sábado, 28 de agosto de 2010

NOVO TEMA MUSICAL ESPONTÂNEO DE GOMORRA:

Naquela linha coincidente que sói acontecer comigo, eu acordei a cantarolar uma canção que não ouvi há mais de dois anos: “Pavão Mysterioso”, do cearense Ednardo. Aliás, creio que sequer cheguei a ouvir esta canção na íntegra em toda a minha vida. Ela tornou-se famosa quando foi tema de abertura da telenovela “Saramandaia”, exibida em 1976 pela TV Globo. Nunca assisti a sequer um capítulo desta telenovela e não me lembro de ter ouvido nada que me fizesse evocar esta canção, assim, logo pela manhã, mas... Não somente a canção parecia estar saindo de dentro de mim, como, milagrosamente, a safada e abençoada tia Debora estava com a mesma pronta para ser executada em seu telefone celular. Na mesma hora, eu, ela e Ferreirinha apressamo-nos em dotar a canção de um fervor sexual mui profundo que já estava contido na mesma, esgoelando-nos coletivamente ao acompanhar a versão interpretada por Ney Matogrosso:

“Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...

Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse seu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
No escuro dessa noite
Me ajuda, cantar
Derrama essas faíscas
Despeja esse trovão
Desmancha isso tudo, oh!
Que não é certo não...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos
Mas não podem voar”...


Queria agora ter condições de reler o maravilhoso livrinho de cordel que contém a estória original que interpretou esta maravilhosa canção, mas, enquanto não o encontro, disponibilizo aqui o endereço para baixar o CD “Romance do Pavão Mysterioso” (1974), do Ednardo, em que esta preciosidade está contida. Isto muito me apetece!

Wesley PC>

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

“EU PARTICIPO, TU PARTICIPAS, ELE PARTICIPA, NÓS PARTICIPAMOS, VÓS PARTICIPAIS, ELES LUCRAM”...

A imagem pertence ao filme “Concerto dos Desejos” (1967), belíssimo curta-metragem do polonês Krzysztof Kieslowski, em que uma garota pergunta ao seu namorado se está penteando corretamente seu cabelo, sem saber que está sendo observada por um rapaz que a deseja compulsivamente. Alheia (em mais de um sentido), ela sobe na garupa de seu namorado e planeja voltar para casa, quando a barraca cai no trajeto. O namorado diz que é uma besteira voltar para buscar a barraca velha. Ela insiste que sua carteira de identidade está no pacote caído. O resultado desta pendenga de amor é ainda mais amor, exponenciado após uma crise de adultério coletivo forçado.

O título desta postagem corresponde a um dos jargões protestantes dos estudantes franceses em maio de 1968, segundo citação de uma professora de segunda-feira, que comentava conosco o quanto a nossa adesão a redes sociais cibernéticas, por mais bem-intencionadas que sejam, no plano da coletividade, estão inevitavelmente atreladas aos interesses escusos dos capitalistas, o que, nem de longe, nos convida a deixarmos de “tentar”...

A conjunção entre imagem e texto foi advinda de um simples fato cotidiano: na manhã de hoje, minha mãe levou a cabrita de nossa residência para passear. Ela fez cocô num sítio próximo e comeu grama direto da fonte. Ao voltar para casa, estava berrando de contente. Fiquei contente pelos três, portanto!

Wesley PC>

UMA VELA PARA HARRY REEMS!

Hoje é o aniversário de 63 anos de Herbert Streicher, mais um evangélico ativo que, nos tempos áureos, trabalhara como astro pornô. Para quem não se lembra, o pênis de Herbert Streicher tornou-se visualmente público através de filmes clássicos como “Garganta Profunda” (1972) e “O Diabo na Carne de Miss Jones” (1973), ambos dirigidos por Gerard Damiano e protagonizados sob o nome de Harry Reems. Porém, quem viu os filmes, talvez se lembre bem menos das ejaculações de gozo de seu astro central do que de seu cinismo, de seu bom-humor dominante, de sua propensão louvável à pornografia alternativa, prenhe de conteúdo. Por estes motivos, eu sou fã de seu elã sarcástico.

Procurando uma imagem adequada para anexar a este texto comemorativo, encontrei uma das minhas inúmeras fotos preto-e-branco de banho de chuveiro, sendo que algo mui particular aconteceu comigo desta última vez: excitei-me ao ver meu próprio órgão genital. Achei erótico admirar meu próprio pênis, inclusive no que diz respeito do orgulho que sinto ao contemplar minha desafiadora moita púbica. Em outras palavras: sou agora um objeto sexual de mim mesmo (risos)! Interessante é que eu sempre imagino como astros pornôs se vêem na tela, no sentido de que é bem sabido que eles consideram aquilo apenas trabalho, que eles fodem quando as câmeras estão desligadas de forma muito diferente de quando estão em cena. Será que um dia eu serei um bom aprendiz de ator pornô? Será que minha conversão provável a algum culto fanático-religioso imitará a estória deste ícone ‘pop’ ou levará em consideração os aprendizados legados pelo magno Santo Agostinho? Não vou aqui cair na tentação fácil de tentar responder. Ao invés disso, desejo um felicíssimo aniversário para o ex-judeu solteiro Harry Reems!

Wesley PC>

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DA SOLIDÃO NÃO SOLITÁRIA (OU: CUSTAVA TER FEITO UM ESFORÇO?)

Creio que a pergunta deva ser direcionada também para mim. Acabo de ver “O Espírito da Colméia” (1973), filme taciturno do espanhol Victor Erice e não sei bem se apreendi o filme da forma que se deve... Estava impaciente durante a sessão, com a mente perturbada por descrições equivocadas do filme, que é publicitariamente divulgado por um viés que ignora outros vieses coletivos da depressão que assola a pequena e maravilhosa protagonista...

Em “O Espírito da Colméia”, há um pai envelhecido que cultiva abelhas e ensina suas filhas a diferenciar cogumelos comestíveis de cogumelos venenosos. Uma delas tenta estrangular um gato e se finge de morta. A outra tenta reanimar alguém que não sabia estar se fingindo de morta e amarra os cadarços de um homem que vai morrer. A mãe é triste, o pai é triste, a professora é triste, o personagem visto no cinema é triste. A tristeza mata, mesmo quando não quer assim...

“Custava ter feito um esforço?”: pergunto eu, não somente a mim. Depois, vêm reclamar comigo que “relacionamento conturbado” é uma expressão proibida... Talvez devesse realmente ser, se a prática não conduzisse a tal. Custava ter feito um esforço?

Na cena mostrada em foto, meu coração tremeu: serão as garotinhas pisoteadas por um trem vindouro? É isso mesmo que elas querem, enquanto estratagema para se livrar da solidão reinante? Saberia eu definir com precisão o que é um espírito? Deus meu, por que existem filmes como este?!

Wesley PC>

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A BANDA QUE CANTA “DEUS”...

Ou, conforme cantado por Björk Guðmundsdóttir no primeiro disco de The Sugarcubes:

“Deus does not exist.
But if he does I always notice him.
Getting ready in his airy room.
He's picking his gloves so gently off.
He wants to touch me”


Baixei “Life’s Too Good” (1988) na madrugada de hoje e escutei-o no caminho para o trabalho. Planejo ouví-lo novamente no caminho para casa e, apesar de preferir a carreira solo e experimental da cantora islandesa, apreciei deveras a poesia cotidiana que se esbalda nalgumas canções, em especial, “Birthday”, sobre uma garotinha de 5 anos que se apaixona por um quinquagenário recém-aniversariante. Recomendo, portanto!

Wesley PC>

AINDA SOBRE “DEXTER” E (NÃO SÓ) A CONTEMPLAÇÃO SACRA DO BANHO ALHEIO...

Ainda sobre “Dexter”: não sei que episódio foi este, em que o protagonista aparece se banhando, mas ele engravida a sua namorada no terceiro ciclo de episódios, o que indica que, sim, ele fará sexo a qualquer momento de sua vida. Estas observações, porém, trouxeram à tona duas observações: a) depois de verem algumas fotos de minha nudez (frontal e traseira), minhas colegas de trabalho se dispuseram a me ajudar num processo de depilação púbica que, aprioristicamente, ainda me sinto arredio, em virtude de padrões diferenciados de estética genital juvenil; b) no caminho para a universidade, hoje pela manhã, deparei-me com um rapaz recém-acordado, sentado de pernas mui abertas à porta de sua casa. Seria um ato trivial tanto no que tange ao descanso dele quanto à minha observação rasteira, se o moço não fosse um rapaz bonito e manco e se o fato de ele estar sem cueca não provocasse a exalação muito proveitosa de um pedaço oblongo e ofidioforme de carne humana, aquele pedaço de carne que os biólogos graciosamente chamam de pênis, uma zona de interesse sempre renovado para qualquer leitor potencial de Sigmund Freud (ou seja, toda e qualquer pessoa), que brilhava ao refletir os raios de luz solar que primeiro acalantavam o gesso de sua perna machucada. Fiz o possível não diminuir o meu passo de forma tão evidente ou para não deixar tão à mostra que, à distância, eu contemplava a zona fronteiriça de seus testículos, mas não consegui: imaginei-o tomando banho, lembrei dos momentos de nossa infância em que brincamos no intervalo do reforço escolar dele, mas tenho certeza de que ele não lembra mais de mim. Pena...

Wesley PC>

terça-feira, 24 de agosto de 2010

IMPOTÊNCIA SEXUAL < IMPOTÊNCIA SOCIAL

Apesar de ter me empolgado bastante com a ótima construção do personagem que protagoniza o seriado televiso “Dexter”, não havia tido motivação suficiente, até o momento presente, para assistir aos novos episódios já salvos em meu computador. Depois de ter acesso a um episódio tardio da terceira temporada na TV, fiquei curioso com algumas elipses em meu entendimento e, de ontem para hoje, tive acesso a “It’s Alive!” e “Waiting to Exhale”, respectivamente, primeiro e segundo episódios da segunda temporada. No primeiro, o protagonista (que, como todos sabem, é um psicopata potencialmente reabilitado enquanto ‘serial killer’ de ‘serial killers’) não consegue ter uma ereção quando sua namorada traumatizada por ter sido violentamente estuprada repetidas vezes tenta agarrá-lo à força. No segundo, acompanhamos a sua agonia por saciar o desejo/vício de matar, buscando alguém que se enquadre em seu minucioso código ético (invertido?), adaptado pelo pai adotivo que o levou a ser policial. Para além de eu perceber, a cada episódio, que o roteiro da série se desdobra em fórmulas repetitivas de mais ou menos cinqüenta minutos de duração, não tem como eu não me chocar, surpreender, escandalizar com a coragem dos produtores em levar à frente um tema tão controverso quanto este, um personagem tão delicado quanto aquele maravilhosamente protagonizado por Michael C. Hall. Digo mais: é muito visceral o grau de identificação (pró ou contra) que toma meu cérebro e meu corpo sempre que Dexter Morgan confessa seu fastio sexual, seu completo desinteresse pelos intercursos eróticos, a inexistência de detalhes masturbatórios em sua biografia anunciada, etc.. No episódio que vi ontem, inclusive, o que menos incomoda o personagem é a impotência sexual propriamente dita, mas sim a cobrança sexual de ordem social, a suposta necessidade de ter que provar algo a outrem: de que pode ser normal, quando ele não se sente assim. Digo mais: com todos os defeitos evidentes deste seriado (conforme sói acontecer com muitos outros), ouso insistir que ele é genial! Recomendo, de paixão.

Wesley PC>

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

REFLEXOS INICIAIS DE “COMO E POR QUE LER”:

Publicado em 2000, este livro basilar do crítico literário Harold Bloom pretende “ensinar” o leitor a ler. Ao contrário do que este verbo parece supor, a pretensão do autor do livro não é esnobe, muito pelo contrário, aliás, conforme discriminado nos cinco princípios de boa leitura que ele explica na sua introdução. Dentre os cinco, três me pareceram dignos de menção entusiasmada: um que sugere o abandono da presunção; outro que recomenda que o leitor não se preocupe em corrigir a conduta do próximo; e um último que conduz ao resgate da ironia. Segundo o autor, inclusive, todos estes cinco princípios resvalam na premissa de que a empatia entre leitor e livro é indicada como essencial, conforme se demonstra através dos exemplos literários que se seguem nos demais capítulos do ótimo livro.

Tomei este breve ponto de partida para imaginar, de minha parte, o que eu escreveria (supondo que dispusesse de tal autoridade) caso digitasse aqui uma lista de “Como e Porque Ver Determinados Filmes”. Parafraseando o estilo envolvente do crítico Harold Bloom, disporia minhas observações passionais sobre o cânone cinematográfico mais comumente recomendável e, dentre os filmes, dilacerar-me-ia em elogios e recomendações rasgadas a “Blade Runner, o Caçador de Andróides” (1982), pérola retro-futurista de Ridley Scott que ainda permanece como um dos filmes mais geniais e sub-compreendidos já vistos por mim. Digo mais: esboça-se aqui um pressuposto mais ambicioso de escrita crítico-literária/cinematográfica de minha parte. Quem sabe eu não consiga pôr em prática qualquer dia? Quem sabe um dia eu não encontrei meu próprio engenheiro genético (vulgo Sebastian) e ganhe mais “quatro anos de vida”? Quem sabe...?

Wesley PC>

UM NOVO DIA COMEÇA!

“Mas fazemos o possível para voltar as costas a tudo o que é sombrio e encarar de frente o sol. Em resumo, embora adotemos certas técnicas de ensino, estamos mais interessadas na comunicação do que na composição. Isto é, apesar de todo respeito que temos por Shakespeare e outros escritores, queremos que nossas meninas se comuniquem livremente com o mundo trepidante à sua volta, em vez de viverem mergulhadas em livros velhos e mofados. Talvez ainda estejamos tateando, mas estamos tateando de forma inteligente, como um ginecologista que apalpa um tumor” (capítulo 4 da parte II de “Lolita”, de Vladimir Nabokov)

A cada nova página lida deste livro seminal (no sentido mais literal do termo, inclusive), eu me espanto com o quanto temores caros à minha própria forma de amar alguns seres assemelha-se à hiper-proteção paternalista/incestuosa do vilanesco Humbert Humbert, execrado por leitores e críticos, perdoado ou espelhado (ao menos, até então) por mim, no que tange às similaridades do fracasso amoroso, conforme denunciado nestas técnicas “modernas” de educação, explicitadas pela diretora envelhecida de um colégio particular para moças em que ele deseja matricular a caprichosa ninfeta por quem se apaixona e perverte.

Pitorescamente, tais palavras, relidas à meia-noite desta segunda-feira, ecoaram fortemente nas minhas ações dominicais recentes, visto que estive prontamente disposto a vigiar os hábitos masturbacionais de um freqüente parceiro proto-sexual e o vi se desvencilhar graças à malevolência de uma comemoração doméstica regada a subprodutos musicais de deletéria qualidade, o que me levou ao sono e à espera vã (não o vi sair de casa, nem tampouco regressar), felizmente compensados por um bom filme, o único que vi neste domingo: “Férias Frustradas de Verão” (2009, de Greg Mottola), em que o belo personagem do magnético e merencório Jesse Eisenberg confessa à rapariga por quem se apaixona que ainda é virgem, o que explica – e muito! – o porquê de ele ter uma ereção evidente quando se banha com ela numa piscina. Na bela cena que se segue, ela pede para enxugar a sua cueca numa secadora de roupas (“não se preocupe, eu devolvo!”), ao passo em que eu...

Um novo dia começa!

Wesley PC>

domingo, 22 de agosto de 2010

EU TENHO QUE VER ISSO!

Vivi 29 anos de minha vida sem saber que existia um cineasta indiano popularesco chamado Krishna Shah no mundo. Vivi sem saber que, antes de ele realizar filmes de terror B misturando zumbis com colegiais metaleiros nos EUA, ele havia dirigido “Armadilha Mortal” (1978), fracasso de público em Bollywood, mas que se tornara mundialmente célebre três anos antes de seu lançamento pro causa da trilha sonora memorável, comandada pelo músico Rahul Dev Burman, trilha sonora esta que eu tive a oportunidade de ouvir duas vezes na tarde de hoje e, puxa, que bela combinação de sons ocidentais “indianizados”!

A faixa de abertura, “Title Music” (ao que parece, a que acompanha os créditos de abertura do filme) é simplesmente perfeita e climática, merecendo ser repetida várias e várias vezes por mim, antes de tirar um caloroso cochilo vespertino. A faixa 2, “One, Two, Cha Cha Cha” revela em seu próprio título o escracho e a coletânea de citações estrangeiras, mas não foi muito de meu agrado não, apesar de ter gostado da voz de Usha Uthup. As demais faixas destacam-se pelo bom uso dos corais e pelo aproveitamento memoráveis dos instrumentos locais, mas é a nona faixa a que mais brilha no disco, “Mera Pyar Shalimar”, interpretada pela esposa do compositor, Asha Bhosle. O que é engraçado na coletânea, aliás, é que cada uma das dez faixas emula um gênero fílmico diferente (do policial jazzístico de abertura ao drama religioso da última faixa, passando pelo musical evasivo, pela comédia satírica e até pelo suspense horripilante. Conclusão auditiva: o filme que serviu de base a esta trilha sonora (ou vice-versa) deve ser uma bagunça tremenda, mas, ainda assim, fiquei com muita vontade de conhecê-lo (risos). Tomara que o faça antes de chegar aos 30 anos de idade...

PS: como cheguei a este disco? Digamos que ele seja o 340º exemplar comentado no livro “1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer” e, em meio à anglofilia formulaica da enciclopédia, é uma pequena jóia escondida, esperando o talento seletor de Quentin Tarantino para ser revelada ao mundo. É bem a cara dele!

Wesley PC>