sábado, 4 de setembro de 2010

SE A CARAPUÇA SERVIR...


Manhã de hoje. Filme do Jean Epstein depois de um sono longo: “O Espelho de Três Faces” (1927). Pensamentos recorrentes na cabeça: vontade de ligar para ele, medo de levar um tapa sonoro. Gilles Deleuze & Félix Guattari na madrugada. Comentários sobre as fotos nuas da Cléo Pires com um vizinho. “Prefiro as fotos arreganhadas da revista ‘Sexy’!”. Ciúmes? Terapia de casal. The Young Gods no aparelho de som. Música boa, barulhenta. Ajuda a esquecer a minha dor de cabeça. A de minha mãe, não. Sábado de manhã. Vontade de sair. Necessidade de sair. Vontade de reencontrar ele. Medo de reencontrar ele. Vontade, desejo, necessidade. Para quê aspear o que é consensual? A de Amor, R de Amor, W de Amor, qualquer letra é letra de Amor! “É que o meio não é uma média; ao contrário, é o lugar onde as coisas adquirem velocidade. Entre as coisas não designa uma correlação localizável que vai de uma para outra e reciprocamente, mas uma direção perpendicular, um movimento transversal que as carrega uma e outra, riacho sem início nem fim, que rói suas duas margens e adquire velocidade no meio.” (“Mil Platôs – Vol. 1” – Fim do capítulo inicial: “Introdução: Rizoma”). Amo! E o protagonista morre por não saber escolher...

Wesley PC>

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

PRIMEIRO E ÚNICO ÁLBUM DA BANDA DE MESMO NOME:

Eu deveria aspear esta antonomásia situacional, visto que é assim que a Wikipédia se refere ao disco “Canto dos Malditos na Terra do Nunca” (2006), disco que venho ouvindo antes de vir para o trabalho nos últimos três dias. Relutei um pouco em assumir que gostei dele por dois motivos principais: a) o irrelevante: parte da crítica e do público tacha o álbum de fútil, em razão da combinação entre chororô e guitarras que marcam as 12 canções; e b) o subjetivamente importante: conforme anunciado em várias situações anteriores (vide exemplos 1, 2 e 3), tenho um problema tangente à apreciação musical no que se refere ao potencial de identificação entre o que o eu-lírico do artista canta e o que eu, enquanto espectador sonoro, reproduzo ao cantarolar. No caso em pauta, a vocalista Andréa Martins repete em várias canções, com sua voz de dopada contagiosa, que comporta de maneira desdenhosa em relação aos sentimentos de alguém que ela reluta em confessar que ainda ama (“olha a minha cara de quem gosta de você/ Cuspo na tua foto, faço cena de TV, pra ver/ Que você ainda gosta de mim”), mas que não consegue tirar do pensamento. Não sei se eu conseguirei agir desta forma algum dia (ou seja, a identificação é tênue), mas o disco grudou no meu subconsciente. Fofinho mesmo!

“Olha em mim procura o que te faz voltar
E eu não preciso nunca mais me preocupar
É que a esperança já não dança mais sem você aqui
Eu aceito esse teu defeito de esquecer que gosta de mim
Eu tenho pressa que a dor pode voltar
Vem depressa sem essa pro teu lugar”
(faixa 05- “O Que Te Faz Voltar”)

Quem me viu, quem me vê...

Wesley PC>

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

“A GENTE PODE SE SENTIR LIVRE MESMO SEGUINDO REGRAS PORQUE SOMOS NÓS MESMOS QUEM FAZEMOS ESTAS REGRAS”...

Esta foi mais ou menos a conclusão aforística a que uma de minhas professoras chegou na manhã de hoje quando explicava a sua turma como se constituíam os quatro tipos de poderes (econômico, político, coercitivo e simbólico) segundo definição do teórico inglês John B. Thompson, a partir de taxonomia bordieuiana. E, foi de posse deste referencial, que eu me surpreendi levemente diante de “Garoto Estúpido” (2004, de Lionel Baier), filme suíço mui elogiado pelo público ‘gay’. Pensava que fosse detestá-lo. Não foi o caso. O filme vai muito além do que as imagens de divulgação permitem antever...

O protagonista Loïc (Pierre Chatagny) é um garotinho realmente estúpido, que passa o dia a programar encontros sexuais para Internet e se chateia quando os homens com quem fode começam a conversar com ele. Por causa desta subsunção atroz à carnalidade, ele fica sem saber o que quer dizer impressionismo, blasfêmia ou quem foi Adolf Hitler. Pesquisa rapidamente sobre tais assuntos numa enciclopédia e depois conversa com uma amiga, com quem nutre uma relação possessiva que ultrapassa as conseqüências triviais do ciúme. Depois que ele se apaixona por um jogador de futebol português, fatos do destino que resultam em morte obrigam-no a conscientizar-se. Ou talvez, conscientizar-se de que conscientização não é realmente algo que ele quer. Assim sendo, após presenciar uma passeata contra a globalização, ele mergulha numa divagação conscienciosa mui similar (quase um plágio) àquela que marca o desfecho de “Trainspotting – Sem Limites” (1996, de Danny Boyle), mas... Não sei bem se entendi o que o diretor e roteirista quis dizer com isso... O final do filme é ambíguo, literalmente!

Apesar de recair em vícios caros ao sobre-gênero filme ‘gay’, “Garoto Estúpido” possui qualidades mui recomendáveis no que tange à ampliação dos objetivos e interesses de homossexuais jovens e promíscuos, ensinando-os que existe algo mais do que vibradores pretos e ‘piercings’ testiculares no mundo. Posso não ter gostado muito do filme, mas a sua própria ambigüidade estrutural faz com que ele valha à pena. Recomendo brandamente.

Wesley PC>

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SE EU GOSTEI DO 'SHOW'?! BOM...

Já entrei em várias discussões polêmicas tentando defender meu ponto de vista confuso (até para mim mesmo) sobre o porquê de eu preferir ouvir discos de estúdio do que participar de concertos ao vivo. Um dos motivos principais desta minha preferência não intransigente está no fato de que nem sempre me filio às concessões de público a que os artistas são obrigados a se submeter, se quiser continuar a ter um público para lhe fazer exigências.

Pois bem, na recente passagem do guitarrista Dado Villa-Lobos por Sergipe, eu fiquei tão encantado pelo charme dele que não agüentei: fui para a frente do palco. Puxei meu cúmplice Américo pelo braço (e vice-versa) e cantei alto todas as canções que sabia. Um bando de guris insistia em clamar pela Legião Urbana, pedia que o artista cantasse músicas compostas e popularizadas por Renato Russo. E, aos poucos, Dado Villa-Lobos atendia, para minha frustração (que queria ver suas músicas ou, no mínimo, as versões de canções alheias e afins que compõem seu álbum solo) e vergonha (algo que Anderson Luís e outras pessoas hão de concordar comigo) ao que o público pedia e encetava canções mais do que cultuadas como “Eu Sei”, “Por Enquanto” e “Que País é Esse?”. E, enquanto parte do público ia ao delírio, outra parte reclamava: “que bom que eu não paguei para ver este ‘show’, senão eu iria sair bastante chateado”....

Quanto a mim, se gostei? Julgando tudo o que ali vivi de forma bastante subjetiva (tem como não ser?) não titubeio em dizer que gostei muito. Não obstante a exigüidade de músicas próprias e alguns outros problemas “previsíveis”, não conseguia desviar meu olhar do magnetismo ‘pimba’ do guitarrista, incapacidade desviante esta que chegou ao ápice durante a execução da faixa tardia do Legião Urbana, “Dado Viciado”, cuja letra fala sobre a destruição cotidiana de um hipocorístico homônimo do artista, progressivamente viciado em heroína. Fiquei espantado com o bom humor do artista e com sua capacidade de auto-afirmação nestes termos, o que soou deveras estranho quando somado aos discursos conservadores do DCE que permearam todo o evento e à ode à formação universitária convencional que o guitarrista pôs para fora em dado momento do final de seu concerto. Digo mais: fiz de conta que não ouvi isso. Estive lá para me surpreender com seu elã e foi isso o que aconteceu – Por mais que tenham ficado em minha frente em mais de um momento!

Wesley PC>

terça-feira, 31 de agosto de 2010

QUANDO TERMINA DE UM JEITO PARECIDO COMO SE COMEÇOU É COMO SE NÃO TIVESSE ACONTECIDO NADA?

Na primeira cena de “Primavera Numa Pequena Cidade” (1948, de Fei Mu), a protagonista caminha sozinha por uma estrada arborizada de terra, narrando a estória que veremos em seguida. “Todas as manhãs, eu vou ao mercado sozinha. Não presto atenção em nada do que acontece ao meu redor quando estou caminhando. Concentro-me apenas naquilo que trago nas mãos: a cesta cheia de verduras, de um lado; e os remédios de meu marido doente, do outro”, diz ela. Na última cena, vemo-la percorrer a mesma estrada, igualmente sozinha. O discurso e os atos atrelados serão bem outros...

Peço desculpas por ter revelado parte visual do desfecho deste filme, enciclopedicamente considerado “o melhor filme chinês de todos os tempos”, mas há uma explicação plausível para este meu abuso sinóptico: quanto mais eu me embrenho na arte de assistir a filmes, percebo que uma das fórmulas mais dominantes entre os ditos “filmes de arte” e/ou “filmes independentes” é aquela que nos permite reconhecer a proximidade da conclusão de uma dada trama quando nos pomos diante de uma cena muitíssimo similar à que abriu a película. Foi mais ou menos o que aconteceu no caso em pauta...

Friso o “mais ou menos”: segundo categorização certeira do crítico norte-americano David Bordwell, os filmes hollywoodianos são embasados numa fórmula resolutiva essencial: situação => conflito => situação modificada. Acontece assim nos faroestes, nas comédias adolescentes, nos dramas, em quaisquer gêneros hollywoodianos consagrados. Porém, se isto se manifesta na própria condução tramática dos filmes, no caso dos filmes “alternativos”, tal fórmula aparece na própria configuração formal das obras, em imagens e sons recorrentes, que, ao contrário do que se possa antever de supetão, nem sempre carregam consigo os germes da modificação. Ou vice-versa.

Voltando a “Primavera Numa Pequena Cidade”: a mulher que conduz a narrativa é amargurada. Submissa ao marido, ela percorre diariamente lugares arruinados em decorrência da II Guerra Mundial. Seu marido é doente e impotente, e se auto-considera um fracassado por causa de todo o dinheiro e prestígio que perdera. Seu mordomo permanece teimosamente fiel a tradições progressivamente derruídas. E a irmã mais nova do marido doente “vive em seu próprio mundo de ilusões”, conforme descreve a narradora, ainda apaixonada por um colega de juventude, que visita a residência do casal, agora comodamente formado em Medicina. “Situação modificada”.

Enquanto eu me sentia um cúmplice espectatorial de personagens tristonhos que iam e vinham, mas faziam sempre as mesmas coisas, repetiam sempre as mesmas ladainhas românticas irresolvíveis. Deles e minhas! E eu ficava repetindo para mi mesmo, durante a sessão: “pára de ser assim, Wesley! Deixa ‘ele’ em paz”. Mas, ao final, acho que não deu muito certo. Há pensamentos que não se controlam... Lindo filme, lindo!

Wesley PC>

VEJA RECOMENDA: GOGOL BORDELLO

O hebdomadário mais influente (com tudo de rasteiro e perigoso que o termo implica) do Brasil possui uma sessão curta em que recomenda discos e filmes recentes. Na última edição desta revista, chegada às bancas no domingo, há uma breve resenha indicativa do quinto álbum da banda de ‘punk cigano’ policultural Gogol Bordello, chamado “Trans-Continental Hustle” (2010). Influenciável como eu sou, baixei o tal CD no mesmo dia e, na manhã de hoje, estava lá eu investigando analiticamente o que o tal disco estava causando em mim, afiliado que sou ao gênero, em razão de meu fanatismo pelo sérvio Goran Bregovic.

Para minha leve decepção, apesar das raízes russas, equatorianas, etíopes, israelenses e até mesmo brasileiras da banda, muitíssimo numerosa, o inglês é o idioma que predomina nas canções, é a língua que dá o tom do disco. Ainda assim, faixas como “Pala Tute”, “My Companjera”, “We Comin’ Rougher (Immigraniada)”, “Uma Menina Uma Cigana” e “Last One Goes the Hope” satisfizeram o meu fervor pós-moderno. Ouvi o disco, via Internet mesmo, durante todo o meu intervalo vespertino de ontem e percebi que minha mãe e minha cachorra grávida curtiram deveras a sonoridade mais agitada do disco, não obstante os críticos advertirem-nos que eles estão bem mais contidos do que nos quatro trabalhos anteriores. Pode até ser, mas, mesmo assim, vale a pena conhecer a banda... Com tudo de limitado que esteja implicado não somente no sub-aproveitamento das influências panculturais e na própria revista em que encontrei a recomendação (risos)!

Wesley PC>

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

“ATÉ MESMO A MAIS MISERÁVEL DAS VIDAS EM FAMÍLIA ERA PREFERÍVEL ÀQUELA PARÓDIA DE INCESTO”! (PÁGINA 290 DE MINHA EDIÇÃO)

Estou chegando aos capítulos finais de “Lolita”, livro publicado em 1956 por Vladimir Nabokov, e um frio percorre a minha espinha ao constatar a aplicação da constatação acima, que, afinal, é uma das poucas impressões que sobrevivem incólumes às divergentes versões cinematográficas de Stanley Kubrick (que eu não gosto, apesar de seu classicismo) e de Adrian Lyne (que me seduz deveras, apesar de seu erotismo forçadamente ‘pop’)... Estou chegando ao final do livro – e estou igualmente encantado e preocupado com o que sei que encontrarei ali!

Na foto, a mesma Sue Lyon que protagonizou “Lolita” (1962) folheia o livro que a tornara célebre, em “Una Gota de Sangre Para Morir Amando” (1973), expressivo filme de Eloy de la Iglesia, sobre uma enfermeira que assassinava, depois de foder, homens que reclamavam de suas vidas sofridas. No livro, o inverso é o que predomina: vidas sofridas são as que mais merecem ser mantidas! Glupt!

Wesley PC>

PAUTA DO DIA: O CONCERTO DE DADO VILLA-LOBOS NA UFS, AMANHÃ À NOITE

Para uma das aulas práticas de Jornalismo em que estou matriculado neste período, precisei pesquisar algum assunto sergipano digno de se tornar notícia. Lembrei que, graças a uma proposta de evento do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade em que estudo, o guitarrista Dado Villa-Lobos, nascido na Bélgica em 29 de junho de 1965, apresentar-se-á em São Cristovão - SE na noite de amanhã. Estou, desde já, ansioso para comparecer a este evento.

Ignorando-se a vinculação deste artista à cultuada banda Legião Urbana – da qual possuo traumáticas memórias de adolescência e uma benfazeja redescoberta adulta e cujo nome evoca detalhes passionais extremos e distintos – posso dizer que sua carreira solo é minimamente interessante, já tendo sido rapidamente (bem rapidamente mesmo!) aqui. Antes, porém, que eu tivesse acesso a este CD – “MTV Apresenta Jardim de Cactus – Ao Vivo” (2005) – já havia simpatizado sobremaneira com as boas trilhas sonoras de Dado Villa-Lobos e sempre fui seduzido por sua impressionante beleza física (vide fotografia acostada a esta postagem). Visando aproveitar adequadamente sua apresentação local, dediquei a noite de ontem e a manhã de hoje à audição repetida deste disco, muito fofinho, afinal de contas.

A faixa de abertura, “Dois Ouvidos”, pelo que entendi, é uma faixa instrumental que contém uma breve observação falada pelo maestro Heitor Villa-Lobos (seu tio-avô legítimo) sobre o que é o prazer musical. A canção seguinte, precisamente a faixa-título do disco, conta com a colaboração da charmosa Paula Toller nos vocais e enumera com justeza e encanto as contradições da imersão de indivíduos no capitalismo dominante (“Não sabe se quer/ Não sabe o que e bom ou ruim/ Não sabe sequer/ O que você planta no seu jardim”). A terceira faixa é uma regravação de “Diamante”, composição de Nenung para a ótima banda ‘hippie’/budista gaúcha Os The Darma Lovers. Muito boa, aliás, capta bem a magia já contida na interpretação original.

Somente estas três faixas comentadas me permitiriam dizer que o disco é agradável, sim, e que o artista não é somente um rosto (e/ou corpo) bonito ou um mito do ‘rock’ nacional, mas um competente tateador do universo musical contemporâneo brasileiro. No restante do disco, aliás, destaco a bela colaboração com a voz doce de Lia Galdino em “Luz e Mistério” (faixa 7, composta por Beto Guedes & Caetano Veloso), a ingenuidade cativante da letra de “Quase Nada” (faixa 8, que prediz algo como “Os lugares são simples, paisagens tão belas, mas dentro delas nao há nem eu, sem ela”) e a pitoresca (na falta de outra palavra melhor) reutilização de “Conexão Amazônica”, contida no terceiro disco lançado pela banda que tornou o Dado Villa-Lobos famoso. No geral, “Jardim de Cactus – Ao Vivo” deixa entrever um catatau de equívocos, mas, quando acerta, cativa, de maneira que eu, com certeza, estarei presente ao tal concerto – e vou muito além de meu exercício de Jornalismo ao assumir, confessar e recomendar isto!

Wesley PC>

domingo, 29 de agosto de 2010

INGMAR BERGMAN, FELIZ?

Talvez “feliz” seja uma palavra muito forte, admito, mas “Juventude” (1951, de Ingmar Bergman) é um filme prenhe de esperança, sim!

Apesar de ser um dos mais leves, melhores e mais bonitos filmes do diretor, em minha opinião, “Juventude” é pouquíssimo conhecido. Ou era, até ser recentemente lançado em DVD e popularizado. Vi-o na tarde de hoje e ainda estou hipnotizado e encantado por seu fulgor juvenil. Um dos poucos filmes do diretor em que a protagonista pode se dar ao luxo de perguntar: “por que eu deveria estar chorando, se eu me sinto feliz?”. Quantas e quantas vezes pudemos encontrar este tipo de atitude advinda de uma personagem bergmaniana, em especial, feminina? Quantas?

Tudo bem que se possa dizer que alguns de seus filmes produzidos na década de 1950 ainda sejam crivados por um tantinho de esperança, mas o que vi em “Juventude” mexeu pessoalmente comigo: uma bailarina de 28 anos (“com corpo de 18, mas rosto de 45”) está ansiosa durante o ensaio definitivo de uma peça tchaikovskiana. Subitamente, ela recebe um diário antigo, escrito por um amor de juventude, falecido num contexto acidental lamentável. Antes que saibamos em quais condições o encantador Henrik (Birger Malmsten) falecera, somos cúmplices da personagem principal no doce interlúdio de verão que compartilha com seu amado, desde o momento em que eles se conhecem no barco até os instantes em que a necessidade constante de ela ensaiar seus passos causam os primeiros lastros no casal. Proíbo-me, aliás, de seguir em frente na exposição de eventos do enredo, a fim de não prejudicar o deslumbre de quem ainda não viu o filme, mas, insisto: é lindo, como nem mesmo o próprio Ingmar Bergman havia realizado antes e depois disto!

Diante do filme, lembrei de eventos marcantes de minha própria vida, questionei o quanto eu seria digno de relembrar aqui a minha própria juventude, rememorei situações passionais de minha existência que foram tragicamente interrompidas mas que não foram lancinadas pelo arrependimento. Neste sentido, insisto que o filme é feliz. Não resignado, não conformado, não otimista (palavra intimidadora), mas... Feliz! E isto vale muito a pena, vindo de quem veio...!

Wesley PC>