sábado, 11 de setembro de 2010

COMO SE EU REALMENTE TIVESSE DEIXADO MINHAS UNHAS CRAVADAS NO ÔNIBUS DA PARTIDA...

Passei manhã e tarde de hoje num município inóspito chamado Santana de São Francisco. Trabalhei como fiscal de uma prova estudantil, em que diversos garotinhos egressos de escolas públicas precárias encantavam-se com a possibilidade de serem nacionalmente laureados. Enquanto eles faziam as provas, eu passeava pelas dependências da escola e deparei-me com banheiros depauperados, sujeira em todos os ambientes, a dilapidação costumeira da Indústria Cultural exalando dos altissonantes aparelhos de sons vizinhos... Ao passo, porém, que eu me entupia de compaixão sincera por aquelas pessoas, tentava justificar para mim mesmo e para outrem o porquê de ser do jeito que sou no que tange às minhas paixonites obsessivas (uma delas em particular). Fui reapresentado ao mundo no trajeto.

Antes de dormir, na noite de ontem, havia visto um filme italiano chamado “O Tigre e a Neve” (2005, de Roberto Benigni), em que seu diretor é costumeiramente criticado por abordar de forma superficial os horrores da guerra do Iraque. Enquanto bombas explodiam, pessoas morriam, e os norte-americanos cometiam erros de julgamento balístico num país estrangeiro, o protagonista do filme lutava contra tudo e contra todos para conseguir remédios para sua amada comatosa. E, por mais que eu tivesse plena consciência de que o filme era defeituoso, inverossímil e afetivamente oportunista, ele me afetou lancinantemente, identifiquei-me bastante com ele e concordei sobremaneira com a crítica anglofílica alheia, acima acostada. Que fique o dito pelo não-dito, por enquanto...

Wesley PC>

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O PODER DE UM ‘TRAILER’! - 2

Conforme aconteceu com o Gogol Bordello, também descobri a dupla The Swell Season, assim configurada enquanto dupla, através do hebdomadário Veja. Os integrantes da banda, porém, já eram mui conhecidos de meus amigos gomorrenses através do filme irlandês “Apenas uma Vez” (2007, de John Carney), do qual eu não gosto muito, mas, como já disse antes, sou aficcionado pela trilha sonora. Assim sendo, fiquei interessado em conhecer o novo disco do irlandês Glen Hansard e da tcheca Marketa Irglová, “Strict Joy” (2009), mas relutei em baixá-lo, pois meu computador já está entupido de arquivos. Na manhã de hoje, enquanto eu enviava mensagens de celular para justamente um fã da dupla, dou de cara com o videoclipe de “Low Rising”, faixa 1 do disco, sendo exibido no canal pago VH1. Fiquei apaixonado!

Mesmo que não se conhecesse a tradução da letra da canção ou que não se conhecesse o histórico pessoal de separação dos integrantes da dupla, o espectador mais leigo em hermenêutica sentimental compreendia plenamente o que se passava na narrativa do videoclipe: um homem e uma mulher haviam brigado e lutavam para permanecer juntos. Um jato perpétuo de chuva o acompanha e outro jato a acompanha. Chove enquanto ele come, chove enquanto ele faz a barba, chove enquanto ela passa roupa, chove enquanto ela se arruma para sair. Ambos sérios, ambos ressentidos, ambos tristes. A faixa dura 4 minutos e 47 segundos. Somente ao final do videoclipe, o casal se reencontra. Estavam lado a lado na mesma mesa, mas não se falaram. O máximo de contato que ela tentou foi olhar com compaixão para o prato dele, onde um ovo estrelado era encharcado de água pluvial. Ao final, ele sorri. Ela, bem mais triste (e carismática, e bonita, e simpática, e doce, e frágil) que ele, permanece inane, chorosa, com o jato d’água inclemente sobre seu corpo. Magnífico videoclipe!

Ao meio-dia de hoje, não deu outra: estava baixando o CD e, horas depois, ouvi-o com atenção na rodoviária de Aracaju. Por dentro, a tênue esperança contida no título do disco combinava-se aos anseios pela baixa ascensão de que fala a letra. É-me um consolo, ao menos isto:

“Low rising
'Cause there's no further for us to fall
Low Rising
Oh, for the love of you”


Recomendo de pé – e com os olhos prestes a serem encharcados de uma água que não vem da chuva.

Wesley PC>

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O PODER DE UM ‘TRAILER’!

Não sou um admirador do pretensamente estiloso Darren Aronofsky. A bem da verdade, tendo a dizer que o detesto. Desgostei de “π” (1998), tenho problemas ideológicos com o moralismo exacerbado de “Réquiem Para um Sonho” (2000), detestei o abominável “Fonte da Vida” (2006) e acho “O Lutador” (2008) apenas simpático. Porém, vendo o primeiro ‘trailer’ de “Cisne Negro” (2010) na noite de hoje, fiquei ansiosíssimo para ver este novo filme, ansioso para conferir a sua estréia.

Na trama, Natalie Portman interpreta uma bailarina que exige demais de si mesma, em mais de um sentido. De repente, ela passa a ser fortemente atormentada pela rivalidade com outra bailarina, que passa a dispor de privilégios e elogios que, até então, eram seus. Há, porém, um agravante nesta rivalidade: a concorrente da bailarina protagonista pode não ser real, ser uma projeção atormentada da mente dela, algo que o diretor, com certeza, explorará com seus exageros visuais característicos, apoiado pela trilha sonora prontamente excelente do admirável Clint Mansell. Estou ansioso (e, ao mesmo tempo, temeroso) para ver, mas só chega ao Brasil em março de 2011. Que venha o que vier...

Wesley PC>

CONCLUSÃO # 399: QUEM GOSTA DE PÉRE UBU É FÃ DE TALKING HEADS!

É incrível como parece!

Numa dada conversa de MSN em 2003, percebi que um amigo esquálido ouvia uma banda chamada Pére Ubu enquanto conversava comigo. Achei o nome familiar e disse que conhecia, mas, na verdade, eu estava a confundir o nome da banda com a peça de Alfred Jarry de onde o título foi extraído. Lembro que meu interlocutor ficou empolgado: “tu já ouviste Pére Ubu?! E o que achaste?”. Não soube o que responder. Depois que baixei “Dub Housing” (1978), percebi que nunca tinha ouvido esta banda. Conheci o som deles ontem e, caramba, como parece com David Bowie ou Talking Heads, artistas de quem o meu amigo é demasiado fã! Tudo se explicou facilmente à primeira audição...

Apesar de ser enciclopedicamente tachada como uma banda de ‘post-rock’, o Pére Ubu corresponde ao que eu aprendi a reconhecer como ‘new wave’. As canções são demasiado experimentais, intelectualizadas ao extremo, repletas de citações eruditas e discursos protestantes facilmente compreensíveis. Gostei da abertura com “Navvy”, curti os grunhidos incidentais da faixa-título (que eu não sei como traduzir, mas a gravura da capa é aparentemente elucidativa) e achei “Caligari’s Mirror” uma fofura. Entretanto, tenho ainda que aprimorar muito a minha recepção anglofílica a fim de apreender a contento tudo o que este álbum tem para me transmitir...

Wesley PC>

SÓ CONFIRMANDO...

1 – O guri que eu vi dormindo na sala na aula matutina de hoje e que me flagrou olhando-o com insistência apareceu em meu local de trabalho e me fez uma série de perguntas “suspeitas” por quase meia-hora. Será que ele desconfiou que eu escrevi sobre ele em meu diário?

2 – Vi um filme dinamarquês adolescente incensado por homossexuais ao meio-dia de hoje e, por mais que os personagens agissem de forma sexualmente espirituosa, não me convenci sobre a sinceridade nostálgica adotada pelos diretores Ernst Johansen & Lasse Nielsen em “Você Não Está Sozinho” (1978). Achei o filme datado, as crianças desinteressantes e a trilha sonora enfadonha, mas o plano intrafílmico que encerra a projeção é muito bonito (e um tantinho inverossímil). Leva um 5.8 por causa disso...

3 – Na noite de hoje, uma das mulheres que trabalham comigo (e que aniversaria este mês) chegou nervosa ao nosso setor, angustiada por descobrir que sua mãe está padecendo de trombose. E eu tive um ataque de nervos antes de verificar que a fila para recadastrar a carteira de passe estava muito longa. Poderia me arrepender, mas não consigo. Errei de novo!

Wesley PC>

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O QUE W. SOMERSET MAUGHAM TERIA A DIZER SOBRE MIM?

Parece um exercício tolo de lamentação literária imaginar isso, mas, depois de finalmente ter enfrentado as 69 páginas de uma versão reduzida do romance “O Fio da Navalha” (1944), deste grande novelista melancólico norte-americano, eu devo fazê-lo: o que teria ele a dizer sobre mim?

Li o romance em versão reduzida sem saber que o fazia. A edição que possuo é em inglês e faz parte de uma coleção destinada ao ensino deste idioma para leitores intermediários. Possuo-a desde que tinha 13 anos de idade, mas nunca havia me aventurado a lê-la por completo. O fiz hoje e arrependo-me um pouco agora, ao saber que consumi uma versão incompleta, alterada, deformada do romance. Porém, creio que o fulcro da estória permanece o mesmo: o autor questionando os caminhos que seus amigos tomaram no que tange à busca da felicidade.

Basicamente, seis personagens meneiam a trama: o narrador, sempre à parte, sempre impessoal, mesmo quando exagera nos elogios aos seus convivas; o sedutor Larry, que se converte numa espécie voluntária de guru, depois de uma viagem à Índia; o rico e esnobe Elliott, que sofre bastante quando percebe que sua velhice é hostil a seus amigos fúteis; sua irmã Isabel, que deixa de casar com Larry em razão de sua inferioridade social; Gray, esposo de Isabel, inicialmente rico, mas que adoece e empobrece em razão da queda vertiginosas da Bolsa de Valores nova-iorquina no fatídico ano de 1929; e, finalmente, Sophie, amargurada mulher que se deixa viciar em álcool e ópio depois que seu filho e seu marido morrem num acidente de carro, apaixonando-se posteriormente por Larry e causando fúria e inveja na ressentida Isabel. Basicamente isso!

Os meandros romanescos e burgueses da trama nem sempre me convenceram dramaticamente, mas atrever-me-ei a ler a versão integral do romance, caso eu o encontre por aí... Não me identifiquei com a trama, mas fiquei pensando em mim mesmo durante a leitura, nos caminhos idiossincráticos através dos quais eu trilho a minha vida. Lembrei dos dias felizes que vivi em Belo Horizonte e das pessoas carinhosas que conheci lá, a exemplo deste agradável baiano que me abraça na foto, Heyder Moura, carnívoro e fumante, que soçobrou em suas tentativas de me incutir estes dois vícios. Mas foi exultante naquilo que realmente importa: o feitiço da amizade sincera.

Apesar de conversar com ele algumas vezes depois que nos conhecemos, através da Internet, nunca mais encontrei Heyder novamente, da mesma forma que o narrador de “O Fio da Navalha” passava longos anos sem rever seus amigos, co-personagens de sua narrativa tão individualizada e repleta de julgamentos morais. O que teria reservado o futuro para nós? Estará ele feliz agora? Tomara que sim.

Folheando as páginas de minha edição anglofílica de “The Razor’s Edge”, encontrei alguns acrósticos envolvendo as iniciais dos nomes dos garotos por quem eu me interessei em 1993 e 1994... e em 1996... e nunca mais eu soube deles... e quase eu nem lembrava mais... E, quando eu passava pela sala, meu irmão zapeava na TV e parou por alguns instantes diante de uma cena do belo e nostálgico filme adolescente “Show de Vizinha” (2004, de Luke Greenfield), no justo momento em que a canção “This Year’s Love”, do David Gray, ecoava na tela, canção esta que eu repeti pelo menos três vezes quando voltava para casa na segunda-feira e que não sabia que fazia parte da trilha sonora de nenhum filme... Coincidência...

Por pura coincidência, David Gray foi um músico que eu conheci bem recentemente, folheando a página 825 do guia “1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer”, que descrevia o disco “White Ladder” (1999) como sendo uma atualização do tipo de composição romântica engendrada por Bob Dylan. Achei o disco mais parecido com o estilo de James Blunt, o que não é necessariamente um demérito, visto que possuo pelo menos dois discos dele, gosto de sua voz fanha e apaixonada. E é com uma voz fanha e apaixonada que eu cantarolo “This Year’s Love”:

“This year's love had better last
Heaven knows it's high time
I've been waiting on my own too long
when you hold me like you do
It feels so right
I start to forget
How my heart gets torn
When that hurt gets thrown
Feeling like you can't go on”


Será que “o amor deste ano” vai durar?

Wesley PC>

SOBRE QUEM COMEMORA A PRIVATIZAÇÃO BEM-SUCEDIDA DA PAZ MUNDIAL...

Detestei “Homem de Ferro” (2008, de Jon Favreau) quando o assisti, recentemente. Não somente nunca tinha me interessado pelo personagem nos quadrinhos como desgostei solenemente da ode tecnocrática ostentada pelo filme ou da inverossimilhança do roteiro em tentar nos fazer crer que o mimado protagonista teria êxito nas agruras físico-químicas que o afligem. Detestei mesmo!

Por puro mecanicismo profissional, vi-me hoje diante de “Homem de Ferro 2” (2010, do mesmo Jon Favreau) e, para meu escândalo (repito: escândalo!), achei o filme ótimo até pelo menos 75% da projeção. Nem acreditei nisso, mas, juro! O filme é muito, muito melhor do que o primeiro. Analisando bem esta discrepância de qualidade entre o original (sic) e sua franquia, percebo que a alegada vantagem deste segundo exemplar talvez esteja num elemento espectatorial maravilhosamente diagnosticado pelo crítico norte-americano David Bordwell: a subsunção a um “contrato”, ou seja, a convenções genéricas que permitem que relevemos erros ou defeitos que, num contexto mais estendido, seriam prejudiciais. Assim sendo, entendo por que achei o narcisismo atroz do personagem principal muito mais “elogiável” agora, entendo por que não me contorci tanto na cadeira diante de sua declaração sobre a “privatização da paz mundial”, sendo ele justamente um bilionário herdeiro de uma indústria armamentista.

À medida que o filme vai se aproximando do desfecho, os clichês de filme de ação se acavalam, astros conceituados (Samuel L. Jackson, Sam Rockwell, Scarlett Johansson) se desperdiçam em papéis ruins, o bom desempenho demonstrado por Gwyneth Paltrow no primeiro filme soçobra e o crível vilão russo interpretado por Mickey Rourke transforma-se num bibelô malévolo. Mas era tarde demais: Hollywood me fisgara! Quase tenho vergonha de admitir, mas achei esta continuação muito boa, mas nada que me autorize a ver um terceiro exemplar que, pelo andar da carruagem (conflitos tramáticos mal-resolvidos, personagens ainda sedentos por vingança ou exibicionismo militar, piadinhas antecipatórias disseminadas nos créditos finais, etc.), chegará às telas de cinema muito em breve... Oh, Hollywood dos meus pecados!

Wesley PC>

PORQUE EU ACREDITO (E ME INSPIRO NO ALEJANDRO AMENÁBAR)!

Na manhã de hoje, eu finalmente vi o quinto dos cinco longas-metragens que o cineasta Alejandro Amenábar dirigiu. Apesar de eu ser fã de pelo menos três dos quatro filmes anteriores do diretor, protelava o momento em que veria “Ágora” (2009), pois cria que a ambientação épica do filme ia de encontro ao vigor discursivo de seus filmes prévios, todos marcados por um embate subjetivo fundamental: “até que ponto eu suporto a perseverança de uma crença que me causa problemas sociais?”. Para minha surpresa e contentamento, o novo filme mantém-se firme a esta questão. É ótimo, me fez lacrimejar e pensar no quão difícil e solenemente comum está se tornando a intolerância hoje em dia, não somente religiosa, ao contrário do que pensam os detratores imediatistas do filme. Fiquei tão impressionado que precisei recapitular o que achei de cada um dos filmes amenabarianos:

- “Morte Ao Vivo” (1996): vi somente uma vez, dublado na TV aberta, faz tempo. Por isso, talvez eu não disponha de muita firmeza argumentativa para criticá-lo, não obstante eu manter que não gostei muito da interpretação assustada da adulta Ana Torrent e fiquei positivamente impressionado com o charme ‘rocker’ do galã espanhol Eduardo Noriega e com o fabuloso uso contrastante da trilha sonora do filme, composta por seu próprio diretor e roteirista. Não é lá muito original em seu enredo sobre ‘snuff movies’ no interior de uma universidade, mas é tecnicamente merecedor de atenção cuidadosa. Preciso revê-lo, portanto!;

- “Preso na Escuridão/ Abra os Olhos” (1997): também o vi na TV aberta, dublado, mas já tive o prazer de revê-lo em som original e atesto a sua genialidade, comprovo que meus amigos de universidade tinham razão em ficarem pasmos diante de seu roteiro repleto de reviravoltas, imersos no clima de pesadelo que jamais é demovido, mesmo quando os créditos finais sobem e uma explicação pretensamente plausível nos é apresentada pelos personagens intra-fílmicos. Para além de todo o seu estupor de ficção científica, é um filme sobre ciúmes, sobre amores obsessivos, sobre beleza destruída, sobre vontade de viver. Mexeu muito comigo, portanto;

- “Os Outros” (2001): produção mais ambiciosa e internacionalizada do diretor, mas, ainda assim, genial! Vi-o através da dublagem da TV aberta também, mas nem mesmo assim deixei de me espantar com o brilhantismo da revelação final, com a supremacia de seu roteiro invertido de terror, com o clima de suspense perpétuo que atravessa toda a narrativa. Não posso nem me demorar falando sobre ele, a fim de não estragar a surpresa de quem ainda não o tenha visto, mas... É genial, creiam-me!;

- “Mar Adentro” (2004): este eu vi através de um canal fechado, mas, ainda assim, tive que me contentar em vê-lo dublado. Hoje eu possuo o DVD, mas um percurso interessante me acompanhou até que eu o comprasse. Explico: tive a oportunidade de vê-lo no cinema, visto que ele estreou, por um curto espaço de tempo, em minha cidade. Um grande amigo foi na frente e disse que eu iria detestar o filme, que é uma perda de tempo, que era uma ofensa o elã demonstrado pelo cineasta em suas obras antecedentes. Acreditei, mesmo suspeitando do contrário, neste julgamento e o vi por pura teimosia, anos depois. Tapa na minha cara! O filme é intenso, pungente, feroz e ainda mais carregado de elã vital que os filmes anteriores, mesmo sendo baseado na luta de um indivíduo para morrer. Transmiti meu julgamento escandalizado para meu amigo e ele modificou completamente a sua impressão ao revê-lo: o filme é genial, nietzscheano, perverso, realista, onírico, sensual, esplêndido! Recomendo-o de pé;

E, por fim: - “Ágora” (2009): tendo como primeira imagem o círculo terreno, este é um filme sobre círculos, sobre beleza cadente e desejo de perfeição. Oficialmente, sua protagonista é a filósofa egípcia Hypatia (maravilhosamente interpretada por Rachel Weisz), mas vários outros círculos interpretativos se movimentam ao seu redor, numa trama que promove uma mixórdia pré-existente entre intolerância religiosa e incompreensão afetiva. É um filme épico, mas centrado nos anseios subjetivos de protagonistas, que só desejam acreditar no que acreditam e serem respeitados neste direito básico. É um filme sobre um escravo que se apaixona por sua mentora pensamental, mas é incapaz de salvá-la. É um filme sobre como a burrice em nome de um deus pode destruir culturas. É um filme sobre metodologia idealizada versus aplicabilidade social. É um filme maravilhoso e, como tal, deve ser melhor conhecido.

Dentre as diversas cenas positivamente inspiradas deste filme, destaco um momento derradeiro, em que a protagonista conversa com um antigo discípulo, agora convertido no prefeito oportunista da cidade de Alexandria, onde vive. Ele pede que ela abandone os seus princípios científicos e se converta ao cristianismo, dizendo que somente assim ele poderá salvá-la. Ela queda-se firme em seus princípios, contemplando de forma crítica a imagem de Rômulo e Remo, fundadores mitológicos de Roma, mamando nas tetas de uma loba. Foi o suficiente para que eu percebesse o quão inteligente o homossexual e introspectivo Alejandro Amenábar o é! Tornei-me fã confesso dele neste exato momento. Que venha o próximo filme. Eu confio!

Wesley PC>

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

“TEU VÍCIO EM MIM É MUITO MAIS PERIGOSO DO QUE QUALQUER UM DE MEUS VÍCIOS JAMAIS SERÁ. POR ISSO, AFASTE-SE DE MINHA VIDA!”

Glupt!

E assim eu experimentei o estado de atordoamento: acabo de assistir ao oitavo episódio da segunda temporada de “Dexter” e, de coração, irritei-me profundamente com o esquematismo do seriado no que tange à criação de vilões justificados. Explico mais: havia uma personagem inconseqüente com a qual eu muito me identificava, que surge em cena quando o protagonista do seriado finge que é viciado em heroína para ter álibi sobre seus “sumiços” psicóticos. Acontece que ele se afeiçoa ao programa de viciados, relaciona-se sexualmente com a tal inconseqüente e isto causa problemas em sua vida cotidiana, aquela que importa aos produtores do seriado, no que diz respeito aos assassinatos “benevolentes” que agradam aos fãs do mais charmoso “‘serial killer’ de ‘serial killers’” midiaticamente conhecido. Fiquei com raiva!

Quanto faltavam menos de 10 minutos para acabar o episódio, sou interrompido por duas pessoas, que entraram por uma porta que deveria estar fechada e me pedem que imprima um documento. Faço-o, a contragosto. O telefone toca. Atendo. Uma voz chorosa: “por favor, abra a porta. Esqueci a minha carteira aí dentro. É Karla”... A ligação cai! Só 15 minutos depois é que eu me lembro que Karla é o nome de uma das novas estagiárias do setor em que trabalho. Tarde demais. Fiquei preocupado com ela!

Por essas e outras que, o episódio em pauta me atingiu tão pessoalmente: tenho problemas narrativos demais em minha rotina! (risos) Detalhe: a citação da percepção ameaçadora que nomeia esta postagem, utilizada para pôr fim a uma problemática relação sexual/amorosa, preocupa-me bem mais do que no simples plano espectatorial. I'm a fuckin' addicted! (In English too)

Wesley PC>

domingo, 5 de setembro de 2010

TRISTE REALIDADE (E QUEM LIGA?)

... E quando meu irmão fuma ‘crack’, ninguém pode usar o banheiro. No mesmo lugar em que habitamos, neste exato instante, pelo menos um boi está sendo abatido. Sangue escorre! E eu continuo a ler Gilles Deleuze & Félix Guattari:

“O que quer dizer amar alguém? É sempre apreendê-lo numa massa, extraí-lo de um grupo, mesmo restrito, do qual ele participa, mesmo que por sua família ou por outra coisa; e depois buscar suas próprias matilhas, as multiplicidades que ele encerra e que são talvez de uma natureza completamente diversa. Ligá-las às minhas, fazê-las penetrar nas minhas e penetrar as suas. (...) Não existe amor que não seja um exercício de despersonalização sobre um corpo sem órgãos a ser formado; e é no ponto mais elevado desta despersonalização que alguém pode ser nomeado”...

E eu não posso dizer este nome! Tenho muito com o que me preocupar?

Wesley PC>

DEUS, COMO EU TE AMO – MAS ISSO NÃO É SUFICIENTE, DESCULPE!

“Dio come ti amo
Non é possibile
Avere fra le braccia
Tanta felicita”


Desde que eu me entendo por gente que ouço minha mãe cantando esta canção e elogiando o filme homônimo protagonizado pela encantadora italianinha Gigliola Cinquetti, a quem já citei aqui. Somente hoje, há poucos minutos, aliás, tive a chance de finalmente ver “Dio, Come Ti Amo!” (1966, de Miguel Iglesias) e, Deus, que sublime decepção! O filme é tão insosso e irritante quanto são os filmes protagonizados pelo endeusado Elvis Presley...

“Baciare le tue labbra
Che odorano di vento
Noi due innamorati
Come nessuno al mondo
Me vien da piàngere
In tutta la mia vita
Non ho provato mai”


Apesar de eu gostar muito das canções da artista, tenho que dizer que ela foi subaproveitada neste filme, que o roteiro empanturrado de conveniências não me convenceu. Senão, vejamos: no filme, Gigliola Cinquetti interpreta Gigliola, uma nadadora que tem como melhor amiga uma nobre espanhola, que está noiva de um homem por quem Gigliola logo se apaixonará. Numa viagem, a espanhola Ângela pensa que Gigliola é rica e esta tem vergonha de confessar sua origem humilde. Mantém a mentira por algum tempo, até que o casal espanhol resolve visitá-la na cidade de Nápoles, onde tudo se resolverá: além de o espanhol Luís corresponder ao amor de Gigliola, Ângela se apaixonará pelo irmão motorista e estudioso de sua amiga italiana. O desfecho do filme (emocionante para vários, inclusive para minha mãe, que se empolgava ao meu lado) soou-me irritantemente clicheroso, no limiar do fastio mesmo. Logo eu, que sou tão subserviente diante de filmes românticos?

“Un vene cosi caro
Un bene cosi vero
Che puo fermare il fiume
Che corre verso il mare
Le róndine nel cielo
Che vano verso il sole
Che puó cambiar l'amore
L'amore mio per te”


Desgostei, mesmo! Por mais que eu tenha em mente alguém para quem eu possa cantar com animo a canção-título, o filme não funcionou. Fracassou largamente, aliás. Mas não tive coragem de dizer isso a minha mãe, quando esta me perguntou se eu havia apreciado-o. Ao invés de dizer simplesmente ‘sim’ ou ‘não’, preferi cantar: música ‘pop’ italiana sempre mexe comigo!

Wesley PC>

SEXO É TAMBÉM AMOR!

Apesar de o protagonista do filme exibido em fotograma tentar diluir esta conclusão com a repetição do mantra ensinado por seu pai (“o único amor que fica é amor de pica!”), saí da sessão de “As Seis Mulheres de Adão” (1982, de David Cardoso) não somente satisfeito no plano espectatorial como também levemente surpreendido: fora a primeira vez que eu assistira a um filme legitimamente pornográfico brasileiro da década de 1980 [o genial “Oh! Rebuceteio” (1984, de Cláudio Cunha) não conta, pois suas intenções são bem diversas!] e não esperava que tantas cenas de sexo explícito motivassem piadas e situações de perseguição sexista que permanecem ainda tão atuais. Foi realmente uma descoberta!

Apesar de eu detestar a autopromoção desenfreada do diretor e protagonista, não me furtarei de elogiar a sagacidade de David Cardoso em criar variações enredísticas mui críveis no que tange ao entrecho geral mui oportunista. Basicamente, o filme é sobre isso: a tal meia dúzia de mulheres do título reúne-se num luxuoso jantar, onde se arquiteta a castração de Adão, um cara metido a gostosão que fez sexo e abandonou cada uma delas, não sem antes deixar bem claro que o faria, logicamente. A partir daí, acompanhamos ‘flashbacks’ sexuais explicando como foram os tais encontros, além da preparação para um lance cômico genial do enredo: quando o afetado mordomo da residência onde se travam o jantar e a orquestração do ato de capar Adão diz a ele que é um devoto esperançoso de seu tesão, Adão responde: “pois é, não se canse de esperar. Estou sempre aberto a novas experiências”. Caramba, na época em que o filme foi lançado, o contexto erótico-discursivo deve ter sido bastante relevante!

Além do diálogo supracitado apologético aos adendos homoeróticos na rotina de um mulherengo contumaz, gostei de cenas literalmente escrotas, como um comentário sobre o tamanho avantajado dos testículos do protagonista numa cena de chuveiro coletivo ou o próprio ritual progressivamente frustrado de sedução de uma jovem e bela bailarina aparentemente virgem. Sem contar que a faixa que ostenta a sala onde se realiza o jantar (“Ame-o ou Deixe-o”) é um primor de sátira política, cara ao período em que o filme foi realizado. Apesar de todos os defeitos, gostei mesmo do filme!

Transferindo a reflexão discursiva para a minha vida pessoal, relembro aqui a minha tendência particularíssima em distinguir demonstrações de afeto e práticas sexuais efetivas no que tange à paixão que sinto por outrem. Já expliquei várias vezes que a declaração “te amo da cintura para cima” é comum em minhas divagações românticas, o que denota que ainda tenho muito, muito o que aprender no que diz respeito ao enfrentamento de tabus sexuais. Meu espanto diante deste bom filme pornográfico é a prova viva disto! Recomendo... e amo!

Detalhe: mais de uma pessoa que me acompanharam na sessão notaram que o truque erótico preferido de David Cardoso é ostentar o seu pau duro e solenemente inclinado para a direita por debaixo de uma cueca branca, que vai se tornando progressivamente transparente à medida que suas parceiras entusiasmadas lambem-na. Sem querer ser muito subserviente, receio admitir que este truque me excitou deveras. Da próxima vez que eu praticar sexo oral, estarei lá lambendo a roupa de baixo da pessoa em pauta (risos). É bom, sou fetichista!

Wesley PC>