenômeno de queda de neve no Estado de Santa Catarina. A euforia dos “adultos que brincavam que nem crianças na neve” me fez lembrar do filme sulista “Os Famosos e os Duendes da Morte” (2010, de Esmir Filho), que eu odiei, mas que várias pessoas queridas disseram que parece comigo. Parece? Em meu apogeu depressivo, quiçá, mas não apreciei esta semelhança.

Se o roteiro do filme concentrasse-se na alega tristeza (sem causa) dos protagonistas, ótimo, assumiria a semelhança, mas o pretensioso do Esmir Filho estraga o que o filme poderia ter de positivamente “pimba” com experimentações ridículas, de péssimo aproveitamento estético. Ou seja, em meio à ladainha anglofílica do choroso protagonista, o filme satura-nos com postagem de YouTube em que um falecido interesse romântico feminino do personagem principal reaparece na tela com um fantasma convidativo do suicídio... Nem precisava.

Observação sobre quem é o tal do Esmir Filho: apesar de ele ser um gauchinho bonito, ele é conhecido no universo adolescente graças a diversos curtas-metragens largamente divulgados na Internet, como o tolo “Vibra Call” (2006, sobre lésbicas que se masturbam com telefones celulares em plena sala de aula), o hiperestimado “Tapa na Pantera” (2006, co-dirigido por Rafael Gomes e Mariana Bastos, sobre uma maconheira muito simpática e truqueira) e o potencialmente interessante “Saliva” (2007, sobre uma guria loica para beijar na boca). Pelos curtas, este diretor não entraria em minha lista de “observáveis”. Pelo longa-metragem de estréia, muito menos. Mas, pela influência que ele vem gozando entre meus amigos, tive que reconsiderar minha ojeriza. Mas que o filme enerva, enerva muito...

Além de possuir uma das piores cenas de masturbação (no chuveiro) que já vi no Cinema, este filme adota uma ridícula e inconveniente (e também fantasiosa?) reconciliação entre mãe e filho que prejudica a dimensão psicológica até então criada, mas restaura um mínimo de dignidade àquelas pessoas. Conclusão: se formos muito tolerantes, sempre há o que se aproveitar de qualquer dita obra de arte.

Por que escrevi tudo isto agora? Porque, em conversa cibernética com o aniversariante de ontem, este me confessou que sentia vontade de ver este filme, mesmo crente de que não gostaria do mesmo. Fiquei encantado ao saber disso, pois denota que ele enfrenta insatisfações aparentes, devidas muitas vezes a maus julgamentos de expectativas alheias. Este é, portanto, um belo indício de que o pós-aniversariante em pauta faz bom uso de sua maturação etária. Resta-me parabenizá-lo, já que não o havia feito até então.

Parabéns, Rafael Maurício, e boa sorte!

Wesley PC>

“TUDO É CAPITALISMO HOJE EM DIA... O SOCIALISMO, UM HORROR!” (...) “O MUNDO ESTÁ DESMORONANDO, E NÃO HÁ ÁLCOOL QUE DÊ UM JEITO NISSO!”

Na manhã de hoje, manhã de folga, vi mais um filme do espanhol Eloy de la Iglesia: “Los Novios Búlgaros” (2003). Três anos depois, seu diretor estaria morto. Depois de interromper sua prolífica carreira por cerca de 15 anos, a fim de libertar-se do vício em heroína, depois de sobreviver às várias pestes ‘gay’ que assolaram as décadas de 1980 e 1990, Eloy de la Iglesia estava morto. Antes disso, porém, legou aquela que talvez seja a sua melhor obra. Legou-me pessoalmente mais um petardo potencial sobre o que me espera num futuro próximo, sobre o que já enxergo neste presente derruído que tanto me resguarda...

Um breve resumo do filme talvez explique o que estou a sentir agora: Fernando Guillén Cuervo interpreta Daniel, um empresário homossexual que se divide entre a diplomacia de seu emprego e as saunas e conversas fúteis com seus amigos ricos e afetados. Pagar a rapazes mais jovens para que se deitassem com eles não era nenhum problema: “podemos muito bem pagar por alguns centímetros de rola, mas não por alguns minutos de amor” era o lema deles... Bem que deveria se tornar o meu também!

Num destes pagamentos, Daniel conhece Kyril (Dritan Biba), um imigrante búlgaro que não escondia a sua vocação criminosa sobrevivencial. Ainda assim, encantado que estava pela autenticidade estrangeira do sujeito e pelos maneirismos gestuais do mesmo, Daniel se entrega por completo a uma relação que seria bem mais onerosa para ele do que para qualquer outra pessoa: “eu tive um namorado búlgaro. Ele tinha uma namorada búlgara. Vivíamos como se fosse uma família: eu gastava tudo o que tinha por eles. E eles não precisavam gastar nada por mim”. Eis a narração que abre o filme...

À medida que o filme avança, o oportunismo de Kyril se aperfeiçoa, mas, por mais que Daniel enfie-se em problemas políticos e legislativos cada vez mais graves, o filme não o julga, o próprio Daniel não o julga. É como se padecer e gastar fossem componentes indispensáveis deste tipo de amor concessivo e unilateral. É o tipo de amor que mais me alimenta, aliás. Conclusão inicial: a identificação foi plena! Em dado momento do filme, por exemplo, aconteceu algo que já tive a oportunidade de vivenciar: deitados na mesma cama depois da foda à base de espuma de sabão que mostro em foto, Daniel beija Kyril no rosto e diz que gosta tanto dele que não hesitaria em dar a sua vida pelo búlgaro, ao que este último responde: “eu também daria a tua vida por mim”. Glupt! Quem condenaria qualquer um dos personagens por qualquer coisa?

Quanto mais a trama seguia em frente e adicionava novos elementos periculosos (uma noiva búlgara que não era videogênica, tráfico de urânio, mais e mais dinheiro sendo requisitado), os dilemas amorosos do personagem crescem ao âmbito político mais geral, conforme se percebem nos dois pronunciamentos que somei no título desta postagem. Num dado momento da película, por exemplo, Daniel viaja até a Bulgária e passa a ser assaltado por “memórias de um tempo que nunca viveu”. E eu entendia plenamente do que ele falava... Um filme maravilhoso, que recomendo como bálsamo pessimista e, ainda assim, essencial, a qualquer um que passe pelo que eu passo... Genial!

E o jargão mais repetido do filme proveio de um poema de Edgar Allan Poe: "o horror está na alma". Eu que não discordo agora!

Wesley PC>

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A ORGANIZAÇÃO INFORMAL DA SAÚDE ADVERTE: PAIXÃO PLATÔNICA GERA CÁLCULO RENAL!

Houve uma alteração provisória nos horários de trabalho dos atendentes do meu setor de trabalho. Um deles resvala na terrível coincidência de me encontrar com freqüência no banheiro. Na tarde de hoje, minha bexiga estava saturada de urina. Corri para entrar no banheiro e percebi uma pastinha preta mui reconhecível na pia do toalete. Hesitei e esperei do lado de fora, até que ele desocupasse o lugar em que eu poderia evacuar os líquidos rejeitados por meu corpo. Ele demorou, tem o hábito de portar-se domesticamente em banheiros públicos. Ao entrar no cômodo, disse que já estava com os rins doendo, tamanha a espera para que ele saísse do banheiro. A resposta (bruta e erótica, como sempre) foi imediata: oxente, mije!”.

Wesley PC>

UM POUCO MAIS DO QUE IMAGEM & SOM...

“Hoje fiz um movimento louco dentro do meu sonho
Hoje fiz um movimento louco dentro do meu sonho
Você já saiu algum dia da casa do pai?
Esse é o som e você é a mulher que eu sou
A minha primeira visão da terra tinha cortina de água
Essa noite fiz um movimento louco dentro do meu sonho
(a minha primeira visão da terra)
A minha primeira visão da terra tinha cortina de água

Não me lembro de ter fome
Não me recordo de frio nem calor
Eu não me lembro

Você já viu alguma mulher derramando lágrimas pretas?
Você sabe quem eu sou?
Você já viu uma mulher derramando lágrimas pretas na face?
Lágrimas pretas
Lágrimas pretas
Não fique assustado ao ver a mulher pintada chorando lágrimas pretas
Eu amo tanto
(Amo)”


Por algum motivo, este quadro não me saiu da cabeça enquanto eu ficava repetindo esta canção. E repetindo e repetindo e repetindo... E não era só isso!

Wesley PC>

terça-feira, 3 de agosto de 2010

DISCOS QUE EU NÃO COMPREI PELA CAPA...

Mais uma vez, me vejo diante da tentativa inglória de explicar por que se gosta de um CD. Como transmitir em palavras o que os sons compassados nos causam? Como? Os discos abaixo, portanto, mesmo não sendo ótimos, foram os que mais ouvi durante o fim de semana e, como tal, trar-me-ão boas lembranças num futuro próximo:

• “Tanto Tempo” (2000), de Bebel Gilberto: midiaticamente divulgado como um dos discos brasileiros mais vendidos no exterior, este disco cumpre bem seus intentos comerciais de bossa nova contemporânea ‘for export’ e funciona bem como “música de ambiente”. Os destaques são as versões para “Mais Feliz”, da Adriana Calcanhotto, “Bananeira”, do Gilberto Gil, e o “So Nice (Summer Samba)”, do Marcos Valle, uma das canções mais recorrentes nas telenovelas escritas pelo pseudo-realista Manoel Carlos. Insisto: não é lá um grande disco, mas é funcional que só uma beleza!


• “Vagos Permanentes” (2008), de Vagos Permanentes: descobri este disco por acaso, quando tentava encontrar alguma canção que contivesse a palavra “Melilla”, em homenagem a uma amiga caloura de trabalho. Encontrei aqui o belo petardo militante “La Valla de Melilla”, logo na abertura do álbum, que faz menção aos preconceitos contra imigrantes na zona fronteiriça entre Espanha e Marrocos. O restante do disco não é lá tão célebre, mas também funciona muito bem em seus intentos genéricos, visto que renova o ‘ska’ de que bandas mais conhecidas como Skank e No Doubt nos deixaram publicamente acostumados. O bom humor das demais canções (“Ramón Sin Cobertura” em destaque) também é um ótimo aperitivo. Recomendo!

E é isso: estou acostumando-me a tentar resenhar discos que me fazem bem. Eis, portanto, mais uma intenção da arte: compartilhar a solidariedade através dos sentidos!

Wesley PC>

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

NOSTALGIA ≠ REVISIONISMO

Na tarde de domingo, tia Debora me convidou para sair: “ei, vamos nos ver na Sementeira?”. Meu irmãozinho Américo também foi convidado. Luiz Ferreira já estava lá. Tinha tudo para ser um dia encantado entre amigos, mas eu estava com um mau pressentimento. Algo me desmotivava a sair de casa. De repente, meu irmão oferece-me sua sandália preta, eu descobri que ainda possuía duas ou três passagens em meu cartão de passes escolares e minha mãe pediu que eu lhe comprasse um quilograma de açúcar. Tomei banho e, uma hora e meia depois, estava com Américo no interior de um supermercado. Iniciava-se uma tarde nostálgica entre amigos.

Por volta das 18h, adentramos, eu e Américo, o Parque da Sementeira. Tia Debora e o primo peralta Luiz Ferreira lá já estavam, conversando sobre eventos osculares recentes de Gomorra. Eu não havia vivenciado alguns deles, mas logo me senti apto a entrar na conversa. Enumeramos as várias paixões que lá testemunhamos, as brigas que vivenciamos, os conflitos (pacíficos ou não) que percebemos, os ataques de histeria ou megalomania que constatamos, os bons e maus momentos de que jamais esqueceremos... Foi uma tarde linda!

Em meio a vários doces (que ocultavam o motivo da tristeza saliente de minha querida tia neo-baiana), rimos e zombamos de nós mesmos ao lembrarmos de tudo o que vivemos juntos até então... Na terça-feira, Debora estará de volta a sua universidade em Salvador. Eu estarei trabalhando, Américo estudando Inglês e Ferreirinha (que tirou a foto em destaque) rebolando para cima e para baixo enquanto se empanturra de vinho e lascívia. Mesmo distantes, estaremos juntos – sempre e sempre. Meu pressentimento era equivocado: era lá entre eles que eu realmente deveria ter estado!

Saudades desde já,
Wesley PC>

ALGUMAS OBSERVAÇÕES INICIAIS SOBRE O CORPO NU DE JOSÉ LUÍS MANZANO, OPS, SOBRE A OBRA CINEMATOGRÁFICA OITENTISTA DE ELOY DE LA IGLESIA:

Ops! Conforme venho dizendo, descobrir a carreira cinematográfica singular de Eloy de la Iglesia foi-me algo deveras balsâmico, em mais de um sentido. Primeiro, porque este cineasta é o líder de algo que ficou mundialmente conhecido como “cinema quinqui”, de origem espanhola, destinado a mostrar por dentro como se engendra a delinqüência juvenil em sua faceta mais bélico-classista; segundo, porque androfílico que se preze deve conhecer José Luís Manzano, morto por overdose de drogas antes de completar 30 anos de idade, ator que viveu na tela aquilo que vivia na vida real e que, depois disso, viveu na vida real o que problematizara na tela. Morreu da mesma forma que alguns de seus personagens, portanto.

Conforme explicitei no outro texto, de sábado para domingo vi três filmes seguidos do diretor Eloy de la Iglesia: “Navajeros” (1980), “Colegas” (1982) e “El Pico” (1983), os três protagonizados pelo mesmo ator-fetiche, o companheiro pessoal de Eloy de la Iglesia, adotado por ele como um filho com quem se pode fazer sexo, que trazia na vida real as mesmas marcas de seus personagens: a alfabetização precária, a sexualidade titubeante e a sujeição ao vício do ‘caballo’, droga devastadora que engendrou na Espanha em relação à heroína o mesmo que o ‘crack’ faz no Brasil em relação à cocaína. Mas, na moral, como o José Luís Manzano era bonito e carismático! Tal qual faziam os jornalistas de “Navajeros”, é difícil não ceder ao seu carisma de meliante.

Cabem aqui, portanto, algumas observações sobre estes filmes, em que era muito mais interessante o modo de narrar do que necessariamente as estórias reais filmadas, suficiente previsíveis enquanto tragédias juvenis anunciadas. No primeiro filme, “Navajeros”, acompanhamos a saga verídica de El Jaro, um bandido adolescente famoso na antiga Madri, com o qual o ator que o interpreta guardava imensas semelhanças físicas e biográficas, o que facilitou e muito o despreparo actancial de José Luís Manzano antes de abraçar o papel, que desempenha com elogiosa autenticidade. Minhas cenas favoritas, obviamente, envolvem a prostituta mexicana e mais velha com quem ele se envolve, que, num momento decisivo, atreve-se a dizer que ele faz com que ela se sinta tão mais jovem que a cada vez que eles fazem sexo, até parece que é a sua primeira vez. Vi-me nela. Apaixonei-me por ele e por ela ao mesmo tempo!

No segundo filme, “Colegas”, a cena que mais me impressionou foi a conversa dos três irmãos antes de dormir, sendo que dois deles masturbavam-se ostensivamente em suas respectivas camas, limpando as suas ejaculações no mesmo pedaço encharcado de pano. A trama, porém, era bem mais singela que o filme anterior: abordava o relacionamento de amizade sincera entre dois amigos, sendo que um deles engravida a irmã do outro e tentam arranjar dinheiro para financiar um aborto, o que desemboca em situações inesperadas para eles, trágicas no sentido mais amplo do termo.

Por fim, “El Pico” mostra uma nova vertente fílmica do diretor, mais contundente, mais firme, mais dicotômica em seus papéis sociais, ainda que o roteiro evite julgar qualquer um dos personagens, por mais criminosamente que estes se comportem. Assim sendo, adolescentes entediados e viciados, traficantes de drogas que embebem heroínas em chupetas de bebês, policiais anti-democráticos que preocupam-se sinceramente com os filhos e deputados bascos e esquerdistas têm iguais oportunidades de pronunciamento no filme, que não esconde a sua tomada de partido em relação à necessidade de proteção da juventude inassistida. Digo mais: há uma cena emblemática aqui, quando o protagonista acorda durante uma crise de abstinência e escuta os gritos de sua mãe, viciada em um medicamento à base de morfina. Depois que injeta a droga nela (e rouba algumas ampolas para uso pessoal), ele, que acabara de completar 18 anos, ouve de sua mãe dopada uma admoestação cuidadosa em relação a como ele deve se comportar nas eleições vindouras. Uma cena quase cômica se não fosse tão emblemática!

Com estas três pequenas observações sobre os filmes, atesto-vos que a obra de Eloy de la Iglesia é realmente absorvente e que ajuda muito na apreensão qualitativa dos filmes o fato de que o namorado do diretor esteja constantemente nu em seus filmes, conforme percebemos nesta graciosa cena de “Colegas”, quando dois irmãos inocentemente banham-se ao mesmo tempo. Recomendo todos estes filmes, de coração, cérebro e genitália abertos!

Wesley PC>

domingo, 1 de agosto de 2010

“EU PRECISO DE ALGUÉM PARA CONVERSAR/ ALGUÉM QUE SE IMPORTE COM O AMOR/ PODERIA SER TU”...

Quando eu saí do trabalho na sexta-feira, deparei com um engarrafamento em frente à UFS. Tinha tido um dia cheio no trabalho e trabalharia novamente na manhã do sábado, de maneira que esqueci que havia sido convidado para uma festa importante, em prol da despedida de uma pessoa que eu muito prezo. No meu ouvido, uma canção reverberava: “Kiss Off”, faixa 2 do disco homônimo de estréia da banda alternativa norte-americana Violent Femmes” (1982), ouvida num filme argentino desperdiçado a que tive acesso no dia anterior, “Glue” (2006), de um tal de Alexis dos Santos. No momento em que me deparei com o tal engarrafamento, decorrente de um acidente automobilístico envolvendo um carro esportivo e o tanque de gasolina de um ônibus, já estava a repetir a canção em pauta pela terceira vez, da qual extraí os versos que intitulam esta postagem e cujo ponto alto está no trecho executado passionalmente no filme citado, em que uma contagem de subsunção toxicômana justificada é declarada crescente:

“I take 1 1 1 cause you left me and
2 2 2 for my family and
3 3 3 for my heartache and
4 4 4 for my headaches and
5 5 5 for my lonely and
6 6 6 for my sorrow and
7 7 for no tomorrow and
8 8 I forget what 8 was for and
9 9 9 for a lost god and
10 10 10 10 for everything
everything everything everything”!


Voluntariamente, eu não me lembro de ter ouvido antes este excelente álbum, mas agora, ao entrar em enésimo contato com faixas célebres como “Blister in the Sun” e “Add it Up”, tudo me parece tão familiar, tão recorrente... Seria conseqüência inversa do filme, que tanto me desagradou, mas que tanto potencial juvenil tinha? Não gostei dele no geral, mas cenas isoladas (geralmente envolvendo, justamente, o fanatismo do protagonista em relação à banda Violent Femmes ou a tara que ele sente por um amigo erótico) ficaram plasmadas em meu cerebelo, entendendo-se isto como vocês quiserem que seja (risos). Mas o que importa está na superfície: com ou sem o entojinho anglofílico de outrora, eu grito: VIOLENT FEMMES É GENIAL!

Wesley PC>